terça-feira, 23 de abril de 2019


ÁGUA QUE VOCÊ BEBE PODE ESTAR CONTAMINADA POR AGROTÓXICOS
https://portrasdoalimento.info/agrotoxico-na-agua/


No dia 15 de abril último o site da revista Carta Capital postou artigo preocupante acerca da água consumida pelos brasileiros. No levantamento realizado entre 2014 a 2017, um em cada quatro municípios brasileiros foi detectado a presença na água de até 27 agrotóxicos. Desse total, 16 marcas são consideradas extremamente tóxicas, e 11 associados a diversas doenças degenerativas e neurológicas. O que torna a situação mais alarmante é saber que nos anos subseqüentes a 2014, os percentuais de pesticidas presentes na água aumentaram exponencialmente, 84% em 2015 e 92% em 2017.[1]
Com a concretização das políticas de liberação sem limites de novos agrotóxicos a partir de 2018 e que teve continuidade em 2019 com o governo Bolsonaro, tudo indica que o percentual de contaminação da água deve ter atingindo 100% de todas as amostras testadas. O artigo traz também o mapa do Brasil contendo os 5.570 municípios destacados em cinco cores distintas. Os municípios com coloração mais escura são aqueles que apresentaram nos testes laboratoriais vinte sete agrotóxicos detectados na água.  Dentre os estados que lideram o ranque com mais municípios cujos testes apresentaram 27 agrotóxicos, estão: São Paulo, com 500 municípios; Paraná com 326; Santa Catarina com 228; Tocantins com 121 e outros sete na sequência.
No instante que o mapa do Brasil é visualizado se nota que há uma vastidão de municípios destacados com a cor cinza. Na legenda abaixo está descrito que ambos, totalizando 2.931, testes laboratoriais não foram realizados. Observando as regiões brasileiras que tiveram baixo percentual de municípios com água examinada, como a região centro oeste norte e nordeste, é quase certeza que poucas serão as localidades isentas de terem na água os 27 agrotóxicos. No sul do Brasil, os estados de Santa Catarina e Paraná a coloração mais escura predomina em quase toda a extensão territorial de ambos, demonstrando risco eminente de intoxicação da população por ingestão de água contaminada por resíduos químicos.
Quando clicamos sobre os municípios com tonalidade escura, aparece a lista com os 27 agrotóxicos analisados e o número de detecções de partículas por testes realizados. Todos os agrotóxicos listados abaixo foram identificados sua presença em testes na água que abastece  Araranguá. Isso significa que as populações desse município e de outras centenas de milhar espalhado pelo território brasileiro estão consumindo água contendo os seguintes agrotóxicos: ALACLOR; ATRAZINA, CARBENDAZIN, CLORDANO, DDF+DDD+DDE, DIVRAN, GLIFOSATO, LINDANO, MANCOZEBE, PERMETRINA, TRIFLURALINA. Esses onze agrotóxicos citados são classificados como responsáveis por doenças crônicas como vários tipos de câncer; defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Dos 11 produtos acima listados, oito estão autorizados para uso no Brasil. Entretanto, na União Européia as regras são diferentes, dos onze princípios ativos acima destacados, oito são vetados para uso comercial.
Os demais dezesseis agrotóxicos que completam o pacote de 27 detectados nos municípios são eles: 2,4D+2,4,5T, ALDICARBE, ALDRIN, CARBOFURANO, CLORPIRIFÓS, ENDOSSULFAN,  ENDRIN, METAMIDOFÓS, METALOCLORO, MOLINATO, PARATINA METÍLICA, PENDIMENTALINA, PROFENOFÓS, SIMAZINA, TEBUCONAZOL e TERBUFÓS.[2] Dessa lista de dezesseis agrotóxicos, sete estão proibidos de comercialização no Brasil por apresentarem substâncias altamente nocivas à saúde.
Por que então foi identificada a presença dessas partículas nas amostras de água? A resposta é muito simples. Mesmo vetados pelas agências reguladoras, esses produtos entram de forma clandestina no Brasil ou são livremente comercializados nas lojas do seguimento agrícola sem qualquer fiscalização. Sendo as regras protocolares para liberação de agrotóxicos mais rígidos na União Européia, dos dezesseis princípios ativos encontrados nas amostras de água em municípios brasileiros, apenas quatro desse total são autorizados para serem comercializados na Europa.
