domingo, 27 de maio de 2018


ATO DE SOLIDARIEDADE AO NOSSO TÃO MAL TRATADO OCEANO ATLÂNTICO



Aproveitando o dia ensolarado de domingo para desistressar do terrível bombardeio de informações que entopem as redes sociais sobre a histórica greve dos caminhoneiros, decidi dar um tempo e caminhar pela orla do Baln. Morro dos Conventos. Entretanto, já no começo do trecho próximo ao guarda vida central, me chamou a atenção a quantidade de lixo plástico espalhado por toda a extensão da orla. O material, como já é sabido, é resultado de anos ininterruptos de descartes de lixo na orla, bem como de outros tantos meios que transformaram e estão transformando os oceanos em gigantescos lixões.
O que ocorreu de fato naquela manhã ou noite anterior foi um processo conhecido por regurgitamento, ou seja, o lixo que estava depositado no fundo do mar foi literalmente vomitado para  a praia com a força das ondas. É uma forma quase consciente de dizer não, basta de atitudes maléficas contra a mãe natureza. Quando cheguei nas imediações da plataforma de pesca Arroio do Silva, um cidadão, que também é surfista, sensibilizado com a triste cena, amontoava o lixo na areia e depois recolhia em sacolas. Tanto eu quanto o cidadão compartilhávamos a mesma opinião, o mar se assemelha ao organismo de um ser vivo, um grande estômago, por exemplo, que quando ingere algo errado, que o intoxica, dá sinais de alerta, expelindo aquilo que lhe faz mal, nesse caso, o lixo plástico.


O mar, portanto, nesse dia de domingo, fazia exatamente isso, expelia lixo: pedaço de corda, latas, garrafas, etc, uma tentativa desesperadora de se livrar da terrível intoxicação que produzia desconforto em seu gigantesco estômago. É sabido que muita gente está longe de alcançar níveis satisfatórios de maturidade a ponto de se sensibilizar quando se depara com cenários tão preocupantes como o enorme volume de lixo espalhado pela orla. A presença freqüente de espécies marinhas mortas: tartarugas, focas, aves, leões marinhos, pinguins e até mesmo baleias, se deve, direta ou indiretamente ao espantoso volume de lixo descartado no mar, que os confundem com alimentos.
É sabido também que num cenário tão conturbado e caótico como o que está passando o Brasil ultimamente, as pessoas terem controle emocional para refletirem ou se aterem as assuntos "secundárias" como lixo na praia ou outras demandas ambientais coletivas, é quase impensável. Atualmente milhares de pessoas estão atônitas diante das TVs ou redes sociais, hipnotizadas com tantas notícias e imagens tratando do mesmo assunto. Muitas até são dominadas por sentimentos de solidariedade ao ponto de prestar algum tipo de apoio à causa dos caminhoneiros grevistas. Outras, não conseguem nem mesmo se desvencilhar do comodismo mórbido que são dominadas, permanecendo nas suas zonas de conforto, reclamando e procurando culpados por tudo o que está acontecendo. A pergunta que se deve fazer nesse momento é, por que não fazer alguma coisa útil para tornar sua vida e do planeta um pouco melhor?


O caminho para tornar a vida um pouquinho melhor e útil é curto e sem obstáculos, basta ir de bicicleta, ônibus, carro ou outro meio de transporte, até a orla dos municípios de Araranguá e Arroio do Silva, munidos de pequenas sacolas e recolher os resíduos plásticos espalhados por todos os lados, você estará fazendo um grande bem para si e para o planeta. Não custa nada imaginar o dia, quem sabe ainda nesse século, as pessoas já terem resolvido suas fragilidades existenciais, superada a arrogância, a individualidade, a prepotência, a ganância etc, a ponto de reservar um tempinho de suas preciosas e curtas vidas e seguirem o exemplo do cidadão surfista e esse que aqui escreve, um ato de amor e solidariedade à nossa mãe terra. Não é necessário esperar a semana do meio ambiente para demonstrar tal gratidão, tem que ser todos os dias.  
Prof. Jairo Cezar                            

