OS
HORRORES DOS GENOCÍDIOS PELO MUNDO E NO BRASIL
Grande
parte das fontes bibliográficas disponíveis sobre a temática o Holocausto
aborda quase que exclusivamente o fatídico e trágico episódio ocorrido na
Alemanha e Polônia, onde mais de seis milhões de judeus, ciganos, negros, foram
mortos nos campos de concentrações nazistas. Nas escolas de todo mundo, esse é
um tema obrigatório presente nos currículos das aulas de história. São
infinitas as produções, filmes, documentários, livros, artigos, que faze m
referência o tema.
O
que poucos sabem, é que existiram outros holocaustos tão macabros, com números
de vítimas iguais, alguns menores e outros bem superiores ao genocídio
praticado por Adolfo Hitler. A cada período da história sempre aparece um
estadista ou líder insano, que instigado pela idéia de supremacia étnica, chega
ao limite do sadismo de querer sacrificar grupos culturais minoritários
acreditando ser possível purificar a raça. Dentre todos os holocaustos registrados
o que teve maior contingente de mortes foi o liderado pelo Mongol Tarmaleão, no
século 14, que na tentativa de reconstruir a glória do império de Gengs khan,
no Oriente Médio, Ásia Central e Mongólia,
exterminou quase 5% da população mundial de sua época.
No
continente africano também tiveram os seus Hitler, porém décadas anterior a
hegemonia desse estadista na Alemanha. Os personagens que protagonizaram as
histórias de brutalidades e que resultaram em milhões de mortes foram Félicien
Kabuga, de Ruanda e o rei belga, Leopoldo II, no Congo. O primeiro foi acusado
de ter criado milícias na década de 1999, principal braço armado do genocídio
em Ruanda, que em cem dias causou a morte de mais de 800 mil pessoas. O segundo
foi no final do século XIX e início do XX, quando o rei Belgo Leopoldo II, levou
a morte entre 8 a 10 milhões de congoleses na exploração do marfim e borracha
nas florestas do país.
Muitos
devem estar se perguntando, mas se for assim, na América Latina, os portugueses
e os espanhóis também protagonizaram genocídios. Doenças trazidas pelos brancos
como gripe, varíola, sarampo, etc, fez reduzir a população do território de 60
milhões para pouco mais de cinco milhões, em 100 anos de ocupação. O caso do Congo
envolvendo o imperador Leopoldo II foi diferente em alguns aspectos da
colonização da ocorrida América latina, embora ter havido aqui também
escravização.
A
Europa, no começo do século XX, teve o seu primeiro genocídio, antes dos campos
de concentrações de Awschuitz, entre outros tantos espalhados pela Alemanha,
Polônia, etc. Antes do inicio da primeira guerra mundial, a Turquia ocupava
territórios onde hoje está a Síria, Arábia Saudita e a atual a Armênia. Durante
a Primeira Guerra Mundial, o império turco se uniu à Alemanha, com estratégia
de unificar forças para vencer o exército russo. Essa estratégia foi um desastre,
pois resultaram em inúmeras derrotas com perdas de vidas. Os Turcos quiseram
encontrar um bode expiatório pela grave instabilidade econômica em seu
território. Do mesmo modo como ocorreu
na Alemanha quando os judeus foram vitimados pelo fracasso econômico do país,
no império otomano, os culpados foram os Armênios. A resposta ao que chamam de
traição armênia, por ter prestado apoio ao exército russo, foi uma onda de perseguição
e execução de centenas de intelectuais armênios.
Não
ficou só nisso. O governo turco impôs a deportação em massa de armênios
residentes em seu território. Essa grande marcha por regiões inóspitas causou a
morte de quase três milhões de armênios. Até hoje o massacre contra o povo
armênio não é reconhecido pelas autoridades turcas e parcela da população como
um ato criminoso. O termo genocídio foi cunhado pela primeira vez para
justificar os seis milhões de judeus mortos na Alemanha durante a segunda
guerra mundial. Para que certos massacres sejam classificados como genocídios são
necessários levar em consideração alguns critérios. O planejamento sistematizado com o propósito
de exterminar um grupo étnico por parte de um governo é um desses requisitos.
Na
viagem que fizemos à Turquia em 2019, em nenhum instante a guia que nos
acompanhou fez qualquer menção ao genocídio. Na ocasião, novembro de 2019, a Turquia
estava promovendo bombardeios contra curdos junto à fronteira com a Síria. Para
mim, sempre tive compreensão que os curdos, a exemplo dos armênios, também sofreram
e sofrem até hoje perseguições e atos genocidas. Quem não se lembra do terrível
bombardeio químico lançado pelo ditador iraquiano Saddan husseim contra
populações curdas no norte do Iraque. Durante o ataque, ocorrido entre os dias
16 e 17 de março de 1988, ao povoado de Halabja, cerca de cinco mil pessoas
foram mortas, asfixiadas devido pelo veneno.
