sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O novo PNE (Plano Nacional de Educação), Lei n. 13.005/2014 a serviço dos interesses das corporações vinculadas à educação

No começo da década de 1980, muitos acreditavam que quando o partido dos trabalhadores chegasse ao poder, a educação pública brasileira finalmente daria um salto significativo de qualidade, cujas ideias dos célebres pensadores revolucionários como Paulo Freire, Florestan Fernandes, Vigotsky entre outros tantos, ocupariam os espaços das escolas públicas, universidades, etc. com intensos e calorosos debates, transformando-se em projetos relevantes que alterariam o curso da educação como da própria história política e social brasileira daquele momento em diante. Ledo engano, 20 anos depois do PT (Partido dos Trabalhadores) ter se transformado na principal força política, de base popular, lançando severas criticas ao modo como o Brasil vinha sendo governado, chega ao poder o ex-metalúrgico e sindicalista Luís Inácio Lula da Silva, que se transformaria no porta-voz da esperança para milhões de brasileiros excluídos, vivendo na marginalidade do processo.
Dentre os vários seguimentos da sociedade que o governo popular eleito concentraria esforços, além do social é claro, a educação pública certamente teria espaço considerável na agenda política, razão pela qual por se tratar de um setor ainda marginalizado e capaz de promover profundas rupturas de um modelo secular de sociedade, dominado por uma elite parasitária que vem se revezando no poder e se beneficiando da miséria e ignorância de milhões de brasileiros, analfabetos estruturais e funcionais, que ainda usam o voto como moeda de troca por promessas ou migalhas.
No entanto, a eleição de 2002 que elegeu Lula, ocorreu num momento de expectativa acerca da possibilidade de amargar mais uma derrota depois de três tentativas frustradas. A abertura das urnas mostrou que a sociedade queria realmente transformação, pois estava saturada com as políticas reformistas, privatistas e excludentes dos governos anteriores que entregaram parte das riquezas ao capital estrangeiro. O setor da educação antes da posse do governo do partido dos trabalhadores seguia paralelamente o caminho das reformas impostas pelo Banco Mundial e demais organizações financeiras, quando ocorreu a aprovação da nova LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação), lei n. 9394/96, que no seu bojo não vislumbrava a médio e longo prazo transformações relevantes no conjunto da sociedade, apenas a adequação do sistema educacional brasileiro às mudanças estruturais do capital global.
Com a homologação da nova lei de diretrizes e base da educação, caberia ao governo federal, na época Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, encaminhar proposta de lei para a elaboração do PNE (Plano Nacional de Educação) cuja finalidade seria estabelecer um plano de metas que norteasse a educação pública para os próximos dez anos, financiada com recursos alocados do próprio estado, mediante a elevação da parcela do PIB, de 5 para 10%. A questão da expansão do orçamento público destinado à saúde, saneamento básico, educação entre outros, sempre foi tema presente nos discursos dos políticos especialmente em períodos eleitorais. Durante suas gestões, para cumprir as metas inflacionárias estabelecidas com organismos internacionais, muitas vezes os governos são forçados a cortar gastos, e as investidas geralmente atingem as áreas sociais importantes como educação.
Depois da homologação da nova LDB foram realizadas em todos os estados da federação conferências para discutir as propostas que seriam inseridas no PNE. No entanto, quando o plano com as propostas construídas pela sociedade chegou ao congresso nacional, passou a conflitar com a proposta apresentada pelo MEC, com proposições conservadoras muito aquém dos ensejos da sociedade. As pressões dos setores organizados eram para que o plano apresentado pela sociedade na qual ampliaria os investimentos do PIB de 4,8% para 7% nos próximos dez anos fosse aprovado no Congresso Nacional. Porém, quando chegou à mesa da presidência para ser sancionado, recebeu veto do presidente Fernando Henrique Cardos, voltando tudo a estaca zero.
Com a vitória nas urnas do governo do Partido dos Trabalhadores, a expectativa agora era a imediata derrubada do veto do governo anterior, em relação ao PNE, e iniciar a discussões para ampliação dos recursos do PIB para 10%. O que causou surpresa e perplexidade para muita gente e especialmente para os próprios educadores e militantes do partido dos trabalhadores, que sempre defenderam maior repasse de verbas para educação pública, foi à postura assumida pelo presidente mantendo o veto à lei do PNE. Transcorrido dez anos de governo popular, ainda sem um plano de metas para a educação, os gastos do PIB com educação mal chegavam a 5% e com um agravante, parte dessas verbas jamais chegavam ao seu destino ou quando aplicadas, pouco alterou o quadro calamitoso das escolas e dos salários pagos aos educadores.
As pressões dos setores organizados, sindicatos de trabalhadores da educação e CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), voltaram e ecoar nos quatro cantos do território nacional defendendo a urgente construção de um PNE que priorizasse investimentos exclusivos para o ensino público. Outro tema também discutido pelos educadores e que vem recebendo apoio de parlamentares e de setores progressistas ligados à educação, é a proposta de Federalização da educação, cuja iniciativa contribuirá para por fim as profundas disparidades curriculares e salariais nos diferentes níveis de ensino. Além do mais, com a federalização seria possível dar um basta definitivo no secular domínio das oligarquias/coronelismo, nos municípios e estados, que se utilizam da educação como trampolim político, indicando nomes para ocupar postos estratégicos das escolas e das demais instâncias administrativas, cujo critério determinante na escolha é sua filiação partidária.
 Retornando ao tema PNE, a base de apoio do governo popular no congresso nacional dedicava pouco esforço em direção à proposta vinda das bases defendendo investimentos imediatos de 10% do PIB. No entanto, paradoxalmente, essa mesma proposta de elevar os investimentos encontrava apoio dos parlamentares do bloco de oposição ao governo do PT, como o PSDB, partido que foi responsável pela destruição do projeto encaminhado em 2001, que determinava a elevação de 4,8 para 7%, nos próximos dez anos. Com a aprovação da proposta de lei do plano na Câmara Federal em 2012, que garantiria 10% do PIB para a educação pública, o texto agora seria encaminhado para o senado federal que resultou no Projeto de Lei Complementar n. 103/12.
O que diferenciou essa proposta do texto apresentado pelos deputados federais foi no quesito “público”, que foi suprimido e substituído pela nomenclatura PPP (Parcerias Público Privadas), dominada pelas grandes corporações que vem atuando e faturando milhões no rico negócio da educação de nível superior no Brasil. A proposta de lei aprovada no senado federal em 2012 deixou transparecer que teria havido formação de lobby entre corporações e parlamentares que os representam, garantindo, na aprovação do texto, fatias significativas de recursos públicos para os respectivos seguimentos. Com a aprovação do plano modificado no senado, as instituições superiores de ensino particular abririam vagas para estudantes cujas mensalidades seriam pagas mediante financiamentos como o Proune, Fies, entre outros.
Além do mais, o PNE permitirá a expansão das escolas tecnológicas no Brasil, bem como a ampliação de vagas gratuitas e financiadas pelo Pronatec. Ideologicamente, a expansão do ensino técnico no Brasil, bem como o fortalecimento do sistema “S” - SESI, SENAI, SESC, SENAC, entre outros, não confere com os preceitos defendidos pelos intelectuais revolucionários das décadas passadas, que dedicaram parte de suas vidas na defesa de uma educação emancipadora, transformadora, e não adestradora, formadora de mão de obra de baixo custo, um novo exército de trabalhadores “treinados” disponibilizados para suprir as demandas do capital. A proposta de lei do PNE que transitou primeiro pelos corredores da Câmara e depois seguiu para o Senado, recebendo centenas de emendas, alterando profundamente o texto original, finalmente foi aprovada pelo congresso nacional em 2014 transformando na lei n. 13.005/14, que foi sancionada pela Presidente da República.
Foram inúmeras as denúncias que deram conta que a aprovação da lei do PNE se deu por meio de manobras políticas coordenadas pelo próprio governo federal que pretendia aprovar um texto que fosse de interesse do sistema capitalista, das corporações ligadas ao ensino superior e da expansão da educação técnica, capaz de adestrar trabalhadores, de baixo custo e disponíveis no mercado. A primeira comprovação de manobra ocorreu quando da transferência do II CONAE (Congresso Nacional de Educação) programado para ocorrer em fevereiro de 2014, cujo encontro reuniria milhares de educadores de todo Brasil discutindo e encaminhando proposições a serem incluídos no texto do PNE. Alegou o governo que o cancelamento se deu motivado pela extensa agenda de eventos que iriam ocorrer no Brasil, como Copa do Mundo e eleições, que seria mais salutar promover o congresso para Novembro deste ano.  Esse argumento não convenceu, pois como se sabia em fevereiro a proposta de lei do PNE deputados federais iria para votação na plenária da câmara, e nada pior para as pretensões do governo uma legião de educadores em Brasília pressionando os legisladores para incluir proposições de interesse da classe. Olha que em 2010, quando da realização do I CONAE, o próprio governo Lula, falou na plenária do encontro que iria respeitar as decisões dos educadores inserindo no texto as deliberações aprovadas. Traiu os educadores, pois quando o projeto de lei n. 8.035/2010 adentrou na câmara não estavam incorporados os itens aprovados no congresso.
Sem pressão e resistência dos educadores, o texto virou lei na câmara, recebeu uma enxurrada de emendas no senado, transformando num novo projeto de lei, que perdeu sua configuração original. Em Junho, mais uma vez, numa plenária tranquila do congresso, o projeto foi à votação que se transformou na lei 13005/2014. A lei aprovada não deixa dúvidas quanto ao seu caráter ideológico conservador e neoliberal, embutido nos artigos e parágrafos, que abre caminho para as terceirizações e privatizações do sistema educacional, já em curso em muitos estados, como os demais serviços como saúde, segurança, comunicação, mineração, transportes etc. O que dizer das décadas de 1980 e 1990 quando o partido dos trabalhadores e a própria CUT (Central Única dos Trabalhadores), incitavam as massas a saírem às ruas para protestarem contra os opressores, as privatizações e o modelo de escola pública em vigor, veemente criticada e combatida por sua forte contribuição na reprodução do modelo de sociedade excludente a serviço do capital. A quem interessa um plano de educação nacional como o aprovado em junho de 2014 que atende explicitamente os ensejos da OMC (Organização Mundial do Comércio), quando se sabe que o sistema de ensino brasileiro, como o superior, visa exclusivamente à formação aligeirada e massiva de trabalhadores acríticos, “empreendedores”, obedientes e de baixo custo financeiro.
É patético pensar em um plano como do PNE aprovado em 2014, que defende investimentos de 10% do PIB até 2024. Nesse período de dez anos, de 2014 a 2024, quando o PNE irá vigorar, se não houver uma profunda transformação na cultura dos políticos e da política brasileira, das instituições e secretarias que administram o repasse e aplicação dos recursos para o financiamento da educação, de nada adiantará planos educacionais mirabolantes. O principal problema hoje da educação é quanto ao modo como os parcos recursos são aplicados, muitos dos quais se perdem nos corredores da burocracia dos órgãos executores ou desviados para órgãos sem qualquer vínculo com a educação. Um exemplo para elucidar, é o Funde, cujo propósito, entre outros, seria para o financiamento e pagamento de professores, porém, nos municípios, os prefeitos utilizam-se dos recursos até para execução de obras como pavimentação de ruas próxima à escola.  
É bom que fique claro que o Plano aprovado em junho atende não exclusivamente a educação pública, mas a educação num todo, ou seja, todas as instituições que direta e indiretamente estiverem vinculadas ao atendimento gratuito do ensino. Nessa perspectiva não há expectativa de que a curto e médio prazo o Brasil possa reverter o quadro desolador de um país que continua no ranque dos que apresentam maior desigualdade social do mundo e por consequência um dos que apresentam os piores índices em qualidade da educação.   
Prof. Jairo Cezar           