Se analisarmos atentamente os informativos que constam nos rótulos de cada um desses 27 agrotóxicos, podemos ter respostas ao crescimento de moléstias, como tipos distintos de câncer, mal de ALZHEIMER, PARKISON, que estão associados a esses pesticidas. Por ser a região do sul de Santa Catarina uma das maiores produtoras de arroz no estado, pesquisadores e entidades ambientais já vinham alertando as autoridades acerca da contaminação dos recursos hídricos e outros ecossistemas por resíduos químicos aplicados nas lavouras.
No documento que constam as analises de contaminação da água, elaboradas entre 2014 a 2017, dos quinze municípios da região da AMESC avaliados, 11 apresentaram os vinte sete tipos de agrotóxicos na água examinada; um com 26 e outros dois municípios não foram avaliados. A polêmica levantada pelas empresas produtoras de agrotóxicos, acerca do relatório apresentado, é que os valores apresentados nas analises da toxidade da água estão abaixo dos padrões recomendados pelos protocolos em vigor no Brasil.
Conforme legislação brasileira que trata sobre os percentuais de agrotóxicos recomendados na água, apenas 0,3% das análises feitas ultrapassam os limites considerados seguros. Os protocolos de análise da potabilidade da água no Brasil são muito diferentes do modelo aplicado na União Européia. Enquanto lá se busca restringir ao máximo a mistura de todos os agrotóxicos a 0,5 microgramas litro/água, no Brasil, a quantidade de micrograma tolerável ou aceitável por cada litro/água é de 1.353. Esse valor é 2.706 vezes superior a União Européia.
É preciso urgentemente reformular as legislações brasileiras que tratam sobre os limites aceitáveis de metais pesados na água. O que é fato no Brasil é a contaminação lenta e progressiva da população por agrotóxicos. Muitas das doenças geradas pelos pesticidas poderão ser detectadas somente mais tarde devido ao acúmulo lento e progressivo no organismo. Outro agravante é que no instante que se prepara o coquetel de pesticidas para a aplicação nas lavouras, a combinação dessas diferentes substâncias se torna desconhecida sua reação aos vários organismos vivos.
Imaginemos quatro cinco ou mais aplicações de agrotóxicos numa mesma lavoura durante o seu ciclo de crescimento, quais novos subprodutos químicos resultam, qual sua toxidade e permanência residual no solo? Esse tipo de avaliação não é realizado no Brasil. O que é feito são análises taxológicas  isoladas em cada pesticida. Não são todos os agrotóxicos liberados, testados sua presença na água e alimentos pelas agências reguladoras. Dos 300 ingredientes permitidos, apenas 27 são avaliados. Alguns agrotóxicos têm o seu período de permanência residual no solo por meses ou até mesmo anos.
O que acontece, portanto, é o processo acumulativo e contínuo de pesticidas, podendo ser detectado o mesmo princípio ativo na água ou no solo por quatro ou mais anos consecutivos. O estado de São Paulo é o campeão em número de municípios onde o mesmo agrotóxico foi detectado na água, 66, vindo em seguida Santa Catarina com 57 municípios. Dentre os agrotóxicos identificados durante esse período estava o DIURON, um herbicida altamente tóxico utilizado na cultura da cana de açúcar e outras culturas.
As legislações em vigor no Brasil recomendam que seja de responsabilidade da vigilância sanitária dos municípios alertarem as entidades responsáveis pelo controle da qualidade da água servida à população. As ações de controle da toxidade da água deveriam ocorrer de forma integrada, ou seja, articulada com os órgãos ambientais, entidades prestadoras de serviços de água e sindicatos de produtores e trabalhadores rurais. Diferente da União Européia, no Brasil as indústrias de agrotóxicos são isentas de responsabilidade quanto ao monitoramento das águas para a detecção de agentes químicos tóxicos.
Todos os custos de análise e descontaminação são arcados pelos cofres públicos. Acredita-se que mais de cinqüenta por cento das internações em unidades públicas de saúde no Brasil são decorrentes direto ou indireto por ingestão de água e alimentos contaminados por alguns dos agrotóxicos produzidos pelas poderosas corporações multinacionais. No estado de Santa Catarina, o ministério público estadual vem tomando algumas medidas que servem de exemplos para o restante do país. O órgão estadual chamou a responsabilidade do problema da água às prefeituras, secretarias estaduais, concessionárias de água, agências reguladoras e sindicatos de produtores e trabalhadores rurais.
