sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

PROFESSORES/AS DA EEBA CONHECEM O COMPLEXO TERMELÉTRICO JORGE LACERDA E O PARQUE EÓLICO E FOTOVOLTAICO CIDADE AZUL EM CAPIVARI DE BAIXO/TUBARÃO


No final de 2016, depois de concluída a primeira fase do projeto sustentabilidade quando os estudantes do educandário tiveram a oportunidade de se inteirar com os objetivos e os resultados das estratégias para contenção do desperdício de energia na instituição de ensino e suas residências, o início do ano letivo de 2017, os/as professores/as, gestores e demais profissionais foram desafiados/as a participar de excursão para conhecer as estruturas do complexo termelétrico Jorge Lacerda, em especial o parque eólico e fotovoltaico Cidade Azul nos municípios de Capivari de Baixo e Tubarão.


A visita a esses dois seguimentos energéticos sustentáveis proporcionou ao grupo a compreensão do potencial energético renovável no mundo, Brasil e no Estado de Santa Catarina. A empresa termelétrica que atualmente está controlando a produção de energia a partir da queima do carvão mineral no estado é a ENGIE, administrada por um grupo Franco-belga, maior produtor independente de energia no mundo. A filosofia da corporação é tornar-se exclusiva na geração de energia limpa, ou seja, fontes renováveis como eólica, fotovoltaica, “hidrelétrica”, entre outras do setor.


Atualmente a empresa produz no Brasil 11.954 MW de energia total, que corresponde a 5% da demanda total consumida no país. No estado de Santa Catarina, a ENGIE é controladora do complexo termelétrico Jorge Lacerda, uma das únicas empresas do grupo que produz energia a partir de fontes sujas não renováveis que é o carvão mineral. A meta da multinacional é a partir de 2027 cessar definitivamente o funcionamento do complexo termelétrico de Capivari de Baixo, dedicando-se desta feita na produção e geração de energias renováveis.


Atualmente as térmicas a carvão de Capivari, ambas compartilham com 25% do total de energia consumido no estado de Santa Catarina. Se a política da companhia é empenhar-se em fontes não poluentes, algumas iniciativas estão sendo concretizada com a instalação do parque eólico e fotovoltaico Cidade Azul nos limites dos municípios de Tubarão e Capivari de Baixo. O complexo fotovoltaico que custou aos cofres da empresa R$ 30 milhões, no total de R$ 56,3 de reais em investimentos e que entrou em funcionamento em 2014, tem como parceiros a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e outras 11 empresas associadas e a ANEEL (Agencia Nacional de Energia Elétrica). 


A participação da universidade federal ocorre no campo da pesquisa, no qual faz o monitoramento diário dos 19.424 painéis solares que produzem 3 MW de energia, o suficiente para atender 2,5 mil residências. Além do complexo Cidade Azul a UFSC controla também oito pontos solares instalados em sete estados da federação, que apresentam clima e temperatura distintos. A intenção da instituição de ensino superior é monitorar e avaliar três tipos distintos de tecnologias instaladas no parque a base de silício, avaliando qual ou quais possui maior eficiência na produção de energia solar.


Os equipamentos instalados são fabricados na China e Alemanha. No país europeu, ou seja, na Alemanha, as empresas que lá se fixaram são chinesas, francesas e norte americana. Portanto, o desafio do Brasil quebrar o Lobby das gigantes do setor, cuja dependência faz com que os custos de produção sejam ainda pouco competitivos com as demais fontes convencionais. Segundo o relato de um dos responsáveis pelo monitoramento dos equipamentos do parque, a região apresenta boa incidência de luz solar suficiente para garantir uma demanda superior a atual. Em termos de comparação, em 2013 a Alemanha bateu o recorde mundial em geração de energia fotovoltaica, atingindo 5.1 TWh (Terawatt-hora).  Em qualquer região do estado de Santa Catarina a incidência de luz solar é superior ao país Alemão.    

 Próximo aos painéis solares está a principal torre do gerador eólico que compõe o complexo energético de fontes limpas da empresa ENGIE na região. O que chamou a atenção é que no estado catarinense a empresa WEG, de Jaraguá do Sul, vem conquistando a cada dia mais notoriedade nacional e internacional como produtora de equipamentos para aerogeradores. O fato é que a política da empresa catarinense é produzir tecnologias compatíveis com os diferentes ambientes brasileiros, cuja incidência e velocidades dos ventos são distintas dos países europeus. A instalação do aerogerador no parque cidade azul tem a finalidade de aprofundar os estudos de um seguimento energético que hoje fica somente atrás do hidrelétrico em quantidade de energia gerada.


A visita dos professores/as da EEBA ao complexo termelétrico Jorge Lacerda, além de ter se configurado como momento de lazer e de descontração, serviu também para o enriquecimento do conhecimento relativo ao tema energia, fontes disponíveis, impactos e políticas públicas para o setor. No tour feito pelo interior da empresa, a imagem ou percepção captada pelos olhos dos visitantes e também divulgada pelas mídias é de que os impactos provenientes da queima do carvão mineral são quase imperceptíveis.


Mesmo com todas as medidas preventivas e mitigatórias instaladas no interior da termelétrica e áreas do entorno, a emissão de partículas de CO2 e outros gases tóxicos à atmosfera ainda hoje resultam em enormes impactos ao ambiente e à saúde da população, sem contar o passivo ambiental que tardará séculos para ser resolvido. Se a companhia ENGIE está seguindo os protocolos acordados em relação a minimização dos impactos ao ambiente, a mesma política não está sendo seguida pelo setor carbonífero (extração) muitas vezes avalizados pelos próprios órgãos ambientais com funções fiscalizadoras. São inúmeras as ações que tramitam nas diferentes esferas do judiciário contra empresas que descumpriram resoluções ou normativas legais quanto ao procedimento das lavras de carvão.


