sábado, 6 de agosto de 2011

Uma breve reflexão acerca das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner
Prof - Jairo Cezar
A inteligência é um potencial biológico e está associada a capacidade de resolver problemas, desenvolver projetos que sejam socialmente úteis. É a partir desta compreensão que Gardner desenvolveu uma ampla pesquisa, de caráter empírico, e cujo resultado foi constatar que os indivíduos não possuem apenas uma inteligência, mas várias inteligências, na qual denominou de Inteligências Múltiplas, sendo elas: linguística, musical, corporal cinestésica, especial, interpessoal e intrapessoal.
Essas inteligências são as capacidades que o ser humano desenvolve para solucionar certos problemas decorridos no processo de sua existência. É importante ressaltar que as inteligências são múltiplas quando assume a idéia de que as pessoas são diferentes, que aprendem de forma distinta. No momento da criação ou da resolução de problemas, ela se manifesta, uma puxando a outra, numa combinação de inteligências, levando a criação e o aprendizado.
Além das sete inteligências múltiplas conhecidas, Gardner destacou outras, sendo elas a Inteligência naturalista ou ambientalista (pensar o meio de forma integrado) e a espiritual-meditação ( a fé como forma de cura).
As inteligências são independentes, localizam em pontos diferentes do cérebro, mas trabalham juntas. Ao longo da vida, as Inteligências se combinam para resolver problemas. Tanto Piaget como Vygotsky foram fundamentais na construção da teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner. No entanto, em relação a Piaget, Gardner criticou o construtivismo de Piaget, afirmando que o mesmo não estudou o desenvolvimento da inteligência humana em sentido amplo, mas no sentido lógico matemático.
Para que sua proposta obtenha resultados mais satisfatórios, Gardner deu muita importância à metodologia, partindo do princípio de que a educação deva ser personalizada, ou seja, o educador, quando em contado com os educando, deve olhar a todos e a cada um ao mesmo tempo. Pois, para as inteligências múltiplas, nenhum estudante deveria ficar para trás, entender que as crianças são diferentes, aprendem em tempos diferentes, de formas diferentes.
A aplicação de atividades diversificadas, de livre escolha, trocar experiências, reunir alunos de séries diferentes, são fundamentais para o aprendizado. É necessário eliminar o olhar classificatório, acusador. A avaliação, para Gardner, é uma lente para ajudar o professor a ensinar. Portanto, as inteligências múltiplas não têm a pretensão de testar, se observa, de forma empírica. Outro elemento importante nessa teoria é de que uma inteligência não é o mesmo que uma disciplina. É um potencial biológico, psicológico, condicionado a nossa espécie, enquanto que a disciplina é uma construção social.
É importante ter claro, na aplicabilidade das Inteligências múltiplas, o que  realmente a escola o  pretende, qual o projeto da escola para cada aluno. Ao planejar uma forma de estudo, é importante pensar quais os veículos que aqueles assuntos chegam ao aluno, que pode ser através vídeos, atividades problemas, textos, debates, etc. Educar, portanto, deve ser para a compreensão, é colocar o estudante frente ao desfio, pois a escola é lugares para pensar coisas diferentes, que considera as pessoas como sujeitos diferentes, que compreenda o conhecimento como um bem e não como um conjunto de informações passageiras.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Algumas contribuições de Skinner, Jean Piaget, Vygotsky, Emília Ferreiro e Paulo Freire para a  Teoria do Conhecimento no campo educacional
Prof. Jairo Cezar
O final do século XX pode ser considerado o período de grandes transformações sócio econômicas em âmbito global, estimuladas pelas inovações tecnológicas que proporcionaram uma maior integração de diferentes povos, culturas e principalmente mercados. No entanto tais avanços não representaram melhorias substanciais para expressiva parcela das populações, principalmente das regiões periféricas do planeta que continuaram e continuam reféns das políticas excludentes, articuladas pelos representantes do capital globalizado.
  Para a manutenção desse modelo excludente, o capital, vem interferindo diretamente  nas instituições públicas como a educação, determinando qual o currículo ou modelo de projeto pedagógico a ser desenvolvido, e suas finalidades.
