domingo, 30 de julho de 2023

 

O ESPERADO FRACASSO NO CUMPRIMENTO DAS METAS DO DECÊNIO DO PNE (PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO) – 2014 a 2024

https://campanha.org.br/noticias/2023/06/20/plano-nacional-de-educacao-tem-90-das-metas-nao-cumpridas-aponta-balanco-do-pne-2023/


Depois de quase quatro anos de intensos debates, conferências e outros tantos eventos envolvendo professores e segmentos da sociedade civil organizada, finalmente em 2014 foi aprovado no congresso nacional o PNE, que demarcaria os rumos da educação brasileira para os próximos 10 anos. Foram elencadas 20 metas e 250 estratégias, que se executadas na sua plenitude, o Brasil romperia definitivamente seu trágico passado de atraso cultural, econômico e social se equiparando aos países com melhores índices de IDH e educacional. Durante os cinco primeiros anos da vigência do plano, construí cinco textos mostrando todo o meu ceticismo acerca do cumprimento das metas e estratégias até o seu final.[1] [2][3][4][5]

De todo o modo já quase expirado os prazos de vigência do plano, a comissão de educação do senado federal vem promovendo audiências públicas para avaliar os avanços e retrocessos nesses dez anos de vigência do plano. O fato é que pouco pouca diferença faria a realização das audiências para constatar coisas que são óbvias e estão às vistas de toda a sociedade, uma educação pública básica aos frangalhos em quase todos os aspectos citados nas metas.

É fato que os retrocessos foram mais evidenciados nos últimos sete anos, a partir do golpe político de 2016, quando ascenderam ao posto de presidente governos ultraconservadores, autoritários, que promoveram intensos ataques e retrocessos à educação pública brasileira.  A aprovação da Emenda 95 que restringe investimentos em serviços públicos essenciais por vinte anos foi uma das medidas que afetou em cheio o cumprimento do PNE, principalmente em se tratando da Meta 20 sobre a elevação para 10% do PIB para a educação pública.

Analisando o gráfico abaixo, percebe-se que nem mesmo o percentual previsto de 7% até 2019 nem chegou perto ficando nos 5% como vinha ocorrendo há anos. O agravante aqui é que por muito tempo parte desses míseros cinco por centos  vem se perdendo  pelos dutos da corrupção ou muitas vezes  assumem outras finalidades bem diferentes dos seus propósitos. Lembra do esquema envolvendo o ministro da educação do governo passado beneficiando pastores aliados a prefeitos com desvio de recursos do MEC para construção de igrejas. Esse é só um exemplo de muitos outros que acontecem todos os dias no Brasil.    


Além da meta 20 que não vai ser cumprida de jeito nenhum, destacamos também a meta 15 cuja promessa era fazer com que todos os  envolvidos com a educação, porteiro, faxineira, merendeira, etc, tivessem  formação profissional, além de planos de carreiras com piso salarial a altura do cargo ocupado. Foi acordado no plano que em dez anos, ou seja, até 2024, todos os docentes que atuassem do nível infantil ao médio teriam que ter curso superior. Infelizmente os números mostram que ainda está muito longe para o cumprimento dessa meta. Pois prestemos atenção no gráfico abaixo, a educação infantil anos iniciais eram 62% dos profissionais em 2022 que possuíam formação universitária. No ensino fundamental, do primeiro ao quinto ano, são 71,2%;


No ensino fundamental, anos finais, dos sextos aos nonos anos, são 58,5% de docentes que exercem o trabalho conforme sua habilitação acadêmica. Isso quer dizer que 41,5 % ou estão trabalhando em área não corresponde a sua formação ou não possuem titulação acadêmica ao exercício do cargo.  Incrível que no ensino médio ainda tem 34,4% de professores não habilitados ao cargo que ocupa. A realidade no ensino médio, não tão diferente do fundamental são mais de 30% de trabalhadores que vivem essa situação, basta observar o gráfico abaixo.  


 

Se já são absurdos os números mostrados relativos à Meta 15 sobre formação superior dos docentes brasileiros, é mais estarrecedor ainda quando analisamos a quantidade de professores com pós graduação e os percentuais recomendados até 2024. Quando é mencionado pós-graduação, se inclui aí especialização, mestrado e doutorado. Dados de 2021 confirmavam que do total de 44,7% dos docentes que continuaram os estudos depois da graduação, 40,07 possuíam especialização; 3,3% mestrado e, por último, 0,8% com doutorado.   

 


 

Geralmente quem faz uma especialização, a instituição responsável pelo curso não exige a apresentação de uma pesquisa stricto sensu, obrigatória para quem ingressa no mestrado doutorado. Aqui está uma das causas da extrema carência de trabalhos científicos desenvolvidos no ensino básico, pois muitos têm dificuldade ou desconhecem as metodologias de iniciação a investigação cientifica.   Em 2015 tive a oportunidade de conhecer os países nórdicos, Suécia, Noruega e Finlândia. No entanto, na época, quando estava na capital finlandesa Helsinque, visitamos uma escola e procuramos conhecer melhor o modelo pedagógico adotado que contribuía para colocar o país nas primeiras posições entre os quase cem países que fazem parte do OCDE.