O que deve ser considerado no Brasil e tomado como medida emergencial é a proibição imediata da comercialização de agrotóxicos proibidos na união européia e outras partes do mundo. Por que lá não pode e aqui é permitido? Outra medida a ser discutida é a redefinição dos limites máximos de resíduos permitidos na água no Brasil. Fazer valar no Brasil o mesmo padrão de avaliação utilizado na Europa. Os principais agrotóxicos comercializados no Brasil há uma diferença gigantesca em termos de limite máximo permitido de resíduos na água em comparação a União Européia.  Enquanto lá os pesticidas 2,4D e o clorpiritós, o potencial químico permitido por litro d’água é de 0,1ug/l, no Brasil os valores são 300 vezes superior, ou seja, 30 ug/l. 
O DURAN, outro exemplo, chega ser de 900 vezes, ou seja, de 0,1 na UE a 90 ug/l, no BR. O MANCOZEBE e o TEBUCONAZOL, ambos na União Européia o índice máximo autorizado é também 0,1 ug/l, já no Brasil os protocolos estabelecem 180 ug/l, que é 1800 vezes superior ao estabelecido lá fora. Por último temos um dos agrotóxicos mais consumidos no Brasil e no mundo, o glifosato. O que é estarrecedor acerca desse pesticida é que enquanto na União Européia o limite permitido por litro de água é de 0,1 ug/l, no Brasil os valores alcançam 5000 mil vezes acima do europeu.
Ultimamente o glifosato tem se transformando num dos assuntos mais polêmicos no mundo, sendo até pauta principal nos tribunais, no julgamento de ações protocoladas por cidadãos vítimas de doenças degenerativas devido ao contato permanente com o respectivo agrotóxico. Há poucos meses, a suprema corte nos Estados Unidos sentenciou parecer favorável a um cidadão com câncer terminal, vítima do glifosato. A justiça sentenciou a empresa Monsanto o pagamento de uma indenização milionária a família da vítima. Esse fato gerou um revés na empresa, pois abriu precedentes para novas ações espalhadas pelo mundo que poderão ser desengavetadas e julgadas. A tendência é que a empresa sofra novas derrotas e pagamentos milionários.
Enquanto que em vários países o glifosato a todo instante, novos protocolos são elaborados tornando mais criteriosos o seu uso, no Brasil, no começo de 2019, o Ministério da Agricultura liberou novos registros. A justificativa dos órgãos reguladores brasileiros é que a toxidade desse pesticida detectada nos alimentos e na água é inferior os níveis permitidos por lei. Na União Européia a quantidade de glifosato permitido na água é de 0,1 microgramas por litro. No Brasil, caso seja detectado 500 micrograma de glifosato por litro de água, os níveis serão aceitáveis, pois estão em conformidade com a legislação em vigor.
Cada dia vem se tornando mais evidente que doenças como depressão, câncer, Parkinson, infertilidade, danos genéticos, estão diretamente associadas a ingestão de aditivos químicos presentes nos alimentos e na água disponibilizada à população. As anomalias acima citadas são resultantes dos três principais agrotóxicos campeões de vendas no Brasil, são eles: PARAQUATE, ARTRAZINA e ACEFATO.
Se há presença de aditivos químicos tóxicos na água consumida pela população urbana, isso se deve a difusão prolongada de tais substâncias no campo, onde muitos dos mananciais, rios, lagos estão próximas as áreas de cultivo. Existe hoje no Brasil um rígido protocolo sobre os cuidados no manuseio dos agrotóxicos, o tempo necessário de tolerância de uma aplicação a outra até a colheita. O fato é que tais recomendações geralmente não são seguidas pelos produtores. O que é mais preocupante ainda é que o protocolo impede a aplicação de pesticidas em áreas urbanas, porém, tal determinação não é considerada por muitos municípios brasileiros.
Se caminharmos um pouquinho pelos bairros de Araranguá notaremos a presença de extensas áreas e residências com a presença de vegetação seca devido a aplicação de herbicidas. Há poucos meses imagens postadas nas redes sociais denunciavam o pode público do município por aplicação de herbicidas as margens do principal manancial de abastecimento público, o açude Belinzoni, considerado crime ambiental gravíssimo. Diante das postagens, não houve qualquer manifestação de repúdio a tais práticas dos órgãos responsáveis, muito menos da sociedade, num todo.