Um dos teóricos de forte influência na educação brasileira do século XX foi o Americano Burrhus Frederic Skinner. No entanto suas idéias ainda hoje continuam sofrendo um forte preconceito, atribuindo ao mesmo a responsabilidade pelo método pedagógico comportamentalista-reducionista (conhecido como behaviorismo), que fora difundido nas escolas brasileiras durante as décadas de 1970 e 1980.
Confunde-se muito o comportamentalismo behaviorista de John Watson com o de Skinner. Watson criou o método de investigação denominado condicionamento mecânico ou estímulo resposta no qual admite que o aprendizado pode ser mais eficiente através da adoção de práticas punitivas e esquemáticas, premiando o desempenho dos sujeitos que obtiveram sucesso na execução de tarefas. Skinner parte do princípio de que  todo comportamento é determinado pelo ambiente e que o homem é um sujeito em constante transformação. Age no mundo, modificando-o e sendo modificado. Para ele, o ser humano é produto de três categorias: a filogênese, a espécie que ele pertence; a ontogênese, a vida, sua transformação, desde o nascimento até a morte; a cultura – as práticas culturais transmitidas pela própria sociedade.
No processo educacional, Skinner defende o reforçamento positivo, um procedimento de caráter individual e movido pela satisfação, pelo prazer e pelas  conseqüências da ação. Segundo ele, uma criança que vai para escola e que sorri é fruto do reforçamento positivo que ocorre nela. Todo sujeito aprende, porém é necessário oferecer ao mesmo todas condições infra-estruturais e emocionais, pois, não há aluno problema, não há professor problema, o que há é uma relação, professor aluno. Há uma relação entre as condições de ensino, ou seja, escola, material didático, atitudes, etc.
Se há problemas no ensino, reprovação, evasão escolar, violência, são as características do aluno e as conseqüências arranjadas por esse ensino  que estão erradas. O ideal da educação é que se ensine habilidades cujas conseqüências sejam naturais, que o estudante vá incorporando o que aprende, criando uma espécie de osmose. Para alcançar essa condição é imprescindível a presença do professor, propiciando-os condições facilitadoras.
Esse processo de naturalização do conhecimento não poderá ser interpretado como um procedimento harmonioso. Muito pelo contrário, é repleto de barreiras, de erros e acertos. Mas, é fundamental, que entendam que o aprender deva ser suave, gostoso, agradável e gradual.    
O aprender, portanto, dependerá da relação entre a filogênese e as condições de ensino propiciadas pelo professor e pela escola. No processo educativo, a avaliação não pode ser encarada como um instrumento punitivo. É a etapa do processo de ensinar e aprender onde se verifica do modo mais natural possível, se aquilo que se ensinou realmente se aprendeu. Esse aprender, “suave”, dependerá da maneira como a escola está organizada. A escola do futuro para Skinner será o lugar onde as pessoas não serão avaliadas, porque as pessoas não gostam de conversar quando estão sendo avaliadas.
Defende a divisão do curso ou atividades em pequenas unidades. Somente irá se passar às etapas seguintes quando o indivíduo atingir os objetivos desejados. Mantinha uma postura crítica acerca das aulas expositivas, afirmando que as mesmas  não proporcionam um aprendizado eficiente. Aprende-se melhor quando se emprega a escreve, o dialoga, a pesquisa, quando da manipulação de objetos, etc.
O professor deve estar sempre disponível nas aulas e isso requer um material planejado com muito cuidado. O ideal de escola  é quando o aluno é atraído por ela, nela encontra as mais fortes razões para manter aprendendo, mesmo depois da escola.
Outros dois pensadores do começo do século XX e responsáveis pela construção de duas teorias do conhecimento no campo educacional foi Jean Piaget e Vygotsky. É importante ressaltar que tanto o construtivismo de Piaget como o sóciointeracionismo de Vygotsky não poder ser interpretados de forma distintas admitindo que uma é inferior ou superior a outra. O que se deve fazer é conhecer ambas e verificar seu pontos  de convergência  e divergência no campo educacional.
A discussão do pensamento de Vygotsky na área educacional e psicológica nos remete a uma reflexão sobre as relações entre ele e Piaget. Esse confronto se dá uma vez que os autores possuem vários pontos divergentes que separam os seus pensamentos em abordagens ou pontos de vista diferentes.
