quarta-feira, 10 de julho de 2013

Estado de Exceção brasileiro e as garantias para a promoção de grandes eventos esportivos como a copa do mundo

Desde o momento em que foi confirmado que o Brasil seria palco de dois mega eventos esportivos, a copa do mundo e as olimpíadas, de imediato o sentimento que propagou entre os apaixonados por esportes como o futebol foi de satisfação e expectativa de poder acompanhar ao vivo nos estádios os respectivos eventos. Não tardou para aparecer os primeiros sinais na qual comprovaria que os eventos previstos produziriam uma extraordinária reviravolta nas estruturas de comando das cidades que sediarão os jogos. Essa reviravolta teve como principal protagonista a própria entidade FIFA, constituída por 208 países membros, que mesmo tendo um histórico de denúncias de escândalos de corrupção, vem se constituindo como uma espécie de estado paralelo com poderes suficientes para interferir na própria soberania dos países escolhidos para a realização dos mundiais.
 O que é estarrecedor é o modo como essa entidade vem agindo nas diferentes esferas dos poderes constituídos especialmente no senado federal, induzindo os parlamentares à aprovação do projeto de lei n. 728/11 que torna crime a quem promover greve três meses antes, durante, e três meses depois da realização da copa. São atos que envergonham qualquer cidadão (ã) de bom senso, que com seu voto contribuiu para a eleição de políticos como o do deputado do PRB/RJ Marcelo Crivella, responsável pelo projeto e que hoje atua como ministro da pesca no governo da presidente Dilma Rousseff. Mas Crivella não participou isoladamente da elaboração do  projeto, também atuaram com ele, a senadora Ana Amélia Lemos, do PP/RS e Valter Pinheiro, do PT/BA, um ex-sindicalista.
Se as leis federais com toda sua complexidade jurídica são desrespeitadas abrindo vácuos para beneficiar interesses difusos como os dirigentes da FIFA, imagine nos estados e municípios com pouca tradição democrática que sempre imperou o mando dos coronéis protegidos por um complexo aparato político e jurídico instalados nas entranhas dos poderes locais?   São nesses estados que imperam as chamadas políticas de exceção, ou seja, a autorização “legal” para que os governos locais garantam totais condições para a execução das obras de infraestruturas para a copa, ditadas pela FIFA. Isso permite que cada unidade federal, para agilizar na execução das obras necessárias, crie suas próprias regras como de isenções fiscais às empresas contratadas, restrições quanto ao deslocamento das pessoas dentro do próprio territorial ou nas proximidades dos estádios, flexibilização das leis ambientais, etc.      
Enquanto que para a população brasileira o futebol representa mais do que um simples partida entre duas equipes adversárias confundindo-se até com a própria cultura do povo, a copa do mundo, a ser realizada no Brasil, em 2014, nada mais é do que um negócio de bilhões de reais envolvendo mídia, construtoras, empresas de transportes, agências de turismo, entre outros, garantindo lucros estratosféricos e passivos ambientais e sociais incalculáveis, sem contar a enorme dívida que deverá ser paga pela população nos próximo trinta anos.  
São inúmeras as denúncias de irregularidades cometidas pelas empreiteiras envolvidas nas obras como o não pagamento da participação dos lucros aos trabalhadores, das horas extras, do vale alimentação e pelo desconto de cinco dias do salário mensal dos trabalhadores. Foram esses, por exemplo, alguns dos fatores que resultaram na paralisação dos operários nas obras dos estádios de Fortaleza, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador.
           Não há como negar, a definição prévia de um calendário de países para a realização das copas do mundo a partir da África do Sul em 2010, Brasil, 2014,  Rússia, 2018, e Catar, 2021, teve como um dos fatores preponderantes a certeza  de que se alavancaria enormes lucros para os cofres da instituição Fifa aproveitando os atuais ciclos de crescimento econômico dessas nações periféricas, suas fragilidades institucionais e a fraca capacidade de mobilização da  sociedade. 
