segunda-feira, 27 de março de 2017


COMO FORAM TRILHADOS OS CAMINHOS QUE RESULTARAM NA MAIOR ONDE DE ATAQUES AOS DIREITO DOS TRABALHADORES


Passados quase vinte anos da hegemonia petista a frete da presidência da república, a assembléia estadual do Sinte e as manifestações de rua, ambas ocorridas no do dia 15 de março de 2017, fizeram emergir antigas e costumeiras práticas de lutas, quase esquecidas e até mesmo desconhecidas pela maioria dos jovens. A primeira delas foi o surpreendente consenso de quase todas as forças políticas que integram o Sinte, que propuseram o início da greve no magistério estadual a partir do dia 20 de março. Essa proposta de data foi refuta pela maioria do público presente na assembléia, alegando não ter havido consulta e discussão na base.


Como proposição alternativa, foi sugerida e aprovada a data do dia 28 de março, onde haverá outra assembléia estadual, para deliberação ou não de paralisação dos trabalhadores do magistério público estadual por tempo indeterminado. A segunda cena curiosa foi a presença expressiva de bandeiras tremulando nas mãos de integrantes de centrais sindicais como a CUT e CTB, pouco vistas em manifestações nos últimos 15 anos de regime petista. O terceiro e último episódio “quase” inusitado foi a presença políticos, deputados federais e estaduais, do partido dos trabalhadores e de outros antigos aliados ao governo petista, caminhando lado a lado com os manifestantes e gritando palavras de ordem contrárias as reformas. 


Talvez a grande maioria dos manifestantes presentes em Florianópolis nesse dia, por desatenção ou desconhecimento dos fatos, não fizeram a mesma leitura em relação aos fatos mencionados acima. A pergunta que muitos gostariam de fazer é por que episódios “ditos isolados” como acima narrados devem ser frisados e merecedores de reflexões por parte da categoria do magistério, entre outras. O fato é que historicamente o povo, as demais categorias de trabalhadores em especial, suas opiniões e decisões sobre engajar-se ou não às lutas por conquistas de direitos, geralmente sofreram certo tipo de pressão ou influência de agremiações partidárias, entidades sindicais, etc, onde compartilhavam interesses comuns.


Até o final da década de 1990 havia certo consenso político e ideológico envolvendo categorias profissionais e movimentos sociais. Todos, com raras exceções, possuíam absoluta clareza quanto aos seus objetivos e os caminhos que deveriam trilhar para romper com um regime que explorava e aniquilava milhares e milhões de trabalhadores. Digamos que naquele momento, o capitalismo era o inimigo número um a ser perseguido e abatido, e o socialismo/comunismo, a esperança, a utopia possível. Desde a sua fundação em 1980, o partido dos trabalhadores alimentava essa vontade quase inconsciente em suas lideranças, bem como milhares de ativistas e simpatizantes, até a chegada ao poder em 2001, com a eleição de Lula.


Do dia para a noite, os que tinham prometido fartura, abundância, até mesmo o paraíso celeste (pós-morte, é claro) entraram em um longo período de hibernação. Progressivamente os discursos, antes inflamados e apaixonados, foram se suavizando, estatutos sendo alterações, tornado-se mais palatáveis e pragmáticos à ordem capitalista e às centrais sindicais, como a CUT. O fato é que uma legião de lideranças sindicais, agora aliados, foi absorvida em cargos de segundo e terceiro escalão em secretárias de estatais federais, outros tantos cooptados para formatação de consensos entre trabalhadores, categorias profissionais e governos.
Aquilo que muitos imaginavam que pudesse ocorrer, ou seja, a construção de uma ampla coalizão popular para o progressivo processo de ruptura das práticas seculares de exploração, nada disso aconteceu. No lugar de ações impactantes como reforma agrária e política, o que propôs o “governo popular” de Lula foi costurar alianças com partidos e setores reacionários do capital. Essa atitude intempestiva do partido dos trabalhadores provocou indignação e até mesmo o abandono definitivo de lideranças importantes fundadoras do partido.