sábado, 26 de maio de 2018


RISCOS IRREVERSÍVEIS À SAÚDE SE A PL (6.299/2002) DOS AGROTÓXICOS FOR APROVADA NO CONGRESSO



Há cerca de três meses publiquei artigo alertando manobras políticas envolvendo parlamentares da bancada ruralista que barganhavam votos para livrar o Presidente Temer em denúncias de crime, em troca da aprovação da PL n. 6.299/2002 batizada de Pacote do Veneno. De lá para cá as pressões advindas desse poderoso agrupamento político no congresso, 228 parlamentares ou 44% dos 513 deputados, continuaram mais acirradas com possibilidades reais de a proposta ir para discussão na comissão do parlamento no próximo dia 29 de junho de 2018.
Diante desse pernicioso projeto de lei que se aprovado resultará em riscos irreversíveis à segurança alimentar dos brasileiros, entrou em ação uma legião de combatentes, contrários a PL, mobilizando a sociedade para pressionar os deputados em todos os estados para que rejeite a proposta. Na realidade a proposta saiu do campo político e adentrou na área da saúde. Entidades com o Instituto Nacional do Câncer; Fundação Oswaldo Cruz, ANVISA, e mais de 300 ONGs, vêm se pronunciando contrárias ao projeto, denunciando as manobras e o perigo para a saúde a liberação de substâncias atualmente proibidas de uso na agricultura. Pesquisas confirmam que o aumento da incidência de doenças degenerativas como câncer, entre outras, tem relação direta com a exposição de agrotóxicos do tipo glifosato, principio ativo do Roudap, o mais consumido no planeta.
Nos Estados Unidos relatórios elaborados por agências governamentais constaram que o uso de agrotóxico na agricultura não contribui significativamente para o aumento da produção agrícola como acreditava. Cada vez mais inúmeras espécies de plantas e insetos vêm se tornando resistentes a certos agrotóxicos, fazendo com que agricultores intensifiquem o uso de mais venenos ou substituindo por outros mais potentes como o 2,4-D. Lá também há um movimento muito forte da sociedade exigindo o banimento imediato dos venenos utilizados na agricultura. No entanto, os lobbies dos poderosos conglomerados do setor, que também dominam o mercado das sementes e dos insumos, fragilizam qualquer tentativa de enfraquecê-los frente à opinião pública.
A união européia há cerca de dois meses baniu definitivamente do mercado um princípio ativo chamado de NEONICOTINOIDES,[1] que segundo centenas de pesquisas realizadas, comprovaram que o mesmo está sendo responsável pelo desaparecimento de abelhas. O produto quando pulverizado penetra os tecidos das plantas, podendo persistir no solo por gerações, contaminando as plantações e abelhas. No Brasil, a última análise realizada pela AVISA sobre os agrotóxicos ocorreu em 2016 com 9.680 alimentos, pesquisados entre 2013 a 2015. Desse total analisado, foram identificados 2.401 alimentos contendo traços de Neonicotinoides. O que causou perplexidade foi a identificação de 399 tipos de alimentos com níveis irregulares dessa substância ao lado de outras do grupo BENZIMIDAZÓIS, TRIAZÓIS e ORGANOFOSFORADOS.[2]
No Brasil, a legislação que regula os agrotóxicos é de 1989, onde traz critérios ao uso dos venenos e o banimento de outros. Se a PL de 2002 for aprovada, apelidada de o Pacote do Veneno, poderá permitir o comércio de venenos mesmo daqueles que comprovadamente possam resultar em má formação fetal. Conseguiram assimilar o perigo da aprovação dessa PL? É isso mesmo! Outro item embutido no projeto trata da redução do tempo para liberação de novas marcas, além, é claro, da mudança do termo agrotóxico por outro termo menos impactante como, PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS.
Se com todas as restrições contidas nas legislações em vigor, meso assim o veneno continua se consumindo como água, comercializado e aplicado sem qualquer restrição e fiscalização, imagine como ficará com a aprovação da PL do Veneno. Caminhe pelas ruas dos bairros de sua cidade, observe a quantidade de terrenos e lotes com vegetação seca devido a aplicação de agrotóxicos, o glifosato, por exemplo, que são proibidos em áreas urbanas pelas legislações em vigor.
O pesquisador da FIOCRUZ (Fundação Oswaldo Cruz), em audiência que participou na Comissão de Desenvolvimento Urbano, na Câmara Federal, no dia 23 de maio, a convite do deputado João Daniel, do PT-SE, fez uma exposição preocupante acerca dos impactos à saúde humana, se a PL dos agrotóxicos for aprovada como desejam os parlamentares que representantes do agronegócio. Segundo o estudioso, que pós-doutorado em saúde pública, a intenção do projeto de lei é flexibilizar as regras sobre os agrotóxicos e reduzir custos.  Relatou que atualmente, segundo a OMS, são registrados no mundo cerca de 25 milhões de intoxicações por agrotóxico a cada ano, sendo que mais de 20 chegam a óbito.
No Brasil o número de intoxicação ultrapassa os 100 mil todos os anos, com 3.5 mil óbitos. Com os agrotóxicos que estão em uso no Brasil, os mesmos são responsáveis pelo aumento da incidência de doenças como Linfomas, Leucemia, Sarcomas, Tumores Cerebrais, de Mama, Testículos e Próstata, relatou o pesquisador. Agora, os casos de doenças degenerativas, cânceres, por exemplo, poderão transformar o Brasil num país de doentes, com impactos incalculáveis ao sistema de saúde pública, alertou o profissional da FIOCRUZ.
Com a aprovação do projeto, novos produtos até então proibidos passarão a ser comercializados livremente. Serão produtos que contém substâncias altamente tóxicas que provocarão desregulações endócrinas, Aumento ou redução da liberação de hormônios, que poder atrasar a puberdade, causar infertilidade e diabetes do tipo 2. Muitos dos agrotóxicos que terão registro permitido possuem princípio ativo que compromete o sistema neurológico, causando doenças como Parkinson, Depressão, bem como o atraso no desenvolvimento motor das crianças, etc, etc.[3]            
Diante de um cenário preocupante e quase que irreversível sobre os agrotóxicos, de repente uma notícia um tanto animadora, que poderá resultar a médio e longo prazo, se sancionada no congresso, no banimento de todos os agrotóxicos sintético. Estamos nos referindo sobro o projeto de lei n. 6670/2016 que trata sobre Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNARA). Na última quarta feira, 23/05/2018, foi constituída a comissão especial para dar andamento ao respectivo projeto de lei. A proposta for aprovada, exigirá que todas as decisões aprovadas sobre agrotóxicos terão que passar primeiro por um debate e aprovação técnica por órgãos competentes, que não está ocorrendo, principalmente com relação a PL dos agrotóxicos. O projeto irá tramitar em regime de prioridade, cuja comissão terá dez sessões para emitir seu parecer.
Prof. Jairo Cezar   

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Mae-Terra/Medicos-e-MPF-tentam-barrar-lei-ruralista-sobre-agrotoxicos-apelidada-de-pacote-de-veneno-/3/40265       


[1] Eles interferem em seu sistema nervoso central, causam paralisias e mortes. A substância também está presente no pólen que se prende aos corpos das abelhas quando estas obtêm néctar. No momento, os neonicotinoides estão no centro do debate das políticas de proteção às abelhas na Europa.
[2] https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/05/01/Por-que-a-Uni%C3%A3o-Europeia-proibiu-3-agrot%C3%B3xicos-neonicotinoides
[3] https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?65683/Fiocruz-Pacote-do-Veneno-trara-impactos-graves-a-saude-publica