A resposta que tive foi a seguinte: “um dos aspectos importantes na educação finlandesa é a qualidade profissional dos docentes, aliada a uma excelente infraestrutura. Todos os professores devem ter mestrado no momento da contratação. O profissional quando se deparar com alguma dificuldade em sala de aula poderá solicitar apoio de uma auxiliar, atém mesmo levar o caso ao comitê de socorro, que incluirá diretores, pais, psicólogos e outros profissionais. Na Finlândia não é desenvolvida avaliação externa para professores. Quando ao currículo básico nacional, o mesmo pode sofrer adaptações seguindo as peculiaridades de regiões e municípios”.  

Nas sociedades modernas um dos principais pilares de equilíbrio aos conflitos de interesses é a democracia, tanto representativa quanto participativa direta. Todos sabem os terríveis impactos gerados a uma sociedade quando regimes autoritários ocupam o poder fazendo valer o mando das armas. Nas escolas não são diferentes. Por décadas, séculos, as escolas sempre tiveram seus gestores indicados por conveniências político partidárias. Após a constituição de 1988 e a aprovação da LDB, 9394/96, um das maiores desafios da sociedade brasileira era fazer com que a democracia também virasse realidade em todas as instituições de ensino público brasileiro.

Entretanto, quase quarenta anos mais tarde a aprovação da LDB e nove anos do PNA, o que temos está demonstrado no gráfico abaixo, relativo à Meta 19, que expressa o percentual de escolas públicas que selecionam diretores por processo de seleção, qualificado e eleição com participação da comunidade escolar. A intenção era que até 2024 todas as escolas públicas tivessem implantado suas políticas de gestão democrática. Analisando o gráfico abaixo o que se nota é algo estarrecedor, são apenas 6% das escolas publicas brasileiras que implementaram a gestão democrática. É muito pouco para um país que almeja integrar as grandes potencias econômicas. 

É possível que o estado de santa Catarina esteja inserido nesse gráfico, mesmo estando à rede pública estadual contemplada parcialmente com a gestão democrática sancionada por meio de decreto.  Por que parcialmente?  O primeiro ponto merecedor de criticas sobre a gestão democráticas nas escolas públicas estaduais foi o instrumento utilizado pelo governo, adotado por meio de decreto e não por lei aprovada na ALESC. Um decreto pode ser suprimido a qualquer tempo pelo executivo, enquanto lei os passos são mais complexos. O segundo ponto se deve ao fato de o decreto criar uma serie de regras de barreiras que confronta com os princípios democracia entendida na sua forma plena.

Em 2013 escrevi um texto criticando na época o governo Raimundo Colombo por não cumprir a lei federal sobre o piso do magistério entre outros assuntos. Destaquei no texto também a minha indignação ao decreto 1794/2013 que estabeleceu o processo de gestão democrática nas escolas. Disse que: “o decreto era uma farsa no quesito democracia, quando diz que o candidato para concorrer deverá ter curso de PROGESTÃO, exclusividade essa apenas para diretores. Além do curso como critério, o decreto estabelece também que o candidato apresente um projeto pedagógico no qual passará por uma “severa” avaliação de uma banca examinadora. A dúvida é quem são os examinadores e quais critérios considerados na hora a seleção. Outro dado questionável que merece reflexão é quanto a escolha dos assessores, subdiretores, secretários, etc, que ficam submetidos à decisão do diretor geral”.[6] Em ruim ou bom, até o momento esse procedimento segue nas escolas públicas estaduais.

Em se tratando de escolas públicas municipais a realidade é bem mais caótica do que se imagina.  O MPSC, em 25 de novembro de 2021, lançou nota técnica sustentando que diretor de escola publica deve ter qualificação técnica e ser escolhido com a participação da comunidade escolar. A nota apresentada pelo Ministério Público foi motivada depois de constatar que 75% dos municípios catarinenses não vinham cumprindo com a Meta 19 relativa a gestão democrática.[7] Essa meta, entre as  outras dezenove, foram criadas por meio do decreto 13.005/2014. A eleição de diretores, conforme o decreto, todas as escolas teriam que elaborar seus planos num prazo de dois anos após a promulgação do mesmo. Realidade essa não contemplada por mais de 200 municípios catarinenses. 

Há cerca de dois meses o TCE em decisão ao município de Passo de Torres reforçou a importância da gestão democrática na educação. O argumento do tribunal era de que o município não vem cumprindo o PNE e o PME no qual estabeleceu prazo de dois anos para sua execução. Diante da inexistência de plano, o órgão estadual deu prazo de 180 dias para que o executivo encaminhe projeto à câmara municipal a fim de que os vereadores aprovem o respectivo projeto de lei.[8]

A pergunta que fica é se tal medida do TCE/SC se estende também para os demais municípios catarinenses que não estão cumprindo com a META 16? Se, de fato, contemplará os demais municípios é bem provável que Araranguá estará na lista do tribunal. O que estranho é o fato de o município ter implantado a Meta 19 por meio de decreto n. 9.020/2019, e sedo suprimido em 2021, agora por meio da lei n. 020/2021, da qual ficou com a seguinte redação.[9] Nessa ocasião dois vereadores um do PT e outro do PP tentaram alterar o art. 19 dessa lei apresentando emenda substitutiva de n.002/2021, na câmara de vereadores, que foi rejeitada.    


