segunda-feira, 27 de junho de 2011

Plano Diretor Participativo: A Construção de um Araranguá Sustentável
A sociedade araranguaense representada por seus delegados escolhidos através de suas entidades representativas estão participando das discussões da minuta que dará origem ao novo plana diretor participativo municipal, na qual irá prever e definir as áreas onde se localizarão os espaços de lazer, as atividades industriais, os sistemas viários, as formas de ocupação do solo, dentre outras.
 A Constituição Federal de 1988, no seu art. 182, Parágrafo 1, estabelece os parâmetros de como os municípios deverão seguir para elaboração desse complexo quebra cabeça que é o plano diretor participativo e sustentável. Tal iniciativa é referendada pelo Estatuto das Cidades, através da Lei n. 10.257 de 2001, cujo art. 40, Parágrafo 4, autoriza os poderes legislativos e executivos municipais à promoverem audiências públicas  e debates com a participação da população.
Durante as últimas décadas do século XX e começo do XXI, constatamos um vertiginoso descontrolado crescimento demográfico em muitas cidades brasileiras. Esse crescimento não foi acompanhado por melhorias em suas infra-estruturas, pois, não havendo políticas públicas de ocupação racional do solo, em decorrência da ausência de planos diretores ou por negligências governamentais, muitas áreas consideradas de riscos, por inundações ou por desmoronamentos, foram invadidas e os reflexos, como se viu, foram as freqüentes catástrofes que atingiram esses ambientes, gerando prejuízos econômicos e principalmente perdas humanas irreparáveis.
É inaceitável acreditar que, adentrando o terceiro milênio, tivéssemos que presenciar tragédias como as que ocorreram no Vale do Itajaí, em 2008, região serrana do Rio de Janeiro, em 2010 e dentre outras tantas, com perdas de vidas, possíveis de serem evitadas.
Deixa claro que os municípios assolados por catástrofes naturais e que vitimaram vidas humanas, tiveram como um dos principais responsáveis o próprio poder público local que, durante anos, por interesses pessoais ou por apadrinhados políticos, facilitou as ocupações dessas respectivas áreas não autorizadas.
Em se tratando de Araranguá, embora não tenhamos uma geografia tão complexa, comparada às regiões acima citadas, também enfrentamos problemas impactantes que vêm se arrastando há décadas como a ocupação de áreas de riscos, facilitadas pelo poder público e que a cada cheia, promove verdadeiros transtornos obrigando as famílias a abandonarem suas residências  procurarem abrigos em escolas e ginásios.
O atual plano diretor que está sendo discutido pelos delegados, tem a árdua tarefa de traçar um plano de desenvolvimento para o município, que não possa ser impactante e que seja sustentável, ou seja, que a ocupação e a utilização dos recursos nele existente sejam feitos de forma sistêmica e harmônica.
Em relação as áreas de riscos já consolidadas, o que se poderia inserir no novo plano diretor para amenizar os transtornos? São questões complexas que exigem mais discussões, muito além do plano diretor, pois esse tema envolve não somente aspectos de ordem econômica, como também, aspectos existenciais, ou seja, é a história de vida de cada uma das famílias, localizadas nesses espaços que deverá ser considerada.   
É possível pensar em sustentabilidade numa sociedade como a nossa cujos princípios norteadores da cultura estão alicerçados no capital, na exploração, na ganância, na destruição dos recursos naturais? Como construir uma cidade saudável, em que expressiva parcela da população não tem garantido as condições mínimas de subsistência?
Um plano diretor sustentável parte primeiramente da garantia a todos os cidadãos de oportunidades iguais, principalmente nas áreas da saúde e educação. Essa garantia de igualdade subtende-se que parcela da população deverá abrir mãos dos seus excessos para que os demais tenham mais oportunidades. Abrir mão significa ampliar os espaços públicos em detrimento do particular. Esse é, na verdade, um dos principais propósitos do plano diretor participativo de Araranguá.
Após realização das audiências públicas nos bairros, que foram elencadas as propostas para a elaboração da minuta e escolha dos delegados, iniciaram as audiências deliberativas para a discussão das propostas e construção de um documento que será enviado à Câmara Municipal, que deverá ser apreciado pelo legislativo municipal. Após apreciação e aprovação, o respectivo documento será sancionado pelo executivo municipal. Pois, acreditamos que essa não será uma tarefa tão fácil, como se imagina.
 Se os encontros para a discussão da minuta do Plano Diretor foram definidos como audiências públicas e tem um caráter deliberativo, além dos delegados, as demais entidades organizadas do município deveriam estar participando. De um total de 80 delegados indicados, participam regularmente, pouco mais de 14, em cada seção. É um número relativamente baixo, pelo grau da importância que é o tema.
Por que tanta ausência? Estaria a resposta na descrença da sociedade quanto ao documento que está sendo construído, pois as decisões tomadas acerca da forma de como o município de Araranguá deverá se organizar independe das diretrizes tomadas pelos delegados?
Para muitos, especialmente para os delegados ausentes, admite-se que esse argumento procede. Pois, se levarmos em consideração os representantes do poder legislativo municipal, dos nove vereadores existentes, apenas um participa das audiências com regularidade.
Por que da não participação massiva do legislativo? Se o plano diretor é deliberativo, ou seja, as decisões tomadas pelos delegados, em tese, não poderão sofrer nenhuma alteração, pois os argumentos ali contidos refletem os desejos das comunidades das quais representam.
Estaria o legislativo municipal apostando na incapacidade dos delegados de construírem um plano verdadeiramente viável para o município, e que tal competência estaria em suas mãos, pois são os que legalmente representam os anseios da sociedade, além, é claro, de serem dotados de profunda sensibilidade e conhecimento acerca do que o município precisa para um desenvolvimento sustentável?
   O que deixa dúvidas, principalmente pela ausência de expressiva parcela dos delegados nas audiências, é de acreditar que muitas das deliberações tomadas nas audiências serão desconsideradas pelo legislativo, sendo elas modificadas ou adequadas de forma sutil aos interesses dos grupos econômicos dos quais representam.
Acreditamos que tal proeza não terá sucesso dessa vez. Pois estaremos atentos, mobilizando a sociedade, informando-as sobre o que foi deliberado nos encontros e solicitando-as a participarem das seções de votação na Câmara de Vereadores, pressionando o legislativo para aprovarem o documento elaborado nas audiências públicas, pois o mesmo é o único que verdadeiramente representa os interesses da sociedade araranguaense.
Prof. Jairo Cezar




quarta-feira, 22 de junho de 2011





IMIGRANTES EUROPEUS NO GRANDE ARARANGUÁ -  A “SAGA” EXPANSIONISTA
                                                                                                                          Frof. Jairo Cezar  

A construção e expansão do território, conhecido até a primeira metade do século XX como o Grande Araranguá, que abrangia na época os atuais municípios de Criciúma, ao norte, incluindo Urussanga, Nova Veneza, Forquilhinha; e ao sul, Praia Grande e Passo de Torres, teve sua origem no começo do século XVIII, com a criação do Caminho dos Conventos.
Foi a partir do século XIX, que a região do Grande Araranguá passou a ser ocupada, em direção oeste, cujas terras foram adquiridas por companhias particulares e revendidas a imigrantes italianos, alemães e poloneses que lá se instalaram, enfrentando todas as dificuldades que uma terra poderia oferecer.
Embora a região do Grande Araranguá, atualmente, seja considerada uma das mais atrasadas sócio economicamente do estado de Santa Catarina, a história nos revela que no passado a realidade foi diferente. É importante ressaltar que Araranguá, até a metade do século XIX, a maioria da população estava concentrada próxima ao litoral e cuja economia estava baseada na agricultura, na produção de farinha de mandioca e cana de açúcar.
Foi através dessa atividade que Araranguá adquiriu notoriedade regional, estadual e federal, por ser uma região exportadora. Inicialmente, para transportar os produtos, eram utilizados carros ou carretas puxadas a bois; mais tarde, utilizou-se o hidroviário, aproveitando o rio que cortava o município. Já no século XX, foi estendida a linha férrea até a Barranca, com a ampliação do fluxo tanto de pessoas como de produtos que tinham como destino o porto de Imbituba.
Com a chegada dos Imigrantes europeus que passaram a ocupar as terras a oeste, o grande Araranguá, paulatinamente, vai adquirindo outra configuração, cada vez mais fragmentado em decorrência dos processos de emancipação dos distritos que estavam anexados ao Grande Araranguá.  
Afinal, como se sucedeu o processo de ocupação do Grande Araranguá pelos imigrantes europeus, entre a metade do século XIX e início do XX. Quais as dificuldades enfrentadas pelos mesmos, tanto em relação a floresta densa como também em relação aos indígenas e posseiros que habitavam as terras adquiridas pelos colonos.
São esses aspectos que o presente artigo procurará abordar, criando novas possibilidades de reflexão acerca da região que se constituiu a partir da integração de diferentes etnias, porém, com exceção de Criciúma e região, se caracteriza como uma das micro-regiões com  pior nível de desenvolvimento sócio-econômico do estado.   

A Construção do Espaço Econômico Correspondente a região do Grande Araranguá

A vasta área litorânea que abrangia o sul do Brasil atingindo o território Uruguaio era formada por extensos campos abertos, cujo gado pastava livremente. Foi com a presença desses animais que surgiram as primeiras invernadas[1]começando em Laguna passando por Araranguá e se deslocando para o sul abrangendo o interior do Rio Grande do Sul. Além da pecuária bovina, na região de Araranguá, era expressivo a presença de engenhos cujas instalações eram possíveis a fabricação de açúcar e aguardente. Segundo Faria, quando a referência a mecanismos de beneficiamento, conclui-se que os equipamentos para a produção do açúcar, da cachaça e da farinha de mandioca estavam anexados nas residências, principalmente as mais pobres, confundindo a transformação do produto agrícola com outras atividades domésticas[2].
O açúcar, produzindo na região, era acondicionado em caixas de madeira e a cachaça, em pipas, que eram comercializadas em três mercados: a maior parte, transportada por embarcações, chegando ao porto de Laguna, exportada para outras províncias, outra parcela destinava-se, via tropeiros, ao comércio com a região serrana e a menor parte, rumava ao sul, em especial para o suprimento das tropas militares destacadas no litoral do Rio Grande do Sul.  Era através dessa produção que ocorria o aquecimento na economia local, com redirecionamento dos lucros para a aquisição de terras, escravos, peças para os engenhos. Enquanto a farinha de mandioca, o açúcar e a cachaça tornavam-se produtos de dupla finalidade, abastecendo o mercado interno e externo, o milho, o feijão e o peixe estavam disponíveis ao consumo local.
Quando nos referimos a economia baseada na farinha de mandioca, é importante ressaltar que entre os séculos XVIII e XIX Santa Catarina reservava nessa atividade sua principal base de exportação, competindo, em pé de igualdade com as províncias do Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Bahia.
Em Santa Catarina, o principal pólo econômico no qual se efetuava o comércio da farinha de mandioca era Desterro, atual Florianópolis. Enquanto que mais ao sul, o destaque era dado a Laguna, cujos comerciantes impunham preços irrisórios ao pequeno produtor da região de Araranguá. O motivo que contribuía para o baixo preço pago aos produtores de farinha da região de Araranguá era em decorrência da carência de meios de transportes por parte dos mesmos para o deslocamento da safra à região de Laguna. Essa situação de dependência tornava os agricultores locais em presa fácil dos negociantes lagunenses  que periodicamente transitavam pela região, realizando  negócios com os habitantes.
Além de seus produtos serem rebaixados ao máximo pelos atravessadores, os colonos, também eram injustiçados quando da aquisição de suprimentos para suas tarefas diárias. Não podendo produzi-los na própria comunidade, os mesmos ficavam submissos aos caprichos dos comerciantes cujos preços cobrados eram exorbitantes.
   Parece-nos claro segundo BELTRÃO[3], que a participação da região do extremo sul de Santa Catarina, no decorrer da ocupação portuguesa e açoriana, foi de produzir excedentes comerciais que serviria para o abastecimento do mercado interno, não obstante as propriedades possuíam um marcante grau de auto-suficiência.  
O desenvolvimento da atividade agrícola em meados do século XIX na Freguesia do Araranguá deixava claro o quanto foi significativo a utilização do escravo como mão-de-obra nas lavouras de mandioca e cana de açúcar.
A instituição da grande propriedade colonial com características mercantilistas foi introduzida no Brasil no início da colonização visando atender as necessidades do mercado internacional. Internamente, o abastecimento do mercado era realizado por pequenas unidades autônomas, baseadas no trabalho familiar e escravo.
A dificuldade para que fosse incrementada a acumulação capitalista na região de Araranguá se deveu ao extraordinário poder que Laguna exercia sobre a mesma, bem como pelas casas comercias de Porto Alegre que adquirissem dos produtores da região, aguardente, acumulando vultosos lucros, impedindo a ocorrência de uma acumulação capaz de solidificar um capitalismo comercial.
Outro acontecimento que dificultaria o desenvolvimento sócio econômico da região litorânea do estado estava vinculada as políticas adotadas pela coroa portuguesa no recrutamento de colonos para atuar no exercito. A conseqüência foi a progressiva redução de braços disponíveis para o trabalho. Além da redução de trabalhadores nas várias atividades dos núcleos populacionais do litoral, o próprio modo como as terras eram distribuídas às pessoas, em forma de herança,  contribuía para a excessiva fragmentação da propriedade tornando-se negativa para a produtividade mercantilista.    
Escasseando a produção, reduziria a possibilidade de acumulação monetária pelo pequeno produtor açoriano. Além da produção dos engenhos, confeccionavam-se roupas com teares próprios, produziam-se móveis, louças de barro, ferramentas e utensílios caseiros dos mais variados. Tais fatores, além de desestimular o comércio, também impossibilitaram que algumas unidades artesanais evoluíssem para uma manufatura de maior porte, visto que não se impunha as condições para uma divisão social/espacial do trabalho, permanecendo o produtor também como artesão, no interior da pequena propriedade[4].