O termo socioconstrutivismo (ou, como preferem alguns especialistas, sociointeracionismo) é usado para fazer distinção entre a corrente teórica de Vygotsky e o construtivismo Jean Piaget. Ambos são construtivistas em suas concepções do desenvolvimento intelectual. Ou seja, sustentam que a inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem com o meio. Para Piaget, as crianças individuais constróem conhecimento através de suas próprias ações: entender é inventar. Para Vigotsky é a compreensão através do contraste social e origem.
Os dois se opõem tanto à teoria empirista (para a qual a evolução da inteligência é produto apenas da ação do meio sobre o indivíduo) quanto à concepção racionalista (que parte do princípio de que já nascemos com a inteligência pré-formada). Para o ser humano, segundo Vygotsky, o meio é sempre revestido de significados culturais.
Por exemplo, o objeto armário (meio) não tem sentido em si. Só tem o sentido cultural que lhe damos, como ser útil ou inútil, valioso ou não, rústico ou sofisticado e assim por diante. E os significados culturais só são aprendidos com a participação dos mediadores. O fator cultural, básico para Vygotsky, e pouco enfatizado por Piaget, é a diferença central entre os dois teóricos construtivistas.
Ambos divergem também quanto à seqüência dos processos de APRENDIZAGEM e de DESENVOLVIMENTO MENTAL. Para Vygotsky, é o primeiro que gera o segundo. Em suas palavras, "o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis". Piaget, ao contrário, defende que é o desenvolvimento progressivo das estruturas intelectuais que nos torna capazes de aprender (fases pré-operatóra ou lógico-formal).
É justamente a comprovação, por Vigotsky, da existência de uma zona de desenvolvimento potencial que desprende ou desvincula a proposta de uma concepção distinta da ajuda pedagógica de que surge das teorias de Piaget.
Se em Piaget havia que ter em conta o desenvolvimento como um limite para adequar o tipo de conteúdo de ensino a um nível evolutivo do aluno, em Vygotsky o que tem que estabelecer é a sequência que permite o progresso de forma adequada, impulsionando ao longo de novas aquisições, sem esperar a maduração "mecânica" e evitando que possa pressupor as dificuldades para prosperar por não delinear um desequilíbrio adequado. É desta concepção que Vygotsky afirma que a aprendizagem vai em frente do desenvolvimento
Vygotsky teve contato com a obra de Piaget e embora teça elogios a ela em vários aspectos, também a critica, por considerar que Piaget não deu a devida importância a situação social e ao meio. Ambos atribuem grande importância ao organismo ativo, mas Vygotsky destaca o papel do contexto histórico e cultural nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, sendo chamado de sóciointeracionista e não apenas interacionista como Piaget.
As críticas a Piaget não foram diferentes das dirigidas a Freud. Não é surpresa devido ao endosso de Piaget aos conceitos de Freud. Piaget afirmou que a mente é governada através de mecanismos biológicos. Ele também afirmou que processos cognitivos são originalmente egoístas e anti-sociais. Eles só são dirigidos à realidade e ao relacionamento social depois de 7 a 8 anos de idade. Vygotsky colocou uma concepção bastante diferente da criança.
Ele afirmou que mecanismos naturais governam o comportamento das crianças. Porém, antes de 2 anos de idade, a criança participa das relações sociais. Mecanismos biológicos operam durante curto espaço de tempo. Porém, eles são substituídos rapidamente através de influências sociais. Assim que infância termine, o indivíduo começa a participar de relações sociais. Relações sociais formam o contexto desenvolvente de crianças e constituem a natureza da criança. Vygotsky considerou a criança como um indivíduo social, Piaget considerou como anti-social. Para Vygotsky, relações sociais constituem a psicologia da criança desde o começo. Para Piaget, relações sociais são secundárias à natureza biológica da criança.
De forma geral, Piaget e Vygotsky contribuíram para a elaboração de metodologias inovativas que ultrapassam aquelas existentes na escola tradicional. É graças as implicações teóricas destes psicólogos que se pode hoje trabalhar visando ultrapassar a metodologia pedagógica arraigada na repetição de conceitos. O que tem encorajado inúmeros educadores a inovarem sua prática pedagógica, no sentido de buscar compreender a realidade de seus alunos tanto do ponto de vista psicológico, cognitivo, afetivo, como sócio-cultural. Isto para que, a partir daí, possam trabalhar rumo a uma educação significativa e construtiva – a qual possa conduzir o aluno a ser sujeito consciente de sua autonomia social.
