sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

 

UM POUCO DA CULTURA E DO PATRIOTISMO DO POVO RUSSO



Em 2015 tive a felicidade de visitar a Rússia, mais precisamente as  cidades de São Petersburgo e Moscou. Sei que uma semana no país é muito pouco tempo para conhecer sua extraordinária cultura. Entretanto, em São Petersburgo foi possível visitar os palácios de inverno e verão onde a família real, os Romanov viveram por quase 300 anos. Já em Moscou, além do Kremlin,  sede do governo e a fabulosa igreja de São Nicolau, conhecer o famoso e luxuoso  metro subterrâneo é obrigação de todo o visitante. Como professor de história sempre foi um desafio abordar a complexa trajetória histórica de um país tão imenso territorialmente e tão diverso culturalmente. O fato é que muita gente ainda hoje tem no seu imaginário uma Rússia representada pelos filmes holywoodianos, mostrada como uma nação vilã, má, que deveria ser destruída pelas forças do bem.   

Na capital Moscou, transitando pelas gigantescas ruas e avenidas, observei nos edifícios, prédios públicos e outros espaços de grande circulação de pessoas, o enorme número de bandeiras do país hasteadas. Questionei-me qual a razão da  Rússia também exibir tantas bandeias. Seria uma imposição do Estado Russo para impressionar ocidente ou algo que realçava o sentimento de identidade e autodeterminação do próprio  povo Russo?

Se pesquisarmos a história russa, podemos concluir que há milhões de motivos que justificam tantas bandeiras hasteadas, talvez muito mais que aquelas vistas nos filmes americanos, que pouco refletem à realidade. Desde os primórdios, para sobreviver, a população russa sempre teve de enfrentar longas e terríveis adversidades climáticas e intermináveis domínios de latifundiários e dos czares, que sempre procuravam manter a população sob severas condições de servidão/escravidão. Mesmo depois da queda das seculares monarquias, de ter vivenciado uma curta experiência do socialismo revolucionário até 1923, data da morte de Lenin, a população novamente viveu o pesadelo de uma nova fase de servidão, agora sob a bandeira do socialismo soviético Stalinista.

A segunda Guerra Mundial foi também outro episódio amargo enfrentado pelos russos que provocou à morte de milhões de pessoas. Dentre os episódios marcantes desse período destacam o Cerco de Lenigrado e a Batalha de Stalingrado. Este último acontecimento foi certamente o que contribuiu para a derrota do nazismo e o começo do fim da segunda guerra. Na batalha de Stalingrado, os alemães tiveram sua primeira e decisiva derrota. No retorno para Berlin, a capital Alemã foi ocupada pelas forças aliadas.

Quanto ao plano de Hitler, a segunda guerra mundial tinha como propósito a germanização de todo continente Europeu e, possivelmente, os demais continentes. Com suas investidas vitoriosas na parte sul, oeste e norte do continente, o plano de Hitler agora era expandir para o leste onde lhe daria o controle de vasta área sob influência do estado soviético. Paradoxalmente, em 1939, a Alemanha e União Soviética selaram pacto de não agressão, fato que contribuiu para o fortalecimento das relações comerciais entre ambos. Todos acreditavam que o respectivo acordo não se perpetuaria pelo fato dos dois estadistas, Hitler e Stalin, se odiarem.

Seguindo essa lógica expansionista, Stalin, acreditando que o território da URSS seria invadido pelas tropas de Hitler, deu início ao processo de anexação dos países como Letônia, Estônia, Polônia, Romênia, Hungria, entro ouras a república socialista soviética. No entanto o tratamento de Stalin com essas populações foram de tal modo brutal que quando o exército de Hitler ocupou seus territórios, a população os recebeu com festas, acreditando que a postura dos nazistas seria mais respeitosa que do estadista russo. Ledo engano.

Hitler acreditava que a etnia germânica era superior a outras tantas etnias, fato que levou ao desencadeamento de uma brutal perseguição aos judeus, ciganos, negros, entre outras etnias, cujo propósito era promover uma limpeza étnica.  A invasão da Rússia pela Alemanha e seus aliados tinha como propósito assegurar o controle das fabulosas reservas de gás natural e petróleo, das jazidas de minerais e dos férteis campos agrícolas. Com isso garantiria a concretização do seu plano de formação de um grande império germânico, com duração de mil anos.

Para os nazistas, os russos se constituíam como uma raça inferior, que deveriam ser subjugados ou exterminados, sendo essa uma das pretensões de Hitler caso ocupasse a Rússia. Admitia também, que a Rússia, durante sua existência, obteve algum progresso econômico e social, isso se deve não ao dinamismo e a inteligência do seu povo, mas ao empreendedorismo de alguns de seus líderes como Pedro, o grande, Catarina, a grande, ambos de descendência prussiana. Quanto ao comunismo, tal regime tinha de ser combatido, pelo fato do seu idealizador, Karl Marx, ter sangue judeu, sendo sei avô paterno um rabino. Portando, o comunismo era um modelo contaminado pela praga judaica, na visão de Hitler.

Paradoxalmente, a investida alemã e de seus aliados na Rússia, não era visto com tanta repugnância pelos demais países europeus com a Inglaterra, França, bem como pelos Estados Unidos. Embora a pretensão fosse derrotar o furor nazista, uma possível vitória da Rússia no conflito traria alguns dissabores futuros, pois certamente daria continuidade ao seu projeto expansionista a oeste do continente. Todo o empenho lançado por Hitler em tentar construir uma imagem negativa da população russa, sub-humanos, indolentes, da necessidade de germanizá-las, caiu por terra na batalha de Stalingrado, quando Hitler sentiu o poderio da máquina de guerra russa. Se o exército alemão não tivesse tido um comportamento tão brutal com as populações dos países ocupados das quais o recebeu de braços abertos, o conflito teria tomado outro rumo, certamente a Rússia não teria tido a mesma sorte.

A ocupação de Berlin pelos aliados e que resultou na derrota definitiva de Hitler, proporcionou ao estado soviético Status de grandeza e poder sobre a Europa e o mundo, do qual confrontaria com os interesses geopolíticos dos Estados Unidos. Tais disputas geopolíticas e ideológicas entre ambos fez com que fosse construída na Europa uma enorme barreira divisória, separando os países que integravam ao Socialismo Soviético dos demais países ocidentais capitalistas, liderado pelos Estados Unidos. Esse foi o período da guerra fria que perdurou entre 1953 a 1991. Com a derrocada do socialismo, as repúblicas que integravam a união soviética iniciam seu processo de luta pela independência, sendo que outras como a Chechênia ainda sofrem a resistência do governo russo de não atender a reinvindicação da população.

Nos últimos meses o problema vem se dando na Ucrânia, especialmente em relação à disputa do território da Criméia, que em 2014 a população decidiu, por meio de um referendo, pela separação da Ucrânia e sua integração à Rússia. É importante destacar que a Criméia tem a sua população majoritariamente Russa, que o referendo é questionado por muitos países pelo fato de não ter permitido a participação da população ucraniana no processo decisório. Aqui começa um imbróglio político entre russos e ucranianos que se estenderá até 24 de fevereiro de 2022 quando os Russos iniciam a invasão de Kiev, na tentativa de depor o presidente do país, pró ocidente.

Prof. Jairo Cesa

 

 

 

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