O Tropeirismo e a ocupação Lusitana no Grande Araranguá

As margens do caminho dos conventos ao qual serviam de passagem do gado enviados às áreas mineradoras de Minas Gerais surgiram à necessidade imediata de serem construídas alojamentos que abrigassem os tropeiros e seus pertences. Nesse sentido, nas proximidades do caminho foram erguidas as primeiras casas que disponibilizavam de produtos para o abastecimento dos tropeiros. 
É importante salientar que o tropeirismo  surgiu com das primeiras minas de ouro na região das Minas Gerais por volta de 1694. Anterior a esse período, a economia brasileira se caracterizava pela produção e comercialização da cana de açúcar que abasteciam os mercados europeus.
Com a modernização das técnicas de beneficiamento do açúcar nas Antilhas, os grandes produtores de cana do Brasil que durante dois séculos aproximadamente supriram os mercados internacionais, entraram em crise. A febre do ouro exige da coroa portuguesa a proibição e o cultivo de cana e a criação de animais na faixa litorânea do nordeste brasileiro.
Os escravos que  no ciclo do açúcar se transformaram na principal mão-de-obra disponível, com a atividade aurífera, os mesmos são deslocados para as áreas mineradoras do interior brasileiro. Para o funcionamento desta complexa exigiu-se o emprego de novas ferramentas de trabalho bem como alimentos que suprissem as necessidades básicas tanto da classe proprietária como também dos escravos mineradores. Foi a partir deste cenário que entraram em cena os  tropeiros.
Sabendo-se que a atividade pecuária estava proibida nas áreas próximas das minas, o sul do Brasil tornou-se atrativo, abastecendo as áreas mineradoras com  charque e animais de tração. 
O comércio, principalmente de cavalos e mulas tornou-se tão promissor, que os próprios jesuítas do sul do Brasil participaram do negócio. No principio compravam dos produtores da região de Santa Fé, lado Argentino, revendendo para os tropeiros, do lado brasileiro. Mais tarde, os próprios jesuítas mantiveram suas próprias invernadas, comercializando diretamente com os negociantes da região sudeste.
Exigia-se imediatamente a abertura de novos caminhos que facilitasse o fluxo de animais. Bartolomeu Pais de Abreu, conhecido como sesmeiro dos campos gerais de Curitiba, em negociação com o governo de São Paulo, decidiu coordenar a abertura de uma estrada para o transporte das tropas que viriam do sul. Sua proposta era de que o caminho iniciasse em Laguna. Porém, a população local não via com simpatia tal empreendimento, pois prejudicaria as relações comerciais praticadas na sua área portuária.
Em  11 de fevereiro de 1728, Francisco Souza Faria, com 98 homens brancos e inúmeros índios e negros escravos, abriram o caminho, um trecho  de aproximadamente 100 km, de Laguna a Morro dos Conventos. 
Com a conclusão do caminho dos conventos, Cristóvão Pereira de Abreu, procurou aperfeiçoar a rota, onde, com aproximadamente 60 homens, construiu o equivalente a trezentas pontes, inaugurando outro caminho que iniciaria em Santo Antônio da Patrulha, deslocando-se por São Francisco de Paula, Vacaria até Lages. Foi em 1733, que Cristóvão chegou a Vacaria dos Pinhais com mais ou menos três mil mulas e cavalos, inaugurando deste modo o ciclo do tropeirismo.
Com os novos caminhos abertos pelos tropeiros, uma nova frente comercial foi realizada permitindo a permuta do charque, queijo e o pinhão, da região serrana, com o açúcar, rapadura, aguardente e a farinha de mandioca, produzidas no litoral. Além do mais, foram os tropeiros os responsáveis pela comercialização de animais utilizados pelos colonos e negociadores residentes no litoral do extremo sul de Santa Catarina. 
Os tropeiros, em decorrência da longa e cansativa jornada que tinham a sua frente, ou seja, a difícil e perigosa escalada da Serra do Mar, antes de seguirem viagem, pernoitavam em terras araranguaense. Com o crescimento do fluxo de pessoas que transitavam por esses caminhos, aflorou-se  um pequeno comércio de produtos como café, querosene, tecidos, ferramentas, sal, açúcar, oferecidos em especial aos tropeiros que necessitavam para suas longas jornadas.
Paulatinamente, o fluxo de pessoas que transitavam pelo caminho dos conventos começou a declinar. Outro caminho foi criado no planalto catarinense, para transportar o gado em direção as feiras de São Paulo. Esse fato repercutiu no pequeno povoado conhecido por Capão da Espera habituado ao pequeno comércio. Para subsistir tiveram que se dedicar a outras atividades como a exploração da madeira, agricultura e a pecuária.
Os pequenos produtores mercantis, presentes não somente no Extremo Sul, mas em toda a faixa litorânea catarinense, tinham como incumbência produzir gêneros  não somente para atender os habitantes residentes na área  urbana de Desterro e Laguna, como também o mercado interno regional, havendo excedentes, exportar para países platinos, especialmente os mercados de Montevidéu e Buenos Aires.[5]  Mesmo com a abertura de trilhas para o transporte de animais do sul do Brasil para as regiões mineradoras, as dificuldades segundo Hobold não afugentou os colonizadores lusitanos. Mas, para Hobold, a maior dificuldade encontrada pelos pioneiros na região era a presença da floresta densa e a abundância de animais selvagens que intimidavam os mais corajosos. “Todavia, não eram os animais os mais temidos oponentes dos desbravadores, mas, sim, os índios, que, distribuídos em tribos, constituíam as suas remanescentes barreiras periculosas por longo período”. Portando, subentende-se analisando o trecho acima, que a expansão e o progresso do extremo sul de Santa Catarina estava sendo impedida em decorrência da presença dos índios.  Sendo assim, era necessário “limpar” o terreno, abrindo caminho para a “civilização”. 
Na fase recessiva da economia mundial (1870 a 1896) o Brasil inicia outro ciclo econômico baseado na substituição de importação. Com a crise econômica atingindo os principais centros produtores da Europa, a pequena propriedade mercantil regional ocupa espaços privilegiados no cenário nacional, sendo  responsável pelo abastecimento dos centros urbanos do país. Santa Catarina, por apresentar uma estrutura econômica peculiar, entra no cenário brasileiro como principal área exportadora. Com o aumento da produção nas áreas litorâneas ocorre o incremento do comércio resultante do aumento da população. No sul de Santa Catarina, as áreas ocupadas por imigrantes italianos, alemães, poloneses e russos, a inserção econômica da pequena produção foi mais intensa entre as populações fixadas entre os municípios litorâneos, cuja atividade econômica estava baseada na produção de farinha de mandioca, açúcar demais gêneros para o abastecimento dos centros urbanos do sudeste.[6]  
No final do século XIX era intenso o comércio realizado por via marítimo através do porto de Araranguá. Segundo (HOBOLD), em um espaço de 17 meses registrou-se na barra do Rio Araranguá, 78 entradas e equivalentes saídas de barcos. Como se percebe, as atividades comerciais na região litorânea eram mais intensas em comparação as áreas de colonização européia, visto que, quanto a região, existia toda uma via de circulação já pronta.
Como já era intensa a atividade comercial na região foi possível a efetivação de uma nova divisão social do trabalho onde alguns indivíduos passaram a dedicar-se as atividades artesanais, conserto e fabrico de carros de boi, construção de barcos e lanchas.
Como se vê, a acumulação mercantil, que não tinha ocorrido no litoral sul do estado quando da presença luso-açoriana, passa ocorrer agora, antes mesmo da presença européia.  Embora a região de Araranguá estivesse numa situação privilegiada em relação às colônias de Urussanga e Criciúma, porque o processo de industrialização ocorreu primeiro lá do que Araranguá e Sombrio
A explicação está na descoberta do carvão mineral. No começo do século XX, por consequência da Primeira Guerra Mundial e da recessão econômica internacional, criciúma se despontou no cenário nacional como região estratégica. O interesse pela exploração do carvão apesar de antigo, só se concretizou na conjuntura favorável da Primeira Guerra Mundial, onde grandes armadores do Rio de Janeiro, como Henrique Lage, ficam muito vulneráveis à queda das exportações de carvão-vapor europeu, necessário às caldeiras de seus navios, investindo maciçamente na abertura de minas, iniciando-se em 1917 a produção comercial[7]
O apoio oferecido à região pelos governos da primeira república, somada as técnicas rudimentares adotadas na extração do mineral contribuiu para o incremento de trabalhadores na produção.
Com o deslocamento progressivo de pessoas para a mineração de carvão, os pequenos produtores que décadas atrás levantaram seus negócios graças ao comércio marítimo entre Araranguá e Laguna, possuem agora, com essa nova atividade oportunidades para expandir seus negócios.  
Araranguá e o extremo sul catarinense, por sua vez, passaram para uma posição secundária na economia da região, mantendo-se subordinados em relação ao novo pólo, que se estruturou devido a  produção carbonífera. 
Contudo, a inserção de Araranguá e Sombrio ao moderno modo de produção capitalista, enquanto municípios industriais somente ocorreriam quarenta anos após a consolidação de Criciúma como pólo industrial. A importância do carvão durante a gênese da industrialização brasileira impôs ao extremo sul um papel secundário e de subordinação ao centro regional emergente.
A economia do extremo sul catarinense então, cumprindo o seu papel de economia agrícola, produtora de excedentes, permaneceu em compasso de espera para se inserir como economia industrial, a partir dos anos de 1970


Portugueses, Alemães, Italianos, Poloneses e Índios na construção da identidade do Grande Araranguá