No município de Treviso, forquilhinha e Içara, o maior problema é com relação à água, cujas vertentes estão secando e comprometendo o abastecimento de milhares de famílias. Outro agravante é que muitas das companhias ou cooperativas que durante décadas exploraram o carvão na região, decretaram falência. O que é estarrecedor é o fato de algumas delas, embora desativadas, alguns equipamentos como as bombas continuavam funcionando para impedir a inundação e o transbordamento das minas. Em 2016, uma dessas cooperativas que faliu foi notícia na imprensa da região sul do estado por ter sido responsável pelo vazamento de fluidos químicos em um dos afluentes do rio Araranguá.[1]
Não é de hoje que as três principais bacias hidrográficas do sul de Santa Catarina (rio araranguá, urussanga e tubarão) são umas das mais degradadas do Brasil, cujas águas apresentam PH (Potencial Hidrogeniônico) entre 2% a 3%, cujo percentual aceitável seria 6, propício para o consumo.  Outro desastre ambiental, comparado ao episódio de Mariana, ocorreu em 2014 em Lauro Muller quando houve o rompimento de uma barragem de sedimentação de carvão da companhia Carbonífera Catarinense.[2]
Todo o material contaminante se espalhou por quilômetros produzindo danos ambientais quase que irreversíveis. Em novembro de 2015, um ano depois do rompimento da barragem de contensão de sedimentos da Carbonífera Rio Bonito, no município de Lauro Muller, o Diário Catarinense eletrônico apresentou reportagem contendo a seguinte manchete sobre o desastre: um ano após rompimento de barragem, rio tubarão aguarda ainda por recuperação ambienta.[3] Durante todo o momento que estivemos na empresa, tanto nas palestras como nas visitas ao parque ambiental e ao horto florestal em nenhum momento o monitor que nos acompanhou fez qualquer menção aos passivos ambientais e aos recentes desastres ambientais resultantes da mineração de carvão. 
Comparando os três domínios do seguimento energético, o térmico, o eólico e o fotovoltaico, o grupo de professores/as retornou às suas residências, mais convictos de que a EEBA está seguindo o caminho certo quando propôs o desafio de envolver a comunidade estudantil, trabalhadores da educação e a comunidade em um projeto ousado e capaz de tornar o educandário auto-suficiente na produção de energia elétrica oriunda do sol. 


E não é somente isso o que propõe o projeto. O desafio também é mudar conceitos, valores e atitudes que vem produzindo relativo dano ao ambiente, construindo hábitos sustentáveis quanto ao uso dos recursos naturais, sem desperdício e impactos capazes de comprometer a sobrevivência das futuras gerações. Para 2017 os desafios serão ainda maiores. Todos/as têm consciência de que muitos obstáculos deverão ainda ser superados para atingir a utopia de uma escola estadual produzindo energia elétrica limpa, venha ocorrer. Se por ventura os obstáculos para atingir tal utopia forem intransponíveis, terá valido a intenção e os legados deixados.  
Prof. Jairo Cezar           
          
  




[1] http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2016/07/mina-abandonada-no-sul-de-sc-representa-ameaca-ambiental-diz-mpf.html
[2] http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2014/11/vazamento-de-finos-de-carvao-contamina-nascente-do-rio-tubarao-em-lauro-muller-4651147.html
[3] Dhttp://g1. globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2016/07/mina-abandonada-no-sul-de-sc-representa-ameaca-ambiental-diz-mpf.html

























O CALVÁRIO DAS ESCOLAS, GINÁSIOS E QUADRAS ESPORTIVAS DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE ENSINO DA REGIONAL DE ARARANGUÁ