       

sábado, 20 de setembro de 2014


Breve olhar sobre a história e atual situação da "Terra Santa" - Israel/Palestina: região de contradições, palco de intermináveis disputas

Peregrinar pela Terra santa, Israel/Palestina, cuja história reporta ao nascimento das três principais religiões monoteístas, o judaísmo, cristianismo e o islamismo, e palco de intermináveis conflitos e tensões religiosas e políticas, é certamente uma das viagens mais desejadas e inesquecíveis que milhares de pessoas devotas e não devotas desejariam realizar para conhecer e vivenciar os mistérios de uma região onde pedras, ruínas de templos e monumentos ainda pulsam vida, fé, paixão e dor, como há quatro ou cinco mil anos. Andar pelas estradas, ruas, vielas, das principais cidades e vilas espalhadas pelo território judeu e palestino, permite compreender que os livros sagrados - Torá (judaísmo), Bíblia (cristianismo) e o Corão (Islamismo), trazem nas suas páginas inscrições minuciosas da vida e sacrifício de uma civilização complexa que se constituiu na adversidade de uma terra inóspita, cujos limitados vales férteis no meio do deserto permitiam a subsistência do povo como também em palco de disputas e frequentes guerras.
Estaria, portanto, nas adversidades climáticas, geográficas e de localização estratégica os motivos de tanta revolta agravadas pela situação de exploração e miséria vivida pela população, cujo alento se deu a partir de algumas personalidades míticas como de Abraão, David, Jesus Cristo e Maomé, entre outros, protagonizadores de uma extraordinária revolução no pensamento religioso da época que ainda repercute intensamente até os dias atuais. Dentre os personagens símbolos da história religiosa e social do mundo antigo, que contribuíram para a formação do território que hoje povos com posturas políticas tão divergentes como judeus e muçulmanos, três deles devem ser mencionados: Abraão, Moisés e Herodes.
Abraão, nascido na mesopotâmia, foi o primeiro vidente de Deus que reuniu seu povo e saiu na busca da terra prometida, hoje Israel, palco na época de intensas disputas e intrigas familiares pelo poder. Depois de três gerações, os descendentes de Abraão rumaram para o Egito onde viveram por cerca de quatrocentos anos submetidos a escravidão. Dentre os descentes de Abraão surgiu Moisés, filho de escravos hebreus, criado como príncipe na corte egípcia. Numa certa ocasião, Moisés vendo um egípcio maltratar um cidadão hebreu não conseguiu conter a fúria e o matou. Assa atitude custou-lhe sua liberdade e do povo Hebreu que não tiveram outra escolha que foi fugir do Egito e de encontro a terra prometida como fez o seu antecessor Abraão. Durante a jornada pelo deserto, que segundo a bíblia teve uma duração de quarenta anos, vários episódios ocorreram, porém o que marcaria sua peregrinação e do seu povo que o acompanhava foi a conquista dos territórios ocupados por outras etnias.
Um dos acontecimentos marcantes dessa trajetória foi o cerco de Jericó, episódio descrito na bíblia e representando pelos católicos em todo mundo onde relata a persistência do povo israelita que durante sete dias e sete noites se posicionaram nas proximidades da muralha cuja intenção era rompê-la e ocupar a cidade e derrotar o povo cananeu que era considerado hostil. Com base em interpretações católicas, a justificativa pela destruição de Jericó se deu pela razão divina, pelo fato da cidade estar sendo habitada por um povo dito pagão que praticava rituais de sacrifícios humanos. No entanto, diante dos fatos interpretados como “desumanos”, era Deus quem determinava quem deveria permanecer vivo e que deveria morrer, nesse episódio, portanto, os cananeus, podendo ser todos os povos hostis a Israel, estariam condenadas ao possível extermínio. Situação semelhante ao episódio de Jericó ocorreu quando da ocupação das terras do continente americano pelos exploradores europeus. Deparando com culturas distintas e com rituais considerados imorais ao olhar do colonizador cristão a atitude tomada foi a exterminação ou a evangelização imediata dos “desalmados” e “impuros”. Resultado, até hoje tanto na América, África como na região onde cristo nasceu uma expressiva população ainda vive em situação de miséria e exploração absoluta cuja esperança de dias melhores mantém-se viva inspiradas nos ideais do revolucionário de Jesus cristo que morreu com dignidade não se rebaixando aos opressores da época.      
Sobre a etnia Cananeia na qual foi vencida quando da derrubada das muralhas de Jericó, a religião ou religiões seguidas pela sociedade tinha como princípio a fertilidade do solo, sendo o deus supremo entre os demais existentes BAAL, senhor do céu, que era responsável pela germinação do solo, crescimento da lavoura e fertilidade das famílias. Fazia parte da cultura dos cananeus em ocasiões de privações como secas, pragas ou pestes, a prática de sacrifícios humanos, nesse caso crianças primogênitas. Com a derrubada das muralhas que levou seis dias, segundo a bíblica, tudo foi destruído e queimado, especialmente as pessoas que ali habitavam. Além das conquistas dos povoados também era obsessão dos representantes de deus o domínio dos vales férteis, ou seja, todo território hoje Israel/palestina que na época era conhecida de Canaã.
Embora a ocupação tenha tido sucesso, o território com o tempo, depois de insistentes disputas, foi dividido entre três etnias, os Hebreus que habitaram as montanhas; os cananeus que ocupavam as planícies férteis e os Filisteus, que se situaram na faixa costeira, levantando cidades importantes como Gaza. Outro personagem bíblico reverenciado tanto por judeus como por cristãos, cuja passagem, no oriente médio antigo, foi determinante na conquista do território, foi o rei David. Sua obstinação era conquistar Jerusalém na época controlada pelos Jebuseus e tentar integrar as doze tribos e transformar Jerusalém na capital do reino unido, com a construção de uma fortificação e palácios. Um dos herdeiros de David foi Salomão, seu terceiro filho, sujeito reconhecido pelo povo pela sabedoria que sempre presou pela justiça. Seu governo durou quarenta anos, num período considerado atípico para região, quando a população enfrentou um período de estabilidade política e social.
No entanto, Salomão passou a ser criticado pela população quanto aos exageros praticados com o dinheiro público empregando-o para erguer obras suntuosas e desnecessárias. No ano de 701 a.C, o Rei Ezequias, que reinou em Jerusalém e seguidor dos princípios de David resistiu ao cerco de Senaqueribe, rei da Assíria. No entanto as muralhas de Jerusalém são tomadas de assaltos em 586 a.C, terceira e última invasão do exército comandado por Nabucodonosor, rei da babilônia, levando consigo os cativos dentre eles Zedequias, o 20 e último rei de Judá, cujos olhos foram furados e mantido preso pelo resto de sua vida. Essa postura fez com que os judeus ficassem sobre o domínio dos babilônios até o momento que a Pérsia invade a Babilônia sendo os cativos judeus postos em liberdade retornando-os para a terra natal. A questão é que sob o domínio dos Babilônios os judeus tiveram uma vida um tanto quanto confortável sendo permitido até entre outras coisas o exercício dos cultos religiosos tradicionais. Nesse meio tempo, Alexandre Magno em 332 a.C, com 35 mil soldados, conquista Israel que estava sob o domínio Persa dando início ao período Helenístico, considerado, ao mesmo tempo dramático e glorioso.
Com a morte de Alexandre Magno com 32 anos de idade, a região foi dividida entre os seus generais, no norte foi fundado o império Selêucida, e no sul a dinastia Ptolomaica. A Judeia ficou sob o domínio da dinastia Ptolomaica, que durariam cem anos, até a batalha de Panias no ano 200 a.C, quando a Judeia passou para o domínio Selêucida. Um fato que marcou esse momento da história foi que sob o domínio Selêucida, a postura assumida pelo monarca foi destruir todos os traços da cultura judaica, no qual via a cultura helenística como imprescindível para o desenvolvimento do reino. No entanto, as posições quanto ao ideal helenístico eram divergentes entre os aristocratas e elites sacerdotais urbanas e a população rural. Enquanto os primeiros viam com bons olhos os valores culturais helenísticos, o segundo via com desconfiança, pois suspeitavam que os tradicionais costumes seguidos por gerações desde a saída do povo hebreu do Egito estaria ameaçada. 
Alguns focos de revoltas de judeus contra o domínio helênico passaram a existir, porém, 250 anos mais tarde, o exército romano venceu os rebeldes judeus, descontentes com o modo como a região estava sendo administrada, iniciando um processo de exílio, até 166 a.C quando de um simples desentendimento em uma das aldeias transformou-se em estopim para um acontecimento maior, uma revolução que foi capaz até de criar um estado judaico controlado pela dinastia Hasmonea, no qual depois de uma batalha vitoriosa fundam o estado judeu helenístico. Essa revolta foi assumida por Judas, um dos filhos do sacerdote Matatias, após a morte do pai.
No comando treinou os camponeses como também criou um eficiente serviço de informação que cobria a Judeia, Samaria, Galileia até a Antioquia, como forma de saber o posicionamento das tropas inimigas para facilitar o ataque. Uma das características marcantes da dinastia Hasmonea, quando conquistavam um território, foi forçar o povo local a se converterem ao judaísmo. No ano de 630 a.C o Imperador romano Pompeus conquista Jerusalém, destruindo as muralhas da cidade, porém, manteve intactos os tesouros existentes. Ao mesmo tempo promoveu o desmembramento do estado hasmoneu devolvendo a independência às cidades helênicas. Durante a presença romana em Jerusalém, as cobranças de pesados impostos e as arbitrariedades e crueldades impostas resultou num levante popular no ano de 66 D.C. quando as chamas consumiram a província da Judeia. 