A presença de imigrantes europeus na região do Grande Araranguá ocorreu a partir de 1826 quando chegaram provenientes de Torres\RS, atravessando o Rio Mampituba, 383 cidadãos alemães oriundos de São Leopoldo\RS. O deslocamento das respectivas famílias em direção as terras catarinenses foi motivado, entre outros fatores, pelo descumprimento de promessas feitas pelo Governo Imperial quando chegassem no Brasil.
Entre as famílias alemãs oriundas do sul, Rio Grande do Sul, e que se fixaram nas terras do Grande Araranguá destacam-se os Stuart, Emerich (hoje, Emerim), May, Evaldt, Kreuzberg (hoje Krás Borges), Schaeffes, Raupp, Supp. 
Na segunda metade do século XIX, outro grupo de imigrante alemães, provenientes do norte da freguesia de Araranguá, ou seja, da região de Grão-Pará e Orleãns, ocuparam as terras das quais foram adquiridas através de compra. Dentre as famílias alemãs que chegaram, destacam-se os Hahn, Nagel, Stockler, Becker e Luctemberg. Além da tradição agrícola, trouxeram conhecimentos em atividades manufatureiras como a fabricação de tamancos, de carroças e a construção civil.
O processo de colonização das terras do extremo sul de Santa Catarina, por imigrantes alemães, não apresentou as mesmas características ocorridas na região do Vale do Itajaí, como Blumenau, Pomerode, Taió, e outras, onde as famílias  constituíram núcleos populacionais isolados, 
Admite-se que os prováveis fatores da inexistência de núcleos populacionais isolados na região do Vale do Araranguá, se deu em decorrência das famílias que se fixaram nas terras araranguaenses, advirem das  mesmas províncias de origem e, sendo assim, para obterem melhores resultados teriam que construir núcleos sociais homogêneos.
Dentre as inúmeras familiares alemães que imigraram para o sul do estado e que passaram pelas mesmas dificuldades de adaptação na região do Grande Araranguá, é importante citar a família Hahn, que chegou ao Brasil no final do século XIX.
A Saga dessa família teve inicio no Rio de Janeiro, quando desembarcaram do navio proveniente da Itália. O casal Wilhelm Hahn e Wihelmine Blum Hahn se deslocaram para o sul do Brasil, cujo destino era o porto de Desterro, atual Florianópolis, chegando em 1886. De Desterro, seguiram, através de trem para Orleans. Após um breve período em Orleans, enfrentando muitas dificuldades para sobreviver, decidiram se transferir para a região do Grande Araranguá onde se fixaram definitivamente.
Embora muitas famílias, tanto alemãs como italianas, tivessem ocupado as terras férteis do vale e atuado na agricultura, os Hans trouxeram de sua pátria de origem conhecimentos tecnológicos que auxiliaram no desenvolvimento da região.
É importante salientar que a presença de imigrantes europeus no Brasil, como italianos e alemães foram motivadas pelas sucessivas crises econômicas que assolavam toda Europa,  e que atingiam com maior freqüência os pequenos trabalhadores do campo. Na Alemanha, cuja parcela da população era constituída de camponeses, o Estado majorou os impostos das terras, medida que impossibilitava os pequenos proprietários de honrar seus compromissos.
O que se transcorreu na Europa no século XIX, influenciando os processos migratórios e emigratórios, pode ser comparado com o que ocorreu no  Brasil entre as décadas de 1960 a 1970, quando milhares de pessoas, tanto do norte como do nordeste brasileiro, abandonaram suas terras e se deslocaram para as grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.
Na Europa, mais precisamente na Alemanha, não apenas os camponeses foram afetados pelas políticas recessivas da época. Militares de altas patentes que combateram nas revoluções européias  também foram afetados e que resultou na emigração. Citamos como exemplo o depoimento de  Hermann Becker, presente no artigo escrito por Valdemar Hah Júnior.[8]  Becker diz que após seu pai lutar na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), ao voltar para casa o cenário era de desolação, a terra estava “perdida”, assim desta forma, ficaram vagando por diversos lugares, pequenos vilarejos da região onde viviam, até se estabelecerem na aldeia de Bredo, onde  aprendeu novos ofícios, tais como fabricação de tamancos e de pedreiro. Foi através do ofício de pedreiro, que o senhor Hermann Becker, foi o responsável por inúmeras construções na região de Araranguá, Tubarão e Braço do Norte, tais como as antigas Igrejas de Araranguá e Braço do norte.
Os italianos que, com os alemães e poloneses, ocuparam a região do Grande Araranguá, tiveram suas origens nos núcleos coloniais de Urussanga, Criciúma e Nova Veneza.  A fixação dos mesmos nos atuais municípios de Turvo, Meleiro, se procedeu mediante a aquisição de glebas de terras devolutas, estabelecendo-se como pequenos produtores autônomos, dedicando-se não somente à produção de subsistência, mas, sobretudo, à produção de excedentes. Partindo desse princípio, podemos afirmar que no interior desses novos núcleos  populacionais passou  a se desenvolver um sistema de trocas mercantis, ou seja, os excedentes do que produziam eram vendidos, resultando naquilo que Marx definiu como acumulação primitiva.     
A colonização do atual município de Turvo foi protagonizada pela presença de um imigrante Italiano Marcos Rovaris. Através dessa colônia, chamada inicialmente de colônia Rovaris, ocorreu a ocupação das terras de Volta Redonda, atualmente, Jacinto Machado. Novas ocupações no vale continuaram se processando, surgindo nesse ínterim Peroba, Retiro da União, Garuva, Maracanã, Vista Alegre, Tenente, Santa Rosa, Timbopeba e Meleiro.
Os pioneiros, que se aventuraram nas terras do Grande Araranguá são procedentes de províncias italianas como Treviso, Vicenza,  Pádua, Mântua, Verona, etc. A população de ambas, como vinha ocorrendo na Alemanha, estavam sendo assoladas por profundas crises econômicas. Percebendo que as terras ao sul do Brasil estavam quase que desabitadas, o governo imperial necessitava estabelecer um programa de assentamentos ordenados, permitindo que ocorresse a sua ocupação e a produção de alimentos para abastecer as áreas urbanizadas mais ao sudeste. Nesse sentido comenta que ao estimular o assentamento de imigrantes europeus, o governo imperial objetivava o desenvolvimento de núcleos produtores de alimentos para áreas urbanas e abastecedoras das tropas militares. Objetivava, igualmente, promover a transição da produção escrava para aquela baseada no trabalho livre. (WOORTMANN 1995-99) 
No livro Turvo, terra e gente,  Colodel discorre acerca da diferença entre o processo de colonização das regiões de Azambuja, Urussanga e Criciúma em comparação  a Turvo. No que tange as primeiras ocupações, os procedimentos foram de iniciativas públicas, ou seja, coube ao governo imperial criar  meios para trazer e fixá-los nas terras, proporcionando infra-estrutura adequada para que pudessem sobreviver.
 Na região de turvo, a demarcação e a distribuição de terras para os imigrantes foram coordenadas por uma empresa privada, administrada por Marcos Rovaris. A desautorização do Estado brasileiro de financiamento público às políticas imigratórias e a total autonomia concedida às empresas privadas para coordenar as ações de distribuição de terras aos imigrantes teve início em decorrência às pressões dos latifundiários escravistas, quando em 1830, o governo imperial baixou uma lei proibindo qualquer despesa por parte do Estado, com a imigração e colonização de estrangeiros em qualquer das províncias do império[9].
Essas medidas que dificultavam a imigração para o Brasil pressionadas pela elite agrária que se sentiam ameaçadas pelo fim da escravidão, não eram bem vistas por governos liberais como o da Inglaterra, pois seriam os maiores beneficiados com as políticas de imigração, pois aumentariam os fluxos de trabalhadores livres, sendo esses  convertidos em virtuais consumidores.
Não querendo se responsabilizar por essas atribuições, em 1834 o governo imperial sancionou leis garantindo autonomia às províncias para  arcar com os custos do imigrante. A situação das províncias como a de Santa Catarina, do ponto de vista econômico, não eram tão promissoras ao ponto de poder arcar sozinha com as despesas com os que chegavam da Europa. Sendo assim, a medida salutar adotada pelo governo provincial catarinense foi, em 1836, solicitar ao legislativo provincial que elaborasse lei, permitindo que empresas particulares, nacionais ou estrangeiras, coordenassem as políticas de compra e venda de terras aos imigrantes. No entanto, a colonização deixou de ser tarefa específica do governo federal, pois a administração de terras devolutas passava à esfera estadual. Assim, os estados sulinos direcionaram a imigração para novas fronteiras agrícolas, evitando problemas com os latifúndios estabelecidos em áreas de criação de gado. A partir daí, o processo imigratório foi marcado de forma especial pelas companhias particulares de colonização que proliferaram na região no final do século XIX e início do XX.[10]
Na região do grande Araranguá, especialmente o litoral, os latifúndios se proliferaram, se constituindo ao mesmo tempo em uma elite política com forte penetração nas instâncias decisórias municipais e estaduais. 
A partir da segunda metade do século XIX, tanto o poder público como empresas particulares passaram a exercer políticas conjuntas no que tange as novas colônias que estavam sendo criadas. Com o crescimento da demanda por novas terras, a terras devolutas foram sendo integradas às novas colônias, desconsiderando a presença de posseiros,  índios e “caboclos”, que habitavam esses espaços há mais tempo.
Para elucidar o respectivo argumento é importante relatar um fato ocorrido no distrito de Volta Grande, atual Jacinto Machado, no começo do século XX, descrito por José Trevisol, em entrevista concedida a Dall’Alba, em 1986. A área urbana do Jacinto Machado pertencia a Luiz Magi. Antes dele as terras eram de proprietários brasileiros. Havia um único latifúndio, no pinheirinho, que pertencia a Martinho Ghizzo. Era uma região quase toda ocupada por posseiros. A região era ocupada por caboclos que tomaram posse das terras. Amigavelmente era difícil retirar os posseiros. Veio a polícia, retirou as famílias[11]
O que se constata na fala de José Trevisol, em relação ao cidadão  Martinho Ghizzo, foi que o mesmo adquiriu extensas  áreas de terras com respaldo da própria legislação federal. Os próprios governos, federal e estadual, tinham consciência de que as terras adquiridas, tanto por Ghizzo como por outros indivíduos, poderiam se converter em palcos de possíveis conflitos, pois esses espaços  há tempo eram ocupadas por cidadãos, que  na linguagem popular, eram conhecidos por índios ou bugres.
Quando das entrevistas concedidas a  Dall’Alba, especialmente por cidadãos de descendência italiana,  a opinião dos mesmos em relação aos indivíduos luso-brasileiros, nota-se um enorme preconceito quanto a esses indivíduos.  Para Trevisol,  havia muito caboclo bom, mas tinha muito caboclo revoltoso. Eles detestavam muito o italiano, porque italiano fica rico e vive bem, com o dinheiro, capital...e eles não conseguiam, rudimentares que eram[12]. 
Quando o entrevistado relata da existência de caboclos revoltosos, o mesmo omite os verdadeiros motivos que geraram tal comportamento, ou seja, a sua expulsão das terras. Sendo assim, os caboclos não teriam motivos de construírem um relacionamento amistoso com os imigrantes italianos. Se os italianos ficaram ricos e viviam relativamente bem foi porque as terras que ocuparam não os pertenciam, mas sim ao caboclo, que as utilizavam para o cultivo  agrícola para sua subsistência, sem interesses mercantis.
Os imigrantes italianos oriundos de Urussanga e Criciúma, para adquirirem as terras, tiveram que pagar com moeda nacional. A terra como mercadoria foi estabelecido em 1850 através da lei de terras que, segundo WOORTMAN Apud ROCHE, proíbe o acesso gratuito a terras devolutas, instituindo juridicamente a propriedade-mercadoria. Ao mesmo tempo, porém, ela possibilitava as legitimações de complacência que permitiram a apropriação de milhares de hectares.[13]
A ocupação de novas terras foi se sucedendo paulatinamente, principalmente em direção aos contrafortes da serra geral, levando ao  surgimento mais tarde do município de Timbé do Sul. Na opinião de SAVI: espontaneamente  e sem orientação oficial, sem ter que enfrentar barreiras burocráticas, guiados apenas por informantes, já conhecidos desde as colônias oficiais, foram penetrando nos matos, quase sempre palmilhando as tradicionais trilhas dos tropeiros de serra acima.[14]
Como se constata no relato acima, a ocupação dessa região em muito se assemelhou ao ocorrido na região de Turvo, que na época ambos pertenciam ao grande Araranguá. Não havendo uma política pública de distribuição de terras, como ocorrera nas regiões de Urussanga, Azambuja e Criciúma, passou a ser incumbência dos imigrantes italianos desbravarem essas terras, desmatando-as e além do mais enfrentar os índios que habitavam as florestas.
Analisando o relato de uma cidadã de nome Alvina, com a idade de 55 anos, entrevistada pelo Padre DalAlba em 1986, a mesma, perguntada sobre os índios da região, cita  seu avô, um dos primeiros moradores do município de Meleiro. Segundo ela: quando meu avô chegou na região só encontrou a mata virgem com muitos índios. Eles roubavam muito. Eram um perigo para as famílias. Nossa gente não tinha ordem para matar, só de espantar. Logo, meu avô e outros foram desmatando, fazendo barracos, abrindo clareiras. O governo dava armas, espingarda e munição.[15]
Nota-se na fala de Alvina, que embora não houvesse permissão para matar os índios que habitavam as matas da região, o governo fornecia para os recém chegados colonizadores, armas e munições. Para que serviram tais armamentos? Seriam usadas somente para a caça de animais ou tinham outros fins como a “limpeza das terras” ?
Em diversas falas dos entrevistados constata-se que quando se referem aos índios, principalmente nas regiões de Turvo, Timbé do Sul e Meleiro, a descrição que fazem dos mesmos são muito semelhantes, são nômades, caçadores e coletores e que não precisariam das terras, pois não cultivavam.  Analisando os relatos dos entrevistados acerca dos índios que habitavam a região ocupada, os mesmos pertenciam ao tronco lingüístico Jê, que se autodenominavam Xokleng.
Em outra entrevista ocorrida em 1986 com o cidadão João Jerônimo, com idade de 80 anos, residente no município de Meleiro, quando perguntado sobre a presença dos alemães na região, relata as dificuldades encontradas quando aqui  chegaram. Segundo Jerônimo: Nós que fomos buscar na estação de Morretes. Nós trouxemos umas quarenta famílias. Havia entre eles um alemão de origem, seu Arnaldo, que era o quarteirão, que arrumava tudo lá. É ele que pagava. As terras eram do governo. Eram tudo morro e matos. Eles não agüentaram. E foi uma só dó. Não chegou a ficar nem uns dez alemães ali. Foram adoecendo mesmo. Lugar muito quente, cercado de morro.[16]  
No relato é possível observar as dificuldades na quais passaram esses imigrantes em se estabelecer nessa região. As informações que receberam em relação as terras prometidas não se enquadraram com a realidade encontrada. Muitos, quando chegaram, além de enfrentar a mata fechada, tiveram que disputar os espaços com índios. Segundo Marcon, o território deixou de ser um espaço calmo e tranqüilo para se transformar num lugar de conflitos, disputas e tensões.[17]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ocupação e a transformação do cenário geopolítico que abrange a região do Grande Araranguá teve início a partir da primeira metade do século XVIII com a construção do Caminho dos Conventos. No entanto, é importante frisar que tal ocupação, tanto a realizada pelos tropeiros como mais tarde pelos imigrantes europeus, não levaram em consideração os povos indígenas que habitavam essas terras há séculos.
Não estando enquadrado dentro das  práticas mercantilistas da época, os índios,  portanto, eram considerados improdutivos, cabendo ao governo federal em parceria com as províncias criar estratégias  para “limpar a área”.
Essas medidas foram colocadas em práticas através das políticas imigratórias, ou seja,  a autorização da entrada no Brasil, principalmente no sul, de colonos europeus, alemães, italianos etc, para ocupar as terras improdutivas e torná-las aptas as novas exigências no capital.
Na região do Grande Araranguá, o processo de ocupação  não foi tão diferente da ocorrida em outras áreas do sul. As dificuldades com a floresta densa, a alta incidência de doenças tropicais e os ataques indígenas foram freqüentes durante o processo de fixação. Muitos indivíduos, principalmente pertencentes as famílias alemãs, não resistindo as dificuldades, retornaram para pátria de origem, enquanto que outros, continuaram resistindo vindo a se tornarem mais tarde grande empreendedores.
Nesse aspecto, quando nos referimos ao processo de imigração da região, as dificuldades encontradas pelos mesmos para sobreviverem a um território ainda “virgem”, é errôneo afirmar que os referidos ocupantes das terras sejam identificados como heróis, termo que aparece no título do artigo cuja denominação é “A saga de um povo”.  Pois, como se constata no artigo, a ação do imigrante (o “herói”) foi, inicialmente, de “limpar a terra”, eliminando todo tipo de entrave que o impossibilitava de ocupá-la. Sendo assim, coube ao imigrante além de desmatar, para a construção de suas moradias, expulsar os índios (“vilões”) utilizando-se além do amparo legal do poder público, também de armamentos sofisticados para a época.
Do outro lado, os nativos, que, para defender seus espaços, enfrentaram bravamente o invasor, utilizando-se de armamentos rudimentares, mas com práticas de guerrilhas que surpreendia o invasor. Porém, como se  verificou nos documentos pesquisados, a ação dos índios em relação aos imigrantes não foi de passividade, enfrentaram bravamente, defendendo seus espaços e sua cultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELTRÃO, Leila Maria Vasquez. A Industrialização em Sombrio/SC: gênese e evolução. Dissertação de Mestrado, UFSC, Florianópolis, 2001.
COLODEL, João. Turvo, terra e gente. Florianópolis: FCC – Turvo: Prefeitura Municipal de Turvo, 1987.
DALL’ALBA. João Leonir. História do Grande Araranguá.  Araranguá: Gráfica Orion Editora,. 1997.
FARIAS, Vilson Francisco de. Sombrio, 85 anos: natureza, história e cultura. Para o ensino fundamental. Ed. do autor, 2000. Sombrio.
HOBOLD, Paulo. A História de Araranguá: reminiscências desde os primórdios até o ano de 1930. Ed. PALMARINCA/EST, 1994.
KLUG, João. As Imigrações no Sul do Brasil. IN. GRINBERG, Keila e SALLES, Ricardo (Org) O Brasil Imperial. Vol III. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. P 216
MARCON, Telmo. Memória, história e cultura. Chapecó: Argos, 2003.
SAVI, Hilário. Timbé do Sul: um pouco de sua história. Florianópolis: Paralelo 27, 1992.
WORTMANN, Ellen. Herdeiros, Parentes e Compadres: Colonos do Sul e Sitiantes do Nordeste – São Paulo. EDUnB – Hucitec, 1995. P.97-155