Com o inicio do ano letivo na rede pública estadual no dia 06 de fevereiro de 2017, como ocorre todos os anos, professores/as, gestores/as e demais profissionais que atuam na educação, durante cinco dias estiveram envolvidos em diversas atividades e estudos preparativos para o começo das aulas no dia 13 de fevereiro. Dentre as ações que marcaram a semana de formação continuada, a palestra do professor Paulo Hentz se notabilizou como um momento paradoxal do processo pelo fato de trazer para a discussão o tema Teoria da Atividade (Sociointeracionista Vigotskyana) que fundamenta a primeira e a atual proposta curricular catarinense. Quem acompanha o dia a dia da escola pouca são as referências da Teoria da Atividade ao currículo, pois iria requerer uma transformação significativa de toda a estrutura física, pedagógica, conteúdo, metodologia e avaliação na escola.
A análise sistematizada da primeira proposta curricular sancionada em 1998 e sua comparação com a que foi aprovada em 2014 deveriam ter sido incluídas dentre os temas discutidos durante a semana de preparação. Não o fazendo, e acredita-se que nenhuma escola pública o fez, pior ainda, são poucos/as os/as que sabem de sua existência, a palestra do professor Paulo pode ter levado muitos/as trabalhadores/as da educação a se sentirem confusos, entre a zona real das escolas públicas, ainda tradicional e conteudista, e a zona proximal, que são as enormes barreiras políticas dos atuais governos neoliberais que jamais ousariam em permitir que tais teorias revolucionárias sejam aplicadas integralmente.
Se fosse a intenção do governo a aplicação da teoria da atividade, que passa, é claro, pela autonomia das escolas, não faria o que fez no último dia de preparação, 10/02, quando integrantes da gerência estiveram na escola para repassar as novas diretrizes da SED onde provocou indignação e revolta de todos. Quem está atuando há anos na educação pública do estado talvez não estanhou com mais essa molecagem do governo, cuja intenção era desviar a atenção dos profissionais sobre outros temas importantes como as reformas políticas e previdenciária em curso, mobilização política da categoria, entre outros, que sempre são discutidos no último dia dos encontros.
A principal “bomba” repassada pela integrante da Gered foi de que não será mais permitido que professores/as completem sua carga horária com disciplinas afins. Exemplo: professor de matemática lecionando física, química, etc. Não é de hoje que a categoria vem lutando para a profissionalização do magistério, condição essa que somente será alcançado quando profissionais qualificados trabalharem na suas respectivas áreas. Entretanto, não era o que vinha ocorrendo nos últimos anos, uma vez que, no desespero para completarem seus horários, professores/as se submetiam ao constrangimento de assumir áreas sem qualquer domínio.
A deliberação do governo que pode ter sido interpretado por muitos/as professores/as como ato exclusivamente pedagógico tendo em vista a qualidade do ensino, é nada mais nada menos que econômico, ou seja, reduzir gastos. São milhares de professores/as ACT contratados/as e já inseridos/as nos horários, que participaram dos cursos de formação e que foram dispensados/as e que gerará economia para os cofres públicos. Por que o governo não tomou essa medida antes, mês de dezembro ou janeiro? Por que deixou somente para o final, quando tudo estava organizado para o inicio das aulas. A confusão foi tanta, sem contar o desespero de professores/as excluídos/as, onde houve até escola que não pode iniciar as aulas na segunda, dia 13, pelo fato de ter que refazer seu horário.
 A outra noticia bombástica anunciada foi no tocante a portaria 189, remetida pelo governo do estado em 09 de fevereiro de 2017, onde modifica o procedimento avaliativo com a supressão dos exames finais. Desde a sua efetivação em 1996, a LDB, entre outras legislações e resoluções estaduais, ambas já previam dispositivos recomendando recuperação paralela e o fim dos exames. Quem alcançasse a média 7 estaria aprovado, os demais, com coeficiente menor, teriam que repetir a mesa série no ano seguinte.  Em nenhum momento tanto os profissionais da educação quanto a CNTE e o SINTE que representam a categoria em âmbito federal e estadual, se posicionaram contrários aos artigos, parágrafos e incisos da LDB, que versam da recuperação paralela e a exclusão dos exames finais.
A pergunta que não quer calar é: por que, somente um dia antes do encerramento da semana de planejamento o governo resolveu assinar a respectiva portaria? O que é revoltante é que todo trabalho realizado durante os dias de encontro foi assentado na PORTARIA 31, em vigor, que incluía os exames finais. O que seria, portanto, recuperação paralela e como seria aplicada? Foram essas algumas dúvidas levantadas, entre outras tantas, que necessitariam de longas horas e talvez dias para se chegar a um consenso. Questões como, argumentos ou justificativas apresentados pelos estudantes para ter direito a recuperação paralela, etc, foram listadas. O que a portaria também altera é a média, avalizando a aprovação dos/as estudantes que obtiverem seis e não mais sete como estavam estabelecidos.
Tanto essa portaria quanto a resolução que impede os professores/as de complementarem suas cargas horárias com disciplinas afins, são medidas eminentemente políticas que intencionam a redução de custos financeiros em consonância com os acordos enlaçados com o governo federal para o pagamento da divida pública dos estados. A não exigência de exames permite que os contratos com os professores/as ACTs encerrem no começo de dezembro e não no final, como era de praxe.
De acordo com a Teoria da Atividade discutida na escola, se o/a estudante não absorveu o conteúdo ensino, é função do professor/a retomar quantas vezes necessárias os conteúdos até que seja aprendido pelo estudante. Não é mesmo? Na teoria até que seria possível, mas em se tratando de política educacional em vigor, conteudista e quantitativista, condicionada as regras do ENEM, IDEB e dos vestibulares, é quase que impossível. O que as escolas terão de proporcionar com essa nova política avaliativa é a reestruturação do currículo, focando exclusivamente em temas que trazem sentido aos estudantes, tenham significados para as suas vidas. Isso força também a escola a romper com o seu histórico modelo tradicional positivista, reprodutora e não construtora de conhecimentos. O que se pretende, porém longe ainda de se concretizar, tanto com a Teoria da Atividade como a Proposta Curricular Catarinense em vigor é a superação da visão disciplinar de ensino para a interdisciplinar e transdisciplinar, como é pretendida.
O jornal Diário Catarinense que há décadas vem adotando uma política de parceria e cumplicidade com Estado, mediante assinatura de contratos milionários para a distribuição diária de exemplares do noticioso em todas as escolas estaduais, na segunda feira, 13 de fevereiro, destinou duas páginas do jornal para discorrer sobre os Desafios do Ensino para 2017.[1] Quando se diz que o jornal é “parceiro do governo”, bem como do setor empresarial, não é apenas criticar por criticar. No instante que se faz uma reflexão do sistema de ensino, as mudanças que estão em curso como a medida provisória 746/2016 e o ensino médio integral, seria um tanto quanto plausível que se ouvissem as várias opiniões, concordantes e discordantes sobre o tema.
