ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DO EX-GOVERNADOR
DO CEARÁ E ATUAL MINISTRO DA EDUCAÇÃO CID GOMES
Dentre os ministérios mais
afetados pelos cortes anunciados pela presidente está o da educação que terá
perda anual de sete bilhões de reais. O que é paradoxal no anúncio é o fato da
presidente ter declarado em discurso de posse que o lema do seu governo seria “BRASIL, PÁTRIA EDUCADORA”. Qual a
relação dos cortes do orçamento de um setor tão importante como a educação e a
indicação de Cid Gomes para o
Ministério da Educação, cuja passagem pelo governo do Ceará amargou uma greve
de mais de dois meses dos profissionais das Instituições Estaduais de Ensino
Superior, sem que o governo se sensibilizasse e atendesse suas reivindicações?
Outros episódios negativos na sua
administração podem ser destacados respaldando assim sua indicação ao
respectivo ministério. Além da sua extraordinária habilidade de enrolar os
trabalhadores da educação durante a grave de 64 dias, adquiriu notoriedade em
âmbito federal por criar no seu estado o PNAIC
(PROGRAMA ALABATETIZAÇÃO NA IDADE
CERTA), que foi incorporado ao MEC
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA).
Na verdade é um programa que segue a agenda empresarial que visa minimizar ao
máximo o processo de alfabetização seguindo parâmetros semelhantes adotados na
década de 1970, que parte da decodificação
de letras desvinculadas do uso social. O resultado é um batalhão de indivíduos ditos alfabetizados que apresentam enormes dificuldades
para a compreensão crítica do que está lendo. Processo esse que em nada se
compara a proposta pedagógica revolucionária defendida pelo educador Paulo
Freire, e aceita pelos históricos petistas hoje no governo como projeto
político, porém não incorporado ao PNE
(PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO).
No lugar do que seria um projeto
pedagógico transformador e emancipador, o que se anunciou foi um plano
educacional conservador que se limita apenas a redução das taxas vergonhosas de
analfabetismo atendendo aos preceitos recomendados pelos organismos financeiros
internacionais. Diante dessa realidade sombria, o atual ministro ainda teve
coragem de afirmar que a educação será a prioridade das prioridades, que concentrará
todos os esforços para promover uma ampla reforma
no ensino médio. Segundo ele, o atual modelo curricular é extremamente
abrangente com pouco foco nas competências instrumentais como português e
matemática. Para o ministro essas duas disciplinas são essenciais, as demais
competências como arte, ciências, cultura, entre outras, seriam desnecessárias.
É preciso chamar a atenção do público docente que muito dos argumentos defendidos
pelo ministro, são reproduções do que já consta no Plano Nacional de Educação aprovado em 2014, que é uma cartilha
educacional que segue as recomendações do Banco
Mundial.
E não para por aí as muitas
justificativas condenáveis na escolha de um ministro cujo currículo como
governador envergonharia especialmente professores petistas que ainda alimentam
esperanças de mudanças significativas na educação pública. Há de se ressaltar sua
posição acerca da lei 11.738/08 que
estabeleceu o Piso Nacional dos Trabalhadores em Educação. O processo
relativo à aplicação do Piso no Ceará se assemelhou ao ocorrido em Santa
Catarina. Para que os professores cearenses tivessem direito ao piso foram
necessários 64 dias de greve. Na tentativa de não cumprir à lei, o governo Cid
Gomes participou com outros cinco estados, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso
do Sul e Santa Catarina do encaminhamento
de uma ADIN (AÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIADADE) junto ao Supremo Tribunal Federal para a derrubada
da lei.
Depois de algum tempo tramitado,
o Supremo Tribunal Federal julgou a ação dando ganho de causa aos educadores
desses estados. Quanto ao direito de Um Terço de Jornada de Trabalho fora da
sala de aula também garantido pelo Tribunal, Cid Gomes defendeu que o professor
deveria trabalhar quarenta horas completas, sem qualquer tempo para o preparo
das aulas. Outra frase sua lançada quando governador do Ceará, certamente
jamais será esquecido pelos educadores daquele estado. Disse ele durante a
greve que: “quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo
salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado”.
Para elucidar o que representa
para educação pública brasileira a escolha desse ministro, na gestão tucana de
Lúcio Alcântara, no governo do Ceará, o orçamento destinado à educação foi de
38,25%, já na administração Cid Gomos, se limitou a 18,06%. Imagine o que fará na
pasta do ministério da educação onde foram cortados sete bilhões de reais do
orçamento. Certamente seu exemplo será seguido pelos demais governos e
secretários de educação de todos os estados. O ano letivo de 2015 começou
conturbado, com intensas discussões da categoria do magistério acerca de quais
os caminhos a serem adotados para fazer valer o cumprimento da lei do piso, que
elevou vencimento para 1.910,00 reais. O que se percebeu quando do anúncio do
valor do reajuste do piso nacional do magistério foi a chiadeira dos prefeitos alegando
que não há como cumpri-la por incapacidade financeira. Como parâmetro de
comparação, enquanto o reajuste do piso do magistério o menor vencimento será
de 1.917,78, o salário mínimo estabelecido pelo Dieese seria de 2.975 reais,
uma diferença que supera os mil reais.
Prof.
Jairo Cezar
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