Desdobramentos acerca do confuso e
conflituoso processo de reforma e construção das escolas E.E.B Maria Garcia
Pessi e E.E.B de Araranguá
Ao
mesmo tempo em que o governo federal lançou o lema Brasil, Pátria Educadora, a
realidade infraestrutural da esmagadora maioria das escolas públicas estaduais
e municipais brasileiras são tão precárias que professores/as e a comunidade se
desdobram ao máximo para assegurar aos estudantes, condições satisfatórias para
a promoção de um ensino de qualidade. Tanto
o governo federal como do estado de Santa Catarina, ambos pronunciaram discursos
de posse ressaltando que em seus mandatos priorizarão a educação, com
investimentos em reformas e construções de escolas, bem como a qualificação de
profissionais. Nos primeiros dias do mês de janeiro, a Presidente da República
lançou pacote de ajustes estruturais suprimindo recursos para vários
ministérios, porém o mais afetado foi o da Educação com corte orçado em sete
bilhões de reais.
O
governo de Santa Catarina, seguindo a mesma diretriz da sua parceira federal,
encaminhou plano de reforma administrativa procurando penalizar mais uma vez os/as
profissionais do magistério estadual, cujo enquadramento proporcionaria uma
economia para o estado de quarenta milhões de reais, anual. Como levar a sério tais
discursos, com afirmações inconsistentes de que a educação será prioridade das
prioridades, que os investimentos para educação estão garantidos como a
destinação de 10% do PIB até 2024, etc., etc., quando perto de nossas casas, escolas estão
aos frangalhos, oferecendo riscos à integridade física de milhares de
estudantes e profissionais que ali transitam diariamente.
A
Escola Maria Garcia Pessi de Araranguá é apenas uma pequena amostra do terrível
descaso dos governos para com a educação pública estadual, cuja trajetória teve
início na primeira metade do século XIX. São quase duzentos anos de caminhada
do magistério público, sempre pautada em superar dificuldades, de escolas
improvisadas, salas superlotadas, politicagem na indicação de gestores e
professores, profissionais mal remunerados, perdas e mais perdas de direitos,
entre outras.
Esses
são alguns itens que retratavam o cenário das escolas públicas estaduais no passado,
que de tal maneira pouco se distingue dos dias atuais. Educação da
improvisação, do descaso, do desrespeito com os profissionais são definições que
mais se adéquam a realidade catarinense. Uma unidade de ensino construída na
década de 1960, a E.E.B. Garcia Pessi,
que jamais passou por uma reforma estrutural completa, apenas paliativa, teve
parte de suas dependências interditada pelo MPE, enquanto o bloco anexo, que
abriga cerca de mil estudantes, já apresenta goteiras por todos os cantos, sem
banheiros disponíveis no terceiro piso, forçando os/as estudantes a se
deslocarem diariamente à uma distância maior para satisfazer suas necessidades fisiológicas.
Já
há alguns anos a Secretaria de Desenvolvimento Regional vinha sendo alertada
pelos profissionais da respectiva escola e do SINTE regional dos problemas que
a escola vinha apresentando, e a necessidade de se construir novo prédio para atender os quase dois mil
estudantes e profissionais. Nenhuma providência mais consistente foi tomada, apenas
ações paliativas que não alteraram o quadro de risco de desabamento eminente previsto.
No ano de 2014, todos devem ainda ter lembranças dos oito bilhões de reais que
o governo do estado recebeu do governo federal, cuja promessa era investir em
infraestrutura, dentre elas reformas e construções de escolas.
Nessa
“via sacra” desesperadora, de uma instituição tradicional e respeitada pela
população, onde milhares de cidadãos araranguaenses aprenderam as primeiras
letras, entram em cena figuras políticas tradicionais que, seguindo o jogo do
governo, insistem em enganar o povo com promessas que dificilmente serão
cumpridas. O pior é que não há mais tempo, o Ministério Público Estadual,
decretou a interdição imediata do educandário. Como ficarão os 1800 alunos e
120 funcionários a partir dessa decisão? Durante a semana que foi noticiada a
interdição do educandário pelo MPE, a SDR e os deputados que representam a
região sul foram acionados para que tomassem providências emergenciais na
tentativa de encontrar um local apropriado que pudesse acomodar os/as
estudantes e agilizar o processo de construção da outra ala da escola. Nas
entrevistas proferidas pelos respectivos legisladores Manoel mota e José Milton
Scheffer a uma rádio do município, ambos foram unânimes em afirmar que
concentrariam os esforços na solução imediata do problema.