Caberia ao governo brasileiro, depois da realização da copa da África do Sul, em 2010, ter reunido o povo brasileiro e decretado sua não realização no Brasil utilizando como justificativa  a sua inviabilidade econômica e os graves prejuízos sociais e ambientais ocorridos no país africano.  Para se ter uma noção dos impactos negativos do evento naquele país, mais de cem mil ambulantes perderam sua renda durante a copa, enquanto 627 postos de trabalhos foram instintos após seu encerramento. Quem realmente lucrou foi a FIFA que obteve um lucro líquido de R$ 6,1 bilhão. Seguindo o mesmo caminho, é bem possível, caso não ocorra nenhum imprevisto significativo nos próximos meses, que no Brasil, a entidade futebolística internacional aumentará ainda mais seus lucros líquidos e dos grupos econômicos nacionais e internacionais.
A expectativa é de que as mobilizações sociais permaneçam, exigindo do governo transparência nas suas políticas públicas, o combate a corrupção que se instalou nas estruturas dos poderes e, principalmente, a abertura de uma CPI para investigar as irregularidades que estão sendo cometidas nas estruturas de comendo da CBF e das demais confederações estaduais. Não seguindo essas diretrizes, novas mobilizações sociais devem ser organizadas, com ações mais incisivas e com possibilidades até de inviabilizar a realização da copa do mundo de 2014.       

   Prof. Jairo Cezar

segunda-feira, 8 de julho de 2013


A irresponsabilidade histórica dos governos com  as políticas de mobilidade urbana

Até o início do século XX ainda não se configurava no cenário brasileiro questões hoje complexas e de difícil solução como a concentração demográfica, trânsito caótico com grandes congestionamentos, ocupações em áreas de riscos, poluição generalizada, etc., pois predominava na época a cultura do campo, da roça, cujo ritmo das pessoas era ditado pelo ciclo das estações do ano, não pelos ponteiros dos relógios, que nos dão a sensação de que o tempo está passando mais rápido, de que valemos pelo que produzimos e não pelo que somos, sentimos, pensamos, acreditamos. Somos humanos e não máquinas robotizadas guiadas por olhos poderosos que nos vigiam dia e noite, ditando hábitos de consumo predatórios, padrões de beleza que exaltam o corpo, a competição como caminho para o sucesso e a idéia de progresso condicionada à elevação das taxas do PIB, como única condição possível para garantir saúde, educação, segurança, mobilidade urbana entre outros benefícios à população.
Qualidade de vida não pode ser atribuída apenas a aquisição de bens materiais, eletro domésticos, automóveis que tornam o dia a dia das pessoas mais confortáveis. Não é esse o modelo de desenvolvimento que a sociedade almeja, pautada na exploração, na exclusão que privilegia uma pequena casta de abastados, protegidos por leis e múltiplas instituições que acobertam as falcatruas com o dinheiro dos contribuintes. O que todos desejam e esperam é que possa prevalecer a honestidade e a ética dos que administram os recursos públicos, com maiores investimentos em áreas sociais, em especial o transporte coletivo, considerado um dos principais gargalos das médias e grandes cidades brasileiras. O problema vem se agravando em virtude das políticas de incentivo as companhias automobilísticas transnacionais que despejam a cada mês nas estradas e ruas brasileiras milhares de novos carros comprometendo mais e mais a mobilidade e a qualidade do ar que respiramos.         
