quarta-feira, 29 de abril de 2015

A fala do Deputado Edinho Bez, do PMDB/SC, em entrevista a uma rádio em Araranguá/SC  reflete, com poucas exceções, o pensamento conservador e autoritário do parlamento brasileiro

Em entrevista concedida a uma radio do município de Araranguá, o Deputado Federal pelo PMDB Edinho Bez, que com outros 12 parlamentares catarinenses votaram a favor  MP 4330, no qual regulamenta a terceirização, afirmou categoricamente que quem a critica ou se coloca contrário a proposta é considerado vadio. Sua resposta, com elevado grau de autoritarismo, comum entre parcela expressiva da atual composição do congresso brasileiro, tinha como propósito atacar lideranças políticas ou centrais sindicais que se colocam contrárias a Medida Provisória, porque segundo ele são beneficiados pelo atual modelo empregatício. Além do mais, disse que a terceirização promoverá a reativação do sistema produtivo no país, que é pífia, vergonhosa, segundo ele, que se continuar seguindo o ritmo atual, nos próximos cinco anos não haverá recurso para o pagamento dos funcionários públicos.
Poderia ter dito o deputado que a escassez de recursos futuros para cobrir a folha salarial do setor público, seguramente não será pela baixa produtividade, cuja terceirização poderá impulsionar o crescimento econômico, como afirmou do deputado.  É sabido, a partir de relatórios estatísticos que o Brasil produz muito, sendo um dos principais exportadores mundiais de commodity, minerais, grãos, carnes, entre outros produtos. No entanto o problema são os impostos arrecadados, um dos maiores do planeta, onde parcela expressiva é para cobrir a folha salarial milionária dos parlamentares, como do deputado Edinho. Tanto o deputado catarinense como muitos outros, suas campanhas foram financiadas por empresas ou corporações poderosas, onde no dia da votação da proposta rapidamente se deslocaram à capital federal para acompanhar e conferir o voto do seu parlamentar.
Dizer que a terceirização irá gerar mais emprego, garantindo direitos tais como fundo de garantia, décimo terceiro, etc., é um pensamento um tanto quanto limitado, uma tentativa obvia de querer subjugar a própria capacidade de discernimento da realidade do povo brasileiro. Os trabalhadores sabem e têm consciência que a proposta visa exclusivamente fragilizar as relações trabalhistas, minimizando ao máximo os custos com a folha salarial de empresas, bem como abrir caminho para incluir o setor público. Compreendem também que a terceirização mexe com todo um arcabouço de legislações e regras trabalhistas asseguradas pela CLT. Um exemplo para ilustrar que a terceirização transforma cidadãos/ãs em força de trabalho semi-escravo, é o documentário produzido por uma equipe de estudantes da USP, no qual discorrem a situação dos trabalhadores terceirizados nos vários seguimentos dos três poderes em Brasília, em especial aqueles que prestam serviços no Tribunal Superior do Trabalho e demais ministérios.[1]
Seguramente, se o deputado tivesse assistido o documentário, jamais teria dito que não haveria distinção entre os vencimentos dos trabalhadores formais com os terceirizados. Deveria saber que muitos dos servidores que atuam no próprio congresso, garçons, copeiros, entre outros, estão sem gozar férias há cinco, seis, ou mais anos.[2] Ressaltou o deputado que a terceirização vem recebendo apoio de lideranças sindicais como o Paulinho da força. A Força Sindical cabe destacar que embora seja uma das maiores centrais sindicais sua política converge com o pensamento dos seguimentos empresariais como a CNI (Confederação Nacional de Indústria) e a FIESP (Federação Industrial do Estado de São Paulo), amplamente favoráveis a desregulamentação das legislações trabalhistas proporcionadas pela terceirização.
Quando o deputado argumentou que é melhor garantir o emprego do cidadão que ficar desempregado, quis dizer, a nosso ver, que para o trabalhador manter-se no emprego deverá abrir mão de direitos até então assegurados, chegando ao cúmulo até de ter seu salário rebaixado. Admitiu a idéia de que o empregado em vez de continuar ganhando cinco mil por mês, não seria melhor, dois ganhando oito mil? Quando expressou oito mil, não ficou claro se o respectivo salário seria por cada indivíduo ou a somatória de ambos. Acreditamos segundo sua lógica reducionista, que sua posição é pela redução dos salários.
Também enfatizou o deputado que a lógica da terceirização é produtiva, quem trabalhar direitinho não vai para a rua do emprego, ou seja, não será despedido. Como pode afirmar tal asneira, sabendo que as regras da terceirização permitem novas subcontratações, quarteirizações, etc. Que os exemplos que se tem comprovam as condições de fragilidade dos trabalhadores submetidos a esse modelo contratual. Além do mais prevalece o puxa-saquismo e o apadrinhamento no momento da contratação. As estatísticas comprovam que muitas empresas terceirizadas rompem seus contratos com as contratantes antes mesmo de completar um ano, situação pela qual o trabalhador fica sem receber salário, pagando do próprio bolso as passagens, as refeições, para não ser despedido e manter-se vinculado a empresa.