Em vez de medidas que favorecesse milhões de trabalhadores esperançosos por salários mais compatíveis, saúde, segurança e educação dignos, três anos depois de ter tomado posse, veio a primeira das muitas medidas antipopulares que favoreceriam exclusivamente os donos do capital. A REFORMA DA PREVIDÊNCIA de 2003, que deu prosseguimento ao programa neoliberal do governo FHC, em 1998, foi uma delas. Depois veio o grande pacote de medidas reformistas antipopulares do governo Dilma, o chamado AJUSTE FISCAL, que já serviria de tubo de ensaio para a reforma previdenciária de 2015 e de sua continuidade no começo de 2017 na era Temer.   Tudo em prol dos bancos, corporações, fundos de pensões, ambos controladores dos mercados de ações e papeis das dívidas públicas dos países subdesenvolvidos.
Tanto a reforma da previdência como a trabalhista, ambas estavam passando por estágios de encubação nos governos Lula e Dilma. Lembram da Emenda Constitucional 41, que estabeleceu, em nome da “justiça social”, o teto máximo de remuneração para os trabalhadores do sérvio público em 2.400 reais e contribuição de 11% para aqueles que quisessem exceder o teto. Foi um ataque direto aos servidores públicos, punindo-os com o fim da integralidade salarial. Além do teto máximo de remuneração, a EC-41, impôs outras maldades aos trabalhadores que o próprio FHC não conseguiu implementar com a proposta da PL-9 de 1999, que estabelecia os fundos de previdência complementar, que foi reprovada graças a oposição do PT no congresso nacional.   
Outros pontos contidos na proposta de emenda e combatidos pelos trabalhadores sem sucesso foram: a) imposto para inativos, aposentados e pensionistas; b) idade mínima para ter direito a seguridade; c) redução do valor das pensões e a quebra da paridade e da integralidade dos proventos. Na época da aprovação dessa emenda, surgiram indícios de que o partido dos trabalhadores teria promovido verdadeiro movimento para a aprovação da emenda que alterava a previdência seguindo as recomendações do FMI. Segundo o boletim n. 30, de abril de 2016, do SINDESEF-SP, filiado a CSP-CONLUTAS, a aprovação da emenda ocorreu graças a compra de apoio político e votos de parlamentares.[1]
Não há dúvida que tal proposta de reforma teve o apoio direto de parlamentares e segmentos ligados aos fundos de pensão, beneficiados com a possibilidade de acumular lucros bilionários dos trabalhadores que recorressem ao plano de aposentadoria complementar. Mesmo com toda pressão dos trabalhadores, a proposta foi aprovada no congresso e homologada pelo governo Lula.
Embora o capital vislumbrasse no segundo governo Dilma a possibilidade de elevar seus lucros, muito maior até que na fase do boom econômico, 2011 a 2014, de crédito abundante, suprimi-la do poder, como o fizerem no final de 2016, através de impeachment, ampliaria as chances das forças ultraconservadoras de assumirem definitivamente as rédeas do Estado para agilizarem as amplas reformas estruturais, iniciadas com Dilma. O ajuste fiscal e a EC-47, que estabeleceu novas regras para aposentadoria, se constituiu em caminho já trilhado pelo PT e que Michel Temer aproveitaria para dar continuidade, cloro que seria feito sem qualquer pudor e com o apoio inicial da classe média brasileira. Lembram das manifestações de ruas dos vestidos de amerelo e verde?  
O que muitos não imaginavam talvez até os que foram às ruas vestidos de trajes patrióticos para defender o impeachment, foi o modo brutal como a proposta de reforma previdenciária foi elaborada que retira o direito de aposentadoria para quase todas as categorias, elevando o tempo de contribuição para ter direito a uma remuneração integral, para pelo menos 49 anos ou 72 anos de vida. Outro detalhe, se o cidadão/ã quiser se aposentar aos 65 anos deverá começar a trabalhar a partir dos 16 anos de idade. Numa conjuntura econômica instável e desfavorável ao trabalhador como a atual e com perspectivas nada animadoras para os próximos anos, poucos serão os que serão absorvidos no mercado formal de trabalho. Com isso as idades para a aposentadoria se elevarão.
O rolo compressor neoliberal não esmaga somente a previdência dos trabalhadores. Outra bomba relógio que está sendo armada pelo governo e setores conservadores do congresso nacional é a reforma trabalhista, mais destrutiva ainda que a reforma previdenciária. Ou seja, é a primeira vez nos quase 70 anos de CLT que os trabalhadores estão sendo submetidos a uma terrível onda de ataques contra direitos conquistados através de lutas.
Se a reforma trabalhista for aprovada como se pretende, provavelmente com o apoio de dezenas de sindicatos e centrais trabalhistas pelegas, os trabalhadores serão submetidos a um regime de submissão que muito se assemelhará ao século XIX, com jornadas longas e extenuantes, sem férias, décimo terceiro e seguro desemprego.  A aprovação na câmara, na quarta feira, 22 de março de 2017, do projeto que regulamenta a terceirização irrestrita para todos os seguimentos laborais, consiste no fim definitivo da CLT e a decretação de um processo de espoliação contra o trabalhador jamais visto na história brasileira.
Acredite, a terceirização beneficiará exclusivamente o empresariado sedento por lucros, ou seja, o capital. Isso porque, com a contratação do trabalhador/a terceirizado/a, o custo financeiro com o mesmo será de 30 a 40% menor que o formal. Além do mais, com a redução salarial, estados e municípios poderão sofrer uma forte estagnação da suas economias, pois reduzirá o poder de compra do trabalhador. Centenas de pequenos municípios brasileiros sobrevivem hoje graças a renda dos aposentados. Menor ganho salarial redundará também numa menor contribuição previdenciária e tributária.
O fato é que já havia há algum tempo discussões sobre o tema terceirização com organizações trabalhistas no Brasil inteiro. No entanto, pegou muita gente de surpresa, até mesmo políticos envolvidos nesse debate, quando do desengavetamento de outro projeto formatado na década de 1990, muito pior do que estava sendo debatido. A proposta coloca os trabalhadores numa condição de precarização absoluta do trabalho, podendo até o contratante admitir força de trabalho por tempo parcial. Isso permite a legalizado os chamados bicos, ou seja, um trabalhador pode ter vários contratos temporários. Adeus férias, décimo terceiro e, por fim, aposentadoria. Quanto ao direito à greve, o projeto de lei se aprovado autoriza a contratação de substitutos terceirizados e temporários para ocupar a vaga dos grevistas.
Enfim os trabalhadores brasileiros estão diante de um cenário preocupante, capaz de retroagir suas condições laborais e de direitos ao século XVIII. Para as empresas, será muito mais lucrativo demitir o trabalhador concursado e contratá-lo novamente. Isso deve ocorrer em setores mais sensíveis e lucrativos como bancos e grupos de comunicação. Na realidade foi o setor financeiro, banqueiros em especial, os que mais atuaram nos bastidores do poder para a aprovação dessa lei.
 As organizações sindicais como a CUT vêm se mobilizando para tentar reverter esse desmonte no sistema trabalhista brasileiro. No entanto, mesmo assim, as centrais não conseguem se entender e tomar posições conjuntas. O fato é que há centrais sindicais como a Força Sindical que é favorável a esse novo plano.   Aí estão, portanto, as contradições e mentiras deslavadas divulgadas pela mídia entreguista e pelo próprio governo para tentar convencer o povo em apoiar as reformas, bem como a terceirização, afirmando que são necessárias para reativar a economia e tirar o país da crise.
 Imagine agora, 49 anos de trabalho extenuante, semi- escravidão, possivelmente sem direito a férias, décimo terceiro e, por fim, sem perspectiva de que irá desfrutar da aposentadoria, pois certamente morrerá bem antes. Reajustes e ganhos reais de salários, também será outra utopia para quase todas as categorias profissionais.  A nova legislação trabalhista propõe suprimir o item que defende o acordado sobre o negociado que está na legislação do trabalho. Se o congresso aprovar esse ponto, o que valerá para os reajustes salariais será aquilo que for negociado, não o que está redigido na CLT.
Nessa perspectiva a tendência é de muitos jovens não quererem acessar ao sistema previdenciário por acreditar que jamais terão possibilidades de desfrutar os recursos ao qual contribuíram. Não há qualquer sinal de dúvida que a justificativa do governo para a reforma da previdência não é exatamente o que vem afirmando, que é deficitária e que implodirá no futuro. O que se vê através dos meios de comunicação especialmente dos próprios órgãos do governo é um abarrotamento de informações falsas que confundem a população. Está se misturando tudo, previdência particular (regime geral) e pública.  Ambas são distintas e seguem procedimentos próprios. A própria constituição federal não diz que o servidor público é parte da seguridade federal.
A previdência social que engloba assistência e atendimento à saúde é sim superavitária, porém, nas ultimas décadas os governos estão se utilizando de recursos do caixa da previdência para custeio de outros campos. Na verdade o discurso apresentado é, sim, ideológico, ou seja, repleto de interesses como forma de confundir ou jogar uma categoria contra outra. Lembram o que disse Fernando Henrique Cardoso na época da primeira reforma: “os aposentados são todos vagabundos”. Vê o absurdo. Somente em 2015, mais de 500 bilhões de reais foram utilizados para o pagamento de amortizações da dívida pública brasileira. Nesse mesmo ano os gastos com previdência foram de 460 bilhões.
Esses números aviltantes da dívida também escondem outros absurdos que merecem ser mencionados. Enquanto os valores previdenciários custeraram cerca de 90 milhões de brasileiros, os bilhões da dívida pública foram diretamente para  uma dezena ou centena de mãos. Não é um absurdo?  Outros dados que revelam a farsa da previdência. Entre isenções fiscais, dívida pública e sonegação fiscal, o Brasil deixa de arrecadar mais de um trilhão de reais por ano.
 Se fossem tomadas medidas como: a auditoria da dívida pública; fins das isenções e o combate as sonegações, o país poderia ter um aporte anual de recursos equivalentes a 40% desse montante, ou seja, mais de 400 bilhões de reais. Se o déficit previdenciário divulgado é de cerca de 200 bilhões anuais, os 40% vindos dos sonegadores, entre outros, não solucionariam o problema? A equação é simples. O falta então?       
As manifestações gigantes do dia 15 de março não há dúvida que serviu de termômetro para o governo Temer avaliar o cenário para manter ou tomar outras medidas quanto ao projeto de reforma previdenciária. A primeira vista, muitos até acreditaram que a fragmentação do projeto transferindo para os estados e municípios a responsabilidade com a reforma da previdência para os servidores públicos, seria algo positivo.  De repente caiu a ficha. A fragmentação proposta pode ser até muito pior que a proposta original.
Como um político experiente e astuto, a intenção do governo foi dividir os trabalhadores e inviabilizar a greve geral dos professores e outras categorias que estão previstas. No momento que joga para os estados e municípios a autonomia para promover suas reformas, as regras das aposentadorias deverão ter de se adequar aos dispositivos federais. Outro aspecto que favorecerá o governo. Lembram da PLP-343, que trata da proposta de RECUPERAÇÃO FISCA dos estados? Então, aí está a jogada. Os estados possuem dívidas com o governo federal, portanto, o acordo firmado com as unidades federativas para a renegociação das dívidas era de que fizessem os ajustes fiscais: congelamento dos salários, proibição de novos contratos e o aumento da contribuição previdenciária.
O curioso nisso tudo é que três dias depois da divulgação da notícia de que o governo federal excluiria do projeto os servidores públicos estaduais e municípios, no dia 24 de março, o governo Colombo, de SC, apresentava na casa da agronômica, o esboço do projeto SCPREV que trata sobre a aposentadoria dos servidores estaduais. Na realidade essa proposta de reforma do governo do estado já tinha sido apresentada em 2015. O texto traz itens que seguem a mesma fórmula do governo federal, isto é, estabelecer um teto máximo de 4.600 reais e criar um fundo complementar de 8% para o estado e servidores que quiserem obter um provento acima do teto. Os recursos do fundo seriam geridos por uma fundação privada. Foi possível entender agora a manobra do governo federal?  Uma luta que até então se projetava ser unificada, poderá se fragmentar, dando suporte ao governo federal na aprovação das reformas.
Prof. Jairo Cezar         