O Deputado
Manoel Mota (PMDB), no dia 27 de fevereiro assegurou a uma rádio do município
que manteve contato com o Secretário de Desenvolvimento Regional, Dema, que em
dois ou três dias estaria resolvido o problema do colégio, que os recursos
orçados em 4.5 milhões e meio já estavam disponibilizados aguardando apenas a
liberação da licença para licitação. José Milton Scheffer (PP), no dia 2 de
março disse que concordava que a estrutura do colégio está realmente precária,
que há sérios riscos à segurança dos/as estudantes e profissionais, que entrou
em contato com o Secretário da Educação Deschamps para encaminhar algumas
providências. Informou também que muitas das escolas da região foram reformadas
nos últimos anos devido a desabamentos,
que o maior problema das SDRs é a falta de planejamento e de profissionais
capacitados em vários seguimentos. Mota ressaltou que em janeiro de 2014 os
recursos assegurados para a construção do colégio Garcia Pessi eram de 7
milhões, que o valor foi reduzido para 4,5 milhões.
Fez também
severas críticas à SDR pela morosidade na execução do projeto do colégio, que
esteve em Florianópolis conversando sobre o assunto. Destacou os problemas de
infraestruturais na região do vale como as rodovias estaduais que estão em
situações precárias. Argumentou que o que está ocorrendo na região são manobras
patrocinadas por políticos da região de Criciúma pretendendo enfraquecer politicamente a região em âmbito estadual.
Citou órgãos como o DEINFRA que teve sua sede regional transferida para Criciúma.
Pequenos serviços como patrolamento e tapação de buracos todo o processo agora
tem de passar primeiramente pelo município vizinho, Criciúma.
O
deputado José Milton transferiu toda culpa da demora na execução dos projetos,
no modo como as SDR estão estruturadas, que deveria ter menos políticos e mais
técnicos, engenheiros em diversas áreas para discutir e elaborar projetos, não precisando
depender da burocracia da capital. Outro problema grave, segundo o deputado, é
a falta de fiscais para acompanhar as obras, tendo na região apenas um
engenheiro para inspecionar 16 municípios do vale. O resultado é o que se vê,
de obras mal executadas, que não recebem nem mesmo manutenção periódica.
No
dia cinco de março novas entrevistas se sucederam nos meios de comunicação
local envolvendo o Deputado Manoel Mota e o Diretor do Campus da UFSC de
Araranguá. O deputado relatou que manteve contato com o Reitor da UNISUL de
Tubarão, afirmando que estava quase tudo pronto para a locação das dependências
da UNISUL de Araranguá para acomodar os estudantes do colégio. Sobre o
transporte dos estudantes, disse que seria garantido a todos, sem nenhum
transtorno para o bom andamento das aulas. Além dos 4,5 milhões já disponíveis
para o Garcia Pessi, também está garantido os 7 milhões para o Colégio Estadual,
disse Mota.
Momentos depois do pronunciamento do deputado,
o diretor do Campus da UFSC de Araranguá, desmentiu o deputado, afirmando que
não há nenhuma possibilidade de transferência de estudantes para o prédio da UNISUL,
pelo fato dos técnicos do MEC estarem prestes a virem a Araranguá para avaliar
as estruturas da instituição onde será implantado o curso de Mediciana. Disse
que o referido curso somente será viabilizado com a aquisição do respectivo
prédio pela UFSC, e que ainda não está garantido. Outro gargalo em questão,
segundo o diretor do campus, é em relação ao Hospital Regional que se
transformará em hospital residente.
Quando
tudo parecia que finalmente dois deputados representantes do sul estavam afinados
em relação aos recursos já disponíveis à execução da obra, faltando apenas a
licitação, segunda feira, 09 de março, pela manhã, dez minutos antes do
intervalo, o corpo gestor da E.E.B de Araranguá reuniu os/as professores/as
para noticiá-los/as de uma possível manobra política articulada na sexta feira,
06 de março, reunindo integrantes da escola, políticos, membros da Gered, entre
outros, cuja discussão resultou na destinação do dinheiro, cerca de sete
milhões, que já estavam assegurados para a reforma do colégio estadual do
Araranguá, para a obra da escola Garcia Pessi.
De
acordo com a fala da gestora da escola, tal encaminhado se concebe como um
golpe, um desrespeito a todo um processo de luta, de envolvimento da comunidade
escolar, na expectativa de que a reforma saísse imediatamente. Disse que talvez
tal decisão foi tomada pelo fato da escola estadual ainda apresentar melhores condições que a do bairro Cidade Alta.
No entanto, desabafou expondo que se o colégio ainda não desabou foi porque,
durante os últimos seis anos, todas as pequenas reformas realizadas, os recursos
aplicados saíram do PDDE, do aluguel do teatro e outras fontes paralelas, nada,
portanto do estado. A única benfeitoria cujos recursos vieram do estado foi a
construção da rampa de acessibilidade.