sexta-feira, 25 de maio de 2018


A VENEZUELA E SEU CONTURBADO CENÁRIO ECONÔMICO/POLÍTICO E ALVO DAS GRANDES POTÊNCIAS – ESTADOS UNIDOS



É quase unanimidade a opinião de brasileiros, muitos dos quais bem informados, admitindo que a Venezuela devesse sofrer uma intervenção externa imediata contra o governo Maduro e restabelecer a ordem social interna. Essa posição crítica ao governo venezuelano, não há dúvidas, está sendo instigada pela mídia dominante, manipuladora, que diariamente bombardeia os seus telejornais com reportagens inverídicas mostrando centenas, milhares de venezuelanos, desesperados, atravessando a fronteira com o Brasil em busca de trabalho. É claro que observando de fora, como expectador passivo, o sentimento que tende a desperta é, obviamente, de repulsa, ódio e revolta contra o presidente, idealizado como um ditador perverso, manipulador de eleições, que massacra e oprime o povo, impondo uma terrível e mortal recessão.
Em nenhum momento se observou algum grande jornal de circulação nacional ou de uma Rede de TV aberta, reportagem, relatando resumidamente a história, a geografia, a economia e os desdobramentos que resultaram na crise que assola o país. Desde a sua ocupação pelos espanhóis, no século XVI, a Venezuela apresentava algumas peculiaridades que a diferenciava das demais colônias espanholas, como a vizinha Colômbia, atualmente apresentando fracos laços de amizade.
Pela sua localização geográfica estratégica, próxima da Europa, sempre teve alguns privilégios. Isso contribuiu para que colônia espanhola agregasse mais autonomia e autoridade militar que as demais possessões espanholas. Atualmente são necessários 4 a 5 dias para que o petróleo extraído dos poços venezuelanos chegue às refinarias do Texa, EUA. Quase todo o petróleo que abastece a indústria americana é importado do oriente médio, cujo transporte, em navios, tem a duração de 35 a 40 dias para chegar ao seu destino.
Com sua independência, no inicio do século XIX, liderada pelo general militar Simon Bolívar, o país adotou um misto de governo, combinando monarquia, república e federalismo. E esse modelo de gestão permanece até os dias atuais, cujo poder de comando se mantém de certo modo centralizado nas mãos do presidente. Diferente do país vizinho, Colômbia, a Venezuela teve a sorte ou o azar de possuir em seu território uma das maiores ou maior reserva de petróleo do mundo. Estimativas dão conta de que no subsolo venezuelano estão depositados 307 bilhões de barris de óleo. Porém, toda essa demanda de petróleo não está sendo suficiente para amenizar a crise sem precedente na sua história do país.
O fato é que a Venezuela, acomodada sobre o manto negro depositado em seu subsolo, não diversificou sua economia como forma de enfrentar possíveis crises futuras do petróleo. A Colômbia, que possui limitadas reservas de petróleo, porém, avantajadas concentrações de carvão mineral em seu subsolo, sofre muito menos os efeitos das crises cíclicas que o seu vizinho.
Seu grande parque industrial e o forte investimento agrícola permitem que o país mantenha certa estabilidade frente aos cenários de crise global. A Venezuela exporta 97% do petróleo extraído de seus campos, portanto, tem sua economia totalmente dependente dessa commodity, cujos preços oscilam no mercado global. Nos últimos anos o preço do barril despencou internacionalmente, sendo, no entanto, um dos fatores do desarranjo econômico e social que assola o país.
As previsões dão conta que o PIB do país retrocederá 15% em 2018, com uma inflação que poderá atingir os 14 mil % ao ano. Nesse cenário, o país vive um colapso social, onde o governo tenta a duas penas permanecer a frente do comando, evitando entregar o posto às forças reacionárias oligárquicas pró-Estados Unidos, desejosas em reassumir o controle político da Venezuela. Imagine, são quase 400 bilhões de litros de petróleo armazenados nas profundezas de seu subsolo, e o EUA é atualmente o principal importador. A despeito de Maduro, sua deposição do cargo de presidente, tenderia a aumentar a influência Norte Americana sobre o restante da América do Sul.
Havia expectativa de que nas eleições presidenciais realizadas no dia 21 de maio de 2018 o governo Nicolas Maduro fosse derrotado pela oposição, que não se confirmou. Os opositores internos ao regime de Maduro, acompanhados por expressiva parcela de governos latino americanos, alinhados as políticas de Trump, afirmam, categoricamente, ter havido possíveis irregularidades no pleito eleitoral da Venezuela.  
Argumentam que devido ao número elevado de abstenções, a eleição não poderia ser considerada válida. No entanto, o pleito teve o acompanhamento de observadores internacionais onde atribuíram legitimidade ao processo. Quanto às abstenções, a imprensa oficial pró-imperialista procura omitir dados que revelam ter havido abstenções nos pleitos do Chile, Colômbia, entre outros, nas mesmas proporções que a Venezuela, porém, ninguém solicitou recontagem dos votos ou a anulação. Por que exigir tal absurdo somente da Venezuela?
Deve-se considerar que a situação econômica e social da Venezuela mudou consideravelmente a partir da chegada de Hugo Chaves ao posto de presidente da república em 1999. Em nenhum momento os veículos noticiosos conservadores fizeram qualquer menção às realizações ocorridas durante os 14 anos de que Hugo Chaves governou o país. As taxas de 70% da população em situação de pobreza, registrada em 1996, foi reduzida para 21% em 2010. Foi também na época de Chaves que o país se tornou um dos primeiros da América do Sul a adotar programas sociais de construção de habitações populares às populações de baixa renda. Não ficou só nisso, outras ações relevantes também tiveram destaque, como saneamento básico com água tratada para 96% da população, educação, saúde, etc.
Era óbvio que todas essas realizações não poderiam ser bem assimiladas pela oligarquia sempre à frente do comando do país, cujos votos eram assegurados mantendo parte da população em estado miséria e pobreza absoluta. Criar instrumentos que intensificassem a instabilidade social foi uma das tantas estratégias adotadas para atrair a opinião pública externa contra o regime de Chaves, e quem sabe, pressioná-lo a abdicar o posto de presidente.
Tentativas de golpes de Estado foram executadas como os atentados contra Chaves em 2002, porém, ambos sem sucesso. Diante desse clima de progressivo isolamento, patrocinado por forças imperialistas aplicando sanções cada vez mais duras à economia do país, Chaves coordenou plano de integração dos países sul americanos e do caribe, com planos ousados de transformações estruturais, e que jamais foram bem digeridos pelos donos do capital.
A inclusão da Venezuela no acordo econômico da América do Sul, MERCOSUL, também se converteu num grande acontecimento para o fortalecimento dos vínculos econômicos e sociais na América do Sul. O sonho do Pan-americanismo, idealizado pelo principal expoente da independência de várias colônias hispânicas da America do Sul, Simon Bolívar, começava se materializar. Essa possibilidade aterrorizava a elite dominante da América do Sul, apavorada diante do cada vez mais concreto risco de ruptura política.
Diferente dos países sul americanos como Argentina, Paraguai, Brasil, entre outros, integrados ou alinhados ao projeto de unificação regional, um após outro foram sendo abocanhados pelas elites conservadoras, cujas eleições ou golpes brancos fez ascender no poder antigas forças dominantes. A Venezuela, a Bolívia e o Equador vêm resistindo a ferro e fogo as investidas insanas dos seguimentos reacionários, nacionais e internacionais.
A centralização do poder e o controle de setores estratégicos como o exército e o judiciário enfraqueceu as forças oligárquicas na Venezuela. Portanto, esses foram alguns dos mecanismos empregados pelo regime de Chaves para frear a voracidade do poderio das oligarquias em tentar retomar o comando político do país. Quantas e quantas vezes tem se ouvido expressões classificando Hugo Chaves e Nicolas Maduro como ditadores, que desrespeitaram a constituição e os princípios democráticos?
Não há dúvida, limitando as proporções do radicalismo de Chaves e Maduro, a Venezuela se apresenta no cenário regional e global tendo um modelo de projeto de nação que pouco agrada os detentores do poder. Os discursos alegando falta de democracia, desrespeito aos direitos humanos, pronunciados insistentemente pela oposição venezuelana e noticiado diariamente pela imprensa entreguista global, são estratégias desesperadoras que não surtiram efeitos desejados como a possível derrota de Maduro nas urnas. A direita Venezuela não tem compromisso algum com a democracia e muito menos ainda com o respeito aos direitos humanos. As manifestações de rua ocorridas entre 2013 e 2016 são um bom exemplo do comportamento terrorista desse seguimento onde provocaram a morte de dezenas de pessoas.
Não há dúvida que a situação econômica no país vizinho beira o colapso. São dezenas, centenas de pessoas atravessando a fronteira com o Brasil diariamente, como mostram os noticiários dos telejornais. As reportagens também destacam os transtornos produzidos nessas pequenas cidades, com recursos orçamentários já minguados para suprir as necessidades dos cidadãos locais. A cada reportagem, cidadãos venezuelanos são entrevistados, destilando ódio ao regime venezuelano, como se fosse ele o principal culpado pelo quadro caótico que assola toda a população do país.
Quando foi que se ouviu falar em um desses telejornais diários, que a Venezuela vem sendo palco de um processo perverso de desabastecimento econômico com intuito de forçar a alta dos preços e elevar a inflação? Não bastando isso, tanto os EUA como a comunidade Européia vêm impondo sanções ao país, com embargos econômicos e bloqueios financeiros internacionais. Quais governos suportariam resistir por muito tempo tantas pressões e ataques por todos os lados? Só o tempo dirá.
https://www.cartacapital.com.br/blogs/brasil-debate/para-entender-a-venezuela              
                    