É preciso discutir urgentemente novas políticas públicas que dê preferência a formas alternativas de locomoção reduzindo assim os problemas de mobilidade nas cidades. O uso da bicicleta, do ônibus, do metrô, do trem são práticas comuns em muitas cidades européias e asiáticas. As ciclovias, ciclofaixas há décadas vem se constituindo como itens obrigatórios nos planos diretores de muitas cidades espalhadas pelo mundo como Nova York que reflete na redução dos congestionamentos e no melhoramento da qualidade de vida população. São iniciativas baratas que refletem nas contas públicas, mediante a redução de internações hospitalares por acidentes de trânsito, doenças cardiovasculares e a elevação gradativa da perspectiva de vida. Em relação ao Brasil, ainda estamos engatinhando em comparação a outros países quando o assunto é sustentabilidade nos sistemas de transportes ainda condicionada ao automóvel.
No final da década de 1990 atendendo as recomendações ditadas pela Conferência do Clima a Rio-92, a ONU recomendou aos países integrantes as discussões para a construção de uma agenda de princípios e metas para o desenvolvimento sustentável que deveriam ser inseridos nos programas a partir do próximo milênio. No entanto pouca coisa saiu do papel nesses vinte anos em que a agenda 21está vigorando. Uma das estratégias da agenda foi debater políticas de produção de fontes alternativas de energias que substituíssem as derivadas de matrizes fósseis. Ledo engano, tanto não reduziu como houve um crescimento extraordinário da exploração e consumo dos derivados fósseis chegando ao ponto de alertar as autoridades planetárias quanto aos impactos irreversíveis ao clima global resultado do efeito estufa. Embora sejam insignificantes os exemplos de países que desenvolveram políticas voltadas à sustentabilidade, a cidade de Guthenburg, na Suécia, adotou um programa para o reaproveitamento do lixo orgânico, transformando-o em gás que abastece milhares de residências. No Brasil, dos mais de cinco mil municípios existentes, apenas 1.300 agendas foram elaboradas, não sendo sequer formados os fóruns exigidos para discussões com a sociedade.
Embora as etapas da agenda 21 não tenham sido cumpridas na sua integridade, outras legislações foram criadas posteriormente como o Estatuto das Cidades que define parâmetros de como os municípios brasileiros deverão elaborar seus planos diretores seguindo princípios de sustentabilidade e de participação coletiva. O que se constata quando das discussões dos planos diretores é que os documentos em si relativos aos aspectos meio ambiente e mobilidades urbanas apresentam avanços significativos, porém deixam dúvidas quanto a sua aplicabilidade, devido às disputas de interesses envolvendo grupos de interesses. Talvez aí estaria um dos impasses ou obstáculos que levou apenas nove capitais brasileiras a avançassem nas discussões dos seus planos de mobilidade urbana. Nota-se que temas como esse vem se tornando o calcanhar de Aquiles dos administradores públicos municipais que se traduziram nas insatisfações que motivaram os levantes da população que foram às ruas protestar contra os elevados preços das passagens e demais problemas que afetam o dia a dia das pessoas.
Um problema que se arrastava há décadas, que é o da mobilidade urbana cujo governo federal e os administradores municípios pouco se interessavam em solucionar, de repente, com num passe de mágica, em rede nacional de rádio e televisão, o governo federal anuncia que disponibilizará recursos para solucionar o caos do trânsito das grandes cidades. A proposta do governo é subsidiar o transporte coletivo com a desoneração do PIS/CONFINS para o óleo diesel a energia elétrica destinada para o funcionamento de metrôs e trens. Além do mais o governo criará o Conselho Nacional de Transportes Coletivos com a participação dos vários seguimentos da sociedade que estabelecerão normas quanto aos custos e valores das passagens a serem cobradas pelas empresas.