Das ruínas da antiga cidade de Jafa à capital Telaviv

 

A chegar ao território israelense a primeira visita obrigatória foi nas ruinas da antiga cidade de Jafa cujos achados arqueológicos dão conta de ali ter vigorado uma cultura que data de cinco mil anos atrás aproximadamente. Por estar situada sobre uma colina frontal ao mar mediterrâneo e de ter ali havido um porto, há cerca de 120 anos a pequena Jafa começou a atrair judeus de várias partes do mundo, tornando-se pequena para acomodar tanta gente. Diante do elevado número de pessoas, teve de se expandir dando lugar a uma nova cidade que floresceu que passou a se chamar Telavive, que na língua hebraica significa “Colina da Primavera”. Cruzando as ruas das duas principais cidades israelenses Telavive e Jerusalém como das demais pequenas cidades espalhadas pelo território, observar-se a enormidade de guindastes e obras em construção que comprovam que o país está em franca expansão, podendo ser esse um dos motivos pelos quais o governo judeu insiste em estabelecer assentamentos em territórios palestinos. Percebeu-se também que o país está se tornando destino das principais empresas de alta tecnologia como a Google e Maicrosoft, com enormes conglomerados instalados fora do perímetro central da cidade.
       
Fora desse contexto, o que chama atenção é a enormidade de árvores e um complexo sistema de mangueiras espalhadas por todos os cantos do país na qual proporciona um eficiente sistema de irrigação por gotejamento permitindo o uso sustentável da água um produto cada vez mais limitado. Esse sistema de irrigação se faz obrigatório não somente na cidade como no campo por estar o país situado num deserto cuja água utilizada é captada no mar da galileia que vem sofrendo um processo de escassez. Diante dessa realidade preocupante, o governo vem processando a dessalinização da água do mar mediterrâneo, porém em escala menor, devido ao alto custo.
Mesmo com todas as limitações resultantes de uma geografia adversa Israel vem se destacando em escala mundial por desenvolver tecnologias capazes de transformar um solo parte totalmente desértico e outro com características de semiárido como no nordeste brasileiro em verdadeiros oásis capaz de produzir o suficiente para abastecer o país e ainda exportar. Essa pujança tanto nessa área como em outros setores da economia tem relação direta com as políticas que permite o estreitamento dos vínculos entre pesquisadores, agricultores e industriais. Como equacionar baixa quantidade de água disponível com elevada produção de gêneros alimentícios. Além de investimentos em tecnologias inovadoras no desenvolvimento de variedades de plantas capazes de absorver o mínimo de água, o destaque do país é no quesito reuso da água utilizada pela população.
Somente na cidade de Telavive, a segunda maior dos pais, 100% da água dos esgotos são tradadas e transportadas a uma distância aproximada de 100 km, no deserto de Neguev, onde é utilizada para irrigação do solo. Diferente dos demais países ditos desenvolvidos, Israel reaproveita 72% da água consumida. O país que mais se aproxima no que tange ao reaproveitamento é a Espanha, cujo índice é de 15%. Quanto ao uso racional da água, nos centros de tecnologia também são desenvolvidas variedades de plantas resistentes ao sal que são capazes de sobreviver a partir da irrigação com água salobra.  Para um país cuja precipitação pluviométrica anual, na parte norte, chega a 600 mm, e no sul, 30 mm, o aproveitamento desse precioso líquido tornou-se necessário. Diante disso foram construídos em todo território israelenses cerca de 225 reservatórios de águas, conhecidas como as cisternas do nordeste brasileiro.
Mas os avanços não param por aí. Uma empresa israelense desenvolveu um disposto para medir, em longa distância a quantidade de unidade do solo. Esse sistema foi empregado pela NASA e instalado em um dos braços do robô Phenix que aterrissou em marte em agosto de 2012. O que é inovador nesse dispositivo é que detectando a quantidade de unidade do solo, os dados são transferidos para um software que avalia e controla o tempo real de crescimento da planta e a quantidade de água necessária. Como também, outra empresa do setor, desenvolveu outro dispositivo que acoplado ao caule das plantas mede os níveis de umidade da planta e o percentual de água necessário. Devido a pouca quantidade de água