Outro desafio histórico no Brasil é fazer com que todos os estudantes de escolas públicas permaneçam na instituição durante os dois turnos, ou seja, período integral.  Embora não tenha tido sucesso no primeiro decênio, 2000 a 2010, no decênio seguinte, 2014 a 2024 a expectativa era atingir, 50% dos alunos do público alvo. Acontece que em 2021 não havia atingindo nem o limite mínimo de 25%, ficando com 22,4%. O problema é que parcela significativa dos estudantes das escolas públicas exerce algum trabalho contra turno para ajudar na renda familiar.


      Para concluir vou discorrer a meta 17 que se atendida que de fato não ocorrerá a profissão docente recuperaria sua dignidade e respeitabilidade frente as demais áreas profissionais. Já perceberam que um médico, um advogado, um engenheiro ou qualquer outra profissão, o contratado tem direito a um piso salarial equivalente a sua formação. A meta 17 teria por finalidade superar esse abismo salarial envolvendo o magistério e outras profissões com o mesmo nível acadêmico.   Em 2022, o gráfico abaixo mostra que a media salarial do magistério permanecia ainda distante das demais categorias, isto é, 82,2%


Prof. Jairo Cesa

https://sinte-sc.org.br/files/1081/Decreto_Plano_de_Gesto_Escolar.pdf

https://leismunicipais.com.br/a/sc/a/ararangua/lei-complementar/2016/19/186/lei-complementar-n-186-2016-dispoe-sobre-a-organizacao-interna-da-administracao-municipal-de-ararangua?q=186

https://leismunicipais.com.br/a/sc/a/ararangua/decreto/2019/902/9011/decreto-n-9011-2019-dispoe-sobre-a-eleicao-de-diretores-das-escolas-basicas-da-rede-publica-municipal-de-ensino-e-da-outras-providencias?q=9011

https://www.files.agorasul.com.br/wp-content/uploads/2021/07/20210713-projeto-do-executivo.pdf

 

 

 



[6] https://www.blogger.com/blog/post/edit/8334622275182680372/636941388336194856

[8] https://www.tcesc.tc.br/em-decisao-sobre-municipio-do-sul-do-estado-tcesc-reforca-importancia-de-gestao-democratica-na#:~:text=Uma%20decis%C3%A3o%20do%20Tribunal%20de,para%20o%20cargo%20de%20diretor.

[9] “§ 2º Os cargos de Diretor de Escola Básica, Secretários de Escola Básica, Auxiliar de Direção de Escola Básica, Diretores de Escolas Reunidas, Coordenadores de Centros Educacionais Infantis e Auxiliar de Coordenação de Centros Educacionais Infantis da rede municipal de ensino, todos com as atribuições abaixo descritas, serão exercidos por profissionais de livre nomeação e exoneração do Prefeito, através dos cargos de confiança constantes do Anexo I, desta lei.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

 

TEMPERATURAS ESCALDANTES NO HEMISFÉRIO NORTE REVELAM QUE O CLIMA NO PLANETA ESTÁ A UM PASSO DO ABISMO


https://www.youtube.com/watch?v=RNPnVAqc-YE


A população que vive no hemisfério norte, EUA e alguns países da Europa, estão experimentando um dos verões mais escaldantes da história. As temperaturas nas últimas semanas não baixaram dos trinta graus, resultando em colapsos hospitais e em demais sistemas de saúde decorrentes de enfermidades advindas do calor excessivo. O Canadá, por exemplo, há dias o fogo vem devastando suas florestas, situação pela qual as autoridades daquele país vêm solicitando ajuda internacional para combater os incêndios que estão incontroláveis. É tanto calor acumulado que no mês de junho último o planeta registrou a mais alta média de temperatura da história, que chegou a 17,12 graus Celsius.

Não há dúvida que as altas temperaturas registradas no planeta têm relação direta e indireta com o aquecimento global, porém, agora agravada com o fenômeno climático El Nino. Tudo indica que o verão no hemisfério sul, que inicia em 21 de dezembro, a população do sudeste e sul do Brasil irá experimentar temperaturas semelhantes a do hemisfério norte, com fortes impactos às atividades agrícolas dessas regiões. Os sinais de que o clima global já beira a saturação também são notadas aqui no Brasil, nas constantes ocorrências de enxurradas e deslizamentos que devastaram cidades no nordeste, sudeste e sul do Brasil. Os exemplos mais recentes são cidades alagoanas que somaram mais de 25 mil desabrigados; São Sebastião/SP; Praia Grande/SC e outras dezenas no restante do país.

Afinal, já não era para o clima do planeta estar se reequilibrando depois de tantos encontros de cúpulas como as COPs onde são disponibilizados milhões de dólares para custear a complexa logística desses eventos para discutir o clima global?  Deveria, porém se sabe que é a exploração sem fim dos recursos naturais que alimenta essa insaciável máquina chamada capitalismo. É tanta hipocrisia por traz dessas conferências que após 2015, data de uma das mais importantes COPs, que ocorreu em Paris, França, a quantidade de gases poluentes lançadas à atmosfera superou todas as expectativas. O fato é que o Brasil não ficou alheio a todo esse desarranjo climático global.  O país vem dando a sua contribuição para o aquecimento, lançando todos os anos de 6% a 7% do total de gases poluentes lançados à atmosfera.