O jornal, parceiro do governo e a da FIESC, trouxe relatos do presidente da fundação Ayrton Sena, de um professor da UDESC, UNIVALI e uma opinião curtinha do coordenador estadual do SINTE. O representante da Fundação, entre as propostas elencadas, priorizou que fosse investido na capacitação de professores. O segundo, da UDESC, afirmou que a carreira docente não está sendo mais atrativa devido a desvalorização dos/as profissionais. Sugeriu também que os métodos de avaliação do desempenho dos professores sejam mais rigorosos. Tanto um como o outro teceram opiniões sobre questões polêmicas como a desestruturação da carreira docente e as péssimas condições estruturais das escolas.
Segundo o secretario da educação, o mesmo informou que para 2017 estarão sendo aplicadas medidas para reverter o quadro crítico da aprendizagem, onde oportunizarão os estudantes a recuperarem de modo paralelo os objetivos não assimilados. Ele acredita que alterando os métodos avaliativos o aluno poderá ter melhores resultados nos processos avaliativos corroborando para a não reprovação e sua não desistência. Mais uma vez cabe evidenciar que tais mudanças aplicadas à avaliação nas escolas públicas estaduais para o ano letivo de 2017 têm motivação com o ridículo resultado das últimas avaliações obtidas pelo estado no IDEB e Pisa.[2] Acredita o governo que com tais mudanças é possível aumentar um ponto na média no ensino médio, de 3.4, obtida em 2015, para 4.8, prevista para 2017.[3]
Portanto, as mudanças não se dão por acharem que o governo e seu secretário estarem agora sensibilizados pelo baixo índice das avaliações dos estudantes catarinenses, nada disso, o que motiva são os acordos assumidos com o Banco Mundial e outros organismos financeiros que condicionam a liberação de recursos com base nos resultados pré-estabelecidos. O próprio setor empresarial também vem pressionando os governos à implementação de políticas para a formação de uma mão de obra qualificada e de baixo custo. Aí está o motivo das parcerias do Estado com a FIESC e fundações como ITAÚ, AYRTON SENA, BRADESCO, entre outras tantas que representam empresários e grupos econômicos poderosos interessados e envolvidos com as reformas educacionais em curso.
Os países que se desenvolveram ou aqueles que estão se superando de crises ou guerras, como os asiáticos, tiveram a alocação de investimentos bilionários em educação. Basta analisarmos os resultados do PISA e verificar quanto que esses países com melhores resultados investem em educação e quanto um professor do ensino básico recebe de salário. Comparado com o salário médio pago aos professores brasileiros, passa ser piada. Quando ao salário dos professores catarinenses, o DC assim relatou o que disso o secretario da educação sobre a valorização do magistério: “valorização do magistério está garantida para este ano com a proposta estabelecida em 2015 que previa descompactação das folhas de pagamento e planos de carreira”.         
Com a sansão do Plano Nacional de Educação contendo 20 metas, a de número 17 é a que discorre sobre a carreira e remuneração dos que atuam na carreira docente. A meta estabelece a equiparação dos salários do magistério às demais áreas profissionais com escolarização equivalente. A promessa de valorização da categoria a partir da descompactação da tabela de vencimentos, pode se tornar mais uma das tantas falácias do atual governo. Em outra oportunidade, tanto o governo como o seu secretario da educação informaram que qualquer adicional na falha de pagamento estaria condicionado ao equilíbrio das contas do estado. A atual crise econômica que assola o país vem se tornando uma forte aliada dos governos servindo de pretexto para inviabilizar qualquer reposição salarial. Ainda mais agora com a aprovação da PEC 055 no senado que congelou o reajuste que qualquer servidor público por 20 anos. Aguardemos 2018, ano de eleição.   
A professora da Univali, Cássia Ferri, que também lançou sua opinião sobre o desafio da educação para 2017, pinsou alguns pontos que devem ser considerados e prometidos pelo governo e seu secretário nas várias entrevistas e visitas feitas pelo estado. Dentre as ações emergenciais, destacou Cássia investimentos na melhoria dos espaços físicos e em recursos tecnológicos que facilitam a transmissão do conteúdo. São propostas que os governos estão prometendo há muitos anos, e sempre renovadas a cada período eleitoral. Já que 2018, próximo ano, novas eleições estão previstas para a escolha de um “novo” governo do estado e 40 deputados, tudo indica que algumas ações paliativas serão implantadas para minimizar o caos que envolve centenas de escolas públicas estaduais, é claro que é para assegurar o voto dos educadores.
No dia 10 de fevereiro o governo do estado esteve no município de Tubarão trazendo as “boas novas”, prometendo disponibilizar 11 milhões de reais (6 milhões do estado e 5 milhões do governo federal) para reparos de escolas nos municípios de Laguna, Tubarão, Criciúma e Araranguá), ambos afetados por vendavais no final de 2016 e que comprometeram muitas escolas. Para a 22ª Gered (Araranguá), o montante a ser repassado será de 320 mil reais. Se somarmos todas as demandas existentes e os recursos prometidos para assegurar o mínimo de infraestrutura para o satisfatório exercício da profissão docente, 11 milhões não seriam suficientes. Tem escolas inauguradas a pouco mais de dois anos que já apresentam problemas estruturais e necessitam de reparos.
Quando se afirmou que a demanda de problemas envolvendo escolas, ginásios e quadras esportivas são enormes na região de Araranguá e que os 320 ou 600 mil reais que serão repassados pelo estado são apenas para reparos, na segunda feira, 13 de fevereiro de 2017, o gerente de Educação da de Araranguá esteve em uma das rádios do município e fez um breve diagnóstico da realidade das escolas no vale do Araranguá. Falou sobre a reforma do colégio Maria Garcia Pessi, que os trabalhos reiniciaram e que a promessa da empreiteira responsável pela obra é finalizar ainda esse ano, mesmo com prazo estipulado para concluir de um ano e meio a dois anos. O gerente assegurou que é bem provável que em 2018 todos os estudantes estejam estudando no prédio novo.    Quanto ao Ginásio da escola, pediu para ter um pouquinho mais de paciência, pois em contato com integrantes do governo em Florianópolis, em dois ou três meses o projeto do ginásio poderá ficar pronto, e que há dinheiro para a obra.    
Discorreu o apresentador do programa acerca de um requerimento apresentado por um vereador relativo a necessidade de reparo no ginásio de esporte da escola estadual Eremita Souza de Hercílio luz, Araranguá. Ratificou o gerente que esteve em uma reunião em Tubarão com o governador, o secretário da educação e deputados, que a liberação dos recursos orçados em 110 mil reais para a recuperação da quadra foi assegurada por ambos.  Quanto a outras demandas na escola, telhas quebradas, instalação elétrica, etc., fez elogiou ao corpo gestor da unidade de ensino por ter feito tais reparos usando recursos provenientes do cartão e do PDDE.  A escola é um luxo, ratificou.  Afirmou também que “vem muito dinheiro para as escolas estaduais é só saber aproveitar que dá para trabalhar e muito bem”.
Não quis o gerente informar que os recursos provenientes desses fundos para as escolas são ínfimos e insuficientes frente as demandas das escolas. É de se considerar que tanto a escola Eremeta Souza como as demais 42 que compõem a rede estadual de ensino da regional de Araranguá, se utilizam de outros meios como rifas, festas juninas, parcerias com empresas, com comunidade, para aquisição de recursos e fazer com que as escolas permaneçam abertas e funcionando. Há muito tempo que o governo do estado vem adotando a política de desleixo com as escolas e empurrando a responsabilidade de manutenção para a comunidade. Escolas de Ensino Fundamental Jucemar Paes, dói bairro Polícia Rodoviária, e EEBA, são dois exemplos entre tantas do descaso do governo do estado. É só visitar essas escolas e perguntar para os professores e aos próprios gestores o milagre que fazem para mantê-las funcionando.