Arqueologia versos Bíblia Sagrada, ferramentas imprescindíveis nos estudos das ruínas em Israel e territórios palestinos

Dando sequência ao tour pelas cidades históricas foram visitadas as ruínas do que foi um dia um dos lugares mais importantes da antiguidade oriental/ocidental, a região da Cesaria, construída pelo Rei Herodes para acolher os romanos que se constituiu na capital do império fora de Roma, enquanto que para os judeus, a capital foi Jerusalém. O que marcou essa cidade a partir das escavações arqueológicas realizadas foi que o rei Herodes construiu no local todos os equipamentos encontrados em Roma desde o teatro, os monumentos, os templos, etc. Em relação ao teatro construído na pequena província como nas demais cidades conquistadas o objetivo dessas instalações nada se diferenciava quanto a finalidade nas cidades romanas, ou seja, garantir a ordem social distraído o povo com espetáculos, lutas, jogos e outras atividades lúdicas, de tal modo que não se rebelassem contra os abusos e excessos de poder e privilégios reservadas as autoridades romanas e judaicas. 
   
Esse comportamento “fraternal” demonstrado por Herodes com os romanos era eminentemente econômico e militar, ou seja, estreitar os vínculos entre o imperador e as autoridades sacerdotais judaicas. Dentro do território no qual se constituiu a Judeia, Herodes manteve uma postura rígida, sendo respeitado e temido por todos. No entanto, em relação ao império romano, manteve um posicionamento de rei subalterno, um fantoche, cujas decisões tomadas de caráter internacional tinham que ser primeiro apreciados pelo conselho romano. Um exemplo de submissão se deu no momento que foi sentenciada a crucificação de cristo, cujo veredicto teve que primeiro passar pelo crivo de Pilatos, governador romano em Jerusalém. Com a derrocada romana em Israel, a região da cesareia foi palco de severos conflitos envolvendo Cruzados Cristãos e Árabes Mouros disputando o domínio sobre o território. Em 1099 os cruzados finalmente conquistam o território mantendo o controle político e administrativo da região por cerca de 200 anos. No entanto tal conquista territorial se deu de maneira relativa, pois os muçulmanos Mouros se mantiveram posicionados além das muralhas construídas onde está as ruínas do Teatro Romano.
  
Um dos importantes achados nas escavações arqueológicas na antiga cidade de cesareia foi uma pedra com a inscrição Poncios Pilatos, que segundo os pesquisadores, teria sido uma dedicatória do imperador Tibério ao respectivo governador. Até aquele momento quando da escavação da pedra com tal inscrição, nenhum objeto com inscrição do nome Pilatos fora da bíblia tinha sido encontrado. Por ser a arqueologia uma ciência ainda recente, em Israel os pesquisadores quando participam de escavações em lugares de importância histórica carregam consigo a bíblia, pois o respectivo livro ajuda a interpretar tanto as inscrições encontradas nas ruínas, como o sentido e a maneira pela qual as construções, os artefatos e outros objetos estão dispostos sobre o solo.
Tais achados poderão quem sabe forçar a realização de uma revisão da bíblia suprimindo informações que não se coadunam com o que realmente ocorreu. A presença de ruínas de aquedutos arquitetados por engenheiros romanos para transportar água provavelmente do lago da galileia para as cidades mostra o caráter modernista dos romanos na execução de obras públicas monumentais no território. No entanto, a construção dos aquedutos como dos templos, teatros e outros empreendimentos públicos ficavam reservados a classe dos escravos como dos soldados, uma forma eficiente de ocupar o tempo em períodos de estabilidade social.

Nazaré, terra onde Cristãos, Judeus e Muçulmanos vivem sob constantes tensões

Ao chegar à cidade palestina de Nazaré, com cerca de 70 mil habitantes, somente a cidade, e 200 mil, na grande Nazaré, no trecho que leva a basílica, que segundo a bíblia, ali teria sido a casa onde Maria teria recebido a visita do anjo a qual anunciou que estava grávida de Jesus Cristo, nos deparamos, próxima a catedral de um agrupamento de muçulmanos de joelhos no chão participando da oração diária ao profeta Maomé. Foi possível perceber que a relação entre cristãos católicos e muçulmanos no bairro não era tão amistosa, visto que no interior da basílica era possível ouvir o som estridente dos potentes altos falantes que transmitiam as orações para todo o bairro, dificultando desse modo a execução das orações no interior do templo católico. A atual igreja que se denomina uma basílica foi construída em 1969, no local que antes havia uma igreja franciscana, datada do século XVII.

 

Entre os séculos XI e XII, no local onde estão as ruínas de uma igreja franciscana, segundo estudos arqueológicos havia outra mais antiga erguida pelos cruzados, também sobre as ruinas de outra mais antiga, de uma bizantina, que se presume datar do século VI. Para os católicos de Israel, a catedral de Nazaré é considerada a mais importante das igrejas do país. Todos os anos, no dia 25 de dezembro, é celebrada a missa do galo e transmitida para mundo inteiro. Conforme relatou do guia, a construção da basílica em Nazaré foi possível mediante doação de recursos provenientes de várias nações dentre elas o Brasil. Cada país doador foi contemplado com a fixação na parede interna da igreja de um painel destacando aspectos da cultura religiosa do próprio país. Um aspecto que chamou a atenção dos presentes no interior do templo sagrado foi a representação artística de uma rosa branca invertida em forma de M no centro da cúpula da catedral, que segundo o guia a mesma simboliza a descida da Virgem Maria do céu.
  
A suntuosidade e a riqueza de detalhes do interior da igreja ofusca um pouco a precariedade do ambiente na época de Maria, que são possíveis de serem vistas através das ruínas de uma caverna onde antes teria sido o lar de Maria.  Na viagem para Tiberíades uma das principais cidades situadas às margens do mar da galileia foi possível contemplar com um dos cenários mais espetaculares e representativos do mundo cristão.
 

Monte Tabor, local sagrado dos cristãos, que foi palco de disputas no passado

Chegar ao topo do Monte Tabor local onde segundo a bíblia Jesus Cristo teria se desfigurado se constituiu também num momento de grande emoção e aprendizado, uma oportunidade impar para conhecer um pouco da história de uma colina na qual foi palco de inúmeras batalhas por disputas, onde permitiria aqueles que o controlassem ter o domínio de todo o seu entorno. No ano IV, quando as notícias correram a região que Jesus teria desfigurado, o monte foi santificado, transformando em um lugar sagrado de intensas peregrinações. Com a ocupação da região pelos muçulmanos no sec. XI d.C., o comandante Saladino líder do levante, impôs aos soldados que destruíssem todos os lugares sagrados dos cristãos na região.
Entre os anos de 1229 e 1263, na segunda ocupação da terra santa pelos cruzados, o Monte Tabor volta para as mãos dos cristãos. No entanto, os cruzados foram definitivamente expulsos da região pela etnia MAMELUCA no final do século XIII, impondo a cobrança de pesados impostos sobre os judeus. Na ocasião destruíram os lugares sagrados dos cristãos. Durante muitos anos depois de cessado os conflitos, o Monte Tabor ficou abandonado, somente no século XVII a região agora sob a dominação dos Otomanos permitiu o retorno dos monges franciscanos para o local onde construíram um albergue para os peregrinos.  A igreja a qual hoje se conhece foi projetada em 1925 por Antônio Barluzi e construída sobre as ruínas da antiga igreja bizantina e dos cruzados.    