Apesar dos autores serem de complexa interpretação, percebe-se que à medida que o educador vai tecendo sua prática, ele também vai refletindo e aplicando essas teorias que são valiosas para resolverem diversos males que afligem o contexto educacional. Nesse meio, é possível utilizar as discussões mencionadas na concepção interacionista e construtivista dos autores e colocar-se como condutor dessa interação do aluno com o meio e fazer desse meio um ambiente de estímulo para que o sujeito desenvolva os seus aspectos cognitivos.
Em relação a teoria construtivista de Jean Piaget, uma das maiores estudiosas do seu pensamento, foi a educadora Argentina Emilia Ferreiro. Para ela, o que importa no processo de alfabetização é o conhecimento da Psicogênese (que se ocupa em estudar a origem e o desenvolvimento dos processos mentais, das funções psíquicas, das causas psíquicas que podem causar uma alteração no comportamento etc) que nos auxilia a relativizar o processo de aprendizagem.  Uma criança no processo de aprender a ler e a escrever, num determinado momento, imagina que para escrever uma palavra, se escreve uma letra para cada sílaba.
As crianças, na verdade, não juntam nada, elas constroem sistemas de escritas que são obrigadas a reinterpretar progressivamente até que se aproximem com a correta. Portanto, a idéia de permanência da escrita não é dada e sim construída.
Para a alfabetização aproveita-se o que o aluno sabe para aprender o que não sabe. Os resultados serão mais expressivos se em sala de aula houver interação entre os estudantes. É necessário também discutir uma nova metodologia, um novo contrato didático, admitindo que se aprende a escrever escrevendo e se aprende a ler lendo. O ato de corrigir só terá resultado quando tiver sentido para a criança.
No final do século XX, mais precisamente a partir da década de 1960, o Brasil passou por mudanças significativas no campo político e econômico. Diante dessa realidade, como forma de proporcionar transformações estruturais, o ex-presidente João Goulart, convidou o educador Paulo Freire para assumir o Ministério da Educação.
No entanto, sua presença no ministério foi abortada em 1964, quando os militares, através de um golpe, assumiram o poder e implantaram o regime ditatorial.  Paulo Freire desenvolveu um método de alfabetização considerado revolucionário, voltado especialmente para a alfabetização de adultos.  Sua teoria do conhecimento está embasada numa antropologia, ou seja, somente pode ser compreendida a partir de uma visão de mundo, de ser humano. 
Segundo Paulo Freira, o sujeito aprende por sucessivas aproximações com o objeto estudado, o objeto sempre revela coisas novas. Seu  método  passa por etapas: o da investigação temática - descobrir na criança, no jovem, no adulto o que ela já sabe, para conhecer melhor o que já sabe. Nesse sentido é preciso incentivar o sujeito, motivá-lo, seduzi-lo. A outra etapa é a da tematização - encontrar o significado das palavras, que  ocorre conversando, dialogando. 
A problematização também é importante, pois com ela ira se descobrir o  significado de certo tema para a vida, ter consciência do mesmo. Sua teoria parte do princípio de que a educação tem que ser solidária, libertadora, emancipadora, comprometida não apenas com a contemplação das idéias, mas utilizá-la para a transformação da própria realidade.
Para a emancipação, é necessário compreender a leitura que fazemos do mundo, compartilhar o mundo lido, pois não há conhecimento válido, completo. Ele deve ser compartilhado com outro, porém exige diálogo. Antes de o sujeito conhecer, ele deve ser curioso. Seu projeto partia das necessidades populares, do projeto de vida das pessoas. E a educação seria o caminho, como prática da liberdade, que deve ser  dialógica, e  o seu conteúdo deve partir do mundo, do contexto em que esses educandos estão inseridos.
Nesse sentido é necessária a investigação da realidade na qual vive o educando, tirando da mesma, situações significativas. As áreas do conhecimento irão dar respostas às questões levantadas, de forma interdisciplinar. Para Paulo Freire, educar-se é impregnar-se de sentido, só se aprende aquilo que é significativo.
 No processo educacional é fundamental admitir que o importante é aprender a pensar a realidade, pois  aprendemos em contato com o mundo,  com o outro. Mas para isso, na escola, o papel do professor-mediador é imprescindível, é ele que dá sentido, que orienta, ajuda, anima, possibilita o indivíduo a desenvolver sua autonomia intelectual. Além do professor mediador, comprometido, a escola deve ser pensada como ambiente que ensina para a cidadania, capaz de pensar o mundo de forma crítica.