Açude belinzoni (foto Jairo)

As ações paliativas ou definitivas para melhorar a qualidade da água consumida pela população teriam que partir primeiro dos governos que agem na contramão do processo, ou seja, em vez de dificultar, facilitam ainda mais o acesso a novos produtos, muitos dos quais banidos há anos em outros países devido a sua periculosidade. É preciso também mobilizar toda a sociedade, por meio de campanhas de sensibilização, nas escolas, nos bairros, igrejas, unidades de saúde, etc, sobre as reais condições da água servida à população, o que deve ser feito para reverter essa perigosa armadilha invisível a olho nu, que põe em risco as futuras gerações. 
Prof. Jairo Cezar      
                      



[1] https://cartacapital.com.br/sociedade/agrotoxicos-sao-detectados-na-agua-de-25-das-cidades-do-brasil/

quinta-feira, 11 de abril de 2019


AS ENXURRADAS NO RIO DE JANEIRO E O AQUECIMENTO GLOBAL

A última enxurrada que atingiu a área metropolitana do Rio de Janeiro é um sinal nítido de que o clima global vem sofrendo mudanças bruscas em decorrência do aquecimento global. E não é somente o Rio de Janeiro que sofre as consequências, São Paulo, Fortaleza, Florianópolis, entre outras cidades de médio porte, também tiveram chuvas torrenciais acima do previsível em curto espaço de tempo.  De acordo com relatório apresentado pelo site Clima Tempo, a cidade de São Paulo nos últimos cem anos teve uma elevação média da temperatura em 3 graus centígrados; Rio de Janeiro, de um e meio a dois em pontos distintos da cidade.
Quem acompanhou os noticiários dos telejornais nos últimos dois meses deve ter ficado surpreso com as elevadas temperaturas que se abateram sobre a capital fluminense. Na realidade esse aumento acentuado das temperaturas não foi exclusivo no Rio de Janeiro e outras capitais, Santa Catarina como um todo a população sofreu com as terríveis insolações quase intermináveis. A enorme incidência de raios nos municípios litorâneos como Araranguá é uma prova de que sofrerão mais os efeitos do aquecimento que outros devido à proximidade com as águas quentes do oceano.
O que é intolerável frente a essa realidade climática preocupante é a postura tomada por governos como dos Estados Unidos que decidiu deliberadamente romper com o acordo do clima assinado em Paris em 2015.  Durante a ultima campanha eleitoral, o candidato a presidente da república e eleito Jair Bolsonaro, nos seus discursos, cogitava seguir o mesmo caminho do seu “herói” norte americano, abandonar também o acordo de Paris.
Embora não tenha ainda rompido, nos seus três meses a frente do governo, os biomas Amazônicos e Serrados sofreram violento revés com intensos desmatamentos em florestas públicas, áreas indígenas e unidades de conservação. Tudo indica que em conformidade com a agenda anti-ambiental do governo, os desmatamentos tenderão a se agravar ainda mais em todos os biomas, e a população permanecerá refém das intempéries climáticas extremas.
O Brasil somado a outros países industrializados são grandes emissões de gases poluentes. A saída dos EUA do acordo já compromete os planos de limitar o aumento da temperatura média do planeta em menos de dois graus Celsius, índice comparável ao período pré-industrial. O descumprimento desse e de outros acordos tenderá a aumentar as catástrofes climáticas em todas as regiões do globo.
Exemplos de tragédias do clima são os que não faltam para elucidar: os terríveis incêndios na Califórnia e Portugal que vitimaram dezenas de pessoas; as tempestades e furações como o que o que atingiu há pouco tempo Moçambique e Namíbia, com um rastro de destruição e mortes sem precedente.  O pior é que a cada ano essas tempestades estão se tornando mais fortes e destrutivas, resultando em milhares de vítimas fatais e de refugiados.
Será que teremos que conviver com mais e mais catástrofes climáticas até que governos tomem consciência da necessidade de supressão do modelo de produção vigente pautado na queima de combustíveis fósseis? Vários organismos internacionais vêm alertando as autoridades planetárias há tempo que a insistência nesse modelo de produção levara à terra a exaustão.  O furacão Catarina que se abateu sobre no sul do Brasil em 2004 é um exemplo de que o País também é alvo das mudanças climáticas.
Se a temperatura media do planeta continuar a aumentar e os desmatamentos não forem contidos rapidamente outras catástrofes semelhantes ao do Rio de Janeiro e no sul do Brasil, como o Catarina, poderão se repetir com mais freqüência do que se imagina. Os sinais já estão aí visíveis e se repetindo todos os anos, as enormes ondas de calor, secas prolongadas e chuvas torrenciais.
Prof. Jairo Cezar