[1] http://www.sindsef-sp.org.br/portal/conteudo/jornais/encarte_nao-a-reforma-de-dilma.pdf

quinta-feira, 23 de março de 2017

OS REFUGIADOS DA FUMAÇA NA CHINA E OS REFUGIADOS DA ÁGUA NO BRASIL



No final de 2016 milhares de cidadãos/ãs moradores de Pequim, China, viram-se afetados por uma espessa névoa que cobriu a cidade por vários dias. A neblina não era nenhum fenômeno natural como acontecem em determinadas estações do ano motivadas pela inversão térmica, ou seja, choques de temperaturas. Nada disso, o que ocorreu em Pequim foi resultante da intensa poluição proveniente das centenas de fábricas e automóveis que lançam diariamente milhões de toneladas de partículas de Co2 à atmosfera e que tornam o ar irrespirável.
Para as pessoas mais abastadas economicamente o jeito foi comprar passagens de avião ou outro meio de transporte e fugir para o interior em busca de ar um pouco mais respirável. O fato é que embora haja programas, protocolos de acordos multilaterais para limitação dos níveis de emissão de gases poluentes à atmosfera, a cada novo encontro, reuniões como as COPs (Conferências das Partes) já na edição 21, onde são gastos milhões de dólares só para a organização, os relatórios apresentados com os resultados são sempre decepcionantes.
O que está acontecendo com o ar da China é o prelúdio de um planeta terra possivelmente irrespirável e também inabitável para algumas espécies vivas nos próximos séculos, quem sabe muito ante do que se imagina. O que é mais espantoso é que o ser humano está inserido entre as espécies ameaçadas de desaparecer.
Se na china o problema já é a escassez de oxigênio, em outros países como o Brasil, que concentra 20% de toda água doce do planeta, esse recurso em muitos municípios é considerado artigo de luxo. Quem tiver alguma dúvida acerca do problema da escassez de água basta assistir os noticiários dos telejornais. Tem regiões ou municípios nordestinos que não chove há anos. O problema da falta de água não está associado apenas à estiagem. A região Amazônica que concentra o maior número de rios de água doce do planeta, também é a que apresenta a maior degradação pela fragilidade no sistema de saneamento básico.


Quase todos os rios e aquíferos brasileiros já são de alguma maneira afetados por certos tipos de poluentes, isso porque somente uma ínfima parcela dos resíduos orgânicos lançados são coletados e tratados adequadamente. Se na China já existem os refugiados da fumaça, no Brasil, bem mais cedo do que imagina estará se formando os refugiados da água. Essa catástrofe não afetará  exclusividade a população do semi-árido nordestino, mas todas as regiões. A Amazônia, pasmem, é a região mais ameaçada, não por falta d’água, mas por estar imprópria para o consumo devido a contaminação.

Prof. Jairo Cezar  

quarta-feira, 22 de março de 2017

GOVERNOS, SISTEMAS EDUCACIONAIS E TECNOLOGIAS CAMINHANDO NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA

Os efeitos perversos de uma estrutura social e econômica decadente, carregada de vícios históricos transformaram segmentos institucionais do Estado republicano brasileiro (legislativo, executivo e judiciário), em estruturas de poderes desacreditados por expressiva parcela da sociedade. Nas principais democracias do mundo globalizado, as crises cíclicas que se abatem sobre os sistemas produtivos e sociais, suas durações tendem a ser relativamente curtas pelo fato do aparato  institucional montado pelo estado, órgãos gestores e fiscalizadores, para enfrentar e corrigir as adversidades ou distorções do próprio mercado.
Em visita a Malmo, cidade situada a extremidade sul da Suécia, que faz divisa com a Dinamarca, o clássico e o moderno das construções se mesclam simetricamente em tons harmoniosos, com destaque o verde que sobrepõe entre os demais. A região se configurava como o retrato sem distorção de uma sociedade que se reinventa a todo instante especialmente nos momentos de crises estruturais. Durante os anos 1990 a Suécia enfrentou uma das maiores crises econômicas de sua história pós segunda guerra mundial, similar até a crise que o Brasil enfrenta atualmente.
No entanto a diferencia das instabilidades entre as duas nações está no seu contexto conjuntural, ou seja, enquanto no Brasil as instabilidades resultam de vícios administrativos, má gestão do dinheiro público, corrupção, corporativismo, apadrinhamentos e fraudes eleitorais lá as crises geralmente estão cingidas a estrangulamentos dos ciclos produtivos tradicionais, bem como guerras e fenômenos climáticos extremos. É importante que fique claro que tais observações um tanto quanto positivas dos instrumentos de gestão de países como a Suécia que asseguram a milhares de cidadãos a oferta de serviços na área da saúde, assistência e educação, não se constitui como apologia ao capitalismo.   
O fato é que modelos produtivos, capitalismo, socialismo, etc. devem sempre ser vistos e avaliados, considerando variáveis importantes como o contexto histórico e cultura do povo. Portanto, se os países nórdicos, entre outros da Europa central, que são capitalistas, obtiveram elevado padrão de desenvolvimento e distribuição de renda, é claro que o processo se deu por via exploratória, ou seja, alguém teve que perder para que outros ganhassem.  A Expansão Marítima, século XVI, e a Saga Viking, são episódios importantes da história que explicariam melhor o atual cenário cultural e econômico da Europa e dos demais continentes.         
A transformação da cidade de MALMO em um espetacular laboratório de tecnologias de ponta atraiu para a região empresas importantes desse segmento como a Google, Microsoft, entre outras. Além dos incentivos públicos, as empresas se beneficiam da extraordinária oferta de trabalhadores altamente qualificados e preparados em universidades públicas do país. Lá, o ensino, do jardim a universidade, são subsidiados pelo Estado. São milhares de jovens oriundos dos países vizinho e do mundo inteiro que deslocam para estudar em Malmo e demais instituições de ensino suecas, com a certeza de trabalho assegurado e bons salários quando concluírem os estudos.
Quanto mais investimentos em educação e responsabilidade ética dos governos na gestão dos recursos públicos, menores serão os impactos de crises sobre todo o centro gravitacional de uma sociedade. Porém, não é exatamente o que ocorre em sociedades como a brasileira, com histórico de crises estruturais, cujo modelo educacional básico adotado, se pautou a partir de um padrão de ensino nada atrativo e descontextualizado com a realidade e expectativas dos estudantes. O resultado disso é o que vemos a cada relatório apresentado pelo governo brasileiro, IDEB/ENEM, e organismos internacionais, como o PISA, pondo o Brasil sempre em posições ridículas no ranking de qualidade.
O que ocorre é que tais processos avaliativos padronizados servem unicamente de parâmetros para que organismos financiadores como o Banco Mundial decidam quem tem direito de continuar recebendo tais recursos do fundo e quem não tem. São fundos aplicados na melhoria dos serviços de infraestrutura dos países “em desenvolvimento”, saneamento básico, educação, entre outros. A partir da promulgação da LDB, em 1996, seguidamente o ensino básico brasileiro, nos estados e municípios, vêm sendo submetidos a reformas e mais reformas. Como exemplo, pode ser destacado o Plano Nacional, Estaduais e Municipais de educação, sem qualquer impacto significativo na superação das desigualdades e do elevado índice de analfabetos estruturais.
O estado de Santa Catarina, cujos governos procuram a todo custo produzir consensos falsos de uma estrutura produtiva impermeável à crise, os últimos relatórios apresentados põem Santa Catarina numa posição preocupante entre os demais estados nas avaliações do IDEB e do PISA. Isso já era previsível à educação frente a tantas outras negligências do executivo e legislativo estadual nas áreas de saneamento básico, saúde, segurança e mobilidade.
Poderia aqui citar uma enorme lista de demandas para cada seguimento listado acima. Porem é imperativo nos determos à educação, pois para os governos e especialmente para o Secretário da educação de Santa Catarina e presidente do CONSED, Eduardo Deschamps, “a escola deve ser um espaço organizado, com boa infraestrutura, de debate e constantemente avaliado”. Em qualquer país que prevalece a justiça e a ética, discurso demagógico como o expressado pelo secretário, redundaria em revolta popular, queda de secretariado, até mesmo do próprio governo.
Se todos os municípios catarinenses os representantes do ministério público estadual adotassem a mesma metodologia ou critérios de avaliação das condições de infraestrutura das escolas públicas estaduais como adotou um promotor de justiça no município de sombrio, sobrariam poucas  em condições satisfatórias para a prática docente no Estado. Qualquer cidadão com o mínimo de discernimento sabe que escola com adequada infraestrutura para a prática pedagógica e professores preparados e bem remunerados, são condições elementares para o começo de uma grande revolução educacional. Os países que aparecem no topo do ranking em educação iniciaram transformações há 30, 40 anos, muitos dos quais estavam na mesma situação de penúria econômica que o Brasil hoje.
Em vez de tratar diretamente das causas que redundam no baixo rendimento dos estudantes do ensino médio, que apresentam elevados índices de reprovação e abandono, os governos, como de Santa Catarina tenta aplicar medidas paliativas para melhorar nas estatísticas, uma delas a redução da média final de 7 para 6 e a recuperação paralela, na certeza que tais estratégias irão reduzir significativamente os índices de reprovação anual nas escolas públicas do estado. É importante saber, que tais medidas são exclusivamente para cumprir protocolos assinados entre governos e organismos financeiros internacionais como o Banco Mundial, BID, BIRD. O baixo rendimento dos estudantes compromete os governos no recebimento dos recursos e na continuidade dos seus programas.
O momento que os professores poderiam estar discutindo projetos, processos pedagógicos e metodologias significativas para estimular os estudantes no aprendizado, as semanas de preparação para de início de ano letivo e reuniões pedagógicas, tem suas agendas sobrecarregadas com assuntos que pouco ou nada alterarão o atual cenário burocrático e excludente da escola pública estadual, apenas, é claro, servirão de estratégia para maquiar números e a realidade. Quem é professor se lembra das inúmeras portarias, resoluções, portarias para alterar resoluções, etc, etc. que alteram sistemas avaliativos,  conselhos de classe, procedimentos de recuperação paralela... Pare que serve tudo isso? É claro, mais sobrecarga de trabalho para o professor, pois as escolas não oferecem recursos pedagógicos e infraestrutura adequada para que o processo educativo possa fluir condizente as expectativas  e necessidades dos estudantes.
É consenso entre todos os profissionais de educação que os laboratórios de informática existentes em todas as unidades de ensino público, estavam servindo como ferramenta importante para a progressiva melhoria do ensino. Os resultados, entretanto, não foram melhores que o pretendido pelo fato da escassez de investimentos do estado na estruturação dos laboratórios, forçando os profissionais da área a ocuparem seu tempo mais com o reparo e injambramento de equipamentos.  
Lembram o que foi escrito no primeiro parágrafo acima em relação a cidade sueca de Malmo? Como estratégia para superação da crise que se abateu sobre o país, investimentos em educação e a criação de um pólo tecnológico para atrair investimentos e empresas foram medidas estratégicas e acertadas pelo Estado. Aqui no Brasil, em especial no estado catarinense, o caminho está sendo outro, completamente contrário aos discursos de integrantes dos governos e representantes de seguimentos industriais que enaltecem a necessidade de revolucionar a educação investindo em laboratórios e profissionais da área de  tecnologia. Qual a contradição do discurso? Sucateamento dos laboratórios e demissão de todos/as profissionais de informática, substituindo-os por professores readaptados, estagiários ou qualquer um que esteja disponível na escola.
Outro detalhe importante que comprova as contradições de um governo que caminha na direção contrária da história. A região da grande Florianópolis se constitui em um dos principais pólos de tecnologia de ponta do Brasil. Porém, paralelo a tudo isso tem um governo catarinense e seu secretario da educação, que excluiu da chamada dos ACTs para 2017, mais de 1.200 trabalhadores que deveriam atuar nos laboratórios de informática. Portanto, permanecendo tais regimes e modelos de gestão pública, teremos que conviver ainda por muitos e muitos anos, quem sabe até décadas, na lista vexatória e humilhante dos últimos países em Índice de Desenvolvimento Humano e qualidade na educação.
Prof. Jairo Cezar  