O Grande Manancial Hídrico da Galileia, um lago repleto de histórias, que sofre os impactos da modernidade

A existência de um manancial de água doce conhecido biblicamente como o Mar da Galileia numa região desértica como Israel foi essencial para o florescimento e desaparecimento de inúmeras civilizações conhecidas durante os últimos cinco mil anos. O Mar da Galileia como é conhecido está situado numa fenda ou depressão geológica a 170 metros abaixo do nível do mar, com 22 quilômetros de comprimento e 11 quilômetros de largura, onde recebe água do rio Jordão montanhoso e das “abundantes” chuvas que caem na Galileia Oriental e no Altiplano do Golã. Segundo a bíblia foi o mar da galileia palco de importantes acontecimentos como a caminhada de Jesus sobre as águas.
Navegar pelas águas do lago da galileia, no interior de pequena embarcação, oportunizou aos peregrinos vivenciar sensações que talvez jamais terão oportunidade. No entanto, saindo um pouco do campo religioso, o mar da galileia, como assim é conhecido, nada mais é do que um vale profundo inundado pelas águas do rio Jordão. Para a população e a economia, esse é uma região de extraordinária importância estratégica, por ser o principal manancial de água doce que abastece o país. Atualmente os governos locais vêm impondo regras com vistas a limitar o proibir a pesca no local como forma de evitar a extinção de espécies de peixes que tem o lago como único habitat. Devido ao grande fluxo de turistas que se deslocam para aquela região todos os dias, apreciar o peixe pescado no lago e que alimentou os antepassados cristãos, é uma das principais obsessões.  
  
No entanto, o manancial vem sofrendo os efeitos das mudanças climáticas como também do acelerado crescimento demográfico e da expansão econômica na qual requer maior demanda de água. Segundo estudos a cada ano o manancial vem perdendo cerca de um metro do seu volume de água. Nesse ritmo, acredita-se, se nenhuma medida compensatória for tomada, em pouco mais de trezentos anos o lago estará completamente seco. Atualmente os efeitos da redução do nível do manancial já estão sendo sentidos ao sul do país onde está o mar morto, que é abastecido pelas águas do rio Jordão. Além do mar da galileia ter se tornado passado palco de intermináveis histórias, muitas das quais descritas na bíblia sagrada, foi também o local onde muitos pescadores como o profeta Pedro e seus vizinhos, diariamente lançavam as redes para pegar os peixes que alimentavam suas famílias. No lugar onde hoje se encontra uma igreja, Jesus apareceu para Pedro depois da ressurreição. O primeiro templo construído onde hoje está a igreja foi erguido por Helena, mãe do imperador Constantino, porém foi destruída depois que os cruzados deixaram a terra santa. A atual igreja foi construída sobre a pedra que serviu de mesa para ceia de Jesus ressuscitado com alguns discípulos que estavam pescando no lago.
  
Durante o passeio de barco sobre as águas do lago percebeu-se o elevado número de embarcações motorizadas como lanchas e jet ski, no qual se presume que sejam de turistas que frequentam essa região para práticas esportivas. É um cenário nada agradável e pessimista para um lago e uma região que conserva nas suas águas, pedras e ruínas, vestígios de um passado que continua se descortinando através das escavações arqueológicas.  Seguindo o passeio pelas margens lago, se chegou à cidade de Cafarnaum, na época habitada por cerca de sete mil pessoas. Lá está às ruínas das residências do profeta Pedro, dos vizinhos e de uma sinagoga construída para a realização de rituais religiosos judeus e cristãos. Dentre os judeus que acreditaram nas palavras de Jesus Cristo estava Messias.
  
Nesse local a bíblica relata que inúmeras pessoas foram curadas por Jesus. Nessa época, o cristianismo ainda era uma religião não oficial, pois os romanos a definiam como sendo um ritual pagão. Com aumento dos seguidores e adeptos às ideias de Jesus, o imperador Constantino tornou o cristianismo oficial, cujo local foi construído uma igreja para orações. Sobre as ruínas onde teria sido a casa de Pedro, um templo católico moderno foi construído onde foram respeitadas as características arquitetônicas da antiga construção datada do século V que apresentava uma formação octogonal. Importante salientar que a antiga sinagoga situada à esquerda da residência de Pedro não se caracterizava apenas como um local de oração, servindo também para estudos dos cinco livros Pentateucos, encontros da comunidade onde eram discutidos os problemas do bairro. 
Seguindo a viagem em direção sul onde fica o mar morto, passamos primeiro pelo local onde se acredita ter sido Jesus batizado por João Batista no Rio Jordão. Para uma região tão árida como território israelense, não era de se esperar que fosse encontrado um rio com dimensões semelhantes às existentes no Brasil. Na verdade, o rio nada mais é do que um riacho cuja água é imprópria para consumo decorrente à excessiva proliferação de algas tóxicas. Sua bacia ocupa uma área de 17 mil quilômetros quadrados abrangendo os territórios da Síria, Israel, Líbano e Jordânia. Suas águas são provenientes do degelo do monte Herman, entre outros afluentes, sendo o seu percurso em linha é de aproximadamente 200 quilômetros. No baixo Jordão, próximo ao mar morto, milhares de peregrinos do mundo inteiro para lá seguem anualmente onde procuram reproduzir os mesmos passos de Jesus quando foi batizado por João Batista há mais de dois mil anos.
Na rodovia que dá ligação a mar morto era possível de avistar à esquerda a extensa e elevada colina, que serve de fronteira entre Israel e a Jordânia e o vale do Rio Jordão com suas inúmeras cidades e plantações. Além do mais, rente a rodovia está instalada uma enorme cerca elétrica e inteligente que deixa transparecer que o local serve de fronteira ou separação entre as duas nações. Há poucos quilômetros da extremidade sul do mar morto, de acordo com as características das construções e dos templos ali situados deveria ser áreas palestinas com assentamentos judaicos, por existir inúmeras estufas agrícolas espalhadas por toda extensão.
   
Quando perguntado ao Guia sua opinião acerca dos conflitos que ora atingem a região tanto no sul, na Faixa de Gaza, como ao norte, coordenado pelo EI (Estado Islâmico), que ameaçam as fronteiras do país, o mesmo respondeu que em relação ao EI o mesmo deve ser desestabilizado devido ao risco de  ameaçar o estado judeu. Segundo ele, a criação de um estado palestino, possibilitará a formação de uma aliança com grupos rebeldes que se opõem a Israel, podendo fornecer armamentos agravando ainda mais as tensões com Israel.