Prof. Jairo Cezar                 


quinta-feira, 24 de maio de 2018


A PARTICIPAÇÃO DA INTELIGÊNCIA FRANCESA E DA CIA NA ARTICULAÇÃO DO PLANO QUE RESULTOU NO GOLPE MILITAR DE 1964


Quando entrei na universidade, antiga FESC, hoje UNISUL, Campus Tubarão, para cursar história, um ano depois do fim oficial da ditadura, 1986, as primeiras obras da historiografia brasileira que me chamaram atenção e que procurei lê-las com atenção especial foram os livros Os Senhores das Gerais; Ditaduras e Indústrias Culturais; Radiografia de um Modelo; Brasil Nunca Mais e Guerrilha do Araguaia. Destes, o que causou maior perplexidade quando lido foi à obra Guerrilha do Araguaia, do sociólogo, jornalista e historiador Clovis Moura, onde descreveu com detalhes o movimento sangrento ocorrido no sul do Pará, liderado por militantes do PCdoB, onde teve a incorporação de estudantes, profissionais liberais. A escolha da região do Araguaia se deu pelo fato de que lá os combatentes rebeldes desenvolveriam táticas de guerrilha com intuito de resistir e combater o regime militar.
Várias foram as operações articuladas pelos militares pretendendo reprimir os combatentes do movimento armado, ao qual resultou na desarticulação do grupo, que resultaram na execução de 59 ativistas ligados ao PCdoB e mais duas dezenas de camponeses que haviam se juntado à causa revolucionária. Do lado do exército, informações dão conta de ter havido 19 militares mortos.
Mas por que o preâmbulo a um episódio tão macabro para a memória brasileira a mando do regime militar? Trazer à luz para debate um acontecimento desagradável da história brasileira, que foi a Guerrilha do Araguaia, tem por objetivo exercitar a memória da população, relembrando que quem estava no comando do posto maior da presidência do Brasil era o General Ernesto Geisel. O mesmo general que há poucos dias, documentos cedidos pela CIA, dos Estados Unidos o denunciaram de co-participação intelectual na execução de ativistas que faziam oposição a regime militar. A divulgação dos documentos gerou certo desconforto à cúpula do exercito brasileiro, bem como a muitos possíveis candidatos militares, cuja população deverá, na hora de decidir quem votar, ter em mente os 20 anos de terror, repressão contra os direitos sociais.      
 De acordo com o relatório apresentado, antes de o general Geisel deixar o poder, o mesmo autorizou ao seu substituto, o general João Batista de Figueiredo, que colocasse em prática a operação de execução de integrantes do comitê do PCB, cerca de um terço. Na realidade esse episódio ou massacre foi mantido em segredo da população por cerca de quarenta anos, sem qualquer pronunciamento do exército.
Se pesquisarmos os documentos ou a literatura descrevendo o modo como os militantes do PCB se posicionavam perante o regime, em nenhum momento, com raras exceções, há relatos que comprovem existir algum plano de luta armada contra o regime militar. Todo o processo se deu por vias pacificas, utilizando como estratégia o instrumento eleitoral, concorrendo a cargos eletivos utilizando emprestada a sigla do MDB, única agremiação partidária brasileira legalizada, além da ARENA. Um bom exemplo de livro que deve ser lido, que descreve o podo pacifista de militantes do PCB na luta pela redemocratização do país por vias institucionais é A Saga de João dos Pintos – Uma História Política de Araranguá nos Últimos 40 anos.
Muito do que se escreveu sobre a história do Brasil no período final do regime Militar, trazem relatos um tanto agradáveis acerca do general Figueiredo, dando nota de que o mesmo teria iniciado o processo pacífico e gradual da redemocratização do Brasil. Não é segredo e nem exagero afirmar que muitos brasileiros ainda hoje se sentem tocados quando são proferidas críticas aos militares durante os vinte anos que comandaram o Brasil. Expressiva parcela não aceita em hipótese alguma a expressão golpe, defendem que o 31 de março de 1964, foi um movimento revolucionário em defesa da ordem e segurança nacional. Também, muito do que é ensinado e aprendido nas escolas, traz os Estados Unidos, através da CIA, como um dos principais protagonistas dos movimentos golpistas no Brasil nos demais países da América do Sul.
Na realidade, segundo pesquisas realizadas há pouco tempo, antes do fatídico 31 de março de 1964, pessoas influentes do governo americano teriam mantido contato com o General Castelo Branco, membro do Estado Maior do Exército, alertando-o de que militantes “comunistas” estavam articulado no Brasil movimento político revolucionário, de inspiração chinesa e não Cubana como estava sendo mencionado. Disse também o representante dos Estados Unidos ao general Castelo Branco, que ele era o único militar que reunia condições suficientes para impedir o que estava previsto, e o general aceitou.    
Não se vêem nas obras historiográficas do período correspondente ao regime militar brasileiro, relatos sobre a participação da França na construção do golpe. O programa intitulado “Doutrina Francesa”, de treinamento de militares sul americanos (Brasil), foi decisiva, para o sucesso da empreitada militar, que atuou no combate intensivo dos focos comunistas que se espalhavam pelo continente. O plano, contrarrevolucionário, foi baseado na obra escrita pelo líder comunista Mau Tsé- Tung antes da Revolução Comunista na China. A primeira experiência do plano foi aplicada na Argélia, antiga possessão francesa, palco de ações rebeldes anticapitalista, depois o plano foi transportado para os EUA, sendo lá revisado e adaptado para combater os movimentos revolucionários que se pipocavam por toda a América do sul.