quinta-feira, 16 de março de 2017

AS PRECÁRIAS POLÍTICAS DE SANEAMENTO BÁSICO EM ÂMBITO FEDERAL E O PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO EM ARARANGUÁ


No dia 19 de fevereiro de 2017, um domingo, o programa Fantástico da rede globo apresentou reportagem, que não causa mais estranhamento à população, sobre o caos do saneamento básico no Brasil. As informações e imagens divulgadas não deixam qualquer dúvida que a alta incidência de doenças epidêmicas como a Dengue, Zika Vírus, Chikungunya e agora a Febre Amarela estão estreitamente vinculadas às precariedades das políticas públicas de saneamento básico, que estão asseguradas pela constituição federal e outras resoluções, porém muito longe ainda de ser universalizada.



Entretanto, antes de discorrer sobre o que mostrou a reportagem e o atual cenário do saneamento no país, estado de Santa Catarina e municípios do extremo sul do estado catarinense, no quesito saneamento básico, é importante elencar as legislações em vigor referentes ao tema e as perspectivas para o futuro. Na verdade os planos de melhorias das condições de saneamento básico no Brasil, que envolve abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos, etc., constam na Constituição Brasileira de 1988, nos artigos 1°, III, que trata sobre a dignidade da pessoa humana; e o Art. 225, onde afirma que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as atuais e futuras gerações.
Com base em tais prerrogativas constitucionais, em 2007, vinte anos depois de promulgada a constituição federal de 1988, o governo brasileiro finalmente sancionou a lei n° 11.445/2007 que estabeleceu as diretrizes sobre as políticas de saneamento básico brasileiro.  A finalidade desse programa, segundo artigo publicado no Portal Brasil em 2012 seria universalizar o serviço de saneamento básico até 2033.  Desde a promulgação da lei em 2007, já se passaram 10 anos. Todos os diagnósticos levantados apresentam um cenário pessimista quanto ao cumprimento do prazo previsto para que 98% do território brasileiro sejam cobertos com 98% de água potável; 88% com esgoto tratado e 100% dos resíduos sólidos coletados. 
É possível também perceber que um dos principais vetores responsáveis pela proliferação de doenças típicas de regiões tropicais como a dengue, ocorre devido ao não cumprimento das diretrizes constitucionais e da legislação sobre saneamento de 2007. Quanto aos estados e municípios que apresentam os piores indicativos de cobertura de saneamento por domicílio, a região norte e nordeste há décadas vêm liderando a lista em água tratada e coleta de esgoto. O documentário, “quem paga é você”,[1] exibido no fantástico, procura derrubar certos mitos que ainda permeiam o imaginário de cidadãos/ãs, até mesmo de políticos oportunistas, que tentam vender a imagem de que o sul do Brasil é exemplo de região pujante, de elevado nível de desenvolvimento social e saneamento básico.  Esse falso argumento vem servindo de pretexto para intensificar a difusão de propagandas separatistas da região com o restante do país.
Se o sul fosse realmente o que muitos ainda presumem, região modelo para o resto do país, o estado de santa Catarina não estaria na vergonhosa posição de 14° entre os demais 27 estados em número de domicílios atendidos por rede de esgoto. Esse percentual é referente a coleta de esgoto e não ao tratamento, que é muito menor ainda. Para quem mora no Rio Grande do Sul, deve ter sido constrangedor ter uma cidade como Gravataí na lista como uma das piores em recolhimento de esgoto, ficando na posição 94 entre as 100 cidades brasileiras.
 O município gaúcho é um exemplo da situação caótica do estado nesse quesito, e a tendência é piorar se for mantida a atual conjuntura de um estado basicamente quebrado financeiramente.  Das cinqüenta maiores cidades do RS, somente 30% do esgoto é coletado e, desse total, 15% é tratado. O quadro é mais preocupante ainda quanto as 316 localidades atendidas pela CORSAN (Companhia de Água e Saneamento) do Rio Grande do Sul que presta serviço para 6 milhões de pessoas de um total de 11 milhões que corresponde a população do estado. Apenas 12,78% das localidades atendidas pela companhia estatal gaúcha apresentam sistema de tratamento de esgoto.[2]
 No Brasil são 35 milhões de pessoas que consomem água sem tratamento. Quanto ao esgoto, a situação é mais assustadora, mais da metade das cidades não possuem ainda rede de coleta. Somente 42% do total de esgoto coletado são tratados. Isso significa que parte desses resíduos é lançada no solo, que escorre para as fossas pluviais, contaminando os lençóis freáticos, córregos, lagos, rios e oceanos. O que é estarrecedor são os gastos públicos com doenças no Brasil oriundas da falta de saneamento, que poderiam estar erradicadas se houvessem mais investimentos públicos. Quanto menos se investe em saneamento básico maiores são os gastos com internações hospitalares e tratamentos, especialmente com doenças que se proliferam devido a falta de higiene. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) a cada real investido em saneamento se economizaria 4 reais com doenças.
O inconveniente com o saneamento básico não é exclusividade do Brasil. No mundo, de acordo com dados da ONU, que reconheceu o saneamento básico como um direito humano em dezembro de 2015, mais de 900 milhões de pessoas não tem acesso a água tratada. O quadro é mais desolador quando se constata que o percentual de pessoas sem banheiros e esgotamento sanitário atinge os 2,5 bilhões.[3] É claro que a maior volume de pessoas desassistidas por tais políticas estão na Ásia, África e América Latina. No ranking dos 17 países latino americano que possuem relativa eficiência no sistema de coleta de esgoto, o Brasil ocupa a 10ª colocação, ficando atrás de países como Venezuela, Argentina, Uruguai, Chile, entre outros. O Chile cobre hoje 98% da população com água tratada. 
Foi a partir da declaração das nações unidas que a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) decidiu lançar como tema da campanha da fraternidade de 2016 (Casa Comum, Nossa Responsabilidade) uma referência a precariedade do sistema de saneamento básico, que afeta a todos. Em termos comparativos e também para corroborar que a afirmação acima é incontestável, os municípios de Franca/SP, o primeiro em saneamento, e Ananindeua/PA, o último, apresentam dados estatísticos referentes aos gastos públicos no tratamento de doenças provenientes da falta de higiene. O importante é que esses números podem servir de referências para os demais municípios e estados brasileiros.


Enquanto em Franca foram disponibilizados 405 mil reais no tratamento de diarréias; 12 mil com a dengue e 726 mil com a leptospirose, em Ananindeua, os números confirmam que a falta de políticas na área ambiental é uma das agentes das super lotações dos hospitais, especialmente as pediatrias. Observe os números e compare: em doenças diarréicas o município paraense gastou aproximadamente 18 milhões de reais; dengue foi 1.6 milhão e leptospirose, 44 mil reais. O volume de recursos em internações chegou a quase 20 milhões, ou seja, 47 vezes mais que Franca.
As cinco cidades que apresentam as piores taxas de saneamento estão localizadas no norte do Brasil, região que concentra o maior número de rios de água doce do planeta e com sérios riscos de contaminação. É na grande Belém, portanto, que está o município de Ananindeua, o último da lista dos 100 em saneamento. Com uma população de quinhentos mil habitantes, o município possui apenas 28,81% da população com água tratada. Das 10 cidades que apresentam os melhores parâmetros em saneamento básico (água e esgoto tratado) apenas uma se situa no nordeste, as outras nove ficam em Minas Gerais, São Paulo e Paraná, essa última com quatro cidades: Maringá, Ponta Grossa, Cascavel e Londrina.
A cidade com melhor percentual em água tratada e saneamento básico é Franca, no estado de são Paulo, com 99,96% de água tratada e 99,96 com sistema de rede de esgoto sendo que 98% são tratados. Na reportagem uma das moradoras do município paulista é entrevistada onde afirmou ser muito elevada a conta mensal, porém, está satisfeita pelos benefícios resultantes. O segredo do sucesso, segundo relatou um dos representantes do poder público do município paulista, é o planejamento que vem sendo feito há muitos anos.
Serão muitos anos e bilhões de reais necessários para reverter o estado caótico do saneamento básico no Brasil, segundo levantamento feito pela ONU. Somente na grande Belém, seriam necessários investimentos na casa dos 7 bilhões de reais. O fato é que quase toda a arrecadação do município é para o custeio da folha de pagamento, entre outras finalidades.  O incômodo não é somente em cidades do nordeste e norte que lançam seus esgotos nos córregos e rios. O município de São Paulo, um dos mais ricos do Brasil, joga direto nos rios os esgotos produzidos por cerca de seis milhões de habitantes.
Quem acompanha diariamente os noticiários dos tele jornais são comuns reportagens exibindo o esgoto sendo lançado nos principais rios que cortam a cidade paulista, o rio Tietê e o rio Pinheiros. Não bastava o mau cheiro, tem também os transtornos na cidade em dias de intensas chuvas, ocasionando inundações e deslizamentos nos morros. Há cerca de um ano a cidade de São Paulo enfrentou um dos maiores racionamentos de água da sua história, tudo por conta da falta de planejamento e fiscalização dos governos que se sucederam em relação aos mananciais que abastecem o município. 
Em 1986 foram detectados os primeiros mosquitos transmissores da dengue no Brasil. Se naquele momento fosse desenvolvido planos voltados para a universalização do saneamento básico no Brasil, hoje, 30 anos depois, certamente o país não estaria submetido ao drama de doenças há muito tempo erradicadas do cenário nacional. Segundo o presidente da sociedade brasileira de dengue e arboviroses, Artur Timerman, existem 65 vírus parecidos com a dengue, e oriundos do mosquito. Mesmo com o desenvolvimento das três vacinas que estão em fases experimentais, como a dengue, zika vírus, etc. outras dezenas de vacinas deverão ser produzidas para o combate das demais moléstias.