Quando
perguntei à guia sua opinião dela sobre os bombardeios, sua resposta foi um
tanto agressiva. Disse que a ação do exército turco era desarticular grupos
terroristas infiltrados entre os curdos. O que se sabe é que a Turquia não tem relações
amistosas com os curdos que vivem nas fronteiras com o território Síria. O povo
curdo, constituído por 25 a 30 milhões de indivíduos, está distribuído entre os
territórios da Turquia, Síria, Iraque, Irã e Armênia. Embora sendo um povo
milenar, luta até hoje pela criação de Estado independente, o Curdistão.
O
quinto genocídio da história aconteceu no final do século XX, no Camboja, entre
1975 e 1979. Em termos de crueldade, pode ser igualado aos campos de extermínio
nazista. Em quatro anos, a população do
Camboja foi reduzida em 25%. O líder sanguinário camborjano Maoísta, Pol Pot, forçou
a remoção de milhões de cidadãos/ãs das áreas urbanas para os campos. Quase
todos os intelectuais do país, professores, médicos, jornalistas, e outros
profissionais foram executados sumariamente a mando de Pol Pot. A intenção do
regime era construir uma sociedade fundamentada na agricultura, como ocorreu na
china de Mao Tsé Tung. A população, no campo, era submetida a trabalhos
severos, com maus tratos e escassa alimentação. Quem tentasse se rebelar ou
fizesse qualquer crítica ao regime era imediatamente reprimido e executado.
Quando
estivemos no Camboja em 2018, contratamos um guia para nos acompanhar nos locais
turísticos na região de Siem Reap, a cerca de 300 km da capital Phnom Phen,
onde estão os importantes e milenares templos budistas e hinduístas. No relato
sobre o genocídio praticado pelo ditador Pol. Pot, o guia fez uma revelação perturbadora.
Disse que entre os quase dois milhões de mortos nos campos de trabalho forçados
do país, dois das vítimas eram seus irmãos. Seu pai, que era médico, foi
poupado da execução porque conseguiu ludibriar os soldados fingindo ser
analfabeto.
É
importante não deixar de mencionar, mesmo não estando na lista de grupos
ameaçados por atos genocidas, que os palestinos têm na sua longa existência
histórica o acúmulo de lutas e resistências pela preservação da sua identidade
cultural. Como os Curdos, os palestinos lutam há séculos também pela criação um
território autônomo, a Cisjordânia. Entretanto, os governos israelenses, com
exceção de alguns, imprimem uma perversa ofensiva junto aos territórios
palestinos, incentivando o assentamento de colonos.
Em
2014, quando estivemos em Israel e territórios palestinos, o exército
israelense havia imprimido uma série de ataques com bombas e morteiros na faixa
de gaza. A justificativa do governo de Israel pela incursão era na tentativa de
desarticular e desestabilizar o grupo pró palestino, Hamas. Poucos têm noção do
que é quase dois milhões de pessoas viverem em um minúsculo território de 365
Km quadrado, onde alimentos, água e serviços são controlados pelo governo
israelense. Em termos de comparação, o território de Araranguá tem uma área de
303 km quadrados e uma população de 62 mil habitantes.
Tanto
Gaza quanto os demais territórios palestinos se tornaram verdadeiros guetos,
protegidos por imensos muros e cujos cidadãos todos os dias ao saírem para
trabalhar são revistados por soldados israelenses nos check points. Na época,
quase todos os dias havia notícias de palestinos sendo presos ou mortos por
soldados israelenses. A ofensiva israelense contra um possível estado palestina
e cuja capital seria Jerusalém, passou a ser mais contundente a partir de 2018,
quando da transferência da embaixada norte americana de Tel Aviv para Jerusalém. Essa decisão deu mais poder
ao governo israelense de continuar sua investida sobre áreas palestinas,
espalhando medo e horror.
E o Brasil, como poucos sabem, também teve seu
holocausto. No entanto, apresentou características distintas dos demais, com
sessenta mil mortos num prazo de oito décadas. Esse campo se chamou hospital
psiquiátrico de Barbacena, no estado de Minas Gerais. Em 2015, jornalista
Daniela Arbex, publicou livro, revelando a existência de um holocausto
praticado pelo Estado brasileiro, com conivência de médicos, funcionários e da
população. Embora não tenha lido o livro da jornalista, tive a oportunidade de
assistir o documentário produzido pela jornalista e tendo como colaborador, Armando
Mendz.