domingo, 7 de abril de 2019


GOVERNO FEDERAL EM TRÊS MESES BATEU RECORDE EM NÚMERO DE AGROTÓXICOS LIBERADOS

https://www.greenpeace.org/brasil/blog/tres-meses-de-veneno/


Nas duas últimas semanas o programa dominical globo rural dedicou amplo espaço em seu horário para tratar sobre os agrotóxicos, os seus impactos aos ecossistemas e experiências inovadoras de agricultores que adotaram técnicas de redução do uso sem comprometer a produção de grãos. Um aspecto relevante mostrado na reportagem foi o alerta à obrigatoriedade do uso de equipamentos para a aplicação de agrotóxicos como roupas especiais, máscaras, luvas, etc, evitando o contato com partículas de pesticidas que são responsáveis por inúmeras doenças degenerativas, entre outras. É claro que em nenhum momento todos envolvidos na reportagem fizeram qualquer menção a erradicação desses químicos na agricultura, muito menos apresentar experiências inovadoras de culturas agroecológicas que vem produzindo com êxito grande volume de grãos a partir de técnicas sustentáveis.      
A escolha da reportagem talvez tenha sido pelo fato do perigo que está exposto a população brasileira ingerindo água e alimentos com a presença cada vez maior de inúmeros agrotóxicos muitos dos quais já banidos em decorrência de sua elevada periculosidade. Um detalhe importante da reportagem é que desde a queda da ex- presidente Dilma Rousseff, no Brasil as agencias reguladoras vem flexibilizando regras sobre novas substâncias de pesticidas, fungicidas e herbicidas permitidas ao uso agrícola.
 Não há dúvida que as mudanças de governos, primeiro Temer e depois Bolsonaro ativaram de forma desordenada toda uma cadeia produtiva pautada no agronegócio. O enfraquecimento das bases políticas da agroecologia e da agricultura familiar no congresso nacional ampliou ainda mais o poder de influência da bancada ruralista, agora chancelado pelo seu fiel escudeiro, Jair Bolsonaro.
A profunda desarticulação de setores importantes ligados a pesquisa científica até mesmo o questionamento sobre os efeitos nefastos de aditivos químicos em organismos vivos, ambos foram alvos dos governos de plantão em benefício do agronegócio e das gigantes do veneno. Entre 2005 a 2015 o número de aditivos químicos autorizados à agricultura foram relativamente pequenos comparados aos últimos três anos.
 Em 2015, as agências reguladoras no Brasil autorizaram 139 novos pesticidas para o uso agrícola. Sabemos que esse volume de veneno permitido está muito acima do que gostaríamos que fosse, ou seja, zero autorização. O que se viu depois do impeachment foi uma escalada assustadora de novos rótulos autorizados chegando a quase três centenas em 2016. As negociatas no congresso para livrar o presidente Temer de uma possível cassação elevou ainda mais o sinal de alerta no campo e dos alimentos com mais 405 rótulos autorizados em 2017 e 450 em 2018.