[1] Invernada - designação comum a certas pastagens rodeadas de obstáculos, naturais ou artificiais, onde se guardam eqüídeos,    muares e bovinos, para repousarem e recobrarem as forças
[2] FARIAS, Vilson Francisco de. Sombrio, 85 anos: natureza, história e cultura. Para o ensino fundamental. Ed. do autor, 2000. Sombrio.


[3] BELTRÃO, Leila Maria Vasquez. A Industrialização em Sombrio/SC: gênese e evolução. Dissertação de Mestrado, UFSC, Florianópolis, 2001, p-50.

[4] Idem. p. 52
[5] Idem. p. 55
[6] Idem. p 57
[7] Idem. p. 59
[9] KLUG, João. As Imigrações no Sul do Brasil. IN. GRINBERG, Keila e SALLES, Ricardo (Org) O Brasil Imerial. Vol III. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. P.204
[10] Idem. p. 216

[11] DALL’ALBA. João Leonir. História do Grande Araranguá.  Araranguá: Gráfica Orion Editora,. 1997. P.493

[12] Idem. p 494.
[13] WORTMANN, Ellen. Herdeiros, Parentes e Compadres: Colonos do Sul e Sitiantes do Nordeste – São Paulo. EDUnB – Hucitec, 1995. P.101

[14] SAVI, Hilário. Timbé do Sul: um pouco de sua história. Florianópolis: Paralelo 27, 1992. P.26

[15] DALL’ALBA. João Leonir. História do Grande Araranguá.  Araranguá: Gráfica Orion Editora,. 1997. P.316

[16] DALL’ALBA. João Leonir. História do Grande Araranguá.  Araranguá: Gráfica Orion Editora,. 1997. p.334

[17] MARCON, Telmo. Memória, história e cultura. Chapecó: Argos, 2003. P-55

A RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL PADRE ANTÔNIO LUIZ DIAS DO BAIRRO MORRO DOS CONVENTOS – ARARANGUÁ, ENTRE OS ANOS DE 1963 a 1990

INTRODUÇÃO

A recuperação da memória cultural dos habitantes do bairro Morro dos Conventos proporcionará as atuais e futuras gerações  a compreensão de que o espaço que habitam foi construído através das relações entre os seus moradores e o ambiente natural. As dificuldades sociais e econômicas enfrentadas pela comunidade atualmente não pode ser compreendida a partir de uma abordagem fatalista, naturalista. São os aspectos naturais – ambiente, e os meios de produção, que intercederam na construção da cultura local. E esse processo de construção é dinâmico e ao mesmo contraditório, e a educação se constituirá em mola mestra, capaz de idealizar um novo ambiente mais próspero e humanizado.
Todas as sociedades, das mais simples as complexas, tem sua história sedimentada na infra-estrutura econômica, no caso do Bairro Morro dos Conventos, foi a agricultura de subsistência a responsável pela construção dos sujeitos. São os recursos econômicos os responsáveis pela construção da cultura local, ou seja, os elementos simbólicos e ideológicos – escola, igreja, partidos políticos, sindicatos, etc, que darão direcionamento ao grupo social ali existente.