Falou o apresentador da liberação de 600 mil reais do estado para ações paliativas em algumas escolas do vale como a Protásio, no Sombrio e Neuza Osteto Cardoso, Policia Rodoviária. Ambas apresentam problemas no telhado e na fiação. Quanto a construção no novo prédio da Neuza Osteto, informou que o que está dificultando é a compra do terreno, caso não ocorra pode haver a perda de recursos para a obra.
A discussão sobre a escola Catulo rendeu severas críticas do próprio apresentador do programa a inoperância do estado, pois há anos a escola foi interditada e o processo de abandono e deterioração é enorme. O abandono do educandário já foi noticiário e capa de jornais, porém, nenhuma ação efetiva foi realizada. A justificativa do gerente da educação é que o retardo da obra tem relação com erros cometidos na elaboração do projeto no passado. Um novo foi concluído no final de 2015, e, que, possivelmente até o final de março, de 2017, será aberta licitação para a escolha da empresa que executará a obra. Seguindo essa burocracia, e se nenhum imprevisto ocorrer, até o final do ano a obra terá iniciado, pois o dinheiro já está na conta.
Não poderia ficar de fora da entrevista o polêmico e controverso processo de reforma ou construção da EEBA que perdura quase dez anos.  Esclareceu também que todo imbróglio ocorrido tem relação com erro de projeto, semelhante ao colégio Catulo, de Sombrio. Anunciou que conversou com assessores do secretario da educação, o mesmo informou que segundo o secretário a reforma do educandário é uma questão de honra, que o mesmo vai olhar com carinho. Disse também que se o estadual não for contemplado com a reforma não será inserido no plano de ensino médio integral. O prazo é até 2020, informou o gerente.
O tema que concluiu a entrevista foi seguramente o que muitos estavam esperando com inquietação, a polêmica sobre o Anfiteatro Célia Balizário. O gerente respondeu que o respectivo espaço cultural está envolto de mistério e sem explicação. Disse que o mesmo acreditava ter sido construído sem projeto, e que se existisse não saberia onde localizar. Nem mesmo na prefeitura encontrou cópia do documento. Sem o documento não haveria possibilidade de providenciar os reparos necessários. A solução, portanto, era elaborar outro projeto, demorado e elevado custo financeiro.  Depois de intensa procura foi descoberto que havia uma cópia do mesmo no computador de um arquiteto, provavelmente o responsável pela planta na época. Foi enfático em afirmar o gerente que a falha foi cometida pela SDR, que não prestou a devida atenção. Inúmeras vezes o gerente da educação ressaltou que a ADR começou do zero em 2015, fazendo uma sutil crítica a gestão anterior da agência regional.
A entrevista com o gerente da educação repercutiu na mídia local levando as pessoas a fazerem suas reflexões e observações sem qualquer fundamento digno de confiança técnica. Na própria página do entrevistador, postou a seguinte manchete: Quem quer o teatro? A pergunta soou como uma piada de mau gosto, uma postura desrespeitosa e agressiva contra os profissionais e o corpo gestor da EEBA, por não terem sido consultados antes de ter lançado qualquer opinião inverídica e leviana. É claro que a população desinformada em relação aos fatos, lançaria suas opiniões acreditando que o imbróglio que envolve o anfiteatro seria resultante da incompetência do corpo gestor daquela entidade como vinha sendo insinuado.
Somente na quarta feira, 15/02, pela manhã, os professores daquele educandário foram oficializados dos fatos noticiados nas redes sociais e nas demais mídias sobre a possível transferência da gestão do anfiteatro a uma associação ou para a própria prefeitura. A indignação e revolta tomou conta de todos, que interpretaram o episódio como fofoca, uma forma descabida da própria ADR de desviar a atenção da população quanto aos reais problemas que assolam as escolas estaduais no vale, muitas delas caindo aos pedaços, outras já interditadas, como é o caso da Catulo, no Sombrio.
O que o governo do estado via ADR está tentando fazer com o Célia Belizário é o mesmo que fizeram em 2015 com a reformar da EEBA, onde de súbito veio a notícia que os recursos presumidos tinham sido deslocados para outra obra, gerando verdadeira confusão e revolta. Essa manobra do governo por pouco não incorreu em crise política entre as duas instituições de ensino da cidade, Garcia Pessi e EEBA, que lutavam paralelamente pela imediata reforma de suas instituições de ensino. Corria pelos quatro ventos de que os recursos que estavam disponibilizados para a recuperação estrutural da EEBA teriam sido alocados para a construção do prédio da Garcia Pessi. Essa é uma prática comum dos governos e partidos que vem se sucedendo na administração do estado nas últimas décadas, dividir a categoria, gerar conflitos, etc, é a ordem. Um exemplo para elucidar foi é o plano de carreira aprovado em 2015.
Em 2015, sobre a reforma do Colégio Estadual, mesmo com toda mobilização feita envolvendo estudantes e professores para pressionar o governo a executar o que fora prometido, tudo isso não foi suficiente e o colégio continua se depredando dia pós dia. Quem trabalhou ou estudou na EEBA durante 2016 é testemunha ocular do que é exercer com eficiência as atividades em um ambiente totalmente insalubre, com salas inundadas, forro caindo, risco de incêndio.  Se hoje a escola está tendo condições satisfatórias de trabalho e estudo, sem goteiras e telhado arrumado, foi graças ao empenho do corpo docente, gestor e da comunidade.
A impressão que fica quando o assunto Teatro Célia Belizário entrou no círculo de debate, é desviar o foco daquilo que é mais importante nesse momento que é a reforma do educandário. Admite-se que o próprio gerente da educação tinha convicção que o assunto relativo a transferência do Anfiteatro Célia resultaria em profunda discussão, ocupando extensos espaços da mídia. Desse modo seria possível ganhar tempo e deslocar o foco dos problemas. Mas dessa vez a ADR e o governo do estado não terão a mesma sorte como tiveram em 2015 quando abortaram a reforma da EEBA. Os fatos levam a crer que não havia dinheiro algum.[4]  A opinião de todos os professores ouvidos na reunião de quinta feira, 17/02 de 2017, na EEBA, foi unânime, o anfiteatro Célia Belizário é da EEBA, e ninguém vai golpeá-lo.[5]
Quando dizem que o espaço está ocioso e que pouca vida traz ao município, isso é uma inverdade. O teatro, mesmo com o desleixo do governo estadual, vem contribuindo em muito na promoção da cultura e do ensino do educandário. A EEBA é a única escola de ensino médio do município de Araranguá que tem estudantes matriculados de quase todos os bairros e comunidades, bem como de outros municípios próximos. Somente em 2016 foram inúmeras as atividades desenvolvidas pelo colégio no anfiteatro, como reuniões pedagógicas, palestras e oficinas teatrais. Que quiser conferir é só acessar a página da EEBA nas redes sociais.
Foi mediante as essas atividades pedagógicas e culturais que a EEBA obteve o oitavo lugar entre as escolas de ensino médio do estado em número de estudantes aprovados no vestibular da UFSC.  Portanto, não vai ser tão fácil alguns oportunistas interessados no lucro, se apoderarem de um ambiente tão importante para a educação e a cultura da região do vale do Araranguá. O que deve ser feito e certamente terá o apoio da escola é estabelecer planos de estratégias de curto, médio e longo prazo com os demais seguimentos de ensino do município, para que também possam se utilizar de forma permanente o espaço para promover oficinas teatrais e outros eventos do gênero.
Prof. Jairo Cezar