A educação deve ser dialógica, é através do diálogo que se constrói  e que se muda o mundo. Não podemos pensar uma educação sem conflito, pois a escola é um espaço repleto de contradições. No entanto, o conflito tem que ser humilde, aceitar as suas próprias limitações, as opiniões dos outros. É através do conflito que alcançamos a nossa  revolução, que dever ocorrer primeiramente de dentro de nós, e posteriormente, fora, nos micros e macros ambientes dos quais habitamos.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011


Breves Reflexões Sobre os Principais Expoentes da Teoria do Conhecimento e Suas Contribuições para o Processo Pedagógico Atual
OBS: Resumo das duas primeiras aulas de Teoria do Conhecimento
Jairo Cezar
Todo o processo responsável pelo desenvolvimento do conhecimento humano nas sociedades ocidentais teve suas raízes nos povos gregas e romanos, sendo os seus principais protagonistas os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles.
No entanto, foram os filósofos Pré-Socráticos, Pitágoras, Parmênides dentre outros, que influenciaram ambos, questionando a realidade do pensamento mítico, ou seja, colocando em dúvida o conhecimento cuja origem era atribuída aos deuses.
 Além dos Pré-Socráticos também havia os Sofistas reconhecidos como professores viajantes que, mercantilizavam o conhecimento, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Levando em consideração os interesses dos alunos, davam aulas de eloqüência e sagacidade mental.
 Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso dos negócios públicos e privados. Tinham como um de seus principais objetivos a depreciação do estudo da natureza.  Para os Sofistas, era pela retórica, que o ouvinte seria conduzido a absorver uma enxurrada de palavras que não transmitiria conhecimento algum. Quando processavam um debate procuravam refutar por refutar, apenas para ganhar a disputa verbal.
Nos dias atuais, é possível presenciarmos esse tipo de comportamento através das campanhas eleitorais ou nas plenárias legislativas municipais, estaduais e federal, onde, tanto os candidatos como os parlamentares, procurando convencer os demais, proferem argumentos sem consistência prática. 
Sócrates discordava dos sofistas, afirmando que era com base na razão, na argumentação dialética, que poderemos encontrar os caminhos para a realização não individual, mas coletiva.  A filosofia de Sócrates se transformaria numa grande pedagogia, que seria a formação dos espíritos para o exercício do conhecimento. Acreditava que as idéias pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado.
Defensor do diálogo como método de educação, Suas idéias foram recolhidas principalmente por Platão, que as sistematizou, e por outros filósofos que conviveram com ele. Sócrates se fazia acompanhar freqüentemente por jovens, alguns pertencentes às mais ilustres e ricas famílias de Atenas. Para Sócrates, ninguém adquire a capacidade de conduzir-se, e muito menos de conduzir os demais, se não possuir a capacidade de autodomínio.
Opondo-se ao relativismo de muitos sofistas, para os quais a verdade e a prática da virtude dependiam de circunstâncias, Sócrates valorizava acima de tudo a verdade e as virtudes - fossem elas individuais, como a coragem e a temperança, ou sociais, como a cooperação e a amizade.
O pensador afirmava, no entanto, que só o conhecimento (ou seja, o saber, e não simples informações isoladas) conduz à prática da virtude em si mesma, que tem caráter uno e indivisível. Segundo Sócrates, só age erradamente quem desconhece a verdade e, por extensão, o bem. A busca do saber é o caminho para a perfeição humana, dizia, introduzindo na história do pensamento a discussão sobre a finalidade da vida.
O papel do educador é, então, o de ajudar o discípulo a caminhar nesse sentido, despertando sua cooperação para que ele consiga por si próprio "iluminar" sua inteligência e sua consciência. Assim, o verdadeiro mestre não é um provedor de conhecimentos, mas alguém que desperta os espíritos. Ele deve, segundo Sócrates, admitir a reciprocidade ao exercer sua função iluminadora, permitindo que os alunos contestem seus argumentos da mesma forma que contesta os argumentos dos alunos. Para o filósofo, só a troca de idéias dá liberdade ao pensamento e a sua expressão - condições imprescindíveis para o Ao eleger o diálogo como método de investigação, Sócrates foi o primeiro filósofo aperfeiçoamento do ser humano.
a se preocupar não só com a verdade, mas com o modo como se pode chegar a ela. Eis por que ele é considerado por muitos o modelo clássico de professor. Quando você prepara suas aulas, costuma levar em conta a necessidade de ajudar seus alunos a desenvolver procedimentos para que possam pensar por si mesmos?
