O
QUE É NECESSÁRIO SABER SOBRE O "CONFLITO" ENVOLVENDO RÚSSIA E UCRÂNIA
O
assassinato do arquiduque Ferdinando da Servia em 1914 foi o estopim que
resultou o inicio da Primeira Guerra Mundial.
Mais de um século depois, a Ucrânia aparece no cenário internacional
envolvida num imbróglio de disputas geopolíticas entre as duas potencias bélicas
e econômicas mundiais, EUA e RÚSSIA. O fato é que na hipótese de haver um
conflito, certamente será o último, pois o poder de destruição dessas potencia envolvido
são suficientes para destruir o planeta várias vezes.
A
Ucrânia geograficamente está situada no centro da Europa, principal fronteira
ou porta de entrada e saída entre o ocidente e oriente. O país é visto hoje
como se fosse a Berlin do pós segunda guerra, onde um grande muro foi
construído separando a União Soviética (socialista) e o resto do mundo
ocidental (capitalismo). O fim dessa
barreira representou o fim da guerra fria e, portanto, o restabelecimento da
supremacia ocidental liderada pelos Estados Unidos.
Os
atentados terroristas de 11 de setembro nos EUA puseram um freio na hegemonia
Norte Americana. China, Irã, Rússia, entre outras nacionalidades aparecem no
cenário mundial como novas potências bélicas contrabalançando o furor
ocidental. Outro fato importante ocorrido após o fim da segunda guerra foi à
criação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma espécie de
escudo militar invisível na Europa para proteção mútua entre os aliados. A China, entretanto, nos últimos anos vem se
colocando como uma das grandes novidades.
Um pai gigantesco, com mais de um bilhão de pessoas e governado há
décadas por um regime político centralizado, de repente se desponta como uma superpotência
econômica e militar.
O
poder de influência desse gigante é tão extraordinário que o mínimo de impacto na
sua economia é capaz de abalar as bolsas no mundo inteiro. Atualmente a China é
um dos maiores importadoras de commoditys, recursos minerais são um deles.
Regiões como a América do Sul que no passado recente tinham os Estados Unidos
como um dos principais importadores de produtos primários, hoje tem a China,
uma rota economicamente relevante. Não bastasse a China, a Rússia também começa
dar sinais de reafirmação geopolítica na Europa. Agora tem um aliado
importante, a própria China.
Diante
dessa real ameaça geopolítica, os Estados Unidos começam a articular plano para
conter os dois gigantes e proteger domínios sobre a Europa e o mundo. Tendo
agora um governo ucraniano como aliado político, o país demonstra interesse em
integrar-se a OTAN. Inserir a Ucrânia nessa organização militar deixaria a
Rússia em uma situação extremamente frágil geopoliticamente.
O
fato é que uma nova guerra fria está se regenerando na região. Parece que toda
a retórica lançada sobre esse episódio sinaliza que há condições concretas de
um confronto armado. Em 2014, depois de meses de protestos e mortes, o governo
da Ucrânia, pró Rússia, renunciou o posto de presidente. Novas eleições
ocorreram no país e o eleito foi um presidente com discursos defendendo a
aproximação com a Europa Ocidental. A
eleição de Zelensky acendeu a luz vermelha do Kremlin, reconhecendo-o como uma
grande ameaça a soberania russa na região.
A
perda de um pedaço de seu território, Criméia, pela Rússia intensificou ainda
mais as tensões entre as populações ucranianas e separatistas russos. O governo
Putin enviou para Belarus, pais aliado e que faz fronteira com a Ucrânia,
milhares de soldados e armamentos suficientes para uma invasão. Não há dúvida que uma guerra nessa região
poderá arruinar gravemente a economia já combalida da Europa e do mundo todo.
A
Alemanha, país fronteiriço e principal potência econômica europeia se encontra no
meio desse imbróglio. A resposta está no
fato de o país depender majoritariamente do gás importando da Rússia. Um
conflito agora comprometeria o abastecimento arruinando de vez a economia. O
que deve ser considerado nesse conflito é que caso as nações litigantes
chegarem a um acordo, as tensões na região permanecerão.