O próprio governo recomendou aos municípios com mais de vinte mil habitantes que terão até o ano 2015 para apresentar seus planos de mobilidade urbana, pois, caso não o façam, estarão impossibilitados de obter recursos federais para esse fim. Os planos municipais de mobilidade urbana precisam estar alinhados com os planos setoriais de transportes e mobilidades urbanas para mitigação e adaptação às mudanças do clima e vice versa. Ou seja, os municípios mais do que nunca devem estar atentos. Se tais medidas forem executadas que resultem no melhoramento da infraestrutura das cidades com ciclovias, ciclofaixas, faixas exclusivas para ônibus, metrôs, entre outros, estará se vivenciando um novo ciclo social que integrará indivíduo e ambiente através do fortalecimento dos laços de solidariedade entre os sujeitos que se utilizam dos mesmos espaços públicos tendo o compromisso de conservá-los. São utopias que poderiam se materializar caso os governos adotassem medidas mais austeras com o grande capital, especialmente o setor automobilístico que resistirá ao máximo às políticas inovadoras no campo da mobilidade urbana em decorrência dos vultosos lucros que lhes são proporcionados conservando o atual modelo.
O sistema de transportes automotores representa hoje no planeta um quarto do total de consumo de energia. Somente no Brasil, esse sistema é o segundo em emissão de CO2 na atmosfera. Há estimativas que em 2020, mantendo esse ritmo de crescimento da indústria automobilística, haverá um aumento de 60% de gases poluentes liberados à atmosfera em relação ao ano de 2009.
Em se tratando de políticas de mobilidade urbana no município de Araranguá o processo não é diferente dos demais municípios brasileiros que ainda estão na espera das conclusões das etapas relativas dos seus planos diretores. Com o retorno das reuniões que ainda não foram agendadas, os delegados envolvidos nos debates do plano diretor de Araranguá certamente concentrarão os esforços para tratar da conclusão do tema mobilidade, que deverá receber total atenção dos mesmos e cuja população não poderá se eximir de participar quando o documento entrar na câmara de vereadores para discussão e aprovação.
Uma das virtudes do município de Araranguá na questão mobilidade é quanto a sua geografia que apresenta um relevo plano com condições excepcionais para políticas públicas de incentivo ao uso de bicicletas como meio de transporte. Além do aspecto geográfico outro elemento motivador para o uso é a dimensão das ruas das quais foram planejadas com a perspectiva de que no futuro tivesse tal finalidade. Sendo assim, o Capítulo III do Plano diretor, no seu Art. 9, inciso V, o mesmo destaca que é necessário desenvolver plano cicloviário municipal prevendo a implantação de malha de ciclovias e ciclofaixas, como a ordenação e a educação para o seu uso.
Por estar o centro do município de Araranguá a uma distância aproximada de 12 quilômetros do seu principal balneário, Morro dos Conventos, a rodovia que faz ligação ao balneário, de acordo com o Artigo 70 relacionado ao Plano Diretor Municipal no item mobilidade urbana o mesmo determina que à bem da qualidade de vida dos munícipes e do desenvolvimento turístico e ecológico da cidade, o poder público promoverá a implantação e o uso do sistema cicloviário municipal. A expectativa dos munícipes que diariamente se utilizam de suas bicicletas para ir ao trabalho ou para se exercitarem é de que  a construção de ciclovias e ciclofaixas contidas no plano diretor e no programa de campanha do partido dos trabalhadores sejam concretizadas na atual gestão.    
Prof. Jairo Cezar           


quinta-feira, 4 de julho de 2013

As manifestações populares versos políticas ante-sociais dos atuais governos


As manifestações populares versos políticas ante-sociais dos atuais governos

Como vem se processando ao longo dos tempos, o sistema de produção capitalista sempre foi abalado por crises cíclicas no qual, muitas vezes, teve que se submeter a adaptações ou ajustes que resultassem em menores impactos às economias planetárias. A atual crise que avassala o continente europeu pode ser caracterizada como de grande impacto, pois vem minando não só os empregos como todo o conjunto de direitos adquiridos e reconhecidos pelos defensores do capital como modelo de sucesso a ser copiado pelas demais nações periféricas.