Na
quarta feira, 11 de março, dois diretores e uma professora do colégio estiveram
numa rádio do município para explicar à sociedade toda manobra arquitetada pelo
governo estadual que resultou na transferência dos recursos provenientes do
Pacto por Santa Catarina, sete milhões, disponibilizado para a reforma do
Colégio Estadual, para a construção e reforma da E.E.B Maria Garcia Pessi. O
fato é que o colégio foi o único no município a ser contemplado com tal verba,
que lhe dará a nomenclatura de ensino médio inovador. Toda tramitação
burocrática e legal que contemplou a
unidade de ensino com a reforma e ampliação, teve início em 2012. Devido a
ocorrência de alguns imprevistos durante as tramitações, a conclusão definitiva
do projeto ocorreu em 2014, faltando apenas a assinatura de autorização para
licitação, disse a diretora. Já era definitivo que a partir do começo de 2015 a
obra daria início, quando surgiu a notícia do desvio.
Na
mesma quarta feira, 11, centenas de pais, professores e estudantes estiveram
reunidas no salão de festas da igreja matriz da cidade alta, para discutir as
ações já tomadas a partir da interdição do educandário. De acordo com a direção
da escola, foi alocado um espaço onde antes funcionava o supermercado ponto
certo para acomodar os estudantes do primeiro ao quinto ano. Os demais níveis
ficarão acomodados no bloco já construído da respectiva escola. No entanto,
relatou a diretora, que esses dois espaços terão que passar por adequações, de
tal modo que possa oferecer segurança e comodidade aos estudantes e demais
profissionais. Para não comprometer o ano letivo, a escola decidiu pela
antecipação das férias de julho. Portanto, até o dia 31 de março a escola
estará em recesso.
Apreensivos
com a notícia de que os recursos para a reforma da E.E.B tinham sido
transferidas para outras finalidades, no dia 12 de maço, nos três turnos os
estudantes da EEB Araranguá participaram, nas dependências do teatro Célia
Belizária, de uma discussão relativa ao episódio, cujo encaminhamento proposto foi
participar na sexta feira, 13, pela manhã, de uma passeata pelas principais
ruas da cidade, denunciando as mazelas e o descaso do governo e demais
autoridades do estado para com a educação pública. Na tarde de quinta feira,
12, professores da E.E.B Garcia Pessi e E.E.B de Araranguá estiveram reunidos na
sede do Sinte Regional para avaliar a repercussão do episódio envolvendo as
duas escolas e discutir medidas que não resultassem em conflitos e divisão dos/as
educadores/as de ambas as unidades de ensino. O que é preocupante em relação
aos transtornos resultantes da interdição do educandário, é que possa ocorrer
uma debandada de estudantes para outras escolas da região, proporcionando a
extinção de muitas turmas e por conseqüência a redução da carga horária dos/as trabalhadores/as
da educação.
É
notório que com a precarização de muitas das escolas estaduais da região, pais
e responsáveis procurem outras escolas para matricularem seus filhos. Essa
atitude pode ser caracterizada como um processo disfarçado de municipalização,
que no município de Araranguá foi barrado há cerca de três anos graças ao
empenho do Sinte regional. Não viabilizar as reformas previstas, agilizar o
processo de deteriorização das escolas, não seria uma estratégia pensada pelo
estado para executar o plano de transpor do ensino fundamental para os
municípios? O que ficou definido no
encontro é que o Sinte dará todo apoio às instituições em questão, intercedendo
também na solução dos problemas das outras escolas da região na devem ser investigadas.
Partindo
dessa observação, foi decidido que o Sinte encaminhará ofício junto ao
Ministério Público Federal solicitando investigação à Secretaria de
Desenvolvimento Regional de Araranguá, para obtenção de informações sobre os
recursos federais e estaduais recebidos para aplicação em projetos pedagógicos
e de acessibilidade às respectivas escolas estaduais. O que se suspeita, com
base em documentos oficiais, que os recursos assegurados para reformas e
construções de escolas, foram disponibilizados para outras finalidades, bem
como obras superfaturadas, que depois de concluídas estão sob intervenção por
risco à segurança. Além da ação coletiva solicitando investigação a serem encaminhados
pelo Sinte, os colégios que apresentam problemas estruturais como rachaduras,
goteiras, etc., ou suspeita de desvio de recursos para obras de reformas para
outras finalidades, elaborarão ofícios de denúncias a serem encaminhado ao
Ministério Público Estadual.