Segundo Sócrates, ele nada ensinava, apenas ajudava as pessoas a tirarem de si mesmas opiniões próprias e limpas de falsos valores, pois o verdadeiro conhecimento tem de vir de dentro, de acordo com a consciência. Até mesmo na atividade de aprender uma disciplina qualquer, o professor nada mais pode fazer que orientar e esclarecer dúvidas, como o lapidador tira o excesso de entulho do diamante, não fazendo o próprio diamante. O processo de aprender é um processo interno, e tanto mais eficaz  quanto maior for o interesse de aprender. Só o conhecimento que vem de dentro é capaz de revelar o verdadeiro discernimento.
 Platão, discípulo de Sócrates, acreditava na “existência”, no plano superior, um mundo no qual as idéias se proliferavam e com as quais conviviam nossas almas. Portanto, para ele, o papel da pedagogia seria o meio pelo qual, o homem, através do mundo das idéias encontraria o conhecimento da verdade. Defendia  uma sólida formação básica que evoluiria até elevados estudos filosóficos, considerando que só indivíduos especialmente dotados poderiam chegar à filosofia, ou seja, ao conhecimento. O primeiro passo seria a educação preparatória para desenvolver de forma harmoniosa o espírito e o corpo. Segundo Platão, Atenas negligenciava a educação da juventude, desinteressava-se e deixava-a nas mãos dos particulares. O Estado deveria preocupar-se com a formação daqueles que seriam os futuros cidadãos. Deveria a educação, tornar-se pública, sendo os mestres escolhidos pela cidade e controlados por magistrados especiais. Defendia ainda que a educação seria  igual, até aos seis anos, seria igual tanto para menino como para meninas. A partir desta idade teriam mestres e classes diferentes. Acreditava que o ensino deveria durar 50 anos. Nos primeiros anos de vida, dos 3 aos 6 anos, as crianças deveriam participar em jogos educativos, em jardins especialmente concebidos para elas e sob atenta vigilância.
Aristóteles, em oposição a Platão, admitia que o conhecimento não se restringia ao universo, mas no próprio sujeito. Segundo ele, os seres existem em decorrência de sua própria essência. O que somos e o que viremos a ser, está na nossa essência, cabe a educação ativar esse conhecimento. Para Aristóteles o homem é um animal social e político por natureza. A polis (cidade) grega encarnada na figura do Estado é uma necessidade humana. A comunidade política estrutura-se de forma natural pela própria tendência que as pessoas têm de se agruparem. A família e o governo são instituições necessárias para que os sujeitos alcancem suas plenitudes. A cidade aristotélica deve ser composta por diversas classes, mas são  três classes superiores que guiarão os demais sujeitos: os guerreiros, os magistrados e os sacerdotes. Aceitava a escravidão e a considera desejável para os que eram escravos por natureza. Estes eram  os incapazes de governar por si mesmo, e, portanto, devem ser governados. Um cidadão é alguém politicamente ativo e participante da coisa pública. Para ser cidadão terá que ter  um mínimo de ócio. .Assim, o escravo ou um artesão não se encontram suficientemente livres para exercer a cidadania e alcançar a virtude, a qual é incompatível com uma vida mecânica. E os escravos devem trabalhar para o sustento dos cidadãos livres e virtuosos. Aristóteles contesta o comunismo de bens, mulheres e crianças proposto por Platão. Segundo ele, quanto mais comum for uma coisa menos se cuida dela. //
Com a queda o Império Romano, o cristianismo se despontou como organização responsável pela reestruturação das sociedades afetadas pelos conflitos que proporcionaram a queda do império. Segundo seus expoentes, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, argumentavam que a explicação da existência do conhecimento estaria em Deus. Santo Agostinho introduz a existência, à ação criadora de Deus, o mundo da consciência divina. Para ele, a pedagogia seria o principal instrumento capaz de educar o homem, ou seja, construção de uma moral voltada à busca do bem.