As mobilizações sociais que ocuparam ruas e praças de centenas de cidades brasileiras nos últimos dias podem ter tido alguma influência das manifestações que ocorrem na Europa e nos países árabes. No entanto, embora as características dos movimentos apresentem algumas semelhantes, os objetivos não seguem as mesmas direções. Nos países árabes como Egito, Turquia, entre outros, as manifestações são por democracia; na Europa, as mobilizações são contra as reformas estruturais em curso, enquanto que no Brasil a pressão segue uma pauta extensa como o combate a corrupção, a transparência dos gastos públicos, a moralização do Estado, etc.  
A ocupação das ruas pelos jovens deve ser interpretada como sentimento de insatisfação às políticas ante-sociais em curso. São ações que confere total apoio ao capital mediante incentivos fiscais a indústria automobilística, que nega o transporte coletivo; às obras faraônicas como barragens e arenas esportivas; o agronegócio, que avança sobre terras e florestas reivindicadas pelos indígenas. Além do mais, vive-se um processo de periferização da sociedade brasileira estimulada por políticas sociais e eventos esportivos que promovem remoções ou expulsões deliberadas de milhares de pessoas das áreas centrais das grandes cidades para dar lutar a estágios, shoppings, hotéis entre outras construções.  O problema é tão sério que na cidade de Porto Alegre, chegou-se ao cúmulo de alterar resoluções inteiras do plano diretor municipal para atender as recomendações da FIFA. Sem contar outras legislações que não foram consideradas nos projetos dentre elas a que trata sobre a preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural e a ambiental que obriga o empreendedor a proferir estudos de impactos ambientais em áreas destinadas a grandes empreendimentos. Afinal quem tem mais poder, o governo federal ou a FIFA?   
Numa sociedade em que se gasta 1.4 bilhões de raiais para construção de arena esportiva onde sequer tem transporte público, e outros 20 milhões transferidos à rede globo para promover um minúsculo show de duas horas para divulgar a copa das confederações, não há como não se indignar e sair às ruas para protestar. Um protesto construído nas redes sociais e que teve como fator desencadeante o aumento das passagens de ônibus.
 Muitos dos que participaram das manifestações acredita-se que não possuíam vínculo a nenhuma forma de organização classista como também não demonstravam ter concepção ideológica definida quanto ao modelo de sociedade que se desejava construir. São esses jovens que passaram a ser disputados nas manifestações tanto pelas milícias conservadores, como pelas tendências extremistas, que devem entender que é preciso manter a chama acesa, continuar atento, compreender melhor o jogo político para que não sejam transformados em massas de manobras de grupos ou partidos oportunistas.
A escola agora mais do que nunca tem que assumir seu verdadeiro papel de entidade comprometida com a construção de novos paradigmas sociais, trazendo para o seu interior as angustias, as insatisfações e as incertezas acerca do futuro, promovendo um intenso debate sobre o contexto político, por que da necessidade de viabilizar reformas emergenciais no campo político eleitoral, tributário, entre outras reivindicações manifestadas pela população. Porém, o modo como as instituições de ensino público estão estruturadas dificilmente tais ações serão viabilizadas sem que haja uma forte pressão social, capaz de romper os elos que prendem as instituições às facções políticas aninhadas nos interstícios dos poderes locais. 
Para romper com tais vícios uma das saídas seria com a federalização do ensino, onde o governo federal como acorre com os Cieps (Centro Integrados de Ensino Profissionais) assumiria a gestão da educação básica e superior. Porém, tais possibilidades ainda são um tanto quanto remotas diante do atual quadro político em que os investimentos para esse setor não alcançam os 5% do PIB, enquanto que países hoje considerados avançados economicamente os recursos ultrapassam os 8 a 9% do PIB. Além do mais, o problema da educação não está somente na insuficiência de recursos, mas na forma como tais recursos são gerenciados. Nos estados e municípios esses recursos são depositados geralmente em conta única cujo administrador se sente no direito de utilizá-lo em ações que não condiz com sua finalidade. Outros casos que são comuns em relação aos recursos do FUNDEB são os desvios para o financiamento de campanhas eleitoreiras.