Em 1961 militantes franceses foram para os Estados Unidos onde ensinaram táticas de combate de guerrilhas aos solados americanos, dos quais vinham sendo massacrados na guerra do Vietnã. Antes do início da guerra no Vietnã os franceses haviam invadido a região, que depois de vencido o inimigo, o país foi dividido entre norte e sul. Agora os Estados Unidos estavam tendo problema com Vietcongs comunistas do norte, sendo a ajuda francesa importante, pois conheciam muito bem o comportamento dos guerrilheiros.
Quando o método moderno de combate aos subversivos foi adotado no Brasil, via CIA, de inspiração francesa (doutrina Francesa) os métodos violentos de tortura, interrogatórios, etc, se justificavam pelo fato de haver uma “Guerra Civil” em curso no Brasil, que era papel do regime manter os princípios da ordem interna. De todos os militares que ocuparam a presidência, Geisel foi um dos que defenderam a tortura como instrumento para obter confissões, até mesmo execuções sumárias por esquadrões da morte.   
No governo de Geisel, que assumiu a chefia do SNI foi o general Figueiredo, considerado um dos integrantes da linha dura do regime, responsável pelos serviços de interrogatório e execução de subversivos. Um detalhe que talvez explique porque o movimento de luta armada foi erradicado no Brasil durante o regime militar. A resposta está na doutrina francesa, que inspirou a operação bandeirantes que levou na captura e execução das principais lideranças do movimento, como Carlos Marighella, Carlos Lamarca e Joaquim Câmara Ferreira.
Outra revelação importante acontecimento durante o duro período da ditadura, foi o discurso feito pelo filósofo Frances Sartre, em Paris, em 1969, para exilados políticos brasileiros e simpatizantes. Questionou o motivo pelo qual soldados do exército brasileiro estavam indo para o Panamá e aos Estados Unidos treinarem com soldados americanos. Desabafou afirmando que o exército brasileiro cada vez menos servia para proteger o país de inimigo externo, atuando diretamente na repressão interna do povo.         
Portanto, para os estados unidos, o Brasil se constitui em uma peça chave do complexo tabuleiro político que se instalou na America do Sul. Combater todos os focos de movimentos que ameaçam os interesses do capital eram prioridade das prioridades. Entretanto, o regime ditatorial no Brasil veio a se configurar num verdadeiro laboratório de experimento de ações contra os inimigos do regime ditatorial no Chile, Argentina e Uruguai. Embora a preparação dos militares que atuaram a favor do regime tenham tido a mãos dos Estados Unidos, os fundamentos metodológicos aplicados foram inspirados segundo a doutrina francesa.
A lei de segurança nacional foi, sem dúvida, a principal criação do regime militar, que fez perdurar por vinte anos. Nela estava toda uma metodologia inspirada na França, (doutrina francesa) que obteve excelentes resultados na desarticulação de movimentos revolucionários como o da Argélia.
Presumimos também que muitos devem ter ouvido falar no atentado ocorrido no Rio Centro, Rio de Janeiro, quando em 1981, durante o governo Figueiredo, na realização das festividades em comemoração ao dia do trabalhador, um carro contendo uma bomba explodiu na entrada no centro de convivência, matando dois militares identificados de pertencerem ao DOI CODI. De acordo com documentações liberados pelo governo americano e que estão sendo agora disponibilizadas para pesquisadores, há claras evidências que todo o episódio foi planejado pelos altos comandos do exército e não por subversivos como sempre alegaram integrantes da alta cúpula do exército. Até hoje o acontecimento não teve um desfecho definitivo. 
Em 2012, já no governo da presidente Dilma, foi sancionada lei criando a comissão da verdade, cujo objetivo foi investigar mortes e desaparecidos durante período entre 1964 a 1988. Em 2015, já tendo sido concluído o relatório com seis nomes de militares do alto comando denunciados, o caso foi denunciado pelo MPF, cuja ação penal permanece trancada tribunal regional federal do Rio de Janeiro, aguardando recurso do Superior Tribunal Federal.
São mais de 700 documentos enviados pelo governo americano sobre o período militar que estão disponíveis na biblioteca nacional do Rio de Janeiro esperando ser desvendado por pesquisadores. É possível que muitas questões até então não respondidas pela justiça possam ser reveladas nesses documentos. A história mais uma vez se coloca como aliada da verdade. A expectativa é que a partir dessas novas revelações os militares se pronunciem junto à sociedade, permitindo também que outros documentos, que estão sob a tutela das forças armadas, sejam também liberados para consulta. O que se pretende é esclarecer e dar um basta definitivo ao fantasma que ainda assombra o sono de centenas de famílias que continuam sem respostas acerca do paradeiro de parentes, esposos, filhos, amigos, desaparecidos na época do regime militar.
Prof. Jairo Cezar   
       