Foi através de Santo Agostinho, que se instituiu o Primeiro Currículo, responsável pela normatização do ensino. Santo Agostinho admitia que nossa consciência quando constroem seus conceitos, ela não está fazendo abstrações através da realidade, mas está recebendo uma iluminação divina. O que importa é a adesão pela fé.
A educação, no entanto, é o caminho para o aprimoramento da essência humana, para levar o homem à perfeição, sem finalidade política e social. Para dar consistência a essa política educacional ligada à fé, surgiu a Escolástica, que é um corpo doutrinário, metodológico, pedagógico, que tem por objetivo a integração dos sujeitos à nova cultura e adoção da fé cristã.
São Tomás de Aquino, em oposição a Santo Agostinho, fortemente influenciado por Aristóteles, admitia que somente existiria um mundo na qual vivemos, e que nosso conhecimento é proveniente de nossa Inteligência como única forma de alcançar a verdade. Tudo que conhecemos pela razão é aceito pela fé. Fé e razão deverão estar unidas. Portanto, Deus não intervém no conhecimento. Para São Tomás, a educação deve ser uma via para a ação. O homem agirá melhor quanto mais conhecer sua essência.
Já o Período Moderno é caracterizado pelo questionamento das verdades metafísicas. O pensamento racional começa dar seus primeiros sinais através do pensador francês René Descartes, que levando o seguinte questionamento. Onde está a verdade? Existe um conhecimento verdadeiro? Para não conflitar com a fé da época, Descartes procurou resgatar a metafísica, admitindo que as idéias de pensamento em extensão são inatas no ser humano.
Foi através de Descartes que se criou o método de conhecimento científico, que é o caminho que leva ao conhecimento, isto é, para conhecer é necessário decompor os objetos em partes. Portanto, há um modelo a ser seguido e um ponto a ser chegado.
No século XVIII, o conhecimento ou as verdades, foram submetidos a novas interpretações epistemológicas, como a do pensador Emanuel Kant, quando lança uma de suas principais obras denominada Teoria da Razão Pura. Segundo essa teoria, Deus, Alma e mundo são idéias pensadas e não realidades conhecidas. Esses elementos devem ser pressupostos, condições para a legitimação da moralidade, força universal, que exige bondade. Para dar maior viabilidade à sua teoria, foi criado o método pedagógico de Kant, que visa a emancipação do espírito, a emancipação do sujeito autônomo.
O processo de aperfeiçoamento humano deve ser buscado no plano pessoal. Todo investimento pedagógico deve ser direcionado para a busca da perfeição, que se dá pela plenitude da moralidade. Todo sujeito deve tornar-se cada vez mais moral, culto e emancipado.
Além de Emanuel Kant, Jean Jaques Rousseau, influenciado pelo naturalismo, pelo renascimento e pela idade moderna, se transformou em um dos principais nomes do pensamento racional moderno, cujas idéias contribuiram para as transformações econômicas, políticas e culturais das sociedades acidentais dos séculos XIX e XX. Rousseau, não vê a natureza como máquina.
O entrosamento entre natureza e homem se dá pelo sentimento. No entanto, a convivência em sociedade não está garantindo a felicidade dos homens. Para ele a vontade geral deve estar acima das vontades particulares. Defende a recuperação da condição humana a partir da criação do Estado ou Contrato Social, com a participação da sociedade ou seus representantes.
Primeiro teórico que levou a sério a educação das crianças. Seu projeto educacional visou respeitar a integridade e autenticidade das mesmas. O mestre não deve impor, mas despertar o aprendiz, respeitar sua natureza.
Em oposição as teorias conservadoras, mais especialmente a contribuição dessas teorias no processo de perpetuação das políticas exploratórias articuladas pelo sistema de produção capitalista, surgiu Karl Marx, um dos principais representantes das camadas sociais exploradas e responsável por um projeto de sociedade cujo princípio é a distribuição equitativa dos bens produzidos pelo próprio homem.
Suas idéias foram fortemente influenciadas pelos pensadores clássicos e modernos, dentre eles, Hegel, Saint Simon, Charles Darwin e outros. Em relação a Hegel, Marx se utilizou da sua teoria, a dialética, que procurou invertê-la, definindo que o pensamento não é para contemplar o mundo e sim transformar o mundo. Marx, não produziu nenhum trabalho específico ao campo pedagógico.