Outro ponto que chamou a atenção na reportagem e que merece uma análise reflexiva cuidadosa foi com relação ao município fluminense de Duque de Caxias, expondo um dos piores indicadores em saneamento no estado e no Brasil. É preciso ter muito cuidado e senso crítico quando se assiste reportagens como a que foi exibida pelo fantástico referente ao saneamento básico no Brasil. A reportagem pode estar repleta de vícios e interesses escusos, ou seja, querer aguçar a indignação da população com o que é público, convencendo-a que transferindo para a iniciativa privada o controle de seguimentos como saneamento básico, os problemas estarão solucionados.  A aprovação da venda da CEDAE (Companhia Estadual de Água e Esgoto) do Rio de Janeiro, pela Assembléia Legislativa, no dia seguinte a reportagem do fantástico, pode ter sido uma estratégia montada pela própria Rede Globo com intuito de neutralizar ou minimizar as manifestações contrárias a privatização.
  O problema do saneamento básico na cidade de Duque de Caxias como de outras tantas no rio não justifica a venda da companhia. Talvez fosse essa a finalidade dos últimos governos, sucatear ao máximo a companhia para depois vendê-la. Hoje a empresa cobre apenas 38.7% da população do estado fluminense. A situação do sistema de saneamento básico do estado se agravou ainda mais com os grandes eventos esportivos como os jogos pan americano, copa do mundo e olimpíada. Grande parte dos recursos disponibilizados tanto pela iniciativa privada como pelo estado foram destinados às obras voltadas para os eventos, produzindo a quase paralisia de investimentos em saneamento básico. Imperceptíveis foram as metas ambientais cumpridas pelos organizadores dos eventos, como o próprio município carioca.[4]
Com base em informações postadas no portal da transparência, o governo federal destinou para obras de infraestrutura esportiva no município do rio de janeiro o montante de 3.8 bilhões de reais.  No entanto, seguindo as políticas da generosidade, os jogos possibilitaram a isenção de impostos na mesma proporção para dezenas de empresas envolvidas direta e indiretamente nos preparativos das obras para os espetáculos. Dos quase quatro bilhões subsidiados pela união ao município carioca, foram investidos um pouco mais de 700 milhões de reais em saneamento urbano. Todos devem ter acompanhado o drama da baia da Guanabara, cuja meta de despoluição não foi cumprida, que atualmente o esgoto continua sendo despejado sem qualquer tratamento.
A Oscip Trata Brasil que desde a sua fundação em 2007 vem prestando serviço importante para a sociedade e governos, apresentando proposições voltadas à solucionar as demandas de saneamento básico, postou na sua página na internet, documentário de 36 minutos de duração, com o título: “A Realidade do Saneamento Básico no Brasil”. A reportagem exibe imagens e entrevistas com profissionais da área da saúde, engenheiros, pesquisadores, escritores, atletas, atores e cidadãos comuns, expondo suas opiniões acerca do saneamento básico brasileiro.  O que chama atenção no documentário é que as opiniões ou reflexões feitas pelos entrevistados trazem a sensação de isenção ou influência política partidária. Ninguém que ocupe cargos nas instâncias do executivo e legislativo foi entrevistado.
É importante ponderar aqui algumas reflexões feitas na reportagem do fantástico (casa comum, nossa responsabilidade) bem como estatísticas e números que contribuirão para mensurar a tamanha desproporção da cobertura dos serviços de saneamento básico que atinge a população. Na fala de uma das entrevistadas, ela se diz envergonhada por ter de transitar diariamente pelas marginais do rio pinheiro e tiete, cujas águas recebem toneladas de rejeitos orgânicos diariamente. No Brasil, como foi relatado no vídeo, são cerca de 7 mil comunidades irregulares, sendo que 97% do esgoto produzido não são coletados. O fato é que os governos municipais se eximem de qualquer ação de melhorias em áreas invadidas enquanto não forem regulamentas.
Legislações, planos diretores e outras tantas ações geralmente impositivas para melhoria do saneamento básico não alcançam os efeitos desejados, pelo simples fato de a população estar ausente dos debates. A ação educativa permanente, nas escolas, nas associações de moradores, sindicatos, etc., seria uma das formas mais apropriadas de esclarecer e empoderar a sociedade dos instrumentos que garantam sua participação nos debates sobre políticas de saneamento.
Quando se fala de educação, especialmente da educação ambiental no ensino formal, se pensa quase que exclusivamente em ações que já viraram clichês, descontextualizadas e sem criticidade, como campanhas de plantio de árvores, produção de redações, poesias, teatros, etc. Discutir saneamento, água tratada, coleta e tratamento de esgoto, parece ser ainda um tabu, algo proibido de ser discutido nos espaços escolares. O escritor Mauricio de Souza, como colaborador da OSCIP Trata Brasil, elaborou inúmeros gibis sobre o tema saneamento básicos onde aproveitando seus personagens tradicionais na montagem das histórias como Mônica e Chico Bento.[5]  




Um dos principais aliados da sociedade e que poderia contribuir para que os municípios não mais utilizassem desculpas fajutas para prorrogar seus planos de saneamento, é o ministério público. Dá para contar nos dedos aqueles cujos promotores e juízes desempenham papel permanente de pressão ao legislativo e ao executivo para fazer cumprir as legislações em vigor. Dentre as medidas estão as resoluções contidas nos planos de gestão de saneamento, planos diretores e códigos ambientais municipais.  São papel permanente do Ministério Público, das administrações municipais e dos demais órgãos envolvidos na área de saneamento como as fundações municipais do meio ambiente, a promoção da educação ambiental.                     
Sobre a reportagem do fantástico que mostrou o caos do esgotamento sanitário na cidade de duque de Caxias, há um aspecto que se assemelha a muitos municípios brasileiros como Araranguá, que são as ETE (Estação de Tratamento de Esgotos). Em muitos municípios embora as ETE esteja prontas e inauguradas não entraram em funcionamento por inúmeros motivos. A ETE de Araranguá, no bairro Vila São José, inaugurada em dezembro de 2016, o funcionamento de alguns equipamentos se deve a conexão da rede elétrica da estação a um poste localizado na propriedade de um rizicultor que o utiliza para irrigação do arroz. Enquanto o posteamento não for efetivado a respectiva usina não poderá entrar em funcionamento.



Mas as questões do saneamento básico em Araranguá e nos demais municípios que integram a bacia do rio Araranguá compartilham com o mesmo drama das cidades brasileiras em índices vergonhosos de coleta e tratamento de esgoto. No entanto a viabilização das metas de cobertura com saneamento básico nos municípios da bacia foi discutida entre os integrantes do comitê que resultou num plano de recursos hídricos na bacia, com metas, ações e estratégias que subsidiarão os municípios na elaboração de suas diretrizes. Dentre as demandas elencadas estão: tratamento de esgotos domésticos; adequação do lançamento da indústria, mineração e agricultura; melhoria das técnicas agrícolas; destinação adequada dos resíduos sólidos; racionalização do uso da água; estímulo ao reuso da água e retenção das águas pluviais; redução das perdas nos sistemas de abastecimento.[6]
O plano da bacia hidrográfica, cuja data da sua publicação foi em junho de 2015, definiu como uma de suas principais metas de curto prazo a solução do sistema de coleta e tratamento de esgoto em todos os municípios da bacia. A promessa é que num prazo de cinco anos, em 2020, deva ser executado cinqüenta por cento do sistema de saneamento, e 100%, até 2030. Atualmente, apenas 4% do esgoto sanitário da bacia recebem tratamento.   
Em relação ao Plano Municipal de saneamento básico e plano de gestão integrada de resíduos sólidos, em junho de 2014 Araranguá apresentou sua proposta, cuja consultoria foi dada pela UNESC/PARQUE CIENTÍFICO TECNOLÓGICO.  Antes de discursar os diagnósticos, as diretrizes e estratégias de execução do plano, convém mencionar algumas importantes legislações municipais que serviram de subsídios para sua formatação.  Um aspecto que deve ser considerado nesse plano e que motivou sua elaboração foi à lei 11.445/07, sobre as políticas de saneamento básico, cujo descumprimento incorrerá aos municípios penalidades como o não recebimento de recursos federais para projetos de infraestrutura.  Para todos os municípios brasileiros foram estabelecidos prazos para que as metas sejam efetivadas. Porém, o que vem se tornando comum é a prorrogação dos prazos, cujas justificativas são, entre outros motivos, a crise econômica.
Em escala local, as leis complementares 148/2012, sobre o código de posturas; 149/12, código ambiental, dentre outras leis aprovadas em dezembro de 2016, pertinentes ao plano diretor, ambas foram construídas apregoando os princípios da sustentabilidade. Outras legislações que constituem o arcabouço de normatizações, muitas das quais talvez desconhecidas pelos cidadãos araranguaenses, proporcionam aos munícipes certo viés progressista, isso teoricamente, pois na prática quase todo território araranguaense apresenta deficiências nas áreas de infraestrutura e saneamento, semelhantes ao século XIX.