 
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cartas-do-Mundo/Carta-de-Paris-Geisel%A0-o-documento-da-CIA-a-historia-oficial-e-a-verdade-historica/45/40234          

sexta-feira, 18 de maio de 2018


DEBATE NO IFSC – ARARANGUÁ, SOBRE A BNCC, EXPÕE O LADO PERVERSO DO CAPITALISMO NO DESMONTE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA



O Instituto Federal de Santa Catarina  – Campus Araranguá, saiu na frente abrindo suas portas para debater um tema tão controverso como a BNCC, que a partir de 2019  modificará toda a estrutura de ensino das escolas de educação básica brasileira, tanto pública quanto privada. A intenção do encontro foi trazer para a reflexão, pontos polêmicos da Base Nacional como a provável supressão do currículo de áreas importantes do conhecimento como filosofia e sociologia.
Os palestrantes convidados para abordaram o assunto foram os professores Mestre Marcilon Souza, sociólogo, e o Prof. Dr. Alex Sander, Filósofo. Por cerca de duas horas, discorreram sobre a trajetória histórica do sistema de produção capitalista em âmbito global e o modo como as grandes potências vem determinando o ritmo de vida da população dos países da periferia do capital, que são pressionados a adotarem políticas de ajustes estruturais seguindo regras pré-estabelecidas por poderosas instituições financeiras como o FMI e o Banco Mundial. 
Na realidade os planos de reformas estruturais em curso na America Latina e no Brasil têm a zona do euro e os Estados Unidos como agentes de propulsão. Diferente de outros momentos da história recente, o capital tende agora a abocanhar os polpudos fundos públicos desses países, que teriam como destino assegurado o financiamento da educação pública. A elaboração de uma nova BNCC, somada ao PNE e a Reforma do Ensino Médio, ambos são partes integrantes de um grande pacote de “boas intenções”, que nada mais são que instrumentos facilitadores para a flexibilização ou a fragilização do Estado no seu papel de principal gestor da educação pública.  Não é por coincidência que nos últimos anos se multiplicaram no Brasil universidades oferecendo cursos e mais cursos de ensino superior à distância, sem qualquer critério de compromisso com a formação decente dos acadêmicos.
  A educação pública vem se constituindo atualmente em um “Novo Eldorado” para esses novos conglomerados do conhecimento, oferecido a distância e de baixo custo. Um exemplo para elucidar esse espantoso fenômeno do capitalismo sobre a educação brasileira é a KROTON, considerada a maior empresa privada do mundo em educação particular. Atualmente a empresa absorveu marcas tradicionais como a Pitágoras, Uniasselvi, Unopar, entre outras.
Uma das possíveis repercussões desse monopólio ou oligopólio educacional liderado por companhias do “mercado do saber” como a poderosa Kroton e tantas outros, são sua forte influência no campo político, indicando apadrinhados para ocuparem espaços de decisão nas instâncias do legislativo e executivo, articulando negociatas que lhes assegurem maior controle dos fundos públicos.
Nos vários questionamentos levantados, um dos participantes presentes no auditório afirmou que a intenção do capital é, sim, atingir frontalmente o currículo, pois é o conjunto disciplinas que tenderão a moldar o modo como os sujeitos irão pensar e conceber o mundo, como utilitários, descartáveis. Em nenhum momento as reformas propõem transformações significativas na área pedagógica, bem como no aumento do aporte de recursos para o financiamento da educação básica, embora os documentos como PNE, tenham isso como prerrogativa, com a destinação de 10% do PIB, até 2024. 
Prof. Jairo Cezar                       


IMPRUDÊNCIA NA GESTÃO DO PARQUE ECOLÓGICO MARACAJÁ

Aproveitando o dia ensolarado de domingo, 13 de maio data comemorativa ao dia das mães fomos visitar o Parque Ecológico Maracajá, considerado atrativo para quem procura tranqüilidade e contato com espécies da fauna e flora silvestre do Bioma Mata Atlântica.  O que não esperávamos naquele domingo à tarde era encontrar centenas de pessoas transitando ao mesmo tempo pelas dependências do parque. Antes de iniciarmos o tour pelas trilhas, visitamos os alojamentos ou viveiros, distribuídos um ao lado do outro, dos quais acomodavam espécies da mata atlântica, aves, anfíbios e mamíferos resgatados de caçadores ou que tenham sofrido algum ferimento. Chamou a atenção de não termos avistarmos junto aos alojamentos dos animais, nenhum monitor ou fiscal, alertando ou informando as pessoas sobre como deveriam se comportar no interior do parque e nas trilhas.


De imediato constatamos que algumas melhorias haviam sido efetuadas no parque, dentre alas a criação de novas trilhas. No início da caminhada alertei o grupo que me acompanhava para que se mantivessem em silêncio, pois iríamos nos deslocar por ambientes sensíveis habitados por animais silvestres, sendo que o barulho geraria um possível estresse que alteraria suas condutas habituais. Quando nos dirigimos à passarela, bem no início já era possível ouvir conversas, gargalhadas, gritos, produzidas por centenas de pessoas que congestionavam todas as passagens.


