quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

 

O QUE É NECESSÁRIO SABER SOBRE O "CONFLITO" ENVOLVENDO RÚSSIA E UCRÂNIA

O assassinato do arquiduque Ferdinando da Servia em 1914 foi o estopim que resultou o inicio da Primeira Guerra Mundial.  Mais de um século depois, a Ucrânia aparece no cenário internacional envolvida num imbróglio de disputas geopolíticas entre as duas potencias bélicas e econômicas mundiais, EUA e RÚSSIA. O fato é que na hipótese de haver um conflito, certamente será o último, pois o poder de destruição dessas potencia envolvido são suficientes para destruir o planeta várias vezes.

A Ucrânia geograficamente está situada no centro da Europa, principal fronteira ou porta de entrada e saída entre o ocidente e oriente. O país é visto hoje como se fosse a Berlin do pós segunda guerra, onde um grande muro foi construído separando a União Soviética (socialista) e o resto do mundo ocidental (capitalismo).  O fim dessa barreira representou o fim da guerra fria e, portanto, o restabelecimento da supremacia ocidental liderada pelos Estados Unidos.



Os atentados terroristas de 11 de setembro nos EUA puseram um freio na hegemonia Norte Americana. China, Irã, Rússia, entre outras nacionalidades aparecem no cenário mundial como novas potências bélicas contrabalançando o furor ocidental. Outro fato importante ocorrido após o fim da segunda guerra foi à criação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma espécie de escudo militar invisível na Europa para proteção mútua entre os aliados.  A China, entretanto, nos últimos anos vem se colocando como uma das grandes novidades.  Um pai gigantesco, com mais de um bilhão de pessoas e governado há décadas por um regime político centralizado, de repente se desponta como uma superpotência econômica e militar.

O poder de influência desse gigante é tão extraordinário que o mínimo de impacto na sua economia é capaz de abalar as bolsas no mundo inteiro. Atualmente a China é um dos maiores importadoras de commoditys, recursos minerais são um deles. Regiões como a América do Sul que no passado recente tinham os Estados Unidos como um dos principais importadores de produtos primários, hoje tem a China, uma rota economicamente relevante. Não bastasse a China, a Rússia também começa dar sinais de reafirmação geopolítica na Europa. Agora tem um aliado importante, a própria China.

Diante dessa real ameaça geopolítica, os Estados Unidos começam a articular plano para conter os dois gigantes e proteger domínios sobre a Europa e o mundo. Tendo agora um governo ucraniano como aliado político, o país demonstra interesse em integrar-se a OTAN. Inserir a Ucrânia nessa organização militar deixaria a Rússia em uma situação extremamente frágil geopoliticamente.

O fato é que uma nova guerra fria está se regenerando na região. Parece que toda a retórica lançada sobre esse episódio sinaliza que há condições concretas de um confronto armado. Em 2014, depois de meses de protestos e mortes, o governo da Ucrânia, pró Rússia, renunciou o posto de presidente. Novas eleições ocorreram no país e o eleito foi um presidente com discursos defendendo a aproximação com a Europa Ocidental.  A eleição de Zelensky acendeu a luz vermelha do Kremlin, reconhecendo-o como uma grande ameaça a soberania russa na região.

A perda de um pedaço de seu território, Criméia, pela Rússia intensificou ainda mais as tensões entre as populações ucranianas e separatistas russos. O governo Putin enviou para Belarus, pais aliado e que faz fronteira com a Ucrânia, milhares de soldados e armamentos suficientes para uma invasão.  Não há dúvida que uma guerra nessa região poderá arruinar gravemente a economia já combalida da Europa e do mundo todo.

A Alemanha, país fronteiriço e principal potência econômica europeia se encontra no meio desse imbróglio.  A resposta está no fato de o país depender majoritariamente do gás importando da Rússia. Um conflito agora comprometeria o abastecimento arruinando de vez a economia. O que deve ser considerado nesse conflito é que caso as nações litigantes chegarem a um acordo, as tensões na região permanecerão.