A medida emergencial do governo de destinar 100% dos royalties do petróleo para a educação traduz uma sensação de desespero na tentativa de convencer a sociedade de que com tais medidas os problemas com a educação estariam resolvidos. A idéia de royalties remete a entrega do sistema de prospecção do hidrocarboneto do pré-sal às empresas concessionárias que ainda serão licitadas e cujo início ainda é imprevisível. É importante frisar que tais operações matemáticas que destinarão parcelas dos recursos do petróleo à educação não são tão simples como mencionou o governo, que os 100% prometido não representam volumes expressivos diante do atual modelo de políticas econômicas adotadas pela atual presidente.   A sensação é de que bilhões de reais entrarão a cada ano nos cofres do governo, como num passe de mágica. O discurso do governo omite toda uma complexidade que está envolta nessa ação, que os recursos dos royalties estão condicionados ao crescimento do PIB, ou seja, se o país continuar crescendo num patamar de 2,5% do PIB ano, para educação destinará apenas 0,01% referente aos royalties. Nesse ritmo será necessária uma década para que os recursos do petróleo alcance 1% do PIB.    
É preciso levantar discussões e indagações sobre as campanhas eleitorais realizadas no Brasil, que para eleger um vereador, prefeito, deputado, etc., se gasta milhões de reais. Afinal quem financia tais campanhas milionárias e qual o comprometimento dos políticos eleitos com seus financiadores e a sociedade? A atual realidade brasileira não deixa dúvidas quanto ao processo de escolha dos representantes do povo nas diferentes instâncias dos poderes. Basta averiguar os deputados estaduais e federais eleitos, suas condições sócio econômicas e as entidades ou grupos econômicos na qual representam. Poucos são os que realmente estão comprometidos com o povo em virtude do custo milionário de suas campanhas. Além dos educadores que devem dar ênfase na formação política e cidadania dos estudantes, os partidos de esquerda que ainda mantém uma postura ética quanto aos seus princípios tem o compromisso de instruir a sociedade, promovendo verdadeira campanha de politização dos trabalhadores, conscientizando-os do seu poder de transformação social, de sujeitos da história e não meros coadjuvantes.
Durante as semanas das manifestações muito se questionou sobre a participação ou não de bandeiras partidárias nos eventos, transparecendo para a sociedade que os mesmos eram apartidários. Como conceber a idéia de apartidarismo se estamos inseridos num regime republicano democrático com totais liberdades para manifestarmos nossas idéias e aspirações. De acordo com Plínio de Arruda Sampaio, a insistência em instrumentalizar a ira contra os partidos da orem, PT, PSDB, PMDB, PSB, etc. para estigmatizar todo e qualquer partido é para banir toda e qualquer bandeira política que possa dar um horizonte revolucionário à energia humana que brota de baixo para cima.
Atitude como essa demonstra o elevando grau de despolitização da sociedade, pois é através da vinculação partidária que se promoverá as transformações sociais. Se fosse permitida a presença de bandeiras partidárias quais estariam nas manifestações? Acredita-se que apenas as tradicionais que sempre estiveram na vanguarda dos movimentos, ficando de fora certamente àquelas que outrora foram defraudadas defendendo democracia, liberdade, justiça social e que hoje estão no poder.  
Em qualquer democracia representativa a existência de partidos políticos confere oportunidade as diversidades de opiniões e ideologias acerca dos caminhos e o modelo de sociedade que se quer construir. Ultimamente poucos são os partidos que ainda conservam suas ideologias. A grande maioria assumiu funções exclusivamente eleitoreiras onde o candidato mantém vínculo com o partido atendendo exigências legais e não por concepção ideologia. Essa enormidade de siglas partidárias, muitas das quais foram criadas unicamente para abrigar políticos fisiológicos na expectativa de disputar espaços e verbas públicas nas diferentes instâncias dos governos federais, estaduais e municipais. 