Já no interior da floresta, em nenhum momento foi possível manter-se relaxado ou em harmonia como o ambiente, ouvir o som do vento, das folhas e do silêncio, pois ambos eram quebrados pelas centenas de vozes produzidas pela multidão e pelos agitados macacos pregos, que quase atacavam os transeuntes na expectativa de obter algum alimento ou fragmento de alimento deixado pelo caminho, que é proibido. Mais uma vez, no trecho das passarelas, nenhum monitor foi avistado, provando que o parque ecológico do Maracajá necessita urgentemente de uma atenção especial das autoridades competentes, exigindo o cumprimento do que rege a legislação reguladora de parques.


Mas as incongruências não se limitaram apenas à falta de monitores, alimentação dos macacos e ao barulho, outras tantas irregularidades foram pontuadas em vários pontos do parque. Podemos até abrir exceção acerca do barulho produzido pelos visitantes, podendo ser reparado com ações do tipo educação ambiental. No entanto,  quando o problema é agrotóxico, que está sendo aplicado em vários pontos do parque (margem dos açudes, trilhas e no entorno das árvores) para eliminar gramíneas, aí a situação se caracteriza como  muito preocupante. Não há como manter-se indiferente a tais absurdos, pois são aditivos químicos extremamente  perniciosos a ecossistemas frágeis como é o Bioma da Mata Atlântica.




O que é consenso é que em nenhum momento nos colocamos contrários aos parques ou a qualquer outro sistema similar como Unidades de Conservação, que visam a preservação de ecossistemas. O que não concordamos é a forma imprudente, negligente, como certos parques ou unidades de conservação são gestados, que em nada contribui para o desenvolvimento sustentável e a melhora da qualidade de vida da sociedade  



Prof. Jairo Cezar   












             

segunda-feira, 14 de maio de 2018


A BNCC E AS CONTRADIÇÕES QUE CERCAM A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Há poucos dias o telejornal hoje da rede globo exibiu reportagem expondo as mudanças na educação básica com a homologação da aprovação da nova base BNCC (Base Nacional Curricular Comum) e o quadro estrutural estarrecedor de escolas públicas de dois estados da federação, que a partir de 2019 deverão incluir nos seus currículos as novas diretrizes de ensino conforme determina a base nacional. Talvez o que os integrantes do governo catarinense não esperavam era de o jornal trazer a público, no começo da reportagem, a terrível realidade de duas escolas estaduais, ambas no município de Palhoça, com forro quase desabando e banheiros impraticáveis para o uso.
O que deve ter causado mais humilhação ao governo catarinense foi a entrevista com o um membro do MPE, onde revelou que há cinco anos o Estado vem sendo alertado do problema, que por não ter tomado as devidas ações reparatórias, a justiça decidiu bloquear cerca de 3 milhões das contas do tesouro, dinheiro que será utilizado na recuperação das duas unidades de ensino. O estado do Mato Grosso também foi matéria da reportagem. Foram exibidas escolas que mais parecem cachoeiras em dias de chuva, com torneiras quebradas, salas superlotadas e infestadas por morcegos. A proposta do governo federal com a nova BNCC é padronizar o ensino em todo Brasil, que incluirá escolas públicas e particulares.
No entanto, nos últimos cinco anos, de acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional, os investimentos em educação pública caíram vergonhosamente a um patamar de 65% a menos. Diferente do Brasil, muitos países que apresentam bons rendimentos educacionais, estudos comprovam que isso tem relação direta com investimentos públicos em níveis básicos de ensino. Enquanto no Brasil, o custo aluno/ano é de 8.400 dólares, nos EUA são disponibilizados 11 mil dólares, e na Suíça 15 mil, ambos, aluno/ano. Agora quando o assunto é investimentos por aluno nas escolas brasileiras, nas redes particulares e públicas, a diferença entre ambas é assustadora. Observe o tamanho do abismo.
Quase a totalidade das escolas particulares o custo aluno/mês é superior a dois mil reais. Nas públicas, não alcança nem os míseros quinhentos reais. Sem investimentos pesados em educação básica pública não há como uma BNCC alcançar os resultados pretendidos e propagandeados pelo governo através da mídia, exibindo escolas bem equipadas, coloridas, estudantes empolgados, felizes. A realidade das escolas, portanto, é bem diferente daquela mostrada pelas mídias, que abocanham dos cofres públicos milhões de reais. É muito fácil revelar a farsa dos governos, basta visitar uma das escolas públicas municipais ou estaduais em qualquer bairro no Brasil, e verificar em loco o tamanho dos absurdos.  
   O Brasil mesmo é um país surreal. Enquanto os investimentos públicos em educação básica pouco ultrapassam os 5.500 reais, aluno/ano, no nível superior os investimentos são três vezes maior, alcançando os 21. 875 ao ano. Esses números revelam o quanto o Brasil ainda precisa caminhar para superar suas deficiências no seguimento educacional. Não há dúvida, se os desequilíbrios orçamentários permanecerem, bem como os desvios de finalidades e a corrupção generalizada, não há qualquer expectativa otimista de que o PNE (Plano Nacional de Educação), BNCC, PPP (Projeto Político Pedagógico), entre outras, consigam impedir o caminho perigoso para o caos que está seguindo a educação básica brasileira.
Prof. Jairo Cezar             