Contexto Sócio-Político de Araranguá entre as Décadas de 1960 e 1990

Para compreendermos parcialmente a realidade sócio econômica do bairro Morro dos Conventos no início da década de 1960, se faz necessário refletir o ambiente conjuntural municipal, estadual e federal nesse período e suas influências no cotidiano do bairro  em especial  no campo da educação.
Em âmbito federal, o Brasil vivia um período de agitações políticas, pois estava chegando ao fim a administração de Jucelino Kubstschek, que foi marcada por transformações infra-estruturais significativas, que resultaram na atração do exterior de diversas empresas multinacionais principalmente ligadas ao campo automobilístico.
Esse boom econômico contribuiu para transformações estruturais significativas no Brasil como o aumento do fluxo migratório populacional do interior brasileiro em direção as regiões industrializadas gerando enormes impactos sócio-ambientais  que ainda são sentidas até o momento.
A candidatura de Jânio Quadros para o governo federal seria a garantia de que a política desenvolvimentista do governo anterior continuaria em andamento. No entanto, embora o candidato situacionista tenha obtido expressiva parcela dos votos, oito meses após sua posse, a população brasileira é pega de surpresa com a renúncia de Jânio Quadros.
Com a renúncia, a vaga é ocupada pelo seu vice João Goularte, considerado na época um defensor dos ideais socialistas. Assumindo o governo, Goulart iniciou a implantação de um programa de reformas estruturais radicais, que gerou desconfianças por parte das elites econômicas que viam ameaçadas sua soberania política e econômica secular.
As políticas reformistas de Goulart, que foram consideradas radicais tanto pela elite nacional como internacional, resultaram em um golpe em 31 de marco de 1964, quando o governo de João Goulart foi destituído e no seu lugar se instalou um novo regime, controlado pelos militares, que se manteve durante 20 anos.
O município de Araranguá, no período correspondente a década de 1950, as políticas modernistas adotadas pelo governo federal começaram a ser presenciadas no cotidiano dos moradores locais. A pavimentação das ruas, a construção de escolas, do hospital Bom Pastor, a construção do aeroporto, são alguns dos empreendimentos infra-estruturais da época que contribuíram para que o município perdesse sua feição provinciana e abrindo suas fronteiras para a modernidade.
Mesmo com essas melhorias, Araranguá mantinha sua tradição econômica herdada desde sua origem, ou seja, município agrícola de pequenos e médios proprietários   cuja produção com destaque à mandioca, o milho e o feijão tinham como consumidores a própria região.
 No campo político, o município de Araranguá no final da década de 1950, como vinha ocorrendo em todo território brasileiro, estava sendo  marcada por agitações populares, pois o município, mais uma vez, estava as vésperas de eleger seu novo representante para o executivo e, concomitantemente, os novos membros da câmara de vereadores.
A União Democrática Nacional (UDN) lançou, para concorrer ao cardo de prefeito, Norberto Gomes, que foi apoiado por um grupo de políticos reconhecidos em âmbito regional e estadual, sendo eles: Walter Belinzoni, Artur Campos, Rubens Rabelo, Ermenegildo Bozza, Tranqüilo Magagnin, Manoel Costa Filho, Aduci Machado, Lauro da Cunha Carnerio, Jose Jovelino Costa, Antônio de Favaro, Laudelino dos Santos.
O partido de oposição, formado pela coligação PSD, PTB e PRP lançaram José Rocha, cidadão natural de Maracajá, que era prestigiado pelos representantes do comércio e da indústria do município. Entre seus apoiadores destaca-se o Dr. Arno Duarte e Américo Rabello.    
Além da mobilização para a escolha dos candidatos à vaga ao executivo municipal, as disputas também foram acirradas entre aqueles que disputavam as cadeiras para o legislativo municipal, estadual e federal. Para a câmara de Araranguá, a UDN lançou seus nomes, cada qual representando suas comunidades.
Para a comunidade de Itoupaba, o candidato escolhido foi Antônio Abedeno da Rocha; Maracajá, Antônio Rocha; Canjicas, Antônio Lauro da Silva, Antônio Caetano de Souza, Antônio Severino de Souza e Arnaldo Copetti; Campinho, Artur Espíndola e Abdus Oscar Réus; Barranca, Eugênio José Pereira; Rio dos Porcos, Felipe Bacha Neto e Domingos A. Gabriel; Sanga da Toca, Hipólito M. da Silva; Morro dos Conventos e Manhoso, Hilário Freitas; Centro de Araranguá, Manoel Costa, Otávio de Oliveira, Severo Scaini e Urivaldi Grechi.
Como era comum na época, as festividades alusivas aos padroeiros e padroeiras das comunidades do município se transformavam em palcos de acirradas disputas entre candidatos que garimpavam os votos dos eleitores.
Fazia parte da cultura da época, em certos eventos religiosos, como ocorreu na comunidade do Manhoso, quando das comemorações ao padroeiro São Roque, no ano de 1962, a reunião de 18 candidatos a vereador. Era de se esperar que o candidato com enorme influência no município, o empresário Hilário Freitas, proprietário do Camping Morro dos Conventos, abarcaria expressiva parcela dos votos nas comunidades limítrofes ao Bairro Morro dos Conventos, Hilário Freitas. Além deste, outros, não menos expressivos, teriam também votos na comunidade, como: Ivo Machado, João Kraes Campos, Luiz Hahn, Arnaldo Copetti.      
A campanha eleitoral foi lançada e as disputas pelos votos geraram como era de se esperar desentendimentos entre os candidatos das três forças partidárias em Araranguá.  Na verdade, como se verificou nos documentos pesquisados foram duas forças políticas, pois PTB e PSD haviam formado alianças.
Como conquistar os votos que seriam imprescindíveis à vitória? Cada partido ou cada candidato se organizaria montando estratégias objetivando conquistar o voto, principalmente daqueles que continuavam indecisos. Quanto mais apoio, principalmente de lideranças de renome, maior seriam as chances de galgar o principal posto do executivo municipal.
Uma das armas adotada pelos candidatos, tanto para o executivo quanto para o legislativo municipal, foi vincular seus nomes às personalidades importantes tanto estadual como federal. Os candidatos ao legislativo municipal pertencentes a UDN se aproveitavam de nomes como Diomício Freitas e Martinho Ghizzo, considerados como os representantes das forças econômicas e políticas do sul. Desbancá-los do pleito seria, na época, uma missão, para muitos, quase impossível. Pois, no caso de Diomício Freitas, além de sua influência no que tange as forças econômicas locais, convergiam para o seu entorno outros segmentos, tais como a imprensa falada e escrita que atuavam como porta vozes no processo de campanha.
Um fato marcante na época e que podemos, sem nenhuma sombra de dúvida, interpretá-lo como uma eficiente estratégia de propaganda política e divulgada em um dos principais jornais em circulação da época, foi a carta escrita por um cidadão não identificado e encaminhada ao comitê de propaganda da UDN.
O mesmo afirmava que era um cidadão do interior, ou seja, do sul catarinense. Que o mesmo tinha vindo das coxilhas gaúchas e por estas bandas residia  há algum tempo. Tinha no negocio de gado e cereais sua principal atividade. Dizia que de político pouco entendia. Mas, no entanto, sabia julgar os homens pelas palavras. Quando iniciaram as campanhas das eleições, procurou permanecer afastado. Seus amigos, seus peões, que, segundo o mesmo,  não eram poucos, quiseram sugestões sobre quais os candidatos que deveriam votar.
Depois de muito refletir, resolveu dizer aos seus amigos que votassem em quem a sua consciência ordenasse. Muitos, como afirmava, preferiam o candidato do PSD, outros da UDN. Quando andou por aqui o Senador Konder Reis, sua palavra, causava empolgação, pois o consideravam um cidadão sincero, que não atacava seus adversários. Ele mesmo dizia que tinha resolvido votar no mesmo. Mas, mesmo assim, o mesmo pediu aos seus amigos e aos peões para votarem em quem preferissem.
Agora, como relata, a coisa tinha mudado. Pois tinha passado pela comunidade pessoas ligadas ao PSD com seus candidatos a senador e deputado. Começaram a meter o pau nos seus adversários, taxando-os de ladrões. Isso só causou bate-palmas e muito bem aos pessedistas de cruz na testa, como se dizia. Para ele e seus companheiros continuavam o mesmo, que tinham preferência, foi um tiro. Ficaram até enojados. A falta de educação daquela gente mostrava que quem chamava era que é. Desta maneira, agora passaria a mover campanha contra os candidatos do PSD, fazendo ver aos seus amigos ( e são em grande número) que deveriam votar nos candidatos vinculados a UDN.
É notório, observando a forma como o cidadão acima se expressava, expressando com todo fervor seu apoio aos candidatos da UDN, que sua atitude era uma demonstração clara do modo como a política na região era tratada, ou seja, a enorme influência de cidadãos ligados a determinados segmentos da sociedade, no caso em questão, pecuaristas e comerciantes, que, segundo seu relato, mantinham enorme poder sobre um vasto contingente populacional, muitos dos quais, segundo ele, seus “amigos”, que somente votariam nos candidatos que o mesmo indicasse.
É importante frisar, que o relato apresentado acima, foi publicado, na íntegra, em um dos jornais de circulação no município, no espaço reservado a UDN. Portanto, tais informações merecem ser analisadas com precaução, pois quando o mesmo diz que, num comício, ouviu dos candidatos do PSD, expressões que denegriam as imagens dos adversários, acreditamos que, talvez, tal denúncia não correspondesse com a verdade, tendo a mesma sido manipulada, visando confundir os eleitores, fazendo votar nos candidatos de sua legenda.
Após meses de campanha, é chagado momento de conhecer os novos nomes que iriam assumir os principais postos dos executivos e legislativos federais, estaduais e municipais.
De acordo com os dados verificados, a eleição para Presidente da República como se imaginava, o resultado em Araranguá e no país não causou surpresa. Jânio Quadros, da UDN, vence as eleições, enquanto que seu vice foi, João Goulart, do PTB.
Para o governo do estado, embora Irineu Bornhausen tenha vencido as eleições em Araranguá com uma pequena margem de votos, 89 apenas, de seu concorrente direto, Celso Ramos, a vitória ficou com Celso Ramos, da aliança PTB-PSD com 261.752 a 241.724 para Irineu Bornhausen, uma diferença de apenas 20.028 votos.
Na disputa da vaga para o executivo municipal, como tinha ocorrido no estado, após a contagem do último sufrágio, com uma diferença de 223 votos, o vitorioso foi José Rocha, também da aliança PTB-PSD.
Candidato a Vice-Governador do Estado em 1962

Candidatos a Vice-Governador
Votação
Situação
Armíndio Marcílio Doutel de Andrade
238.664
Eleito
Carlos Gomes de Oliveira
215.598
Não/eleito
Martinho Callado Júnior
16.015
Não/eleito
Brancos
7.216

Nulos
4.374


Res. eleit., Fpolis., ed.hist., nov.2001

Para o Senado, o resultado demonstrou que a máquina eleitoral funcionou e foi imprescindível para dar a vitória a Antônio Carlos Konder Reis da UDN, tanto em Araranguá quanto em âmbito estadual.
Como vinha ocorrendo na campanha, Konder Reis, possuía na região uma enorme legião de apoiadores, em especial a força política e carismática de um dos principais caciques políticos da região, Afonso Ghizzo. Embora tenha conquistado a segunda vaga para o senado, Atílio Fontana, em âmbito local, perdeu com uma diferença de 430 votos, índice considerado grande em comparação com as outras disputas. Doutel de Andrade, para muitos foi considerado a maior decepção, o resultado das urnas demonstraram sua fraca aceitação no município.
As disputas nos municípios do vale, pelas duas vagas do senado ficaram também acirradas entre Konder Reis e Atílio Fontana. Após a contagem dos votos, o resultado proporcionou a vitória, com uma pequena margem de 528 votos, ao candidato da UDN, Konder Reis. Como aconteceu na eleição para o legislativo estadual e câmara federal, no município de São João do Sul, a vantagem sempre ficou para os candidatos do PSD.  
Em comparação as eleições para o senado e assembléia legislativa, a UDN, mais uma vez, demonstrou sua força para a câmara federal. Diomício Freitas, candidato que representava as forças econômicas do sul, principalmente vinculadas a indústria carbonífera, marcou presença, garantindo vaga a uma das cadeiras da câmara. No entanto, sua expressiva votação no vale, 6.085 votos, foram conquistados graças a sua aproximação a Afonso Ghizzo
Quando candidato, uma das principais promessas de Deomício Freitas era  a construção de uma usina siderúrgica no extremo sul do estado e a abertura de um porto em Araranguá no qual serviria para transportar carvão e derivados para o sudeste do Brasil. Findada as eleições, as promessas feitas pelos dois principais candidatos da UDN, Afonso Ghizzo e Diomício Freitas, não se concretizaram. Mais uma vez, o povo araranguaense foi ludibriado. Nem usina e nem porto foram construídos.
Embora considerados as principais forças políticas do sul, Diomício Freitas, atuando na câmara federal, e Afonso Ghizzo, na assembléia legislativa, ambos não tiveram forças suficientes para a efetivação de tais planos. Deixando o povo, caso desejasse a “ver navios”, pois o porto foi instalado no município de Imbituba.    
No que tange a uma das vagas para a Assembléia Legislativa, como já era esperado, Afonso Ghizzo obteve uma expressiva votação, principalmente no seu principal reduto, o município de Araranguá. Dos 4.763 votos lançados nas urnas, 2.518, foram para Ghizzo, da UDN. Em relação a votação no estado, totalizaram 8.363. A segunda vaga ficou para Lecinan Slovinski, do PSD, que na somatória geral dos votos obtidos nos cinco municípios do vale: Araranguá, São João do Sul, Meleiro e Turvo, totalizaram 3.899.
Afonso Ghizzo, como podemos constatar, analisando atentamente os números, obteve algumas derrotas, especialmente nos municípios de São João do Sul e Turvo. Nesse último, Lecian, venceu Ghizzo por uma diferença de apenas um voto, 1.117 a 1.118.  Totalizando os votos apurados nos principais municípios do vale, Lecian, recebeu 3.899, enquanto que  Ghizzo, ficou com 4.066. A diferença, portanto, de votos entre os dois principais candidatos foi inexpressiva, 167 votos pró Ghizzo.
O resultado do pleito eleitoral, para o legislativo estadual, no vale do Araranguá, nos faz concluir que embora Afonso Ghizzo fosse uma personalidade carismática no município, fato esse constatado nas urnas, nos outros municípios do vale não pode ter a mesma certeza. São João do Sul e Turvo, onde fora derrotado, nos faz crer que não é o reduto dos udenistas.
E o que resultou dos demais candidatos ao legislativo estadual. Danilo Schmidt em Araranguá obteve 376 votos e no sombrio foram apenas 137. Nos demais municípios, pesquisados, não recebeu um só sufrágio. Portanto, sua votação totalizou 513, ficando muito atrás dos dois primeiros. Severiano de Souza, candidato a deputado estadual pelo município de Araranguá, sua votação foi decepcionante. Somente no município, dos 4.763 votos apurados, obteve apenas 140, números que demonstraram a fraca penetração entre os eleitores. Além da baixa votação conquistada em sua terra natal, Severiano recebeu 48 votos em Sombrio e 120 em São João do Sul, totalizando 308 votos. Outro candidato que não decolou foi Lauro Trichês. Seus votos, no vale, totalizaram apenas 23.
Para a Câmara Municipal o Partido Trabalhista Brasileiro de Araranguá também lançou candidatos, cada qual com uma plataforma de ação tentando conquistar os votos das comunidades na qual representavam.
Com a realização das eleições, o quadro de vereadores para a câmara municipal de Araranguá ficou assim distribuído: Antônio da Rocha – 381 votos; Artur Francisco Espíndola – 365 votos; Hilário Aciollo Freitas – 330; Arnaldo Copetti – 305 votos; João Kraes Campos – 267; Otacílio Bertoncini – 267; Darci Lindolfo Gomes – 261 votos; Otávio B. da Costa – 234; Hipólito Manoel da Silva – 232; Mauro Cardoso de Souza – 222; Arno Matos – 209; Manoel Costa Filho – 180; Antônio Abedeno da Rocha – 169 votos.
Um fato marcante nessa eleição ocorreu com o candidato Luiz Hanh que por pouco não lhe incluiu a uma das vagas do legislativo. Na eleição anterior, empatou com seu concorrente, sendo a vaga decidida pela idade. Ficou de fora, pois seu oponente era mais velho. Nessa eleição, por pouco não ficou fora novamente. Por uma diferença de um voto, 142 a 143, a vaga ficou para Luiz Hahn.