O contínuo desmatamento nos biomas Amazônia e Mata Atlântica nos últimos anos chamou a atenção do mundo inteiro, fato que resultou em cancelamento de programas de ajudas internacionais como o Fundo Amazonas de mais de dois bilhões de dólares vindos da Noruega e Alemanha. Relatório sobre desmatamento, apresentado em maio último, revela que houve discreta redução dessa prática na floresta amazônica. Entretanto, o relatório acendeu alerta vermelho acerca do bioma Serrado que teve uma das maiores perdas de florestas em comparação a 2022.

 

Claro que o Serrado jamais ficou imune a ação perversa do agronegócio, especialmente do segmento da soja. Há alguns anos essa atividade estava mais concentrada na região centro oeste do país. Com a valorização dessa commoditie internacionalmente a fronteira agrícola da soja se expandiu e vem se expandido de maneira alucinada para o norte e nordeste brasileiro, na área denominada de  MATOPIBA, constituída pelos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O agravante nisso é que nesse bioma estão as principais nascentes dos grandes rios que banham o território brasileiro. 

Se há o aumento da perda da cobertura vegetal no bioma serrado tem dinheiro público financiando essa depredação, por meio do plano safra que destinou para o agronegócio 364 bilhões de reais. É tanta importância dada a esse segmento que para a agricultura familiar e a agroecologia a fatia reservada foi de 77 bilhões de reais. É muito pouco em vista da importância desse setor que alimenta mais da metade da população brasileira no cultivo de feijão, batata-doce, aipim, e outras dezenas de culturas imprescindíveis que alimentam milhões de brasileiros.

Quase tudo que é cultivado pelo agronegócio, soja, milho, algodão, cana de açúcar, é exportado inatura, que posteriormente vai ser beneficiado e transformado em ração para as vacas européias ou biodiesel. Estudos realizados pela UFRJ confirmaram que a agricultura familiar gera dois milhões de empregos a mais que o agronegócio, ano. A insistência do atual governo de querer construir um acordo integração econômica com a Europa dificilmente terá sucesso. A certeza se deve ao fato de a Europa estar há algum tempo investindo em políticas de transição econômica sustentável, ou seja, aquisição de produtos agrícolas, pecuária, isentos de trabalho escrava e desmatamento ilegal.

No começo de julho o programa Profissão Repórter, da Globo, apresentou reportagem mostrando como se dá o desmatamento no serrado, muitas vezes legalizado por atos normativos dos poderes municipais e estaduais. Acredite, o governo baiano é o que mais emitiu licenças para desmatamentos, seguindo no Piauí, Maranhão, sendo os dois primeiros, BA e PI ambos administrados por governadores do PT. Esse dispositivo que garante poderes aos estados para concessão de licenciamentos ambientais veio da presidente Dilma Rousseff. E agora, o que fazer?

Esperar em berço esplêndido que as espécies vivas sucumbam diante das temperaturas tórridas ou vamos à luta, gritar aos quatro ventos alertando as autoridades que as anomalias climáticas já são uma realidade? Penso que a segunda alternativa é o que interessa agora.  É preciso, urgentemente, colocar o meio ambiente no centro de todos os debates, eventos, celebrações, etc, independentemente do tema que está sendo abordado.  Isso não pode ser exclusividade da sociedade, os governos têm de fazer a sua parte, principalmente o governo federal.  

A assertiva decisão tomada pelo IBAMA proibindo a prospecção de petróleo na foz do rio amazonas é algo que deve ser comemorado. Segundo o presidente dessa instituição, Rodrigo Agostinho, sua decisão negando a licença teve a seguinte alegação: “Não restam dúvidas de que foram oferecidas todas as oportunidades à Petrobras para sanar pontos críticos de seu projeto, mas que este ainda apresenta inconsistências preocupantes para a operação segura em nova fronteira exploratória de alta vulnerabilidade socioambiental”.

  Contudo, essa decisão causou certo mal estar entre os ministros de Minas e Energia, que era favorável, e do meio ambiente, contrário a exploração. Entretanto, o presidente da república deixou claro em seu discurso que não haveria risco algum de impacto à foz do amazonas devido a distância dos poços, cerca de 500 km. Se fizermos uma retrospectiva do seu governo e da presidente Dilma, na área ambiental na Amazônia, não temos muito que comemorar. Obras de grande impacto ambiental como a da Hidrelétrica de Belo Monte até hoje seus efeitos ao ecossistema e as populações indígenas e ribeirinhas são devastadores.

Mesmo diante de medidas polêmicas como da tentativa de exploração de petróleo na costa amazônica e de outras que julgamos inconsequentes, quero aqui reiterar que é preferível o atual governo ao genocida, neofascista anterior, que conseguiu a proeza de em quatro anos destruir quase a totalidade da estrutura do Estado brasileiro, no qual  levará algum tempo para ser reconstituído.