quinta-feira, 10 de maio de 2018


A ARTE DE SER UM GUIA DE UM SER NA TERRA


A humanidade no seu turbulento caminho evolutivo passou por diferentes e complexos estágios adaptativos. Dentre as várias espécies que habitam o planeta, o ser humano é a única capaz de criar e aprimorar ferramentas indispensáveis à sua sobrevivência.  Na sua difícil jornada de construção e desconstrução individual e coletiva, aspectos como intuição, emoção e espiritualidade passaram a ser moldados a partir dos espaços territoriais. Do mesmo modo que há vertentes humanas compartilhando hábitos e costumes comuns, a formação ética e moral, na maioria das culturas, seguiram e seguem regras parecidas de conduta, muitas das quais sistematizadas por forças metafísicas, sobrenaturais (deus, espíritos, energias cósmicas, etc).
Hoje no planeta cinco ou seis religiões convergem cerca de 2/3 da humanidade. O que é intrigante é o fato de o ser humano se sentir tão atraído pelo sobrenatural, pelo místico, ao ponto de desejar anular a sua própria essência de sujeito de livre arbítrio. Seria uma forma inconsciente de querer se anular, se eximir do seu desafio existencial, de enfrentar as barreiras durante sua jornada de vida? Muitos dos problemas que afetam milhões de pessoas no mundo inteiro têm a sua raiz primordial nas religiões, que impõem regras morais rígidas, inflexíveis, anulando pulsações vitais ao crescimento interior.
Além do fator religioso algumas sociedades ocidentais foram alicerçadas seguindo padrões funcionais de comportamento e de produção. Depois de séculos, a ciência frustrou seus idealizadores que alimentavam as expectativas de que o avanço da tecnologia reverteria o tremendo abismo social predominante. A incapacidade de encontrar respostas às frustrações e as muitas dúvidas não respondidas pela ciência e religiões, vem desafiando os sujeitos em vasculhar culturas e até mesmo as já extintas, na tentativa desesperadora de descobrir o elo necessário à felicidade plena.
É verdadeiro que as inovações tecnológicas não foram suficientes para tornar o planeta mais seguro, muito pelo contrário, não se têm registro na história recente, episódios tão conturbados como o atual, que está colocando a humanidade em condição de risco de extinção.  Diante do imenso turbilhão de incertezas e tensões que se abatem sobre grupos sociais guiados pelo consumo, a conexão com outras culturas milenares, as indígenas e as orientais, vêm se materializando, expandindo a consciência, até mesmo a regeneração da essência humana.
Mas toda essa transformação não ocorre espontaneamente entre indivíduos dominados por crenças ditas superiores. O que estiver incompatível às leis da natureza, deve ser questionado ou rechaçado, diz a lei da razão. A experimentação, o uso da razão, dos sentidos, são condicionantes elementares para atingir a "verdade". Portanto, como ousar duvidar de certezas testadas, controladas nos laboratórios? Como aceitar que os elementos vivos que compartilham do mesmo espaço habitado pelo ser humano são resultantes de uma energia cósmica imensurável, ilimitada. Os céticos afirmam que tudo faz parte da especulação e devaneios da mente humana.
Os próprios doutores, mesmo diante de todo cabedal de conhecimento acumulado não conseguem responder os mistérios que dominam a mente humana. No campo da medicina, há tempo, profissionais estão incluindo nos seus manuais, métodos de tratamento e cura dispensando substâncias alopáticas, sintetizadas em laboratórios. Ioga, imposição das mãos, acumpultura, raike, sinergia, entre outras, atraem dia após dia milhões de novos adeptos na busca frenética de respostas às angustias e frustrações não respondidas pela razão. Pode estar na expansão consciente da mente o pedaço do "elo" que faltava à tão desejada plenitude. Aqui não se trata do elo diluído em doutrinas, dogmas, tradições, verdades absolutas, etc. O processo vai além, ultrapassa os limites da razão e da fé, atingindo os campos desconhecidos da mente.
Isso é o que chamamos sabedoria ou consciência ilimitada, que se manifesta em cada um a partir do instante  que nos permitimos, nos colocamos abertos às forças intangíveis do cosmo (ser superior), ou o que cada desejar imaginar. É essa tal energia vital que tudo faz movimentar, tornar o ser humano melhor e bem estruturado se a arrogância e a prepotência não ocupassem tanto espaço na mente.  Para atingir a plenitude, o ritual preparatório deve começar anterior a concepção de um novo ser. Os povos antigos tinham isso muito claro,  sabiam que uma sociedade estruturada deveria começar antes da concepção. Quem desejasse conceber uma criança teria primeiro que consultar um visionário, o Faraó, pois era o único com condições de decidir se o casal poderia ou não ter um filho.
Hoje em dia, 90% dos problemas que assolam uma sociedade, ocorrem devido ao despreparo dos pais na hora da concepção. No ocidente o período de gestação de uma criança é pouco considerado, pois acreditam que fatores externos, ambientais, não refletem na formação integral do bebê. O que é verdadeiro é que tudo o que sentimos e falamos são absorvidos integralmente pelo bebê ainda no útero de sua mãe. Talvez pelo despreparo e rejeição ao ser fecundado, milhões de pessoas no mundo atualmente sejam acometidas por distúrbios emocionais e violência.
Pesquisas realizadas nos EUA comprovam que 75% dos apenados masculinos sofreram alguma violência ou rejeição durante a infância. Quando uma criança chega ao mundo já se depara com indivíduos totalmente despreparados, a começar pelos próprios médicos que se comportam como se o ser que nasceu fosse um objeto descartável. É no período das seis horas após o parto que a criança deve receber as atenções mais elementares, pois o seu cérebro está num estágio aguçado de sensibilidade a tal ponto de poder absorver tudo que se passa ao seu redor, até mesmo sentimentos não verbalizados por aqueles que estão ao seu entorno.
Como habitante da terra, a missão da cada um no planeta é deixá-la um pouco melhor para os que virão depois. Porém, os acontecimentos dão sinais de que nosso pacto com o universo quando formos concebidos não está sendo cumprido. Talvez porque muitos que estão no planeta não foram preparados para esse desafio, muito menos desejados por quem os concebeu. Cada ser humano que peregrina pelos quatro cantos da terra, foi uma idealização, um projeto inacabado.
Poucos se dão conta de que estão no planeta de passagem, um breve momento para aprender, ensinar, evoluir, pois logo todos terão de partir. Durante o tempo que vivemos na terra nossa tarefa é expandir a consciência para alcançar a plenitude, a felicidade. Entretanto, o que o ser humano conseguiu com sucesso na curta fração de tempo de ocupante do planeta foi tornar sua vida infernal quase insuportável. São situações que podem ser superadas, ainda há tempo, se transformações acontecerem dentro de cada um. A compreensão de que não somos melhores que outros seres vivos, que devemos devolver a terra melhor do que herdamos, são condições elementares para tornar nossa vida suportável.
Prof. Jairo Cezar