Com a posse de Bolsonaro e a indicação de uma representante do agronegócio para gerenciar a pasta do ministério da agricultura e de um condenado por crime de responsabilidade, no ministério do meio ambiente, somente nos três primeiros meses de governo foram liberados 121 produtos ou marcas de agrotóxicos. É um número assustador. Nenhum outro governo anterior ao atual conseguiu a proeza de liberar em três meses tantos agrotóxicos de elevada periculosidade.  O mais grave disso é que alguns aditivos listados estão banidos em muitas partes do mundo devido ao seu elevado risco ambiental. Dos 2.184 aditivos consolidados, ou seja, liberados para serem utilizados na agricultura, 715 são considerados extremamente tóxicos e outros 309 altamente tóxicos.  
Todo o desmonte das legislações teve como alvo predileto os órgãos fiscalizadores como IBAMA, ANVISA, EMBRAPA, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA e MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE que adotaram um alinhamento ideológico estratégico com o agronegócio. O crescimento vertiginoso de doenças epidêmicas, degenerativas e neurológicas, que incham os ambulatórios e hospitais públicos do país está relacionado direto e indiretamente aos agrotóxicos. Isso é tão verdade que o Programa de Analise de Resíduos Tóxicos de alimentos, das 12.051 amostras de 25 alimentos vegetais examinados constatou que 58% do total possuíam presença de agrotóxicos.
Dos aditivos químicos detectados nos alimentos, 16,6% não são autorizados para o uso agrícola, ou seja, jamais deveria ter sido aplicado em qualquer tipo espécie vegetal. No Brasil as agências fiscalizadoras admitem a presença de agrotóxico na água em níveis toleráveis. Comparando as análises químicas realizadas na água no Brasil com a Europa, o resultado que se chegou é assustador.  Aqui os níveis de impurezas detectados são cinco mil vezes maiores que na comunidade européia.   Do total de agrotóxico hoje liberado para o uso agrícola no Brasil, 30% não são autorizados na comunidade européia. A tragédia dos agrotóxicos no Brasil não para por ai.
Em 2018 foi aprovado na CCJ da Câmara Federal PL 6.299/02 visando flexibilizar ainda mais as legislações sobre os agrotóxicos. Na hipótese de aprovação da PL no congresso, que não será muito difícil, a população brasileira estará diante de uma difícil encruzilhada, que poderá colapsar ainda mais os sistemas de saúde pública. Serão milhares de novos casos de intoxicação por agrotóxicos que serão diagnosticados, além de novos casos de doenças letais decorrentes do contato e consumo de alimentos e água contendo novas toxinas provenientes de organoflorados altamente e extremamente tóxicos.
Prof. Jairo Cezar