Prof. Jairo Cesa    

 

https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2023-05/ministro-rebate-decisao-contra-extracao-de-petroleo-na-foz-do-amazonas

https://www.otempo.com.br/politica/governo/petroleo-na-foz-do-amazonas-veja-projeto-riscos-potencial-e-disputa-politica-1.2873530

https://summitagro.estadao.com.br/noticias-do-campo/o-que-e-agricultura-familiar-e-qual-e-a-sua-importancia/

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp140.htm

 

 

 

 

             

segunda-feira, 17 de julho de 2023

 

PROJETO UNIVERSIDADES COMUNITÁRIAS E PARTICULARES GRATUÍTAS É APROVADO NA ALESC

Essa semana ficou marcada pela votação e aprovação  de um projeto polêmico na ALESC que trata sobre a transferência de recursos públicos para o financiamento de universidades comunitárias do sistema ACAFE e particulares. O fato que mais chamou a atenção acerca do tema foi o empenho dedicado por alguns segmentos como a própria gestora da ACAFE que conseguiu articular com setores políticos e empresariais audiências públicas em todas as regiões do estado para atrair o apoio popular.

Relatei no texto que escrevi sobre o assunto há cerca de 30 dias que se tal esforço fosse direcionado às melhorias do ensino básico público estadual, bem como a própria UDESC, sem dúvida teríamos um dos mais sofisticados e eficientes sistemas de educação do país. A promessa é que serão disponibilizados para os próximos quatro anos quase dois bilhões de reais em forma de bolsas de estudos para aproximadamente 100 mil estudantes. O argumento do atual governo do estado é que essa proposta não se utilizará de parte dos 25% destinados ao financiamento do ensino básico.

A crítica que se faz ao projeto se deve ao fato de que a função do Estado è cumprir sua função constitucional, convergir todos os esforços para oferecer serviços públicos de qualidade a toda sociedade. Outro argumento que virou consenso entre os defensores do projeto é que universidades comunitárias, os recursos arrecadados são reinvestidos na própria instituição, ou seja, não há o princípio da lucratividade. Pode até ser, porém, o Estado tem a sua própria instituição de ensino superior, a UDESC, que já deveria como ocorre com a UFSC ter campos espalhados nas regiões mais populosas do estado, o sul, por exemplo.

Independente desses argumentos o fato concreto é que bom ou ruim o projeto, no instante que adentrasse na ALESC, de acordo com a atual conjuntura legislativa, seria aprovado com larga folga. Na atual legislatura os partidos que se caracterizam de esquerda como o PT e o PSOL somam quatro cadeiras, muito pouco para confrontar com siglas conservadoras como o PL que ocupam onze cadeiras.

Embora não tendo acompanhado as votações acreditava que os três votos do PT e mais um do PSol teriam o “não” como resposta ao projeto. Acreditem se quiser, foram dois votos contrários apenas, um do PSOL e outro da União Brasil. Afinal por que o PT votou favorável a um projeto que apresenta uma serie de equívocos, até mesmo, emendas jabutis, muito comuns quando algum deputado ou partido aproveita o ensejo para enfiar uma proposta no trecho original para benefício próprio ou de terceiros. Foi exatamente o que aconteceu. Já pronto para a votação, um deputado do PL apresentou uma emenda que trata sobre a exigência de exame toxicológico para terem benefícios as bolsas do projeto gratuito.

Somente isso já era motivo mais que o suficiente para abortar a sessão de votação. E o motivo era bem claro, proposta carregada de inconstitucionalidade. Mesmo assim tocaram em frente e a proposta foi aprovada com trinta e oito votos a favor e dois contrários, um de Marquito, do PSOL, e o segundo de Marcos Cadorin, do Novo.  Sobre a emenda relativa ao teste toxicológico, lendo algumas reportagens publicadas, o argumento do governo defendendo a inclusão da mesma foi para agradar a bancada ideológica do PL na ALESC que se sentiam desfavorecidos e que prometeram debandadas se não fosse aceito.

    Muita gente deve ter pensado, para um projeto complexo como esse que trata de bolsas para estudantes de universidades comunitárias e particulares, onde quase a unanimidade do parlamento votou favorável, deve ser fabuloso, revolucionário. Mas se o PSol votou contra, havia algo de errado no mesmo que deveria ser esclarecido. O fato é que não havia apenas um equívoco no texto, a exemplo do exame toxicológico, mas vários. O deputado Marquito enumerou e penso ser importante analisá-los para lançar reflexões e opiniões.

Afirmou que o projeto não prevê bolsas de estudos para pesquisa e extensão, algo que é imprescindível quando se pensa em formação de profissionais aptos à iniciação científica. Outro equivoco: a proposta não legisla sobre contrapartida social, ou seja, execução de trabalhos voluntários obrigatórios na sociedade. Isso vai ser definido posteriormente, por meio de decreto. O projeto também não prevê políticas de permanência estudantil. Agora se os itens acima destacados já põem em dúvida o corpo do projeto, o que dizer então quando não aparecem dispositivos relativos à promoção da democracia universitária, por meio da eleição de reitores, diretores de centro e coordenadores de curso, com participação do corpo discente, principalmente nas instituições não comunitárias.