 Todos os envolvidos têm clareza que qualquer resultado ali trará transformações significativas à região e o planeta para os próximos séculos. Se a Rússia sair vitoriosa, as portas da Europa estarão escancaradas para sua escalada econômico/militar, acompanhada, é claro, de seu principal aliado, à China. Na hipótese de derrota, fortalecerá os Estados Unidos e seus aliados direto.

Há algo que deve ser considerado nesse imbróglio político. O desmembramento dos territórios de Luhansk e Donestk da Ucrânia há poucos dias, atitude violentamente condenada pelo Ocidente/Estados Unidos é algo que deve ser refletido com ponderação.  O fato é que os Estados Unidos não tem moral para impor tais críticas à Rússia por estar por trás dessas ações de independência das duas repúblicas. Há décadas os Estados Unidos vem apoiando descaradamente governos israelenses que promovem verdadeiras atrocidades contra palestinos. Dia após dia o governo de Tel Aviv vem estimulando colonos judeus a se instalarem em territórios palestinos, incitando à violência.  



Quero aqui deixar claro que não estou defendendo o governo Putin de querer invadir a Ucrânia. Muito pelo contrário, sempre repudiei todas as formas violentas que colocam em risco milhares de vidas principalmente civis. Deixar claro que o interesse pela Ucrânia é muito mais que fatores geopolíticos. A capital da Ucrânia, Kiev, foi no passado à capital da Rússia. Com o fim da URSS, a Ucrânia conseguiu sua independência. Entretanto, parte da população a leste do país é majoritariamente de etnia russa, e a oeste, ucranianos.

A península da Criméia foi um presente do ex-líder soviético Nikita Krushehov à Ucrânia, quando ainda o país fazia parte da Uni são Soviética. A anexação da península ao território russo em 2014 representou o restabelecimento do domínio russo sobre a região, área que dá acesso ao mar negro. A Ucrânia tem um grande território, sendo o país cortado por dezenas de dutos que transportam gás natural da Rússia para diversos países da Europa.  Além do mais a Ucrânia tem uma indústria pujante e um solo extremante fértil quase auto-suficiente em termos agrícolas.  

Controlar territorialmente esse país pelos russos lhe credenciará ainda mais como potência elevando sua respeitabilidade sobre a Europa Ocidental. É obvio que a integrar a Ucrânia a OTAN traz riscos claros a Rússia. Todos devem lembrar-se do fato ocorrido em Cuba na década de 1960 quando foram instaladas na ilha bases para lançamento de mísseis nucleares. Por pouco não se configurou em um estopim para desencadear um conflito nuclear generalizado.

Tudo leva a crer que fato semelhante ao de Cuba tende a se repetir, agora na Ucrânia. Uma Ucrânia integrada a OTAN permitirá aos EUA instalar naquele país bases militares contendo ogivas nucleares que rapidamente atingiriam a capital Moscou.  Será que estamos prestes de colocar um fim definitivo na existência humana na terra? Que a história seja nossa aliada nesse momento tão conturbado que vivemos.   

Parece que a Rússia não está muito preocupada de um possível embargo econômico semelhante ao que acontece em Cuba, Venezuela e Irã, patrocinado pelos Estados Unidos. Diferente dos demais, a Rússia tem bilhões em reservas de dinheiro e quase tudo que precisa para manter sua economia estável. Por incrível que pareça o país aparentemente é favorecido pelo aquecimento global. Áreas que até então sofriam com invernos terríveis e longos, no caso da Sibéria, os solos estão sendo utilizado para o cultivo de trigo, podendo se tornar o maior produto do mundo.

Esse fenômeno não se repete de forma semelhante na América do Norte e América do Sul. Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil o aquecimento global está arruinando tal cultura em decorrência das frequentes e longas estiagens. Seguindo essa lógica, num futuro muito próximo tanto os Estados Unidos quanto o resto do mundo tornar-se-ão ainda mais dependentes da Rússia para saciar a fome das suas populações.

Prof. Jairo Cesa

  

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/o-que-putin-quer-com-a-ucrania-veja-a-explicacao-do-conflito/

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/02/21/mapa-conflito-ucrania-russia.ghtml

 

 

 

                    

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