O Contexto sócio econômico do Bairro Morro dos Conventos entre as décadas de 1920 a 1980

 No início do século XX, com referência as entrevistas feitas pelo padre Dall’alba com moradores locais, expressivas áreas de terras em que atualmente se localiza o bairro Morro dos Conventos pertenciam ao cidadão Bento Cecílio de Sousa, cuja residência estava fixada na comunidade de Canjiquinha. No entanto, as terras adquiridas, muitas delas áreas devolutas, ou seja, públicas, não possuíam escrituras de posse. As áreas de terras pertencentes a Bento Cecílio, alcançavam  aproximadamente duzentas braças de frente e mil braças de fundo.
De acordo com os entrevistados, mais tarde, essas terras foram sendo adquiridas por outros indivíduos que se estabeleceram na comunidade. Entre eles destaca-se André Tomé; Manoel Ramos; Ponciano Alves e João Zeferino; Manoel Flor; João Flor; Joaquim Cecílio e Leonora Cecílio. Os últimos da lista eram irmãos de Bento Cecílio, proprietários de extensas áreas do Morro. Foi, certamente, a partir da década de 1950 que essas terras foram sendo regularizadas, quando o município passou a ser administrado por Afonso Ghizzo, proprietário do único cartório da região.
Com a fixação dessas famílias, a comunidade começou se expandir tendo como principal economia, a agricultura, com destaques as culturas da mandioca, milho, cana e feijão.
Através da mandioca, foram construídos na região engenhos para o beneficiamento desse produto e da cana, que resultavam na farinha e no açúcar. A farinha, em comparação aos outros produtos produzidos na região, foi o que mais se destacou, sendo responsável pela subsistência de expressiva parcela da população. Além disso, o excedente era exportado para outras regiões tanto do estado como do restante do Brasil.
Para transportar a farinha de mandioca e outros gêneros produzidos na região como banha, carne, couro e cereais, a única forma possível na época eram através de carros ou carretas puxadas a bois. Os carreteiros, quando retornavam, traziam fazendas, enxadas, arados e outros produtos para abastecer o pequeno comércio local.  Esse sistema de transportes pode ser comparado com o que existe hoje feito por caminhões que levam e trazem cargas. É importante ressaltar que as condições de trabalho dos antigos carreteiros como a dos atuais caminhoneiros são semelhantes. Além de serem mal remunerados, trabalhavam muito. Para transportar uma carga de aproximadamente 15 sacas de farinha, totalizando 50 arrobas, até Garopaba, que levava mais ou menos 10 dias, recebiam pelo trabalho um pouco mais de 50 mil réis.
Se compararmos o valor recebido pelos carreteiros em relação ao valor pago por alguns gêneros de primeira necessidade como o açúcar, cujo quilo era o equivalente a 200 réis, seus vencimentos eram irrisórios.
Como poderia ser tão alto o valor pago pelo quilo do açúcar se a região produzia em larga escala. A resposta, certamente, estaria no elevado custo para sua produção, ou seja, o preparo da terra e o plantio, a construção do engenho, a aquisição da mão de obra, na sua maioria, escrava, o armazenamento e o transporte.
Sendo assim, podemos afirmar que as condições de sobrevivência da população residente nas imediações do bairro e que trabalhavam na agricultura eram precárias. Como plantar, se o custo dos equipamentos como enxadas e outras ferramentas utilizadas no campo eram tão altos. Para sobreviver, esses pequenos agricultores adotavam uma estratégia muito freqüente na época, trabalhavam como empregados nas propriedades de maior porte e cujo pagamento ocorria sob a forma de espécies, não em dinheiro.
Em uma das entrevistas proferidas por Dall’Alba, podemos constatar o grau de miserabilidade na qual se encontrava a população local. Isso é percebido em relação a família de Miguel Cândido Silveira, morador da Lagoa da Serra. Segundo ele, já com 75 anos de idade, em entrevista no ano de 1985 dizia: “Naquela época se passava miséria. Meu pai trabalhava durante a semana, e sábado e domingo ia para praia arrancar marisco branco. ...Carne a gente comia quando ganhava de presente dos vizinhos que carneavam. Comprava sal, açúcar e até farinha. Arroz naquela época era para se tomar café. As vezes eram pãezinhos de mandioca na grelha. Tinha que assar na grelha por falta de banha. Peixe frito era muito raro, para não gastar banha”.pg – 166.
Em relação ao sistema de transportes da época baseado na tração animal, havia uma forte estrutura em volta desse sistema. Na comunidade de Morro dos Conventos eram inúmeros os proprietários de carros de bois que os utilizavam para o transporte desses produtos até Garopaba, que ao chegar eram colocados em barcos cujo destino era o município de Laguna.
Entre os proprietários de carros de bois podemos destacar:  Manoel Faustino; Argemiro Ramilo do Canto; Neco Bento; Felinto Baldino Bento; José Antônio; Angelim Tomás e Marco Bento.
Para facilitar a vida desses trabalhadores, na comunidade havia uma espécie de oficina de carros pertencente a Manoel Zeferino, que além de construir carretas, fornecia peças para o reparo das carretas.
O município de Araranguá sendo cortado por um rio, oferecia boas condições para o transporte hidroviário. Sendo assim, desde o final do século XIX, o transporte de produtos, além de terrestre, passou a ser feita por embarcações que chegavam até a Barranca. Esse sistema beneficiava não somente os produtores mas em especial os atravessadores, conhecidos como negociadores que compravam o produto no engenho a um certo valor e revendia a valores bem superiores.
Já que a farinha era principal atividade da época, algumas pessoas não produtoras obtiveram enormes vantagens com o produto, chegando ao ponto de se adquirirem pequenas fortunas como Antônio Maciel, Brígido Joaquim Almeida, João Almerindo da Costa e Bernardino Machado. A função dos mesmos era intermediar o produtor e o comprador principal. Normalmente, como era freqüente nas décadas de 1970 e 1980, entre os produtores de cebola da Canjiquinha, pagavam valores irrisórios pelo produto e revendiam nos mercados do sudeste pelo dobro ou triplo do valor comprado.
Nas décadas de 1930 e 1940, com o crescimento da população do município e região, são instalados em Araranguá alguns estabelecimentos comerciais que permitia aos habitantes do bairro, comercializar seus produtos no próprio município. Não havia mais necessidade de adquirir produtos para o manejo agrícola em outras regiões, cujos preços pagos eram exorbitantes, principalmente, pás, enxadas e arados, todos de ferro. As casas comerciais mais importantes do município da época pertenciam a Severino Melo, Jaime Wendhausen e Antônio Machado.
   Durante as décadas de 1960 a 1980 a economia do bairro  acompanhou as transformações estruturais que se sucediam no estado e no município. Com base nos registros de matrículas dos estudantes da escola, às profissões dos pais, nos primeiros anos da década de 1960, a agricultura desempenhou um papel preponderante na vida dos habitantes do bairro.
 Sendo a agricultura a principal atividade de subsistência, com destaque à mandioca, milho, cana, feijão, cebola, amendoim, batata-doce, fumo, etc, era comum nessa região, na qual integravam as comunidades de Canjiquinha e Manhoso, a incidência de estudantes que durante o período que não estavam na escola, ajudavam os pais na roça.
Segundo Francisca A. Correia Cesa, antiga moradora da comunidade de Canjiquinha, a mesma afirma que entre as décadas de 1960 a 1970, residiam na comunidade aproximadamente 50 famílias, com a média de 5  pessoas cada, que totalizavam em média 300 pessoas. Outro fato que marcou a comunidade e, certamente, foi um dos principais fatores da  incidência de pessoas na Canjiquinha foi da existência de um via terrestre de ligação com o distrito de Hercílio Luz, feita através de uma balsa.
Outro ex-morador do Bairro, senhor Zeferino Francisco da Costa, conhecido por Lino, hoje residente em Sapucaia do Sul, RS, o mesmo ressalta a incidência de engenhos de farinha e açúcar no entorno do bairro. Embora nem todos os habitantes tivessem condições de construir seu empreendimento, era comum, o dono do engenho, alugar o estabelecimento para terceiros para beneficiar seu produto, pagando para o proprietário do mesmo, uma parcela do que era produzido. Esse também era um procedimento comum na agricultura. Muitos, não proprietários, arrendavam as terras e pagavam o aluguel com o que produziam, não havendo a necessidade de moedas. Grande parte da produção dessa região eram consumidas pelas próprias famílias.
Para constatarmos a forte incidência de agricultores na região, analisando o registro de matrículas dos estudantes da escola entre os anos de 1963 a 1979, chegou-se a seguinte conclusão: no ano de 1963 dos 123 estudantes matriculados na escola, não havia estudantes matriculados cujo pai não fosse agricultor. Em 1974, esse índice começou a diminuir, do total matriculados, 74 continuavam sendo agricultores. Em 1975, doze anos após a primeira matrícula como escola reunida, percebe-se que o bairro vem adquirindo uma nova configuração, ou seja, adota uma característica não rural mas urbana, principalmente após a construção do Camping. Nesse período, dos 95 estudantes matriculados, 18 pais eram agricultores, havendo também 11 pescadores, 12 pedreiros, 18 operários e 9 comerciantes.
Se somarmos os pais pedreiros, operários, construtores e outros, superam em muito a de agricultores.
No ano de 1978, haviam 119 estudantes matriculados e a média de pais agricultores se manteve, com 18, no entanto aumentaram outras profissões como pedreiros, com 16, operários, com 17 e comerciantes. Surgiram outras profissões como: encanador, barbeiro, motorista, zelador, doméstica, pintor, mineiro, garçom, etc.
Em decorrência das dificuldades que tinham as famílias para se deslocarem à cidade para a aquisição de gêneros de primeira necessidade, e também em decorrência da falta de recursos financeiros, cabiam a elas produzirem o que fossem necessários para sua subsistência. Criavam vacas para obtenção do leite, porcos para extraírem a banha e carne, galinhas para extrair os ovos. As roupas que usavam, eram confeccionadas pelas próprias famílias em decorrência do alto preço da fazenda. Cada residência possuía uma máquina de costura para confecção das roupas. Cabe frisar que o tecido utilizado no preparo das roupas eram elaborados na própria residência, com a utilização de algodão e da lã de carneiro proveniente da região serrana.
A partir do final da década de 1970 iniciou na região um fenômeno que vinha se repetindo no resto do país denominado de êxodo rural. Parcela da população, tanto da comunidade do Manhoso como da Canjiquinha, se deslocaram para as periferias do centro urbano do município. Com o crescimento da oferta de trabalho em decorrência da fixação de empresas do setor calçadista, expressiva parcela dessa mão-de-obra foi absorvida pelas empresas.
O aumento do fluxo populacional do bairro, no início dos anos de 1970, foi influenciado pela implantação de um Camping, que durante duas décadas se transformou em um dos principais atrativos de turistas especialmente do Rio Grande do Sul. 
Cresceram as opções de trabalho temporário na região, principalmente na temporada de verão. Além do hotel, com uma arquitetura com características coloniais, que atraía  turistas tanto do Brasil como dos países do cone sul como Uruguai e Argentina, outros empreendimentos começaram a ser instalados na região como mercados, pequenos campings, lanchonetes, restaurantes, pousadas, armazéns, padarias, bares, etc.
Com esses novos empreendimentos abriram diversos postos de trabalhos como garçons, guardas noturnos, zeladores, faxineiras, balconistas, atendentes, cozinheiros, etc.
A pesca jamais se constituiu como atividade base do bairro que pode ser constatado pela fraca presença de estudantes matriculados em que os pais fossem pescadores. Os motivos podem ser diversos como a fraca ocupação do bairro ou, o mais provável, a falta de compradores. Segundo Domingos Pires, antigo morador do bairro, nas décadas de 1960 e 1970, além da falta se consumidores, as dificuldades para a conservação do pescado era imenso, a saída mais apropriada era a secagem do peixe ao sol. Com a carne bovina também se adotava o mesmo procedimento, transformando-a em charque.
Na comunidade da povoação, cujos moradores se dedicavam exclusivamente à pesca, era comum os próprios pescadores comercializarem os peixes com os próprios consumidores. O pescado era depositado em carroças, que pela manhã, antes do sol nascer, eram transportados e vendidos em casa em casa. Essa prática os possibilitava a adquirirem uma renda extra que auxiliava na subsistência dos mesmos.