Prof. Jairo Cesa 

 

 

  

sexta-feira, 7 de julho de 2023

 

 EL NIÑO PODERÁ SER MAIS SEVERO COM  O AUMENTO DO AQUECIMENTO GLOBAL


Nos últimos dez anos já se perdeu a conta da quantidade de episódios climáticos extremos ao redor do globo que foram responsáveis por milhares de perdas humanas e impactos devastadores em infraestruturas e no cultivo de alimentos. Por anos consecutivos o planeta registrou recordes em calor, afetando até países ou regiões situadas em latitudes cujas temperaturas no inverno podem alcançar os 20, 30 ou mais graus negativos. O Canadá, por exemplo, a cidades com Vancouver, há pouco tempo registrou temperaturas próximas aos cinquenta graus Celsius. Nesse mesmo tempo, incêndios devastaram florestas na Europa, bem como chuvas torrenciais que provocaram inundações catastróficas em países como a Alemanha.

Há pouco tempo os telejornais e outras fontes noticiosas dedicaram parte do seu tempo para noticiar os incontroláveis incêndios que transformaram em cinzas milhões de hectares de florestas também no Canadá. A fumaça desses incêndios cobriu várias cidades canadenses e outras tantas nos EUA, como Nova York, que tornaram o ar irrespirável.  A partir de 2022 cientistas vem monitorando o retorno do fenômeno climático El Nino, acontecimento advindo do aquecimento das águas do oceano pacifico nas proximidades do Equador, Peru.

Acredita-se dessa vez o El Nino será mais impactante no clima global que os anteriores, isso se deve, é claro, a outro ingrediente climático, o aquecimento global, agravado pela queima de combustíveis fósseis e desmatamentos. Nem bem começou o verão no hemisfério norte os termômetros já revelam temperaturas escaldantes em vários países. EUA, México, Índia, por exemplo, o calor foi e está sendo tão intenso que já provocou a morte de dezenas de pessoas. Somente o México registrou mais de cem óbitos causados pelo calor excessivo.

Por dois dias consecutivos a temperatura média do planeta alcançou os níveis mais elevados já registrados na história do planeta. Essas médias superaram a última, ocorrida em 2016, quando atingiu 16,92ºC. Os últimos recordes ocorreram agora no começo de julho de 2023. O primeiro foi no dia 03, onde atingiu 17,01ºC;  o segundo foi dia 04, com 17,18ºC. Há estudos confirmando que a temperatura na Antártica, agora no inverno, ficou acima de 9 a 10 graus Celsius.

Quase todos os dias, os sites especializados em assuntos relacionados ao aquecimento global e outros congêneres vem afirmando que o fenômeno climático El Nino provocará episódios climáticos severos no hemisfério sul a partir da próxima estação, a primavera. As regiões mais extremas do sul do continente geralmente são as mais afetadas ou com estiagens severas ou enchentes devastadoras. Rio Grande do Sul e a parte norte da Argentina, por exemplo, amargaram por três anos consecutivos estiagens que devastaram a sua agricultura. Na outra ponte do mapa, o sudeste e o nordeste brasileiro, ambos sofreram com enxurradas recorrentes que causaram destruições e dezenas de mortes.  

Virou clichê a expressão: “o aquecimento global pode ser minimizado cumprindo com os protocolos assinados durante as dezenas de COP Conferencias Sobre o Clima”, ocorridas nos últimos trinta anos. Todos estão carecas de saber que o principal vilão desse desarranjo climático é a queima de combustíveis fósseis. O fato é que nunca se extraiu e queimou tanto petróleo, carvão, etc, como agora, principalmente depois da pandemia do COVID 19. A cada conferência milionária, os discursos sempre convergem para o mesmo ponto, a terra está aquecendo, a temperatura media do planeta tem de ficar abaixo de 1.5, até 2100.

A sensação deixada nesses encontros é que muitos dos presentes não acreditam ou não querem acreditar que a terra está aquecendo. Inúmeros países alegam, os mais industrializados, por exemplo, que o custo de transição de tecnologias suja para limpas é muito dispendioso. Claro que existe por trás desses discursos dissimulados toda uma estrutura produtiva que lucra bilhões de dólares explorando combustíveis fósseis. O fim da pandemia e o início do conflito entre ucranianos e russos revelou o tamanho da dependência da Europa ocidental pelo gás Russo. A redução do fornecimento desse combustível pela Rússia por meio de sanções forçou países como a Alemanha, França, Bélgica, a reativarem suas minas de carvão e colocar em funcionamento as usinas nucleares.  

Para 2023 o pais escolhido para ser sede da 29 COP será Dubai, cidade que integra os Emirados Árabes Unidos. Para 2030 o Brasil foi o país contemplado, cuja sede será a cidade de Belém, capital do Pará. Tanto Dubai quanto Belém, ambas apresentam características bem distintas no quesito ambiental. A primeira tem no seu subsolo as maiores jazidas de petróleo do planeta, já a segunda, Belém, esta situada dentro de um dos biomas mais importantes e ameaçados, o bioma amazônico.

Visitando os emirados árabes unidos em 2014 é visível que os pais vêm mudando drasticamente sua matriz econômica. De grande produtora de petróleo, o país vem se transformando em poderoso centro financeiro, comercial e turístico do planeta. Na época mais de quarenta por cento dos guindastes existentes no mundo estavam instalados nas cidades de Dubai e Abu Dhabi. O fato é que o país já vem se preparando para um novo ciclo econômico pós-petróleo. É possível que em dezembro próximo, durante a 29ª COP as lideranças daquele principado  mostrarão ao mundo os segredos de um crescimento econômico vertiginoso com baixa emissão de carbono. “Quem viver verá”.