O
dia treze de março como estava previsto centenas de estudantes, profissionais
da educação, pais, mães ou responsáveis que integram a comunidade escolar da
E.E,B de Araranguá, participaram de uma passeata manifestação pelas principais
ruas da cidade. Munidos com faixas e gritando palavras de ordem denunciaram as
mazelas sofridas pelo educandário exigindo respostas das autoridades acerca dos
recursos já disponibilizados para a reforma, onde há evidências de que foram
transferidos para outras finalidades. No final da passeata, uma comissão
constituída por país, mães, profissionais da educação se reunirão na escola e
elaboraram ofício denúncia que será protocolado na 1ª Promotoria de Justiça de
Araranguá buscando informações junto a SDR sobre o andamento do projeto e
recursos para a reforma.
Nessa
mesma sexta feira, 13, o Jornal Enfoque Popular, trouxe na sua capa manchete
com o seguinte título: “pela reforma – Alunos do EEB de Araranguá vão às ruas
hoje em manifestação pela reforma e ampliação da unidade escolar”. Na página
principal, a reportagem discorre sobre o motivo das manifestações, bem como as
várias opiniões dos pais, estudantes, professores, diretores das duas
instituições de ensino e do gerente regional de ensino. Na fala do presidente
do Conselho Delibiretivo disse-o que a conquista da verba foi pelo fato do
colégio ter encaminhado em 2012, projeto para reforma e construção de uma
escola de ensino médio inovador.
A
diretora da escola ressaltou que a passeata pacífica promovida foi para mobilizar
a comunidade e mostrar para o governo que não estamos de braços cruzados.
Quanto ao Garcia Pessi, disse que a escola se solidariza com a causa, pois
somos todos parceiros. O representante do Grêmio Estudantil, solidário à causa
do colégio, concorda que a ações devem ocorrer onde vivemos, que não adianta
apenas gritar, discutir se não tomar posição, ir à luta. Uma mãe explicou que
tem um filho que estuda no colégio, no entanto, não conhecia a realidade
interna. A diretora do Garcia Pessi buscou esclarecer que em momento algum teve
conhecimento de que a verba para sua escola fora tirada de outro projeto. Que
quem tem que ver para onde foi a verba é o governo do estado.
O
secretário de imprensa e comunicação do Sinte, também professor da EEBA disse
que o problema das duas escolas vem sendo discutido pela entidade a bastante
tempo. Se for verdadeiro que os recursos da respectiva escola foram
transferidos para outra finalidade, o procedimento deve ser caracterizado como
ilegal, pois os projetos de ambas as instituições seguem diretrizes distintas.
No entanto defende que os dois colégios devem ser contemplados com as obras. O
gerente regional da educação fez críticas a tais boatos sobre transferências,
que não condiz com a realidade. O colégio estadual de Araranguá foi beneficiado
em 2013 com o dinheiro do pacto, no valor de 7.369.000,00. O Garcia pessi, o
valor do recurso para reforma é de 5 ou 6 milhões, que na sexta feira esteve
junto com a diretora do Garcia Pessi em Florianópolis e ouviu da diretora de
infraestrutura escolar que já destinou os recursos para a reforma do
educandário.
O
sul do estado foi contemplado com uma verba do pacto de 11.700.000, que o
projeto do colégio estadual está pronto, cuja documentação se encontra na mesa
da DIRETORA DE INFRAESTRUTURA ESCOLAR DA SEDE, Káren Lippi de Oliveira,
faltando apenas sua aprovação para sair a licitação. Garantiu o gerente que as
duas reformas serão realizadas, que é compromisso do secretário de educação e
do governador do estado. Outro fator que o deixa otimista é quanto ao prazo
determinado pela justiça, se não for concretizado terá multa. O Estado não vai
querer pagar multa, finalizou.
Depois
de inúmeras entrevistas concedidas na última semana, novamente o deputado
Manoel Mota, nessa segunda feira, 16 de março, entre em cena para esclarecer o
público sobre o resultado dos contatos que teve com o Secretário da Educação
Eduardo Deschamps referente aos recursos orçados para a reforma e construção
das EEB Garcia Pessi e EEB de Araranguá. Informou que acompanhou uma Comissão
da EEB Garcia Pessi até Florianópolis, que em contato com o Secretário da
Educação, foi acertado o repasse emergencial de 80 mil reais para reparo do
bloco do colégio, onde serão acomodados cerca de mil estudantes. Quanto à construção do compartimento que ainda
resta, assegurou que a verba orçada de R$ 5.700,000,00 já está disponível,
faltando apenas a autorização para licitação da obra. Sobre a EEB de Araranguá,
disse que saiu otimista da reunião com o Secretário, que imediatamente ligou
para o Gerente Regional de Araranguá, dando a notícia de que os recursos para a
reforma e construção do colégio estão garantidos. Porém, disse que, se o
dinheiro não estava na conta, com certeza “eles” devem ter sacado para outra região.
Informou o deputado que ouviu do secretário que agora vai repor o dinheiro
indiscutivelmente.
Prof.
Jairo Cezar