Todos os envolvidos têm clareza que qualquer resultado
ali trará transformações significativas à região e o planeta para os próximos
séculos. Se a Rússia sair vitoriosa, as portas da Europa estarão escancaradas
para sua escalada econômico/militar, acompanhada, é claro, de seu principal
aliado, à China. Na hipótese de derrota, fortalecerá os Estados Unidos e seus
aliados direto.
Há
algo que deve ser considerado nesse imbróglio político. O desmembramento dos territórios
de Luhansk e Donestk da Ucrânia há poucos dias, atitude violentamente condenada
pelo Ocidente/Estados Unidos é algo que deve ser refletido com ponderação. O fato é que os Estados Unidos não tem moral para
impor tais críticas à Rússia por estar por trás dessas ações de independência
das duas repúblicas. Há décadas os Estados Unidos vem apoiando descaradamente governos
israelenses que promovem verdadeiras atrocidades contra palestinos. Dia após
dia o governo de Tel Aviv vem estimulando colonos judeus a se instalarem em
territórios palestinos, incitando à violência.
Quero
aqui deixar claro que não estou defendendo o governo Putin de querer invadir a
Ucrânia. Muito pelo contrário, sempre repudiei todas as formas violentas que
colocam em risco milhares de vidas principalmente civis. Deixar claro que o
interesse pela Ucrânia é muito mais que fatores geopolíticos. A capital da Ucrânia,
Kiev, foi no passado à capital da Rússia. Com o fim da URSS, a Ucrânia
conseguiu sua independência. Entretanto, parte da população a leste do país é
majoritariamente de etnia russa, e a oeste, ucranianos.
A
península da Criméia foi um presente do ex-líder soviético Nikita Krushehov à Ucrânia,
quando ainda o país fazia parte da Uni são Soviética. A anexação da península ao
território russo em 2014 representou o restabelecimento do domínio russo sobre
a região, área que dá acesso ao mar negro. A Ucrânia tem um grande território,
sendo o país cortado por dezenas de dutos que transportam gás natural da Rússia
para diversos países da Europa. Além do
mais a Ucrânia tem uma indústria pujante e um solo extremante fértil quase auto-suficiente
em termos agrícolas.
Controlar
territorialmente esse país pelos russos lhe credenciará ainda mais como
potência elevando sua respeitabilidade sobre a Europa Ocidental. É obvio que a
integrar a Ucrânia a OTAN traz riscos claros a Rússia. Todos devem lembrar-se
do fato ocorrido em Cuba na década de 1960 quando foram instaladas na ilha bases
para lançamento de mísseis nucleares. Por pouco não se configurou em um estopim
para desencadear um conflito nuclear generalizado.
Tudo
leva a crer que fato semelhante ao de Cuba tende a se repetir, agora na
Ucrânia. Uma Ucrânia integrada a OTAN permitirá aos EUA instalar naquele país
bases militares contendo ogivas nucleares que rapidamente atingiriam a capital
Moscou. Será que estamos prestes de
colocar um fim definitivo na existência humana na terra? Que a história seja nossa
aliada nesse momento tão conturbado que vivemos.
Parece
que a Rússia não está muito preocupada de um possível embargo econômico semelhante
ao que acontece em Cuba, Venezuela e Irã, patrocinado pelos Estados Unidos.
Diferente dos demais, a Rússia tem bilhões em reservas de dinheiro e quase tudo
que precisa para manter sua economia estável. Por incrível que pareça o país aparentemente
é favorecido pelo aquecimento global. Áreas que até então sofriam com invernos
terríveis e longos, no caso da Sibéria, os solos estão sendo utilizado para o
cultivo de trigo, podendo se tornar o maior produto do mundo.
Esse
fenômeno não se repete de forma semelhante na América do Norte e América do
Sul. Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil o aquecimento global está
arruinando tal cultura em decorrência das frequentes e longas estiagens. Seguindo
essa lógica, num futuro muito próximo tanto os Estados Unidos quanto o resto do
mundo tornar-se-ão ainda mais dependentes da Rússia para saciar a fome das suas
populações.
Prof.
Jairo Cesa
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/02/21/mapa-conflito-ucrania-russia.ghtml
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