UM POUCO DA CULTURA E DO PATRIOTISMO DO
POVO RUSSO
Em 2015
tive a felicidade de visitar a Rússia, mais precisamente as cidades de São Petersburgo e Moscou. Sei que
uma semana no país é muito pouco tempo para conhecer sua extraordinária
cultura. Entretanto, em São Petersburgo foi possível visitar os palácios de
inverno e verão onde a família real, os Romanov viveram por quase 300 anos. Já
em Moscou, além do Kremlin, sede do
governo e a fabulosa igreja de São Nicolau, conhecer o famoso e luxuoso metro subterrâneo é obrigação de todo o
visitante. Como professor de história sempre foi um desafio abordar a complexa trajetória
histórica de um país tão imenso territorialmente e tão diverso culturalmente. O
fato é que muita gente ainda hoje tem no seu imaginário uma Rússia representada
pelos filmes holywoodianos, mostrada como uma nação vilã, má, que deveria ser destruída
pelas forças do bem.
Na capital Moscou, transitando pelas gigantescas ruas e avenidas, observei nos edifícios, prédios públicos e outros espaços de grande circulação de pessoas, o enorme número de bandeiras do país hasteadas. Questionei-me qual a razão da Rússia também exibir tantas bandeias. Seria uma imposição do Estado Russo para impressionar ocidente ou algo que realçava o sentimento de identidade e autodeterminação do próprio povo Russo?
Se
pesquisarmos a história russa, podemos concluir que há milhões de motivos que
justificam tantas bandeiras hasteadas, talvez muito mais que aquelas vistas nos
filmes americanos, que pouco refletem à realidade. Desde os primórdios, para
sobreviver, a população russa sempre teve de enfrentar longas e terríveis
adversidades climáticas e intermináveis domínios de latifundiários e dos
czares, que sempre procuravam manter a população sob severas condições de
servidão/escravidão. Mesmo depois da queda das seculares monarquias, de ter vivenciado
uma curta experiência do socialismo revolucionário até 1923, data da morte de
Lenin, a população novamente viveu o pesadelo de uma nova fase de servidão,
agora sob a bandeira do socialismo soviético Stalinista.
A
segunda Guerra Mundial foi também outro episódio amargo enfrentado pelos russos
que provocou à morte de milhões de pessoas. Dentre os episódios marcantes desse
período destacam o Cerco de Lenigrado e a Batalha de Stalingrado. Este último
acontecimento foi certamente o que contribuiu para a derrota do nazismo e o
começo do fim da segunda guerra. Na batalha de Stalingrado, os alemães tiveram
sua primeira e decisiva derrota. No retorno para Berlin, a capital Alemã foi
ocupada pelas forças aliadas.
Quanto
ao plano de Hitler, a segunda guerra mundial tinha como propósito a
germanização de todo continente Europeu e, possivelmente, os demais
continentes. Com suas investidas vitoriosas na parte sul, oeste e norte do
continente, o plano de Hitler agora era expandir para o leste onde lhe daria o
controle de vasta área sob influência do estado soviético. Paradoxalmente, em
1939, a Alemanha e União Soviética selaram pacto de não agressão, fato que
contribuiu para o fortalecimento das relações comerciais entre ambos. Todos
acreditavam que o respectivo acordo não se perpetuaria pelo fato dos dois
estadistas, Hitler e Stalin, se odiarem.
Seguindo
essa lógica expansionista, Stalin, acreditando que o território da URSS seria
invadido pelas tropas de Hitler, deu início ao processo de anexação dos países
como Letônia, Estônia, Polônia, Romênia, Hungria, entro ouras a república
socialista soviética. No entanto o tratamento de Stalin com essas populações
foram de tal modo brutal que quando o exército de Hitler ocupou seus
territórios, a população os recebeu com festas, acreditando que a postura dos
nazistas seria mais respeitosa que do estadista russo. Ledo engano.
Hitler
acreditava que a etnia germânica era superior a outras tantas etnias, fato que
levou ao desencadeamento de uma brutal perseguição aos judeus, ciganos, negros,
entre outras etnias, cujo propósito era promover uma limpeza étnica. A invasão da Rússia pela Alemanha e seus
aliados tinha como propósito assegurar o controle das fabulosas reservas de gás
natural e petróleo, das jazidas de minerais e dos férteis campos agrícolas. Com
isso garantiria a concretização do seu plano de formação de um grande império
germânico, com duração de mil anos.
Para
os nazistas, os russos se constituíam como uma raça inferior, que deveriam ser
subjugados ou exterminados, sendo essa uma das pretensões de Hitler caso
ocupasse a Rússia. Admitia também, que a Rússia, durante sua existência, obteve
algum progresso econômico e social, isso se deve não ao dinamismo e a inteligência
do seu povo, mas ao empreendedorismo de alguns de seus líderes como Pedro, o
grande, Catarina, a grande, ambos de descendência prussiana. Quanto ao
comunismo, tal regime tinha de ser combatido, pelo fato do seu idealizador,
Karl Marx, ter sangue judeu, sendo sei avô paterno um rabino. Portando, o
comunismo era um modelo contaminado pela praga judaica, na visão de Hitler.
Paradoxalmente,
a investida alemã e de seus aliados na Rússia, não era visto com tanta
repugnância pelos demais países europeus com a Inglaterra, França, bem como
pelos Estados Unidos. Embora a pretensão fosse derrotar o furor nazista, uma
possível vitória da Rússia no conflito traria alguns dissabores futuros, pois
certamente daria continuidade ao seu projeto expansionista a oeste do continente.
Todo o empenho lançado por Hitler em tentar construir uma imagem negativa da
população russa, sub-humanos, indolentes, da necessidade de germanizá-las, caiu
por terra na batalha de Stalingrado, quando Hitler sentiu o poderio da máquina
de guerra russa. Se o exército alemão não tivesse tido um comportamento tão
brutal com as populações dos países ocupados das quais o recebeu de braços
abertos, o conflito teria tomado outro rumo, certamente a Rússia não teria tido
a mesma sorte.
A
ocupação de Berlin pelos aliados e que resultou na derrota definitiva de
Hitler, proporcionou ao estado soviético Status de grandeza e poder sobre a
Europa e o mundo, do qual confrontaria com os interesses geopolíticos dos
Estados Unidos. Tais disputas geopolíticas e ideológicas entre ambos fez com
que fosse construída na Europa uma enorme barreira divisória, separando os
países que integravam ao Socialismo Soviético dos demais países ocidentais
capitalistas, liderado pelos Estados Unidos. Esse foi o período da guerra fria
que perdurou entre 1953 a 1991. Com a derrocada do socialismo, as repúblicas
que integravam a união soviética iniciam seu processo de luta pela
independência, sendo que outras como a Chechênia ainda sofrem a resistência do
governo russo de não atender a reinvindicação da população.
Nos
últimos meses o problema vem se dando na Ucrânia, especialmente em relação à
disputa do território da Criméia, que em 2014 a população decidiu, por meio de
um referendo, pela separação da Ucrânia e sua integração à Rússia. É importante
destacar que a Criméia tem a sua população majoritariamente Russa, que o
referendo é questionado por muitos países pelo fato de não ter permitido a
participação da população ucraniana no processo decisório. Aqui começa um imbróglio
político entre russos e ucranianos que se estenderá até 24 de fevereiro de 2022
quando os Russos iniciam a invasão de Kiev, na tentativa de depor o presidente
do país, pró ocidente.
Prof.
Jairo Cesa