Um da história e os desdobramentos dos conflitos entre Israelenses e Palestinos

No entanto, o quadro de instabilidade política e social que se instalou tanto dentro como fora das fronteiras do território israelense deve ser analisado considerando a importância geopolítica, que desde o século XIX, é palco de ocupações e disputas, patrocinadas por grandes potências interessadas principalmente nas grandes reservas de petróleo da região. Além dos episódios que marcaram o final do século XX como as guerras do golfo, Iraque e Afeganistão, o século XXI, a região continuou sobre forte tensão social, entrando no circuito dessa vez, países como a Síria, que vive forte convulsão social, e Israel, que sob o guarda chuva protetor dos EUA continua com sua política de ocupação e extermínio dos palestinos que habitam a faixa de gaza.
O problema na faixa de gaza como nas demais cidades que juntas constituem o território palestino, os conflitos que vem se seguindo datam da segunda metade do século XIX quando os judeus espalhados pela Europa e Rússia, devido às políticas antissemitas, passaram a ocupar Israel constituindo colônias agrícolas. Antes da criação do Estado Judeu em 1947, a região esteve sob o domínio do império Otomano e britânico, isso proporcionou uma maior ou menor leva de emigrantes judeus para a região. Na época dos otomanos, território governo pelos palestinos, dos 3.177 milhões que lá chegaram apenas 60 mil foi para palestina. Realidade que em nada se compara com a época do domínio britânico, dos 1.750 milhão que emigraram 487 mil se deslocaram para palestina.
Com o fim do domínio britânico da região e com o holocausto do pós-guerra, a ONU intercedeu na região tomando partido na partilha do território, fundando o estado judeu, sem consultar a população árabe. O modo como foi dividido o território em nada agradou os palestinos que ali habitavam há séculos. A partilha favoreceu escancaradamente os judeus, com uma população muito menor que a palestina. As tensões entre os dois povos a cada dia ficavam mais sérias, cujo resultado foi a guerra dos seis dias quando Israel incorpora ao território a península do Sinai, faixa de gaza, a Cisjordânia e as colinas de Golã, que pertenciam a Síria.
Diante dessa situação vexaminosa para os palestinos, surgem movimentos tanto dentro como fora de Israel em defesa da criação do estado palestino. Dentre o mais importante foi o FATAH, partido criado pelo líder Yasser Arafat que defendia luta armada contra os israelenses. Em 1964, surge a OLP (Organização de Libertação da Palestina). Os impasses e as tentativas de negociais não avançavam. A situação ficou ainda pior, quando em 1982 milicianos cristãos invadiram campos de refugiados de Sabra e Chatila, matando cerca de dois mil pessoas. Segundo informações confirmadas na época, o responsável pela abertura dos campos de refugiado for Ariel Sharon, que se tornaria mais tarde primeiro ministro de israel.
Durante a década de 1990, as negociações que rumavam para um possível acordo que resultaria na criação de um estado palestino, chancelado pelo presidente Ytzhak Rabin, voltou a estaca zero quando um extremista ultradireitista judeu assassina Rabin. As revoltas de palestinos se estendem por toda parte, porém, por não possuir armamentos capazes de combater em pé de igualdade com o exército israelense, como alternativa utilizam pedras atirando-as contra os solados. Esse levante foi batizado de Intifada, sendo a primeira ocorrida em 1987.
Na época quando vinha se discutindo a possibilidade da criação de um estado palestino, na verdade, tudo não passou de um simples jogo de cena criado pelos israelenses para continuar promovendo os assentamentos. Jamais foram colocadas em prática acordos como a retirada de assentados de áreas palestinas. O que aconteceu e vem acontecendo é o aperto do cerco, com o bloqueio das estradas e a construção de enormes muros mantendo os palestinos confinados como se deu na faixa de gaza, uma área de aproximadamente 400 km quadrados, onde cerca de dois milhões de pessoas vivem em condições subumanas. Durante quase um mês a região foi alvo de ataques aéreos israelenses, matando cerca de duas mil pessoas, na maioria crianças, cujo objetivo de destruir lideranças pertencentes ao grupo armado Hamas, pró-estado palestino independente. 
A Síria é também outro país que como Israel sempre esteve envolto em disputas internas ou de potencias econômicas. A partir do início do século XX quando o império otomano perdeu sua hegemonia sobre a região, a chancela de divisão dos territórios antes dominados ficou entre Inglaterra e França. A França passou a tutelar a Síria e o Líbano desconsiderando aspectos importantes desses dois países como suas histórias e culturas. Em 1946, finalmente a Síria conquista sua independência, porém, continuou envolvida em guerras contra seus vizinhos, pois sua intenção era conquistar a supremacia da região, num momento que a região estava sendo alvo de influência das duas superpotências EUA e URSS interessadas nas grandes reservas de petróleo da região.
As tensões aumentaram ainda mais quando na guerra dos sete dias Israel anexa ao seu território as colinas de Golã. No entanto tais ofensivas israelenses na região eram respaldadas pelos EUA, que naquele momento mantinham uma política de amizade com o Irã. Com a revolução cultural iraniana, e a deposição do governo pró-EUA, o tabuleiro geopolítico da região muda completamente, a Síria passa a receber apoio dos países que se opõem aos EUA - pró-Israel, como Rússia, Irã, e hoje, a própria China.   
Em 1963 o partido Baath de tendência socialista conquista o poder contribuindo ainda mais para uma aproximação com os soviéticos. Oito anos depois da criação do partido, o poder político na síria é conquistado por Hafez Al Hassad, pai do atual presidente Bashar Al Hassad. O governo de Hafez já começou conturbado quando instalou um governo cujos portos administrativos passaram a ser controlados por representantes da minoria Xiita, 10% da população Síria. Além da aproximação com o Irã, procurou estreitar os laços políticos com o Hezbollah, grupo armado do sul do Líbano, que faz oposição a Israel. A partir de 2001, com os atentados das Torres Gêmeas, o panorama geopolítico do oriente médio muda radicalmente. Os EUA lançam uma ofensiva contra os países ditos pertencentes ao eixo do mal, ficando de fora a Síria.
Com a primavera árabe que alterou os regimes de países como Tunísia, Egito, entre outros, a esperança agora das potências era fazer com que a revolução atingisse outras monarquias como a da Síria, acreditando que com a queda de Bashar Al Assad, poderia enfraquecer o regime iraniano, mantendo-o isolado.  A tentativa de derrubar Al Assad do poder se manteve mediante disponibilização de recursos e armamentos para as milícias contrárias ao governo que vem se defrontando com as forças do governo. Uma possível intervenção armada na Síria já foi descartada com o veto da Rússia e da China no conselho de segurança da ONU. A própria China vem se eximindo de lançar apoio aos movimentos contras às monarquias, pois pode incitar reações da população do país contra o próprio regime. Atacar militarmente a Síria, como se pretende, poderá resultar no apoio iraniano, russo e Chinês à AL Assad, bem como expandir o conflito para a Turquia e Israel contando com o apoio do Hezbollah.     
                 
Mar morto, um manancial previsto para desaparecer em 2050

Retornando a problemática que vem alterando toda dinâmica física e química do mar morto, na extremidade norte do manancial, já se vê nitidamente o tamanho dos impactos provocados pela redução do nível das águas oriundas do rio Jordão. Enormes crateras estão se formando no local onde antes havia água. O que é assustador é a existência de uma extensa área de terra cuja água secou completamente. Como forma de atenuar os impactos, o governo israelense vem drenando o canal principal permitindo o escoamento da água até a parte norte, onde estão os hotéis e as salinas.
      
Transpor a água de um lado para o outro está impactando ainda mais o lago da galileia, que perde diariamente quantidade substancial de água. Os hotéis situados às margens do mar hospedam milhares de turistas do mundo inteiro anualmente, que procuram o local para banhar-se nas águas salgadas e terapêuticas, bem como aproveitar o sol medicinal do local comprovadamente eficiente no combate de doenças como artrose, artrite entre outras.
O problema, portanto, do Mar Morto é muito maior do que muitos pensam. Se o ritmo do volume de água transportada pelo rio continuar diminuindo, acredita-se que por volta do ano de 2050 o manancial estará completamente seco. É importante salientar que o mar morto perdeu sua ligação com o mar mediterrâneo há aproximadamente 18 mil anos. Nos últimos 60 anos o importante recurso natural, que é repleto de histórias e palco do afloramento de três religiões monoteístas, vem sofrendo os efeitos do mundo moderno, das estruturas produtivas predatórias que exploram os recursos naturais sem levar em conta os impactos aos ecossistemas existentes. Um desses impactos observados que refletem na redução da vazão de água do Jordão são os desvios dos afluentes para atender os interesses econômicos e de abastecimento de Israel, Jordânia e Síria. Na década de 1950 os estudos davam conta que o volume de água evaporado do mar morto era reposta em igual proporção pelo rio Jordão, mantendo desse modo o equilíbrio de ambos.
Duas décadas depois, a limitação da vasão do Jordão chegou a um nível preocupante. De 1,3 bilhões de metros cúbicos despejados nos últimos cinquenta anos foi reduzido para 70 milhões. Atualmente, pouco mais de 5% da água chega ao mar morto, ficando Israel com 60% desse volume enquanto a Jordânia e Síria, ambas ficam com 35%. Outro problema enfrentado pelo rio é em relação quanto aos poluentes recebidos nos vários estágios de tratamento do esgoto realizado no país, especialmente na capital Telaviv;
A questão do turismo na região também se vê ameaçado por tais desequilíbrios sucessivos. As usinas de Sal e de Fosfato, instaladas na extremidade sul do mar, se contrastam com os inúmeros hotéis, muitos dos quais forçados a adaptações constantes para permitir o deslocamento dos hóspedes até o mar, pois anualmente a distância entre hotéis e as áreas de banhos ficam maiores devido redução do volume de água. O agravante é que os próprios hotéis contribuem para o agravamento dos impactos, por captarem muita água do Jordão.
A região do mar morto é conhecida mundialmente por estar situada no interior de uma cratera considerada a mais baixa do planeta em relação ao nível do mar. Para se ter noção do que representa a perda gradativa de água do respectivo manancial, na década de 1960, o mar estava a 395 metros abaixo do nível do mar, já em 2009, esse índice saltou para 422 metros, ou seja, se as previsões dos pesquisadores se confirmarem, em 2050, no local haverá apenas uma das foças mais profundas e assustadoras do planeta.
Tentar recuperar o manancial de água salgada obrigaria o despejar de 160 bilhões de galões de água por ano. Atualmente o mar recebe um pouco mais de 10% desse total. Há algumas alternativas pensadas, porém, foram engavetadas ou se perderam nas burocracias decorrentes das crises políticas e econômicas envolvendo os países interessados no projeto. Uma das propostas pensadas em 2005, envolvendo Israel, Jordânia e a autoridade Palestina seriam a instalação de tubulações capazes de transferir de dois bilhões de metros cúbicos de água do mar vermelho em direção ao mar morto. Um projeto ousado de 200 km de distância, com custo estimado de dois bilhões de dólares. Há riscos, segundo os ambientalistas, é que com a execução da obra poderá haver impactos no manancial decorrente da química do mar vermelho que poderá desequilibrar o ecossistema do mar morto.
A salvação do respectivo manancial deixa de ser obrigação não só dos países situados no seu entorno, bem como de toda humanidade, devido a sua importância histórico/religiosa, por ser também um ecossistema complexo constituído por vários oásis de água doce e habitat natural de plantas e animais endêmicos e migratórios. Sem contar que essa região anualmente serve como rota e parada para 500 milhões de pássaros, de pelo menos 300 espécies, como cegonhas e pelicanos que nas migrações entre a África e Europa tem o local como parada obrigatória.