Para amparar tais afirmações, basta ponderar algumas leis aprovadas há pouco mais de dez anos e outras mais recentes, em que se presume jamais foram cumpridas. Pois vejamos: lei n°. 1.877/99 na qual foi regulamentada mediante o decreto n°. 861/99, que impõe aos proprietários de lotes ou terrenos no perímetro urbano para mantê-los limpos sob pena de cobrança de multas. Sobre o tema terrenos baldios, em 2007, a respectiva lei sofreu alterações, que resultou na lei n°. 2.577/07, parágrafo único, determinando que constatado o não cumprimento do proprietário de suas obrigações de conservação, o poder público fará a notificação, tendo o infrator 30 dias para o cumprimento da norma, ou seja, a limpeza dos terrenos. 
Também sobre limpeza urbana, na primeira gestão do prefeito Mariano Mazzuco, em 2007, o mesmo sancionou a lei n° 2.586/07, cujo Art. 1, I, estabelecia que constitui atos lesivos à limpeza urbana: depositar ou lançar papéis, latas, restos ou lixo de qualquer natureza, fora dos recipientes apropriados, em vias, calçadas, praças e demais logradouros públicos, causando danos à conservação da limpeza urbana. Além do mais a lei proíbe o lançamento de restos de construções em vias públicas, a obrigatoriedade do recolhimento de embalagens de agrotóxicos pelas empresas que comercializam o produto, etc. O município deverá também promover campanhas de conscientização da população através dos meios de comunicação, escolas, sobre matérias recicláveis e biodegradáveis, entre outras obrigações.[7]


Em 2002 o prefeito municipal de Araranguá, Primo Menegalli, sancionou a lei n° 2.125/02 autorizando que as escolas municipais implementem o programa de recolhimento, reciclagem e comercialização do lixo coletado. A lei também autoriza que sejam feitas doações por parte de empresas e comércios do município de recipientes para o armazenamento dos materiais coletados. Podendo os recipientes conter as logomarcas das entidades doadoras. Há de se conjecturar que no momento da aprovação da lei sobre reciclagem, o município possuía um programa específico de coleta de material reciclável nos bairros, contendo catadores credenciados e veículos adaptados para o transporte até o seu destino final.[8] Atualmente, embora algumas escolas tenham em suas dependências recipientes exclusivos de coleta seletiva, todo o material condicionado nas lixeiras é jogado ao veículo transportador e direcionado ao aterro sanitário.  
Se em 2002, uma das inquietações dos integrantes dos dois poderes municipais envolverem as escolas com atividades de reciclagem e comercialização de materiais reaproveitáveis, que talvez não desse em nada, em 2004, mais uma vez os legisladores e o poder executivo do município foram “contagiados” pela causa ambiental, votando e sancionando a lei n° 2.255/04 que estende o programa de reciclagem para todas as repartições públicas e autarquias, com o compromisso também de estender as repartições estaduais e federais.[9] Seria compromisso também da administração pública o trabalho de divulgação a partir de material informativo a todos os servidores. A pergunta que se faz é a lei realmente entrou em vigor e por quanto tempo?
Entre o final da década de 1990 até 2010, a exemplo das legislações citadas acima, não há relatos de ter havido no passado tantas leis aprovadas tratando do tema meio ambiente, coleta, reciclagem, conscientização e educação ambiental. Em 2005, uma emenda na lei orgânica do município, autorizava através da lei n° 2.307/05 que as repartições públicas do município, prefeitura, câmara de vereadores, escolas, creches, autarquias, postos de saúde, promovesse a coleta seletiva de resíduos sólidos, sendo que todo o material útil seria doado às entidades sociais credenciadas. Aquilo que não fosse reaproveitado terá como destino o aterro sanitário.
Portanto, em todas essas repartições deveria ter disponível três categorias de recipientes, para rejeito, recicláveis e para pilhas (baterias e assemelhados). Seria também de competência do poder público fixar nesses espaços, cartazes informativos bem como atividades de palestras, reuniões e educação ambiental com os servidores municipais.[10] Quem circula diariamente por essas repartições públicas não vê qualquer indício de que a respectiva lei esteja sendo cumprida.
Quem já não se irritou e se sentiu constrangido de estar transito pelas vias públicas do município e de repente pisar sobre as fezes de animais, especialmente cães. Como forma de disciplinar os cidadãos que costumam passear com seus animais por essas vias, também em 2005, na administração do ex-prefeito Mariano Mazzuco foi sancionada a lei n° 2.313/05 que obrigava o condutor de animais a recolher os resíduos deixados pelos mesmos, sob pena de multa de ½ (meia) UFM (Unidade Fiscal Municipal).[11] Quando a lei foi aprovada, o Art. 3 estabelecia que o poder público municipal teria 60 dias para sua regulamentação. Alguém já deve ter notado que todo dia sete de setembro, quando centenas de cavalos e cavaleiros desfilam pelas ruas, as fezes dos animais não são recolhidas pelos seus condutores.
Como forma de agilizar processos de licenciamento ambiental e outras atribuições até então de responsabilidade do órgão ambiental estadual e federal, em 2007 foi aprovada a lei 2.608/07 que criaria a FAMA (Fundação Municipal do Meio Ambiente). Dentre as inúmeras atribuições do órgão, que estão distribuídas em 25 artigos, o que chama atenção é o artigo 2° que lhe reserva, entre outras coisas, programas de educação ambiental e a preservação do patrimônio arqueológico do município. Apesar da tentativa de convencer a população de que a fundação tem um caráter apartidário, a escolha de quem vai ocupar o cargo de superintendente é atribuição do executivo municipal.[12]
Embora a lei federal n° 11.445/07 que trata sobre as políticas de saneamento básico tenha sido sancionada em 2007, o município de Araranguá, sob pena de não ter direito a recursos federais na área de saneamento, o legislativo municipal aprovou em 2010 a lei n° 2.859/10 estabelecendo a política municipal de saneamento ambiental e macro drenagem. O objetivo dessa lei, como deve ter acontecido em todos os municípios brasileiros, é fazer cumprir as mesmas diretrizes da lei federal, ou seja, universalizar a ampliação progressiva do acesso de todos os domicílios ocupados com saneamento básico. Na realidade a respectiva lei se configura um tanto complexa, pelo fato de sua execução exigir uma ampla transformação infraestrutural e cultural.[13]