Estrutura Educacional do Bairro Morro dos Conventos

Para a comunidade do Morro dos conventos, a educação, embora em condições precárias, exerceu papel preponderante na construção da identidade local. Sua origem data da década de 1930, quando, nas proximidades da “Povoação” foi construída uma pequena escola para atender a demanda local.
Na década de 1940, com o crescimento demográfico, o bairro Morro dos Conventos reivindicava a construção de uma unidade escolar. Antes de sua construção no espaço atual, a mesma funcionou, provisoriamente, no salão de festas da capela São Judas Tadeu, situado onde hoje é o Camping.
Quando a escola foi inaugurada, em 1940, a mesma recebeu o nome de Escola Isolada Padre Antônio Luís Dias. A escolha do padre como patrono da escola foi motivada por serviços prestados à comunidade  durante sua  permanência como pároco do município e especialmente por ter o mesmo exercido a função de secretário municipal de educação na gestão do prefeito Ruy Stocler.
Em 01 de maio de 1963, a antiga escola isolada, com apenas uma sala, é convertida em Escola Reunida Padre Antônio Luis Dias, agora com duas salas de aula.
Nesse estabelecimento de ensino, exerceu a função de diretora, a professora Elvira Galvanir Pestalose, natural de Nova Veneza, município de Santa Catarina. Segundo Benta Maria Ribeiro, agente de serviços gerais da escola, a professora Elvira, antes de atuar como diretora da unidade de ensino lecionava na antiga escola.
A professora Elvira, segundo Domingos Pires, um dos primeiros alunos da escola reunida, era considera enérgica com os estudantes do estabelecimento, utilizando-se com frequência de práticas punitivas para os indisciplinados. Após ter atuado alguns anos como diretora do estabelecimento, a professora Elvira obteve sua aposentadoria, sendo a vaga ocupada pela professora Maria da Silva, natural na época de Araranguá.      
Com a inauguração da escola, foram abertas matrículas de primeira a quarta série.

Em 1963, foram 132 estudantes matriculados na primeira série. O que chamou atenção acerca dos números, foi, sobretudo, a supremacia de estudantes do sexo masculino matriculados, que totalizaram  47; enquanto que no sexo feminino foram 23.
Na segunda série, deste mesmo ano, houve certo equilíbrio nas matrículas, dos 30 estudantes matriculados, 14 foram do sexo feminino e 16 do masculino. Na terceira série, dos 23 matriculados, apenas 16 indicaram suas datas de nascimento. Portanto, desses 16 estudantes, 5 eram do sexo feminino e 11 do masculino. A quarta série, em comparação a primeira série onde as matríçãoculas foram expressivas, apenas 11 alunos matriculados, sete eram mulheres e cinco homens.
Diferente dos dias atuais em que legislação exige que crianças de seis anos estejam matriculadas na primeira série, na época  pesquisada, não havia tal obrigatoriedade. No entanto a legislação 4.020-61 obrigava que todas as crianças em idade escolar fossem matriculadas. A não realização de matrículas, incorreria aos pais sansões. A própria lei abria algumas exceções que eximiam os pais dessas penalidades. Uma delas era a comprovação de pobreza dos mesmos.
Sendo assim, como se verificou mediante a pesquisa acima, expressiva parcela da população estudantil estavam enquadradas nesse perfil de carência.
Outro fato marcante em relação as matrículas de estudantes da primeira série em 1967, foi em relação a média de idade dos mesmos que atingiam 10 anos. Tarde em comparação aos dias atuais em que a legislação obriga os pais matricularem a partir dos seis anos.
Acredita-se que um dos motivos das matrículas tardias, estaria na expressiva incidência de pais e mães dos estudantes trabalharem na agricultura, portanto, os filhos tinham que ajudar seus pais, retardando desse modo ou impedindo o ingresso à educação. Era comum nesse período, de acordo com o relatório, o elevado índice de abandono, principalmente de estudantes de terceira e quarta séries. Para termos noção desse fenômeno, dos 35 matriculados em 1963, oito abandonaram a escola.
A distância entre as residências dos estudantes e a unidade escolar poderia ser um fator determinante no retardamento das matrículas no período pesquisa. Com referência aos registros de matriculas, se constatou que em 1963, a distância entre as casas e a escola chegaram a aproximadamente 1000 metros. 15 anos depois, essa distância diminuiu significativamente, dos mil metros verificados em 1963, reduziram para 340 metros, ou seja, a população estudantil, estavam residindo mais próximas a escola. 
Outro motivo das reprovações e dos abandonos poderia estar no despreparo dos professores para exercerem suas funções e a falta de uma política tanto de formação como de remuneração aos educadores.
Para elucidarmos melhor a precariedade na qual estava submetida a educação primeira metade do século XX, descreveremos o relato de Antônio Francisco da Rosa, com 85 anos, morador da comunidade da Lagoa da Serra, quando foi entrevistado em 1985 pelo padre Dall’Alba. Segundo ele: “No meu tempo tinha escola, mas particular. Eu aprendi na escola do meu padrinho, Manoel Francisco Martins. A escola era aqui na Lagoa da Serra. Não era de grande sabedoria, mas o  pouco que aprendi foi dele. No tempo de meus filhos aí já apareceu escola municipal. O mestre ganhava um mil réis por mês de cada aluno. Éramos uns trinta alunos. Aprendíamos a ler, escrever, fazer contas. Ele trabalhava na roça, perto de casa, e dava lição para nós, duas vezes por dia”. P-169
No relato, diz o entrevistado da existência de escola particular. Não haviam, portanto, regras claras que determinassem o funcionamento da educação. Poderia, quem tivesse um mínimo de conhecimento utilizar-se de sua própria residência e lecionar, cobrando, pelo trabalho, uma mensalidade, que na época equivalia a mil réis. Mas quem poderia pagar, é claro que uma pequena fração da população.
Essa ação ocorrida na época pesquisada pode ser comparada com os programas de alfabetização adotados pelo governo federal. De acordo com o programa, basta, para ser alfabetizador, ter o segundo grau e utilizar-se das dependências de uma unidade de ensino, tendo no mínimo de 7 alunos. Durante oito meses, duas vezes por semanas e  um salário de 250 reais, pago ao “educador”, os indivíduos matriculados sairão alfabetizados.
Em relação a aprovação e reprovação de estudantes ocorrida na escola durante período pesquisado, constatas-se que a incidência de reprovados é muito maior. Somente em1963, dos 47 estudantes masculinos matriculados na primeira série, apenas quatro foram aprovados para a série posterior. Dos 43 reprovados, 13 repetiram a primeira serie no ano seguinte. Em relação ao sexo feminino, das 26 matriculadas na primeira serie, 4 foram aprovadas e 16 repetiram a primeira série.

Um dado surpreendente em relação aos 72 estudantes da primeira série matriculados na primeira série em 1963 é que desse total apenas 18 concluíram o ensino primário em 1967, sendo 5 do sexo masculino, que na época eram 47 e 13 do feminino, que totalizavam na época 23.
O índice de abandono também foi alto, principalmente entre os estudantes do quarto ano. Dos nove matriculados em 1963, seis abandonaram nesse mesmo ano.
A situação de reprovação na escola continuou se repetindo no ano seguinte, principalmente na primeira série. Dos 34 alunos do sexo masculino, 16 foram reprovados, sendo que apenas 10 seguiram para a segunda série. A ocorrência de estudantes repetindo a mesma série era freqüente. Em uma turma da terceira série em 1964, dos vinte dois alunos matriculados, 16 estavam repetindo  pela segunda, terceira ou quarta vez a mesma série.

Religiosidade da População do Bairro Morro dos Conventos no Período Pesquisado.
Em 1963, como vinha ocorrendo no restante do país, a predominância  de famílias que cultuavam o catolicismo, com base nos registros de matriculas de estudantes da escola eram superiores aos de cultos evangélicos.  Dos 134 estudantes matriculados, apenas três pais e três mães não eram católicos. Foi a partir do ano de 1968 que esse quadro começou a mudar, surgindo mais famílias evangélicas. No entanto continuava forte a presença de católicos. Dos 90 pais e 90 mães pesquisados, nesse mesmo ano, haviam 11 do sexo masculino e 13 do sexo feminino evangélicos.
Um elemento marcante na época, entre os anos de 1963 a 1979, embora em maior ou menor grau, o culto evangélico era praticado mais por indivíduos do sexo feminino do que o masculino.
Para elucidar, podemos citar como exemplo o ano de 1970, das 129 famílias registradas, haviam 11 pais e 18 mães evangélicas.
Outro problema grave enfrentado pela comunidade no período em que a escola foi elevada condição de reunidas, foi o expressivo índice de pais e mães analfabetos. Em 1965, dos 145 pais e 145 mães dos estudantes matriculados, 78 do sexo masculino e 91 do sexo feminino eram analfabetos, ou seja, um pouco mais da metade dos pais eram alfabetizados, sabiam escrever seus nomes e fazer alguns cálculos matemáticos.
Do sexo feminino, a situação era mais crítica, apenas 54 sabiam ler e escrever.
É notório afirmar que tais índices de analfabetismo entre os habitantes da comunidade têm como uma das principais causas, o desinteresse dos pais em matricularem seus filhos, isso porque, por ser os mesmos agricultores, necessitavam de auxílio nos afazeres da roça. Outro fator que também contribuía para o elevado analfabetismo era  a distância entre suas residências e a escola.
Em todas as análises de dados que foram pesquisadas, percebe-se que o analfabetismo é mais elevado entre as do sexo feminino. Novamente, se verifica que a mulher, especialmente as agricultoras, sofriam  discriminação. Muitas delas tinham suas vidas já pré-determinadas, casavam-se cedo e possuíam muitos filhos, pois precisavam de muitas mãos para a lavoura.