Quanto ao seguimento público o deputado revelou que sofrerá o mesmo processo de terceirização, que também é objetivo do parlamento, que as alterações não foram viabilizadas na câmara porque o PT se atravessou, mas no senado não escapará. Poderia ter dito que tal dispositivo, porém, com outra nomenclatura, já foi sancionado na mesma semana da votação na câmara, quando STF derrubou a ADIN que proibia as OS (Organizações Sociais) de administrarem educação e hospitais do SUS, muitos dos quais processados pela justiça por má gestão dos recursos públicos.[3] A homologação da terceirização no senado abrirá as portas do serviço público às empresas sem qualificação necessária para o bom desempenho das funções, precarizando ainda mais os vínculos trabalhistas.
Seguindo sua exposição, disse o deputado que quem está preocupado em perder o emprego é o “vadio”, o “malandro”. Os “atrasados” não entenderam que precisamos mudar os conceitos, que felizmente é o povo que elege e que caberá ao próprio povo escolher seus representantes, que fazemos as mudanças que o Brasil precisa. Equivocou-se tacitamente o deputado quando sustentou que são os vadios, os malandros, que temem a terceirização. Sendo assim, tachou milhões de brasileiros de desocupados, pelo fato de se posicionarem contrários a MP. É uma postura passiva de denúncia no ministério público enquadrando-o por crime de assédio moral. Que o medo de perder o emprego como argumentou, é fato, mesmo com toda qualificação e competência do profissional que está em risco. As empresas, diante desse novo dispositivo tentador, não pensarão duas vezes no momento de flexibilizar suas estruturas organizacionais. Nada o impedirá de substituir trabalhadores qualificados, com salários elevados, por trabalhadores do mesmo nível, porém, com contratos precarizados e remunerações menores.                    
    Sobre os “atrasados” que deveriam compreender as mudanças de conceitos nas regras de trabalho, se referiu mais uma vez o deputado aos que são contrários a MP 4330. Atrasados, portanto, não são os que se opõem as novas regras, são aqueles que ratificaram o novo sistema contratual, em um país como o Brasil onde as próprias regras formais estão deixando de serem cumpridas. Imagine agora com a terceirização e a confusão de normas. Quanto ao processo eleitoral que caberá ao povo escolher seus representantes, o próprio deputado, bem sabe, que sua eleição como de muitos outros parlamentares eleitos se deu não por uma decisão ideológica do eleitor, voto consciente, mas por um conjunto de estratégias do qual os partidos tradicionais vem adotando há décadas para se perpetuar no poder.
Dentre as estratégias adotadas destacam as trocas de favores, o apadrinhamento político, comércio do voto, sem contar os tradicionais currais eleitorais que se formam durante os pleitos nos distantes rincões do estado mudando drasticamente o resultado das urnas um dia antes ou durante as votações.    Dentro dessa lógica eleitoreira, corrupta, no qual se insere a estrutura político partidária, está em discussão à reforma política, que dificilmente ocorrerá atendendo as expectativas da sociedade. Promover uma reforma política ampla com a atual composição do congresso nacional, amplamente conservador e beneficiados pelas mazelas concedidas pela legislação em vigor, é inegavelmente uma utopia.
    A esperança, todavia, está na mobilização da sociedade semelhante ao ocorrido em junho de 2013, quando as ruas deram sinais claros do descontentamento do povo com o modo pelo qual o Brasil vinha sendo governado. Porém, o movimento demonstrou pouca visibilidade de políticas públicas alternativas, e a inexistência de um projeto ideológico consistente de sociedade, que proporcionasse as massas uma reflexão ampla dos problemas segundo o ponto de vista dos explorados, não dos exploradores. Se fosse seguindo a direção inversa no qual se sucedeu, indiscutivelmente teríamos hoje um congresso um pouco mais representativo dos anseios povo, não das elites, das poderosas bancadas que dominam os debates, chancelada por dois dos seus principais articuladores que comandam as duas casas legislativas federais, a câmara e o senado.     
Prof. Jairo Cezar



[1] http://www.anamatra.org.br/index.php/tv-anamatra/reportagens-debates-e-entrevista/terceirizado-um-trabalhador-brasileiro
[2] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/ O impacto da Terceirização nas relações contratuais entre trabalhadores e empresas.
[3] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/Supremo Tribunal Federal derruba ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) n. 1.923/98 sobre as OS (Organizações Sociais) e abre caminho para a TERCEIRIZAÇÃO dos serviços públicos

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