Prof. Jairo Cesa         

 

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/temperatura-global-bate-segundo-recorde-seguido-na-semana-aponta-agencia/

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/07/mundo-bate-recorde-de-calor-pelo-segundo-dia-consecutivo-nesta-terca-feira-4.shtml

domingo, 2 de julho de 2023

 

ENTENDA O QUE FOI ABORDADO DURANTE AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE SEGURANÇA NAS ESCOLAS - REALIZADA EM 29/06/2023 NA UNESC/CRICIÚMA

FOTO - JAIRO


Desde o massacre ocorrido em uma creche no município de Blumenau há cerca de três meses jamais na história recente do estado catarinense se debateu tanto educação e segurança nas escolas. O que mais se cogitou principalmente nas câmaras de vereadores como proposições para combater possíveis tragédias foi elevar a altura do muro das escolas, bem como contratar guardas armados para fazer o policiamento das mesmas. Lembro que quando iniciei minhas atividades de docente na década de 1980 pouco se falava sobre violência na escola e, sobretudo, a construção de muros ou intensificar o policiamento no entorno dos educandários.

Isso não significa que não tivesse violência ou outros problemas concernentes à educação, claro que havia, porém, não na proporção que vivemos hoje. O tempo passava e as escolas paulatinamente se tornavam mais fechadas, muitas das quais virando verdadeiras fortalezas semelhantes a prisões de segurança máxima. Com tantas barreiras físicas e policiamento ostensivo, ambas não foram suficientes para conter a violência, o tráfico e consumo de drogas, o bowling, a homofobia, a misoginia, entre outras encrencas que só aumentaram com o tempo.

Nos grandes debates, seminários e congressos sobre educação ocorridos nas décadas finais do século XX muito se discutia a necessidade de rupturas do modelo de escola reprodutivista que se consolidou ao longo do tempo. Propostas curriculares inovadoras foram construídas durante esse tempo, fundamentadas em teóricos revolucionários como Piaget, Vigotsky, Paulo Freire. Entretanto, com o tempo, com a sucessão de governos conservadores esses calhamaços de idéias inovadoras foram deixados de lado.

Nos planos estavam bem claras as estratégias para fazer com que a escola viesse a se tornar protagonista do seu importante papel de espaço de acolhimento das diversidades e contradições da sociedade. Entretanto, para a concretização dessas estratégias era imprescindível mudar as formas de administrar o estado convergindo para outro modelo de sociedade, diferente do que temos hoje. Grandes Investimentos em construções de escolas, aquisição de equipamentos pedagógicos e a estruturação da carreira docente, deveriam ser pontas para essa transformação.

Nada disso ocorreu. Hoje temos escolas caindo aos pedaços, com estruturas pedagógicas aos frangalhos. É nesse ambiente mórbido, nada acolhedor, que passa a maior parte do tempo nossas crianças, adolescentes e os profissionais da educação, que exercem papeis de docentes, psicólogos, assistentes sociais, entre outras funções extras. Sempre afirmávamos na época que o ambiente escolar era um catalisador das tensões recorrentes do lado de fora dos seus muros. 

O quadro de tensão e violência atingindo não somente escolas públicas como também às particulares, onde estuda os filhos das elites, fez com que essas mesmas elites saíssem de suas zonas de conforto querendo soluções. Frente ao exposto, a ALESC, sentindo-se coagida, decidiu promover debates em todo o estado através de audiências públicas.   Penso ser procedente a realização desses encontros, porém, penso também existir certa hipocrisia em eventos desse gênero, pelo fato de todos terem consciência que os maiores responsáveis por quase tudo de anormal que ocorre na sociedade são os governos, participantes ou representados em audiências como essa. Incrível que a maioria das chacinas ou de tentativas delas em escolas foram e são protagonizados por ex-estudantes, que sofreram algum tipo de preconceito ou bowling. 

Outro aspecto importante, nos países onde há grandes investimentos em educação, cultura e desportos, os casos de violência, criminalidade e consumo de drogas são quase imperceptíveis. Na audiência do dia 29 de junho, na UNESC, em Criciúma, quando estiveram reunidas mais de uma dezena de entidades, autoridades e a população sul catarinense, para debater e buscar soluções aos problemas que assolam o espaço escolar ficou explicito nas falas dos participantes que o problema maior está do lado de fora dos muros das escolas.

             A abertura do evento foi realizada pelo deputado Mauro de Nadal, um dos membros dessa comissão, junto com a deputada Luciane Carminatti. Relatou o deputado que a necessidade de tratar do tema violência nas escolas aconteceu a partir dos trágicos acontecimentos ocorridos nos municípios catarinenses de Saudades e Blumenau, onde crianças de escolas foram assassinadas por ação de pessoas que adentraram no seu interior, munidos de armas. Devido a grande repercussão desses dois episódios trágicos, a Assembléia Legislativa se sentiu no dever de mobilizar a sociedade promovendo seis audiências públicas no estado. Após ouvir a sociedade, as proposições encaminhadas serão analisadas, que se transformarão em projetos de lei que tramitarão na ALESC onde irão virar leis.