A grande fortaleza de Massadas, símbolo de resistência e orgulho do povo Judeu

No período em que o Rei Herodes governou a Judeia, diante das constantes ameaças de revoltas populares e invasões externas, decidiu patrocinar a construção de fortalezas que garantissem segurança para si e sua família. Antes de discorrer acerca do  que representou essa construção para a época é importante relatar um pouco da vida e o que representou Herodes durante o período cuja região estava sob domínio romano. No ano 40 a.C, duas décadas depois de Pompeus ter entrado em Jerusalém, o império dos Partas invadiu a Judeia. Temeroso com a sua segurança, Herodes se retirou da Galileia junto com sua família e foram para as imediações do mar morto onde deixou todos em segurança numa fortaleza construída no topo do Monte Massadas.
Depois de lá, se deslocou para Alexandria, no norte da África, e para Roma, onde foi nomeado rei da Judeia pelo senado romano. Sua nomeação como rei foi providencial. Isso porque, no comando das forças militares poderia forçar a derrubada do comandante dos Partas da Judeia, considerado arqui-inimigo dos romanos.  Dito e feito, em 37 a.C Herodes invadiu Jerusalém e derrotou Matitiahu Antigonus, último rei da dinastia hasmonea. Quando foi nomeado governador da Galileia, Herodes perseguiu mandando matar todos aqueles que o ameaçaram, deixando de lado as formalidades jurídicas que tanto presava. Suas ações foram apoiadas por Sestus Cesar, governador romano da Síria.
Diante de tais medidas autoritárias, os representantes da justiça em Jerusalém, o forçaram a comparecer diante do tribunal para que fosse submetido a interrogatório. Quando chegou ao local, estava acompanhado com uma legião de soldados fazendo com que o resultado do interrogatório lhe favorecesse. Quando assumiu o reino da Judeia, sua primeira ação foi determinar a execução de mais da metade dos integrantes do Sinédrio (justiça da Judeia), especialmente os que integravam ou eram comprometidos com o governo anterior. No ano 19 a.C Herodes mandou construir, pela segunda vez, o Templo Cristão, cuja fundação foi erguida um muro de 50 metros de altura, com o emprego de um exército de dez mil trabalhadores e mil sacerdotes treinados para construir o Santo Santíssimo no templo de Jerusalém.  
     Das sete fortificações construídas em todo território por Herodes, a mais espetacular estava situada na região de Massadas. Durante as escavações arqueológicas realizadas a partir de 1969, os artefatos encontrados forneceram informações importantes sobre a vida de Herodes e o vasto conhecimento das técnicas arquitetônicas aplicadas na obra.  No entanto, Herodes jamais morou na fortaleza. Durante a ocupação Romana, a intenção do imperador romano era dominar a fortaleza. Diante das dificuldades que teriam para escalar o pico, com riscos de sofrerem inúmeras baixas, os romanos adotaram a guerra psicológica, ou seja, construíram rente a montanha uma mine-barreira de pedra, mantendo no local cerca de cem soldados permanentes na tentativa de intimidar o exército Judeu.
  
Se o exército romano na época era constituído por cerca de vinte mil homens, por que razão não realizada a tomada imediata de Massadas? A resposta estaria no alto custo dessa operação. Primeiro porque era mais em conta para os romanos manter cercada a montanha e ocupar as demais cidades espalhadas pelo território. Transferir uma legião de milhares de soldados para aquela região exigiria provisões como alimentação e água, elementos não disponibilizados naquele lugar. Cabe frisar que os soldados que compunham o exército romano eram constituídos na sua maioria por mercenários oriundos da Síria, Egito, Pérsia, cruéis e sanguinários com qualquer um que tentasse se rebelar contra o império. Para intimidar o inimigo, adotava a prática da crucificação, uma forma de punição que resultava na morte do condenado.
Massada, portanto, foi finalmente dominada e ocupada oitenta anos depois da morte de Herodes. Para o povo Judeu, Massada até hoje é considerada um símbolo para o estado israelense, um local que conserva fragmentos de uma época de guerras, de disputas, e que se mantem intacta. Se deslocando em direção a Jericó, se avistou as cavernas no alto das montanhas onde foram encontrados pergaminhos do mar morto, que constavam inscrições dos livros do antigo testamento, menos o livro de Ester, não encontrado. A documentação encontrada, parte dela está no museu nacional em Jerusalém e demais museus na Europa e Estados Unidos.

 

Impactos na economia de Jericó e Belém resultantes dos conflitos na Faixa de Gaza

Além da visita a cidade de Belém, o grupo também esteve na cidade de Jericó, ambas, se constituem em territórios palestinos.  Nelas estão as ruínas de construções importantes para o cristianismo como a montanha em Jericó onde cristo foi tentado pelo demônio. Ambas as cidades sofrem violentamente os impactos dos conflitos na região, pois dependem do turismo, e com o conflito na Fixa de Gaza, milhares deles cancelaram suas viagens. Jericó, segundo informações da população local, há quase dois meses não recebe nenhum turista, tornando as condições de subsistências da população ainda piores. Diferente de Jericó para se chegar à cidade de Belém, foi necessário passar por dois postos de segurança, um controlado por solados israelenses e o outro por palestinos. A cidade de Belém, de acordo com o novo testamento, se chama cidade de David, onde teria nascido há cerca de três mil anos. A presença de Belém como terra sagrada para os católicos se deve ao fato do nascimento de Jesus numa manjedoura, ou caverna, isso porque sua família era pobre não tendo condições financeiras para adquirir uma casa digna.
  
A presença de José e Maria no local, naquele momento, foi porque periodicamente havia obrigação do povo judeu participar do censo, e por estar grávida deu a luz naquela cidade. Portanto, Belém é a cidade onde Jesus nasceu, e por ser território palestino, Jesus cristo seja um palestino filho de judeus. Hoje, mais de dois mil anos depois do nascimento de cristo, a cidade, com cerca de cinco mil católicos, passa por profundas dificuldades. Primeiro porque se encontra cercada por um imenso muro de concreto, cuja população para sair ou entrar da cidade são forçadas a revistas em duas guaritas de segurança, uma no lado israelense, outra no lado palestino. Dependendo da situação na região, havendo qualquer ameaça a segurança, o governo israelense pode a qualquer momento determinar o fichamento fronteira deixando o povo numa situação desespero.
      
Entretanto mesmo com todas as adversidades sociais e econômicas, em Belém é possível observar muitas construções novas, isso se deve graças à intervenção da ONU, que destinou recursos para sua reconstrução. Nas ruínas e paredes de construções antigas é possível de avistar marcas de perfurações de balas. Enfim se chegou à cidade de Jerusalém, uma cidade moderna, bonita, com uma arquitetura inovadora que preserva traços do passado mantendo uma atmosfera de cidade antiga e nova ao mesmo tempo sem agredir os olhos de quem lá vivem e visitam.

Jerusalém, cidade de contrastes, onde o passado ainda permanece presente no imaginário social

Conhecer a antiga cidade de Jerusalém a partir de uma pequena conina deixa transparecer o quanto foi marcada pela fé e devoção representada nos detalhes das construções, monumentos e templos espalhados pelos vários quadrantes da cidade. A primeira vista o que chamou a atenção foi a espetacular muralha cujas fundações datam de mais de dois mil anos, que devido as ações do tempo e das guerras foram destruídas e reconstruídas várias vezes.
   