Talvez esteja nesse imbróglio partidário um dos motivos que levou a sociedade brasileira a se comportar com tanta repugnância a idéia de partido político. Se fosse feita pesquisa de opinião sobre a necessidade ou não de partido numa eleição, poucas seriam as respostas em sua defesa. A grande maioria certamente diria que mais do que nunca o que importa no processo é a pessoa, sua vida pregressa, honestidade, ética, enquanto que o partido na qual a mesma está inserida seria excluído.  São essas pessoas que se dizem apartidárias que foram às ruas exigindo mudanças emergenciais no modo como o Brasil é governado.
É oportuno também e isso é tarefa das escolas e dos movimentos sociais em debater formas alternativas de organização política, onde as decisões possam ser tomadas de forma coletiva mediante conselhos representativos, sistemas de cooperativismo, entre outras tantas possibilidades. A discussão de idéias como essas estimula a reflexão acerca da compreensão de que a sociedade é um processo vivo, dinâmico em franca transformação. São as contradições existentes no interior das próprias estruturas em menor ou maior grau que resultam nas ebulições sociais, que resultam em ações reformistas ou, em níveis mais exacerbados, em violentas revoluções que rompem com o sistema econômico predominante. Não é, por exemplo, o caso brasileiro, pois se assim o fosse, o partido dos trabalhadores teria lançado as bases da revolução quando assumiu o poder. Convém lembrar que nas sociedades ocidentais o sistema de produção capitalista quando suas estruturas estiveram sempre ameaçadas, de imediato, o regime hegemônico colocava em ação todo seu aparato repressor. O exército sempre teve um papel determinante na contenção dos levantes populares ocorridos na América Latina entre as décadas de 1960 e 1970, dando cobertura aos governos autoritários como o ocorrido no Brasil durante vinte anos.
Hoje em dia, com a redemocratização social, as ações repressivas do Estado continuam, ou de forma violente, mediante a ação truculenta da polícia ou de forma sutil, através das mídias conservadores de massa. Os telejornais de grande audiência nos horários nobres procuraram desviar o foco dos movimentos dando ênfase a aspectos isolados como as badernas praticadas por grupos direitistas ou neofascistas a serviço do grande capital. O que é peculiar nesse processo é a forte influência das redes sociais na construção de novas opiniões, superando até os tradicionais sistemas de comunicação de massa como as tevês abertas.
É preciso que fiquemos em estado de alerta constante, que as ações tomadas pelos governos para retirar das ruas a população sejam acompanhadas diariamente evitando           que as reivindicações não se transformem em letras mortas e caiam no esquecimento. As propostas encaminhadas pelo governo como a transformação da corrupção em crime hediondo; a destinação de 100% dos royalties do petróleo à educação; a proposta de plebiscito para decidir sobre a reforma política, entre outros encaminhamentos, são algumas das conquistas sociais, deixando claro que tudo é possível, porém é necessário pressão.
O que ocorreu ultimamente no Brasil despertou no imaginário da população que as conquistas somente se concretizadas mediante pressões, que não é possível esperar a boa vontade das instituições para fazer valer trabalhadores adquiridos e outros a serem conquistados. A pressão deve ser mantida e outros movimentos deverão ser articulados com a participação dos trabalhadores através dos seus sindicados reivindicando a redução da jornada de trabalho para 40 horas; reforma tributária, que deverá taxar as exportações de produtos primários e as grandes fortunas; a suspensão dos leilões do petróleo e das privatizações dos minerais; a reforma urbana, com prioridade no transporte público; controle das especulações imobiliárias; a democratização dos meios de comunicações.
Se conseguirmos alcançar esses objetivos, certamente teremos um país melhor para as futuras gerações, porém, mais do que nunca, é preciso que cada indivíduo saia da sua zona de conforto, da sua individualidade e entenda que estamos no mesmo barco, que vivemos numa mesma aldeia chamada Brasil.
Prof. Jairo Cezar