No mesmo ano que foi criado a lei que trata sobre as políticas municipais de saneamento ambiental, o legislativo municipal, em outubro de 2010, aprovou lei contendo 63 artigos definindo critérios específicos para as políticas ambientais do município.  O fato é que apesar de ser uma lei extensa e com muitos detalhes, cinco aspectos contidos nela são merecedores de atenção: o art. 2°, I, XIII, VII e o Cap. XIV. Conforme o artigo citado e o seu inciso I, o mesmo assegura a conservação do equilíbrio ambiental e a proteção do patrimônio arqueológico.  Sobre os procedimentos que visam assegurar a proteção ao meio ambiente, a lei introduziu o inciso XIII, que impõe ao poder público e ao órgão ambiental, programas de educação ambiental, inclusive para as comunidades. O capitulo XIV da respectiva lei, clarifica os princípios da educação ambiental e de que modo contribui para a construção de valores e atitudes saudáveis com o meio ambiente.[14]
Apesar do plano de saneamento básico municipal ter sido aprovado em 2014, contendo informações importantes obtidas a partir de um intenso diagnóstico feito em toda extensão do município por profissionais especializados de diferentes áreas, três anos depois da apresentação, são pífias as ações concretizadas. A questão do lixo, especialmente o recolhimento, somente no final de 2016 que os serviços adquiriam aparente normalidade. No entanto, quanto a padronização das lixeiras, placas informativas, incentivo a compostagem, separação, também nada foi feito. As lixeiras, especialmente as que estão fixadas na área central da cidade, além de estarem em locais inapropriados, canteiros públicos, apresentam péssimo estado de conservação.
Mesmo o relatório conclusivo do plano municipal de saneamento básico de Araranguá conter uma gama expressiva de imagens obtidas pelos profissionais nas visitas feitas nos bairros e comunidades do interior, munido de uma câmera fotográfica e de bicicleta, transitei por alguns bairros para constatar em loco a atual realidade. É de se sentir constrangido quando se transita por bairro como o Jardim Cibele, cuja população se encontra em total abandono pelo poder público municipal. É tão desolador e insalubre o local que me senti completamente incapaz de tirar uma única foto devido ao risco de sofrer alguma represália por parte dos moradores.
Portanto, me encorajei e dialoguei com um cidadão residente no bairro, que me informou que há muito tempo estão desassistido pelo poder público, que acredita que atual administração prestará uma atenção especial ao bairro. A própria escola municipal do bairro, é também um reflexo do abandono do bairro. Além da aparência nada atraente aos olhos dos adultos e das crianças, se percebe que o poder público deu início a construção de um ginásio de esportes que não saiu das pilastras. O mato e os efeitos do tempo estão comprometendo toda a estrutura do ginásio, como também de outras construções inicias com recursos federais. São elas, o centro de convivência da terceira idade orçado em R$ 1.415.575,86, cujo prazo de conclusão seria no final de 2015 e a Arena Poliesportiva iniciada em 2013 e orçada em quase quatro milhões de reais.   
O lixo, estradas esburacadas, terrenos baldios, matagal nas calçadas, falta de lixeiras para acondicionar os resíduos sólidos, entulhos de construções, descarte de móveis e esgoto escorrendo nos córregos e fossas pluviais são praticas ainda corriqueiras na área central e bairros do município. Está ai, portanto, o motivo pelo qual de ter sido detectado no município alguns focos do mosquito transmissor da dengue e outras doenças oriundas da precariedade dos serviços de saneamento básico.
Em reportagem com o título “esgoto sanitário já é realidade em Arranguá’ publicada na página eletrônica do jornal correio do sul, o texto discorre a opinião da bióloga Janara Benvenutti Gamba, da empresa Rio Vivo, que coordenou os trabalhos de instalação da usina de tratamento de esgoto no bairro urussanguinha e do diretor geral do Samae, Everson Casagrande, sobre a importância do projeto para a qualidade de vida da população do município. Segundo a bióloga, todos os testes recomendados à eficiência do sistema foram feitas, cabendo agora o incentivo a população para que façam suas ligações à rede.
A bióloga também alertou que “um município sem tratamento de esgoto, as fezes humanas lançadas no solo e que contaminam a água e os alimentos podem produzir 50 tipos de contaminações transmitidas de uma pessoa doente para outra sadia. A elevação da expectativa de vida e a redução de verminoses podem ser pretendidas através da correta disposição dos esgotos”.  Já o diretor do Samae, ressaltou que “outra importante razão do tratamento do esgoto é a proteção do meio ambiente. Para contribuir com a saúde pública e com a recuperação ambiental, é importante que cada morador faça a ligação”.[15]
Quanto ao sistema de esgotamento sanitário no bairro Parque Alvorada, com custo orçado de R$ 3.547.914,00, que atenderá quando estiver em pleno funcionamento 15.200 pessoas, três meses depois de sua inauguração em dezembro passado, a usina não entrou ainda em funcionamento e nem prazo previsto para acontecer. Qualquer cidadão tem consciência que quando se procede a inauguração de algum imóvel, estrada, rodovia ou, nesse caso, uma usina de tratamento de esgoto, as mesmas devem estar prontas, acabadas para entrar em funcionamento, não é mesmo?
Quem visitar o local onde estão instalados os tanques e outros equipamentos referentes a usina vai perceber que não foram fixados os postes com rede elétrica para o funcionamento da usina. O que se vê é um rabicho ou um fio ligado a um poste no terreno de um agricultor que fornece energia a uma bomba d’água para irrigação do arroz. Não há nenhum sinal ou movimentação por parte do Samae na solução imediata dessa pendência. Esperamos que não ocorra com a ETE do Parque Alvorada, o mesmo episódio ocorrido no bairro Vila São Jose, quando a construção da estação foi abortada na metade por falhas  no projeto.
Sobre a questão da coleta seletiva do lixo, inserida no plano municipal de saneamento básico e que no passado recente resultou em leis especificas sancionadas pelos prefeitos, Primo Menegalli e Mariano Mazzuco, obrigando a separação do mesmo em escolas e demais repartições públicas, que jamais se concretizou, chama a atenção a reportagem publica pelo jornal Enfoque Popular da edição do dia 06 de março de 2017, com a seguinte manchete de capa: “Solução Para o Lixo”. Na mesma capa está escrito a seguinte frase: “debate sobre a implantação da coleta de lixo em Araranguá vem ganhando corpo. Grupo estuda projeto de lei que deve ser elaborado por vereador Igor Batista Gomes (PV)”