                    




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[4] https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8334622275182680372#editor/target=post;postID=8176279132444256894;onPublishedMenu=allposts;onClosedMenu=allposts;postNum=83;src=postname
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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

AS DEMANDAS DO PROJETO ORLA E OS DESAFIOS PARA SUA EXECUÇÃO EM TODA FAIXA COSTEIRA DO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ



Quanto ao projeto orla, embora inúmeros dispositivos contidos no documento tenham sido incluído na lei do plano diretor que trata sobre Zoneamento e Uso e Ocupação do Solo, aprovado pela câmara de vereadores no dia 14 de dezembro de 2016, inexpressiva são as pessoas que conhecem o documento integral que cotem sete volumes: apresentação; diagnóstico socioambiental; cenário da orla; estratégias de gestão; instrumentos e normativa; cronograma e considerações e mapa temáticos.
Seria quase que impossível detalhar o que consta em cada volume. No entanto é cabível traçar considerações importantes mostrando o que poderá acontecer especificamente no balneário Morro dos Conventos se as mais de 80 proposições discutidas e encaminhadas nas reuniões e oficinas forem realmente concretizadas. Devido a sua peculiaridade ambiental, dentre os temas polêmicos discutidos a questão do saneamento básico, coleta e tratamento de esgoto e uso e ocupação do solo sem dúvida foram os que nortearam os debates.
A partir da década de 1950 o Morro dos Conventos começou a atrair turistas e especialmente veranistas que iniciaram a ocupação da sua faixa costeira. Na época, talvez aproveitando a fragilidade das legislações ambientais, empresários do setor hoteleiro, entre outros, quadricularam todo trecho que começava do loteamento Paiquerê até a foz do rio Araranguá. Observando o mapa elaborado naquele momento, causa espanto como o legislativo e o executivo municipal teve ousadia de aprovar tamanho descalabro.
As décadas se passaram e o Morro, contemplado pela geologia e geografia, seu complexo e frágil solo continuou cedendo lugar a novas residências e edifícios contendo até quatro pavimentos. Novas legislações mais restritivas e disciplinadoras à ocupação desses espaços foram sancionadas em âmbito federal e estadual, porém muitas delas que obrigam o poder público a implantação de políticas de destinação do lixo e o tratamento de esgoto ainda estão muito longe de se tornar realidade no balneário.



O fato é que na própria sede do município mesmo tendo as duas ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) já inauguradas no final de 2016, não se sabe com precisão quando entrarão em funcionamento. A ETE mais importante, construída no bairro vila são Jose depois de inúmeros entraves, não possui ainda nem mesmo rede de energia elétrica, cujos testes dos equipamentos e a manutenção dos motores e lâmpadas acesas foram graças à gentileza de um produtor de arroz que cedeu um dos seus postes para conectar na rede da estação.[1]       
Os órgãos ambientais e o próprio poder público, cujas funções seriam restringir ao máximo e fiscalizar possíveis ocupações irregulares em App, fazem vistas grossas chegando ao extremo de conceder licenças ambientais para novos empreendimentos com status duvidosos de proteção ambiental. Exemplos são os que não faltam no balneário, basta subir até aos vários mirantes do balneário e observar quantas infrações cometidas. E o descalabro ocorreu até mesmo durante os encontros do projeto Orla, quando vários empreendimentos e terraplanagens se sucederam e tendo sido passiveis de denúncias por parte de entidades ambientais.
A tendência, isso se não houver uma rígida fiscalização mesmo com a homologação do projeto orla, é repetir no Morro dos Conventos, parte baixa, o que se sucedeu no loteamento paiquerê, que foi embargado pelo poder judiciário por não cumprir dispositivos ambientais pré acordados. Um deles é a insuficiência do tratamento de efluentes domésticos por fossa séptica e sumidouro indicado no licenciamento feito pela FATMA quando da homologação do loteamento. O fato é que toda a área de faixa costeira onde estão os loteamentos Paiquerê e Morro dos Conventos, o lençol freático tem baixa profundidade, podendo os efluentes domésticos contaminar todo o ecossistema do entorno e a própria água do oceano.


A análise de balneabilidade realizada pela FATMA em 2015, que detectou alto índice de contaminantes na água do oceano, deve servir de alerta quanto aos novos licenciamentos sem considerar as diretrizes contidas no documento do projeto orla. Delimitar áreas de APP e aquelas possíveis de ocupação turística e residenciais transformou os encontros do orla em momentos de extrema tensão. A participação foi muito maior de representantes de grupos econômicos interessados em limitar ao máximo as áreas protegidas. Algo que pode servir de atenuante a forte pressão do capital no Morro dos Conventos é a unidade de conservação que foi homologada via decreto no final de 2015.
O balneário, parte baixa, muitas das residências foram construídas há muitos anos e cujos sistemas de esgotamento estão deficitários. Temos exemplos parecidos na parte superior do bairro, de um empreendimento hoteleiro, cuja fossa séptica foi construída há cerca de trinta anos e os resíduos da lavanderia estão sendo lançados na fossa pluvial, que por sua vez escoam para um lago extinto no bairro. A ocupação com construções também foi outro item muito discutido nos encontros. Pelas peculiaridades da geografia do local, residências ou prédios com verticalização acentuada, ou seja, acima de dois pavimentos, pode comprometer toda dinâmica do complexo ecossistema. Por isso a restrição para no máximo dois compartimentos a altura das futuras residências.
A constituição de dunas móveis e fixas nas áreas do entorno da paleofalesia tem relação direta com a dinâmica dos ventos. A proliferação de residências ou edifícios com quatro pavimentos, bem como a proliferação de espécies exóticas da flora, pinos SSP e casuarinas, estão paulatinamente produzindo mudanças na direção dos ventos que moldam o desenho das dunas.[2]
Conforme decisão do MPF e resolução do Conselho Estadual do Meio Ambiente, que impede plantação e comercialização de casuarinas, a FAMA processou o corte de tais espécies e de pinos em trecho de dunas da orla do Morro dos Conventos. No entanto, a resolução estabelece que feita a supressão o órgão ambiental deveria repovoar a área com espécies nativas, que não o fez. O agravante é que a FAMA não executou o trabalho na sua totalidade como havia prometido, conforme reportagem publicada pela revista W3 em julho de 2016.[3] 
A questão turística nos balneários que congregam o município de Araranguá é outro gargalo que vem impedindo a região de fortalecer o turismo como uma das opções para o desenvolvimento local e do extremo sul de Santa Catarina. Desde a década de 1950 com a construção do campo de aviação e do Hotel Morro dos Conventos deu início os primeiros passos de um ousado projeto que por décadas inseriu o balneário e o município no cenário regional, nacional e internacional como uma das rotas mais procuradas e apreciadas.