Na época de Jesus o principal templo católico estava exatamente onde hoje está a mesquita muçulmana cuja cúpula dourada pode ser vista em todos os lados da cidade. Na antiguidade, a cidade de Jerusalém ocupava uma área de um quilômetro de largura por dois de comprimento. Um aspecto curioso em relação a cidade antiga é quanto ao muro que circunda a cidade. Na época a casa do sumo sacerdote Kaifás, onde Jesus fora julgado, estava localizada no lado interno do muro, sendo hoje nesse mesmo local foi erguido um templo, que se encontra foram dos limites da muralha. Para compreender o que é Jerusalém hoje e o que foi no passado é necessário retornar cerca de quatro mil anos da história, quando Abraão chegou a essa terra para sacrificar o seu filho. No ano três mil, Davi conquistou a cidade, construindo o templo de Salomão que se manteve em pé até o ano de 586 a.C quando foi destruído pelos babilônios.
Em resposta a ação dos babilônios, os judeus ocuparam a babilônia e a controlaram por 70 anos, quando retornaram construíram o segundo templo. No entanto, durante esse período o tempo foi construído por três vezes. No ano de 333 a.C, novamente Jerusalém sofreu a investida do exército de Alexandre, o Grande. Depois da sua morte a região foi dividida entre seus herdeiros. O clima social na região mantinha sempre tenso, isso resultou numa revolta popular quando os Judeus se rebelaram contra os helenistas, descendentes do imperador Alexandre. No ano 40 a.C, foi a vez de rei Herodes reinar e refazer o templo, onde hoje se encontra a esplanada e a mesquita muçulmana. É na época de Herodes que Jesus cristo apareceu no cenário da história transformando-se numa das principais personalidades da época, capaz de mobilizar milhares de pessoas e criar uma nova religião que permanece sólida até os dias de hoje.
Sua postura política em defesa dos oprimidos gerou preocupação às autoridades que passaram a vê-lo como risco iminente à hegemonia política da classe dominante local. Uma das passagens que comprova a indignação de cristo ao modo como muitos tratavam lugares sagrados, ocorreu onde hoje é esplanada dos ministérios quando expulsou os negociadores. Esse episódio é narrado na Bíblia quando Jesus indignado com derrubou as mesas expulsando a todos que transformavam o local em espaço de jogatina. No ano de 70 d.C., o templo foi novamente derrubado.
Com a conversão dos romanos à religião cristã, a primeira medida tomada foi a derrubada dos templos pagãos e a construção da igreja do santo sepulcro, local hoje controlado pelas diferentes igrejas cristãs ortodoxas e não ortodoxas. Com a tomada de Jerusalém pelos palestinos, os templos cristãos foram destruídos exceto a igreja do Santo Sepulcro. Jerusalém transformou-se na terceira possessão mais importante dos povos muçulmanos. Alguns anos depois da conquista da cidade, em 695 construíram a mesquita com a cúpula dourada, considerada uma das mais antigas construções do Islã no planeta. Quando os cruzados chegaram à terra santa em 1099 com objetivo de libertá-la do domínio muçulmano, tiveram a ousadia de colocar uma cruz no templo de Salomão, transformando em um lugar sagrado dos cristãos.
O domínio dos cruzados sobre a cidade não durou muito, anos mais tarde o líder muçulmano Saladino conquistou novamente o território cuja primeira iniciativa foi lavar o monte ou colina com água de rosas, com a intenção de purificar o local. Seguindo a trajetória história de Jerusalém, em 1919, os ingleses conquistam o território entregando o controle político e administrativo aos muçulmanos. Em 1948, a vizinha Jordânia ocupa a região exercendo controle político sobre a cidade. 19 anos depois do domínio jordaniano, Israel novamente retoma a cidade na conhecida guerra dos sete dias. Tendo o controle sobre a mesma, o governo de Israel adota algumas medidas emergentes e ousadas como a liberdade religiosa dos muçulmanos, porém, o controle da segurança no local seria mantido pela polícia de Israel.     
Chegar ao local onde se encontra as ruínas do caminho onde Jesus fez até a sua crucificação e sepultamento, foi preciso primeiro entrar na cidade antiga de Jerusalém, lado onde está o muro das lamentações, construído por Herodes. No tempo de Jesus o muro de arrima não tinha importância, porém, depois da destruição do templo sagrado, ocorrido no ano 70 da era cristã, este era o único local que os judeus podiam chegar para orar e lamentar a destruição do templo. Para os judeus, o exercício da oração deve ser feito envolvendo o corpo inteiro. Em relação as vestimentas, roupas pretas, cartolas e outras indumentárias, cada agrupamento segue preceitos próprios de acordo com critérios culturais ou ideológicos do qual acreditam.
  
Saindo da área reservada aos rituais judaicos e cristãos, se chegou à área destinada aos rituais muçulmanos, cujo  acesso é restrito, estando todos (as) sujeitos às revistas para acessar a esplanada das mesquitas onde se encontra o templo com cúpula dourada. Notou-se que nas proximidades do templo muçulmano um grupo de mulheres gritavam palavras de ordem em direção a um cidadão acompanhado por dois policiais. Relatou o guia que a revolta das mulheres era pelo fato de não concordarem com a presença da respectiva pessoa, um judeu, no local sagrado dos muçulmanos.
     
Durante a caminhada pelas vielas estreitas e movimentadas da cidade antiga de Jerusalém, foi realizada a via sacra seguindo o mesmo caminho feito por Jesus há mais de dois mil anos. Depois de concluída as estações o grupo se dirigiu ao local onde cristo foi velado e sepultado, ou seja, a igreja do santo sepulcro. Antes da construção desse principal templo dos cristãos, no ano de 132 a 135 d.C., após a revolta de Bar Cohba, os romanos concentraram esforços para a reconstrução de Jerusalém trocando o nome para Aelia Capitalina. Medidas como a troca do nome da cidade não foram vistas com simpatia pela população local, no qual se sentiam ofendidos diante da blasfêmia a certos símbolos sagrados. A construção do templo pagão em homenagem ao deus Júpiter, onde antes teria sido de Jeová, foi uma obra arquitetada pelo imperador Adriano. Mas, o que realmente causou repulsa foi a profanação do local onde cristo foi crucificado com a construção de um templo dedicado a Afrodite.
Construir a igreja onde hoje é o santo sepulcro tornou-se uma das obsessões, sendo contratados para erguer as bases os melhores artesãos do império. Fora dez anos de trabalho, sendo inaugurada em 336 D.C. 278 anos depois da construção do templo, ou seja, em 614, os Persas ocupam a cidade matando e destruindo novamente o templo. A supremacia Persa em Jerusalém durou 14 anos, pois em 628 o exército bizantino comandado por Heráclito invade a cidade e expulsa os Persas. Modestos Prior, abade do mosteiro de São Teodósio, na Palestina, foi escolhido como patriarca de Jerusalém, onde reconstrói o santo sepulcro. Anos depois, em 640 d.C., os muçulmanos dominam a cidade, sendo que no ano de 1009 d.C., o Califa egípcio Al Hakin ordena mais uma vez destruir o santo sepulcro.      
       
As notícias de que a terra santa estava sob o poder dos “infiéis” muçulmanos corria por toda a Europa medieval, cuja reação, tanto da igreja católica como dos demais fiéis, era de indignação e revolta. Nessa época o comando supremo da igreja católica estava nas mãos do papa Urbano II. Sua atitude foi montar um poderoso exército constituído de soldados e cidadãos com a finalidade promover uma cruzada à terra santa e expulsar os muçulmanos. Seu projeto ousado se concretizou em 1099 d.C quando Jerusalém foi ocupada e transformada na capital do reino cristão. Na ocasião foi reconstruído novamente o templo do santo sepulcro como é conhecido hoje. Quando se acreditava que com a presença dos cruzados na terra santa estaria encerrada as guerras de conquistas, lendo engano.
  
Em 1187 d.C, na batalha de “Cornos”, os cristãos foram derrotados voltando Jerusalém e o Santo sepulcro para as mãos dos muçulmanos. Saladino, principal líder muçulmano não destruiu o santo sepulcro, porém, mandou derrubar o sino e retirar a cruz da rotunda. Na época, as chaves da igreja do santo sepulcro foram entregues à duas famílias muçulmanas, que se mantém até os dias de hoje. Alem do mais, a própria igreja onde está a sepultura de cristo é controlada por cinco facções cristãs: a Ortodoxa Grega, Armênia, Capta, Etíope e a Católica. Essa foi uma decisão tomada entre ambas, através de um estatuto conhecido pelo nome de Status Quo, como forma de evitar eventuais conflitos em relação ao controle do local e a responsabilidade pela prática das liturgias. Essa decisão vem sendo cumprida a risca entre ambas, chegando ao ponto de ocorrer episódios um tanto quanto inusitados como a presença de uma escada situada na frente da igreja, que foi colocada por alguém há cento e cinquenta anos que continua ainda lá.

Prof. Jairo Cezar