O que se constata é que quando velhos ou novos vereadores assumem a cadeira do legislativo, esquecem ou não é hábito fazerem levantamento minucioso das leis que foram aprovadas pelos seus colegas na câmara e sancionadas pelo executivo. Excelentíssimo vereador, admite-se que pela sua capacidade investigativa de historiador de formação, deve ter vasculhado a página virtual da prefeitura, clicando o ícone Leis Municipal e constatado que já existem leis aprovadas tratando do assunto reciclagem. O que deve ser feito é recuperar as respectivas leis e fazer os ajustes necessários e colocar em prática.
É entendível, até mesmo salutar, visitar municípios como Criciúma com longa experiência em coleta seletiva adotada em alguns bairros. Contudo, Araranguá em termos de caminhada na área da reciclagem não fica nada atrás do município vizinho, Criciúma. Basta manter contado com os organizadores de a extinta COOPERAR (Cooperativa de Trabalho e Produção dos Recicladores de Araranguá) e saber do extenso trabalho prestado à causa social e ambiental durante os nove anos de funcionamento.
Prof. Jairo Cezar  



[1] http://g1.globo.com/fantastico/edicoes/2017/02/19.html
[2] http://agenda2020.com.br/2016/08/saneamento-basico-enterrar-canos-tambem-e-preciso/
[3] https://nacoesunidas.org/assembleia-geral-da-onu-reconhece-saneamento-como-direito-humano-distinto-do-direito-a-agua-potavel/
[4] http://esquerdaonline.com.br/2017/02/08/
[5] http://turmadamonica.uol.com.br/revistasabesp/
[6] http://www.aguas.sc.gov.br/jsmallfib_top/DHRI/Planos%20de%20Bacias/Plano%20da%20Bacia%20Hidrografica%20do%20Rio%20Ararangua/Relatorio%20C%20-%20Elaboracao%20do%20Plano%20de%20Rec%20Hidricos%20da%20Bacia%20Hidrografica%20do%20Rio%20Ararangua.pdf
[7] https://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/lei-ordinaria/2007/259/2586/lei-ordinaria-n-2586-2007-dispoe-sobre-os-atos-de-limpeza-urbana-e-da-outras-providencias
[8] https://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/lei-ordinaria/2002/213/2125/lei-ordinaria-n-2125-2002-dispoe-sobre-o-recolhimento-armazenagem-aproveitamento-e-comercializacao-de-lixo-em-escolas-da-rede-municipal?q=2002
[9]https://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/lei-ordinaria/2004/226/2255/lei-ordinaria-n-2255-2004-autoriza-o-poder-executivo-municipal-a-implantar-e-executar-o-programa-servico-publico-recicla
[10] https://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/lei-ordinaria/2005/231/2307/lei-ordinaria-n-2307-2005-dispoe-sobre-a-coleta-diferenciada-dos-residuos-solidos-produzidos-nas-dependencias-dos-orgaos-publicos-municipais-de-ararangua
[11] https://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/lei-ordinaria/2005/232/2313/lei-ordinaria-n-2313-2005-dispoe-sobre-a-obrigatoriedade-de-recolhimento-dos-residuos-fecais-de-animais-conduzidos-em-espacos-publicos
[12] https://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/lei-ordinaria/2007/261/2608/lei-ordinaria-n-2608-2007-institui-a-fundacao-ambiental-do-municipio-de-ararangua-sc-fama
[13] https://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/lei-ordinaria/2010/286/2859/lei-ordinaria-n-2859-2010-estabelece-a-politica-municipal-de-saneamento-ambiental-e-macro-drenagem-e-estabelece-outras-providencias
[14]https://leismunicipais.com.br/a1/sc/a/ararangua/lei-ordinaria/2010/293/2930/lei-ordinaria-n-2930-2010-institui-a-politica-ambiental-do-municipio-de-ararangua-e-da-outras-providencias

[15] http://www.grupocorreiodosul.com.br/jornal/tratamento-de-esgoto-ja-e-realidade-em-ararangua/