A falta de uma cultura empreendedora de trabalho coletivo, somada a incompetência administrativa e política, fez com que o balneário e o próprio município, num todo, regredissem nesse seguimento nas últimas décadas em níveis vergonhosos. O declínio do Camping Morro dos Conventos premiado na década de 1980 com o título de um dos mais estruturados da América latina está cedendo lugar a um empreendimento imobiliário duvidoso em termos econômicos e ambientais. Além do município não possuir uma secretaria vinculada ao turismo, a fragilidade desse seguimento salta aos olhos da população do bairro e dos veranistas e turistas que freqüentam sazonalmente o balneário.
Não há o mínimo de infraestrutura compatível às necessidades sociais e ambientais e que foram discutidas no Orla, como posto de atendimento ao turista; banheiros públicos; equipamentos de lazer; sinalização compatível nas vias públicas e orla; lixeiras distribuídas pelas principais ruas do bairro; placas informativas e guias para transitar sobre as trilhas, as que possuem erros de ortografia;  estudo e estruturação dos sítios arqueológicos para visitação; sistema de transporte coletivo para levar as pessoas à barra e outros pontos turísticos, etc.            
O projeto orla e os três decretos assinados no final de 2015, que criaram a MONA (Monumento Natural Morro dos Conventos; APA (Morro Agudo) e a RESEX (Ilhas) alimentaram as esperanças de um futuro mais promissor no setor turístico para o município de Araranguá. Mais uma vez, toda essa expectativa de tentativa de despertar a vocação do município para o turismo, vai depender da vontade dos novos integrantes do legislativo, executivo e da própria Fundação Ambiental do municipal de Araranguá. Ambas como entidades políticas têm por tarefas mobilizar todas as forças vivas da sociedade organizada. O trabalho de educação ambiental e patrimonial deverá ser uma das primeiras iniciativas do poder público e da FAMA, entidade ambiental municipal criada em 2007 com a lei 2.608.
Dos 25 artigos que constituem a lei, o art. 4 trata sobre as 27 finalidades, que aplicadas promoveriam uma extraordinária revolução no seguimento ambiental e patrimonial no município.  Um exemplo é o inciso II sobre as finalidades onde estabelece a implantação, fiscalização e administração de unidades de conservação e áreas ambientais e arqueológicas protegidas do Município, em consonância com o que dispõe a legislação vigente, visando à proteção de mananciais, ecossistemas naturais, flora e fauna, recursos genéticos, e outros bens de interesse ambiental e arqueológico.
Promover o desenvolvimento econômico com o mínimo possível de impacto ambiental em todo o trecho da faixa costeira nos limites do município de Araranguá deverá ser compromisso de todos. As três unidades, criadas em 2016, (MONA, APA E RESEX) junto com o documento do projeto Orla, atuarão como mediadores desse processo. Portanto, o empenho agora é fazer cumprir as etapas sistematizadas a partir da elaboração de um plano de manejo consistente e possível de ser realizado.
Prof. Jairo Cezar      

              



[2] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/2014_02_01_archive.html
[3] https://www.revistaw3.com.br/ararangua/2016/07/04/fama-realiza-corte-e-poda-de-casuarinas-em-morro-dos-conventos.html
O DESAFIO AGORA É VIABILIZAR A EFETIVAÇÃO DO DECRETO QUE CRIOU A MONA (MONUMENTO AMBIENTAL MORRO DOS CONVENTOS)


Depois de quase dois anos, com a conclusão das reuniões do PROJETO ORLA que resultaram em vasta documentação contendo metas e estratégias construídas conjuntamente entre integrantes da sociedade civil e o poder público, todo esse tempo dedicado e o material elaborado deixarão de valer se não for realizada audiência pública para sua homologação. De acordo com o atual cenário político conturbado e a extinção da Gerência Costeira Estadual, que é vinculado ao SPU (Secretaria do Patrimônio da União), as expectativas não são tão otimistas quanto a ocorrência da mesma, muito menos a concretização de importantes ações que contribuiriam para minimizar ou até mesmo solucionar conflitos jurisprudenciais em relação a faixa costeira do município de Araranguá.


Dentre os temas importantes discutidos nos encontros do Orla, a criação de UC (Unidades de Conservação) para a proteção dos ecossistemas frágeis foi um dos muitos temas que mais provocou discussão. Em maio de 2015, em uma das reuniões realizadas no Hotel Morro dos Conventos, o prefeito municipal de Araranguá, Sandro Roberto Maciel e um proprietário de extensa área de terra no balneário, parte dele situado na faixa costeira, apresentaram proposta de criação de UC com vistas a assegurar a proteção da fauna e flora local com intuito de promover o turismo sustentável.

No próprio relatório conclusivo do projeto orla consta como sugestões a criação de mosaicos de UC englobando ambientes lagunares, fluvial, eólico e praial, além de numerosos sítios arqueológicos. Quando tudo parecia que as respectivas proposições de unidades ficariam mais uma vez restritas apenas ao discurso, pelo fato das áreas destinadas à implantação pertencerem a um cidadão de nacionalidade argentina e um grupo empresarial da região, a surpresa foi a presença de um representante do grupo em um dos encontros informando que disponibilizaria 70% dos 2.700 lotes para a criação da unidade.
Com o aval do respectivo proprietário, caberia ao poder público municipal viabilizar os procedimentos legais para sua implantação, que poderia ocorrer mediante decreto. A promessa do prefeito era que antes do final de sua gestão o mesmo o faria, e o fez em 31 de dezembro de 2016 quando assinou três decretos criando a MONA (Monumento Natural Morro dos Conventos), abrangendo área de 280 há; a APA (Área de Proteção Ambiental) com 3.213 ha e a Resex do Rio Araranguá (Reserva Extrativista) cuja área de abrangência é de 566 ha.