Chegando a década de 1980, constata-se que os índices de reprovação continuaram elevados na escola. No entanto podemos observar algumas mudanças significativas quanto a presença de estudantes do sexo feminino que muitas vezes ultrapassa ao do sexo masculino. Além do mais, embora a presença feminina seja superior a masculina, os índices de aprovação são maiores também entre os estudantes do sexo feminino.
No ano de 1980, tínhamos 23 estudantes do sexo feminino e 20 do sexo masculino. Quatro anos depois, desses 23 estudantes matriculadas, apenas 12 conseguiram concluir a quarta série. Já, do sexo masculino, dos 20 matriculados em 1980, sete foram aprovados em 1984. Nos anos posteriores, esses índices foram sendo mantidos, com exceção ao ano de 1989, quando das 11 estudantes matriculadas na primeira série, apenas 3 foram aprovadas. Em relação ao sexo masculino, o resultado foi bem diferente. Dos 11 matriculados em 1985, os mesmos 11 concluíram a quarta série quatro anos depois.
Em 1988, a escola reunida Padre Antônio Luis Dias, se transforma em escola básica, com a criação da quinta série, sendo que 19 matrículas foram do sexo feminino e 18 do sexo masculino. Quatro anos depois, em 1993, formou a primeira turma ginasial, sendo seis do sexo feminino e 16 do sexo masculino.
Novamente constatamos altos índices de abandono entre os estudantes do nível ginasial. Em 1992, das 19 estudantes matriculadas em 1989, apenas 9 concluíram o ginasial. Entre o sexo masculino não foi diferente. Dos 16 matriculados em 1989, apenas 6 foram aprovados.

Etnias Luso-Açorianas na construção da identidade cultural do Morro dos Conventos.

O Bairro Morro dos Conventos passou a ser habitado por sujeitos descendentes de europeus a partir do final do século XVIII, quando foram construídas as primeiras habitações nas proximidades do caminho aberto pelos tropeiros cujo objetivo era transportar animais – mulas gado para a região das minas gerais. 
Aproveitando-se das boas condições infra-estruturais da região, clima propício, terra fértil e água em abundância, no início do século XX, chegaram ao morro dos conventos as primeiras famílias cuja descendência étnica, na sua esmagadora maioria, foram de luso-açorianos.
Vale ressaltar que as famílias descendentes de açorianos imigraram para o Brasil, especialmente nos estados do sul, por volta do ano de 1748.
Por habitarem em um arquipélago, tinham sua cultura moldada em atividades como a pesca e a agricultura, especialmente na cultura do trigo.
Devido as condições impróprias para o cultivo desse produto no litoral catarinense, os açorianos herdaram dos povos guaranis que povoavam a região litorânea, o cultivo da mandioca, produto que se tornou essencial na alimentação da população brasileira.
Entre os anos de 1963 a 1979, se constata que do total dos alunos analisados, ambos pertenciam a setenta e seis famílias, ou seja, setenta e seis sobrenomes. Sendo eles: Assis; Bento; Caetano; Cordova; Costa; Dias; Canto; Damásio; Espanhol; Esteves; Ferreira; Gonçalves; Henrique; Martinho; Machado; Martins; Maciel; Nazário; Pereira; Plácido; Patrício; Perraro; Pacheco; Pires; Rodrigues; Santana; Silvério; Santos; Souza; Silva; Tomas; Tavares; Teixeira; Trajano; Valentim; Viana; Vieira; Florentino; Ventura; João; Amaro; Leopoldino; Coelho; Neto; Cristovão; Juvenal; Marciano; Tertuliano; Bitencourt; Cardoso; Assunção; Felintro; Joaquim; Freitas; Rocha; Alexandre; Fortunato; Aires; Ávila; Matias; Emerêncio; Gomes; Custódio; Pedroso; Medeiros; Homem; Clemes; Francisco; Bauer; Miguel; Inácio; Oliveira; Rosa; Zeferino.
Embora o volume de famílias com seus respectivos sobrenomes fossem grande, 16 foram as que se destacaram no bairro entre 1963 a 1979, sendo elas: , Canto, com 173; Caetano, com 166; Costa, com 114; Vieira, 107; Silva, 99; Santana, 92; Souza, 86; Silvério, 77; Tavares, 62; Dias, 54; Tomas, 43; Valentim, 35; Fortunato, 27; Homem, 26; Teixeira, 24; Nazário, 24.
    Através de uma pesquisa mais detalhada, pois a intenção era conhecer as etnias das quais essas 65 famílias descendiam, o resultado foi surpreendente. 99 por cento desse total de famílias pertenciam as etnias luso-açorianas. Apenas duas famílias não se enquadravam nas etnias citadas acima, sendo elas a Bauer e a Her.
Sabendo que a comunidade do Morro dos Convetos, tem suas raízes vinculadas as etnias luso-açoriana, é importante conhecer melhor as histórias de cada família, por que as mesmas receberam os respectivos sobrenomes.
De 1980 até 1994, houve um crescimento substancial de novas famílias na comunidade. Das 65 verificadas entre os anos de 1963 a 1979, em 1994, haviam no bairro mais 115 famílias aproximadamente. É plausível destacar, que o cálculo utilizado na qual resultaram nos 115 sobrenomes, foram mediantes as somas dos sobrenomes dos pais e das mães dos estudantes. Sendo assim, as novas famílias residentes no bairro nesse período foram as seguintes:
Adílio; Alves; Anastácio; Araújo; Batista; Becker; Borges; Borba; Belmiro; BONACINE; Batista; BOTION; Capela; Chagas; Correa; Cassão; CANONI; CESA; Cortês; Camargo;  Cipriano; CIOFF; DOM; DULLIUS; Elias; Euzébio; Estevam; EVALDT; Farias; Fernandes; Florêncio; Fonseca; Fabris; FANTIN; Freitas; Galvão; Geremias; GERDINO; Guimarães; GRIEBERT; HEME; HER; Januário; KULIK; Lima; Limões; LIBERATO; Leopoldino; LESSA; Lorenço; lorentino; Laurino; LENTZ;  Marcelino; MARETTI; Maia; Melo; Mendes; Miranda; Manoel; Machado; Mota; Medeiros; Morais; MARENCO; MAFFIOLETE; MAFFIO; Nunes; OTTO; Patrício; Paulino; Pacheco; Pedro; Pinto; POLLA; PERCUCH; PRUDÊNCIO; Quintino; Raul; RAUPP; Resende; Ribeiro; ROSETT; ROSSI; Soares; SOMENSI; SCARPARI; Serafim; Santana; TROMBIM; TRICHES; VANIER; Vargas; Valério; WODZIK.
A presença dessas novas famílias no bairro revela algo que não observado no período entre 1963 a 1979, a presença significativa de famílias não vinculadas as etnias luso-açoriana. Mas de certa forma muitas dessas famílias com sobrenomes italianos ou alemães, estavam de uma forma ou de outra, ligadas afetivamente tanto do lado do marido ou da esposa
Observando o primeiro caderno de registros de matrículas, observa-se que, durante os 16 anos, duas famílias não luso açorianas constavam nos registros. No entanto, de 1980 até 1994, esse índice cresceu de maneira significativa. Das 115 famílias pesquisadas, 34 correspondiam ao grupo cuja origem pertencem as etnias italianas, alemãs, polonesas e outras.
Embora sabendo que inúmeras famílias que ocuparam a parte alta, próxima ao hotel e a área da praia, no início da década de 1950 e 1960, eram, na sua maioria, originárias do Rio Grande do Sul, não se verificou nas matriculas da escola presença de estudantes fora do bairro.
Naquele momento, acredita-se que o bairro não oferecia condições infra-estruturais, emprego, para atrair pessoas de outras regiões para se fixarem aqui.
Por ser um balneário, o bairro atraia apenas turistas e veranistas na época da temporada de verão. Enquanto que durante o restante do ano, continuavam no bairro apenas os moradores permanentes.
No início da década de 1980, o bairro passou adquirir uma nova configuração, ou seja, perde sua condição de região rural, transformando-se em espaço urbanizado, com investimentos em infra-estrutura, como saneamento básico e melhorias das estradas.
Essas melhorias contribuíram para o aumento de fluxo de famílias de outras comunidades ou bairros pertencentes ao próprio município, de  cidades de Santa Catarina e de outros estados que migraram para o bairro definitivamente.  
Nos anos de 1992 a 1994, verificou-se a presença de estudantes matriculados na escola procedentes de municípios catarinenses como: Abelardo Luz; Siderópolis; Nova Veneza; Criciúma; Içara; Orleãs; Maracajá; Timbé do Sul; São José; São Lourenço do Oeste; Florianópolis; Meleiro; Abelardo Luz; Joinville. Do Rio Grande do Sul, haviam famílias de Porto Alegre; Alvorada; Novo Hamburgo; Nova Prata; São Francisco de Paula; Sapucaia do Sul; São Leopoldo; Guaíba; Caxias do Sul; Tramandai; Passa do Sabão; Cambará do Sul. De São Paulo; de Paranavaí, estado do Paraná; Manaus, estado do Amazonas e Porto Velho, capital de Rondônia.
Profissões dos pais e mães dos estudantes da escola


Lavrador
Pescador
Pedreiro
Operário
Carpinteiro
Construtor
Comerciante
1963
123
 -------
-------
-------
  ------
   2
   3
1964
  74
16
--------
  2
    1
   2
   3
1965
  74
10
--------
  2
    1
--------
   1
1966
  49
10
---------
  6
    4
---------
-------
1968
  47
  7
---------
  6
    2
--------
   2
1969
  47 
  7
   3
  9
    2
----------
   12
1970
  44
14
   5
  9
    2
----------
   11







1971
   6
15
6
6
3
                  10
1972
 13
2
5
13
1
                   4
1973
12
13
8
12
2
                   9
1974
---
---
---
---
---
                   ---
1975
18
11
12
18
2
                  9
1976
21
7
11
21
3
                  6
1977
17
10
16
17
4
1                 5
1978
19
8
13
19
4
4                 8
1979
15
-----
14
15
2
3                 4

Profissões dos pais e mães dos(as) estudantes


Encanador
Barbeiro
Motorista
Zelador
Domestica
Aposentado
Pintor
1963
1
1
1
1
---
----
---
1964
3
3
---
3
4
1
----
1965
3
1
1
5
4
2
1
1966
---
2
2
1
--
2
----
1968
---
2
3
5
3
3
----
1969
---
----
----
---
5
2
2
1970
1
-----
2
1
1
2
----
1971
4
1
2
1
1
3
1
1972
----
----
---
--
3
2
2
1973
----
----
---
2
4
2
3
1974
-----
----
---
----
---
-------
-----
1975
-----
----
2
2
---
1
2
1976
-----
----
3
2
2
6
-----
1977
-----
----
5
---
---
10
------
1978
----
-----
5
---
2
8
--------
1979
1
----
2
----
---
5
--------


Entre os anos de 1963 a 1979, é possível constatar certa inconstância quanto ao número de estudantes matriculados:

1863
132
1964
150
1965
145
1966
137
1967

1868
99
1969
100
1970
129
1971
11
1972
117
1973
125
1974

1975
93
1976
96
1977
113
1978
118
1979
83





Religiosidade dos pais e mães dos estudantes


Pais
MÃE
Evangélico
Evangélica
1963
134
134
3
3
1964
150
150
-
1
1965
145
145
3
4
1966
137
137
3
5
1967


4
4
1968
90
90
11
13
1969
100
100
11
13
1970
129
129
11
18
1971
11
11
10
11
1972
117
117
9
9
1973
125
125
12
10
1974




1975
93
93
14
16
1976
96
96
11
12
1977
113
113
14
16
1978
118
118
12
12
1979
83
83
8
11





81980
81981
81982
81983
81984
81985
81986
81987
81988
81989
91990
91991
91992
91993
9
11-F
223
222
116
117
117
117
111
118
119
113
114
7
115
110

11-M
220
222
223
220
111
8
111
115
330
119
110
115
112
229

22-F
111
115
116
112
115
114
114
8
111
220
9
110
112
111

22-M
99
113
112
115
119
008
009
113
009
225
116
007
111
111

33-F
111
110
113
115
007
112
113
114
606
112
117
008
111
115

33-M
909
111
116
114
113
113
808
112
909
808
221
116
009
114

44-F
707
110
112
115
112
007
909
111
113
303
112
221
114
114

44-M
113
114
118
119
808
110
114
115
111
111
808
222
114
115

55-F








119
119
005
111
112
112

55-M








118
117
112
808
119
111

66-F









117
116
404
113
008

66-M









114
114
111
707
119

77-F










09
008
202
111

77-M










118
114
909
505

88-F











006
009
202

88-M











116
906
-10-