As
imagens e as entrevistas realizadas causam mal estar tamanha perversidade cometida
contra pessoas internadas no recinto, muitas das quais sem realização de diagnóstico
que confirmasse alguma anomalia psíquica. Alcóolotras, prostitutas,
homossexuais, entre outros, eram recolhidos das ruas e transportadas de trem
até o hospital, batizado de o Colônia. No
hospital, as pessoas eram submetidas a todo tipo de perversidade, em períodos
de maior lotação, morriam diariamente entre 15 a 20 pessoas, devido a maus tratos,
frio, fome e doenças.
Tudo
acontecia aos olhos das autoridades e da população da cidade e do Brasil. No
documentário, o que se conclui, ouvindo as entrevistas de antigos funcionários
e outros profissionais, é como essas pessoas conseguiam ter um sono tranqüilo
assistindo tanta brutalidade contra seres humanos. A prática de eletro choques àqueles
que tentassem infringir as regras do manicômio era de tal magnitude que havia
dias que a energia da cidade sofria queda. Quem achou que isso foi o limite da
brutalidade, se enganou. Havia um comércio legalizado de corpos e órgãos para
as universidades da região. Um cemitério foi criado para o sepultamento dos
pacientes falecidos, pois não tinham nome nem identidade. Valas eram abertas e
os corpos enterrados coletivamente.
Por
oito décadas 60 mil pessoas pereceram nesse hospital psiquiátrico. A função
desse hospital como de outros tantos era, sim, oferecer atendimento qualificado
as pessoas diagnosticadas com alguma disfunção mental ou física. Mas nada disso
aconteceu. Era um local de recolhimento e o objetivo era higienizar a
população, do mesmo modo como aconteceu na Alemanha nazista. No Holocausto
nazista, muitos dos responsáveis pelo genocídio foram presos e processados. No
Brasil, ninguém recebeu nem mesmo advertência.
Em
julho de 2020 foi protocolada no tribunal de Haia, Holanda, ação que pede a
condenação do presidente Bolsonaro por crime de genocídio. O fato é que o
pedido tem fundamento e pode ser deferido pelos juízes do tribunal. Um governo
que desde o início da pandemia infringiu todas a regras encaminhadas pela OMS
para evitar o contagio do corona vírus, estimulando a população a seguir o
mesmo comportamento é passivo de condenação por crime contra a humanidade.
Do
total de mortos, pretos e pardos superam em muito os de brancos. Somente no
estado de São Paulo, 57% dos que morreram pelo Covid 19, eram pretos e pardos,
sendo 41%, brancos. A explicação é muito simples. Parte da população negra é
considerada pobre e vive em áreas desassistidas pelo Estado. Isso facilita o
contágio e a disseminação do vírus. Geralmente, o único meio possível de
atendimento disponível são as unidades de saúde dos bairros onde habitam.
Todos
os países em que governos cumpriram a risca as medidas para evitar o contágio
do vírus tiveram perdas de vidas significativas. O Brasil, o governo seguiu seu
próprio protocolo de negar as medidas, até mesmo negando o vírus no começo da
pandemia, chamando-o de gripezinha. Os
acontecimentos dão margens para acreditar que há, sim, um plano deliberado de
“limpeza” étnica no Brasil. Basta observar o que está acontecendo com os
indígenas, com suas terras invadidas por grileiros, garimpeiros, espalhando um
vírus que é mortal.
Prof.
Jairo Cezar
https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/04/o-que-foi-o-genocidio-armenio-e-por-que-tantos-lideres-se-recusam-falar-sobre-o-assunto.html
https://veja.abril.com.br/mundo/turquia-bombardeia-curdos-na-siria-apos-debandada-dos-eua/
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,AA1571629-5602,00-ANFAL+O+GENOCIDIO+DE+SADDAM+HUSSEIN+CONTRA+OS+CURDOS.html
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/khmer-vermelho-massacre-genocidio-camboja-historia.phtml
https://www.youtube.com/watch?v=5eAjshaa-dohttps://www.youtube.com/watch?v=5eAjshaa-do
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/os-10-maiores-genocidios-da-historia/
https://www.youtube.com/watch?v=yTenWQHRPIghttps://www.youtube.com/watch?v=yTenWQHRPIg
https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/05/17/interna_internacional,1148062/tesoureiro-do-genocidio-de-ruanda-e-preso-em-paris.shtml
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/genocidio-africa-congo-belga-leopoldo-ii.phtml
https://www.fflch.usp.br/1329
https://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2018/05/palestina-e-vitima-de-apartheid-e-genocidio-colonialista-diz-professor/
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50012988https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50012988
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/07/26/bolsonaro-e-denunciado-no-tribunal-de-haia-por-crimes-contra-humanidade.htm