Ambas as unidades terão prazo máximo de dois anos para que o poder legislativo municipal oficialize a criação do Conselho Gestor Deliberativo da Resex e da APA e o cargo de Chefe do Monumento Natural Morro dos Conventos. Mas não basta apenas a ação do legislativo e executivo para que as respectivas unidades tenham eficácia. O processo é mais complexo e deve envolver, para obter sucesso, toda a sociedade local e do restante do município. Atualmente expressiva parcela da população residente no entorno das áreas que abrangerá o MONA as concebe como empecilho ao desenvolvimento econômico e social da região.

Desconstruir tais preconceitos é tarefa do poder público, do órgão ambiental municipal (FAMA) e das organizações ambientais através da promoção de palestras, oficinas e outras atividades lúdicas sobre o tema com a comunidade e estudantes das diferentes redes de ensino. Algumas experiências de projetos e oficinas desse tipo já têm sido desenvolvidas na Escola de Educação Fundamentais Padre Antônio Luiz Dias do bairro morro dos conventos quando foram promovidas oficinas de educação patrimonial com o propósito de reconstruir fragmentos da cultura guarani que habitaram a região no passado.[1]
  Além de oficinas, também foram realizados estudos de campo, maquetes e documentários propondo recuperar traços da cultura imaterial do bairro como o boi de mamão e o cotidiano das primeiras famílias que ali se estabeleceram há cerca de cem anos. Com base nos documentos, imagens e artigos em anexo, se observa que as atividades de educação ambiental e patrimonial na escola do bairro tiveram seu ápice em 2013. Desta data em diante não há relatos de trabalhos ou projetos realizados discorrendo sobre o tema educação patrimonial e ambiental.[2]
 Por ser uma escola de ensino fundamental onde são matriculados estudantes a partir dos seis anos de idade, seria conveniente que a cada ano letivo as ações tivessem continuidade para dar forma e fortalecer atitudes saudáveis em relação ao meio ambiente. Construir novas possibilidades de agir sobre o complexo ecossistema Morro dos Conventos, fortalecendo a cultura do turismo sustentável como vocação do bairro, foi e deverá ser uma das principais estratégias da escola ou das escolas, do poder público e da própria fundação ambiental do município.[3]
Agora, com a oficialização da UC é o conselho gestor e o seu respectivo coordenador, que ainda serão homologados, os responsáveis pelos futuros encaminhamentos. O plano de manejo deve ser indiscutivelmente o carro chefe da unidade. No entanto, sua elaboração e execução devem obedecer a critérios importantes como o minucioso estudo técnico de toda área que englobará a unidade. Analisando o mapa abaixo, com coloração laranja, pode-se constatar que a área onde está a paleofalésia ou paredão e o seu entorno em direção a barra, estão inserida na UC.
A legislação federal estabelece que todas as unidades devam ter zona de amortecimento ambiental. Sendo assim algumas manchas verdes que estão assinaladas com setas brancas no mapa abaixo poderão, também, ser inseridas na UC como áreas de amortecimento.  São ambientes extremamente frágeis, constituído de dunas fixas, vegetação de restinga servindo de habitat para espécies endêmicas da fauna local.    

Poucos devem ter conhecimento que área do mapa acima em cor laranja, em 2014, a equipe do professor Dr. Juliano Bitencourt, do Ipat/Unesc identificaram artefatos e outros vestígios arqueológicos que se supõe devam pertencer aos grupos sambaquianos, guaranis, entre outros, com datações que variam entre 4 mil há mil anos.[4]


No entanto, para ter certeza de que tais achados sejam mesmo pertencentes a tais agrupamentos humanos são necessários estudos meticulosos envolvendo o poder público municipal, Iphan e profissionais de diferentes áreas de conhecimento. Em junho de 2016 foi dado o primeiro passo com a realização de um encontro que teve a participação do IPHAN, FAMA, IPAT/UNESC e OSCIP PRESERV’AÇÃO no gabinete do prefeito municipal de Araranguá. Como encaminhamento do encontro Juliano, arqueólogo do Ipat/Unesc, sugeriu que fosse promovido Seminário Regional sobre o tema arqueologia para dar a arrancada na questão do patrimônio arqueológico regional. Outra proposta foi lançada pelo procurador do Iphan ao professor Juliano, para que elaborasse projeto orçamentário exclusivo para o salvamento do sítio 48, e depois outro projeto estendido para os demais sítios. Foi sugerido a primeira semana de agosto, o dia 10 de agosto, como dada do próximo encontro, com o convite estendido aos demais órgãos municipais, como educação, cultura e turismo. [5]


Como era de se imaginar, o encontro previsto para acontecer no mês de agosto de 2016 não se concretizou. A expectativa, portanto, é o projeto orla e os decretos do prefeito oficializando a criação da UC, cujo art. 3, IV, determina que deva ser preservado o afloramento sedimentar da paleofalésia, do campo de dunas e seus sítios arqueológicos, bem como sua área de proteção. Além do decreto existe a decisão definitiva da justiça federal (TRF 4) de Porto Alegre que acatou decisão do MPF de criciúma proibindo o trafego de veículos na orla e sobre as dunas e restinga.
Embora haja inúmeras normativas prevalecendo, ambas não são suficientes para assegurar a real proteção dos sítios e demais ecossistemas frágeis pelo fato de não existir instrumentos fiscalizadores efetivos e permanentes. O órgão ambiental municipal vem se eximindo de qualquer ação. Algumas medidas mais efetivas ocorrem quando as denúncias são protocoladas na Polícia Ambiental e no próprio MPF, em Criciúma.  Mesmo havendo intimação e punição aos agressores ambientais, os mesmos resistem ou se eximem em cumprir tais recomendações apostando no esquecimento e ineficácia dos órgãos fiscalizadores.
Prof. Jairo Cezar




[1] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/search?updated-min=2014-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2015-01-01T00:00:00-08:00&max-results=35
[2] Morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/reconstrução-da-memoria-e-identidade.hatml
[3] http://jornalsosecologiasc.blogspot.com.br/2010_04_01_archive.html
[4] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/2015/06/projetoorla-e-os-debates-sobre.html
[5] http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com.br/2016_06_01_archive.html