A fala do Promotor de Justiça da infância, do município de Criciúma, gerou certa comoção aos presentes. Disse que é costume de sua parte visitar as escolas e promover palestras para professores e estudantes. Entretanto, ressaltou que a saúde dos professores lhe preocupa muito, que ambos estão nos limites de suas forças devido à elevada carga de trabalho e de problemas enfrentados diariamente em seus espaços laborais. Confessou que após ter proferido palestras em uma escola um professor lhe procurou para conversar. Pensou que o assunto a ser tratado com docente seria sobre aspecto jurídico em relação à carreira docente. Nada disso, o que o professor queria mesmo era se desabafar.

Foram raros os participantes que fizeram alguma intervenção e não citaram a expressão “saúde mental” dos professores e estudantes. A representante dos profissionais de psicologia, regional sul, falou que após os ataques as escolas, a área da psicologia recebeu orientações para adotar diretrizes sobre questões de violência nas escolas. Ressaltou que em 2019 foi aprovada lei federal para prestação de serviços nas redes públicas de ensino.[1] Entretanto, embora a lei exista, a psicologia e a assistência social não chegaram ainda nesses espaços. Afirmou que esses profissionais, o psicólogo, por exemplo, nas escolas, não atuarão com atividades clinicas, mas na elaboração participativa de projetos envolvendo alunos, professores, equipes técnicas, famílias e a sociedade escolar.    

A deputada Carminatti revelou que quando ocorreu a chacina na creche de Blumenau câmaras de vereadores no estado entraram em ebulição, tendo vereadores sugerindo em plenária a construção de muros com até 30 metros de altura. São proposições completamente insanas vinda de políticos que talvez desconheçam a realidades das escolas públicas catarinenses. Deixou bem claro a deputada que 90% dos atentados ocorridos em escolas, especialmente nos EUA, os autores foram ex-estudantes que sofreram algum tipo de bowling na escola. Em SC, milhares de professores lecionam 40, 60 horas semanais, muito tem os seus contratos encerrados em novembro, por serem ACT.

É impossível esse docente com carga horária extenuante semanalmente com até 1000 ou mais estudantes, manter vínculos com a escola e a comunidade. Não há como desenvolver projetos devido à transitoriedade dos profissionais durante o ano letivo. Revelou também a deputada que muitos projetos planejados sobre racismo, homofobia, misoginia, etc, professores sofrem resistência principalmente do corpo gestor. Além do mais falta na escola suporte pedagógico e psicológico. 

Incrível que quase todas as intervenções, as opiniões seguiam o mesmo raciocínio, ou seja, que as causas do aumento da violência nas escolas, têm relação indireta às negligências do Estado no cumprimento de políticas públicas. Uma delas é tornar realidade a lei federal n. 13.935/2019, que designa a obrigatoriedade dos estados e municípios a contratarem profissionais de psicologia e assistente social para atuarem em escolas públicas.   O fato é que o esgotamento físico em mental dos docentes não os permite interagir com adolescentes que sofrem de disfunções psicológicas adquiridas no seu convívio social e doméstico. Como professores podem interagir com crianças e adolescentes que não tiveram limite em suas casas, o que é pior é que muitos nem casa têm muito menos pais e mãe?

A fala de um cidadão que revelou ter parente professor foi bem contundente. Disse que os atentados ou aqueles que foram tentados sem sucesso nas escolas são atos importados dos EUA. São crianças ou adolescentes que apresentavam algum problema de ordem psicológica, que se organizam a partir da internet, adotando comportamentos de seitas. É tão asqueroso o que vem acontecendo, que o assassino da creche em Blumenau possuía inúmeros fãs em sua página no twiter.  

Nos momentos finais da audiência outro professor de uma das redes públicas municipais da AMREC fez a sua explanação deixando muita gente na mesa e no auditório em situação desconfortável. Desabafou afirmando que era ousadia da ALESC e do governo do estado tratar desse tema e outros ligados à educação se o básico do básico nesse segmento os governos não vem fazendo. Confessou que são poucos os municípios catarinenses, bem como o governo do estado que vem cumprindo com a lei do piso do magistério, cuja função é valorizar o magistério.

Realçou também que durante a pandemia foi vivido cenário de guerra nas escolas para que os estudantes pudessem acompanhar os estudos. Que no período pós- pandemia crianças vem apresentando problemas emocionais graves. Disse que há casos de estudantes que estão no sexto ano do ensino fundamental ainda não alfabetizados. Durante a pandemia, escolas e professores tiraram dinheiro do próprio bolso para garantir o funcionamento de internet.   

  Algo que chamou a atenção na audiência pública foi à ausência de representantes das redes municipais de ensino da região da AMESC. Não compareceu também nenhum representante da gerência regional de educação, responsável pela gestão das escolas estaduais dos 16 municípios do extremo sul. A pergunta é, por que não compareceram? Será porque não depositaram confiança nessa comissão da ALESC, acreditando que as proposições encaminhadas não mudarão o cenário de violência e tensões nas escolas?    

Prof. Jairo Cesa