Para ele a filosofia educacional está implícita, sua proposta política pedagógica colabora pela transformação da sociedade, contrário ao iluminismo que interpreta a sociedade numa perspectiva de neutralidade. Segundo ele, é fundamental que estabeleça um novo Contrato Social, baseado no conhecimento das engrenagens da vida social.
Por não produzir uma teoria específica no campo educacional, abriu possibilidades para o surgimento de teóricos que, inspirados em suas idéias, construíram propostas inovadoras, que influenciaram as políticas educacionais de inúmeras sociedades especialmente o Brasil. Seu principal seguidor foi o italiano Antônio Gramscy, que inovou em decorrência da filosofia da práxis, ou seja, não há dicotomia entre pensamento teórico e realidade.
Todo censo comum traz no seu bojo um ponto de significação, que levará ao bom censo. Para Gramscy, a escola tem como papel mostrar a ideologia que todos compartilham, sendo o currículo, a mediação para que essa ideologia seja disseminada. É importante, segundo ele, fazer a crítica dessa ideologia e construir uma contraideologia necessária.
Suas idéias inspiraram o educador brasileiro Paulo Freire, que elaborou um método pedagógico de alfabetização, explorar as potencialidades do censo comum da população, emancipando-as, libertando-as das malhas da alienação na qual estão submetidas. A escola, para ele, tem o papel de emancipar os sujeitos, construir uma consciência de sujeitos livres.
Adentrando ao século XX nos deparamos com uma enorme gama de teóricos mitos dos quais fortemente influenciados pela filosofia clássica e moderna e cujas idéias influenciarão na construção dos currículos escolares, principalmente das escolas públicas brasileiras. Dentre os nomes conhecidos citaremos Foucault, Piaget, Vigotsky, Wallon, Bourdieu.  
Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro
Edgar Morin
O Conhecimento
O primeiro buraco negro diz respeito ao conhecimento. Naturalmente, o ensino fornece conhecimento, fornece saberes. Porém, apesar de sua fundamental importância, nunca se ensina o que é, de fato, o conhecimento. E sabemos que os maiores problemas neste caso são o erro e a ilusão.
Ao examinarmos as crenças do passado, concluímos que a maioria contém erros e ilusões. Mesmo quando pensamos em vinte anos atrás, podemos constatar como erramos e nos iludimos sobre o mundo e a realidade. E por que isso é tão importante? Porque o conhecimento nunca é um reflexo ou espelho da realidade. O conhecimento é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução. Mesmo no fenômeno da percepção, através do qual os olhos recebem estímulos luminosos que são transformados, decodificados, transportados a um outro código, que transita pelo nervo ótico, atravessa várias partes do cérebro para, enfim, transformar aquela informação primeira em percepção. A partir deste exemplo, podemos concluir que a percepção é uma reconstrução.
Tomemos um outro exemplo de percepção constante: a imagem do ponto de vista da retina. As pessoas que estão próximas parecem muito maiores do que aquelas que estão mais distantes, pois à distância, o cérebro não realiza o registro e termina por atribuir uma dimensão idêntica para todas as pessoas. Assim como os raios ultravioletas e infravermelhos que nós não vemos, mas sabemos que estão aí e nos impõem uma visão segundo as suas incidências. Portanto, temos percepções, ou seja, reconstruções, traduções da realidade. E toda tradução comporta o risco de erro. Como dizem os italianos "tradotore/traditore".
Também sabemos que não há nenhuma diferença intrínseca entre uma percepção e uma alucinação. Por exemplo: se tenho uma alucinação e vejo Napoleão ou Júlio César, não há nada que me diga que estou enganado, exceto o fato de saber que eles estão mortos. São os outros que vão me dizer se o que vejo é verdade ou não. Quero dizer com isso que estamos sempre ameaçados pela alucinação. Até nos processos de leitura isto acontece. Nós sabemos que não seguimos a linha do que está escrito, pois, às vezes, nossos olhos saltam de uma palavra para outra e reconstroem o conjunto de uma maneira quase alucinatória. Neste momento, é o nosso espírito que colabora com o que nós lemos. E não reconhecemos os erros porque deslizamos neles. O mesmo acontece, por exemplo, quando há um acidente de carro. As versões e as visões do acidente são completamente diferentes, principalmente pela emoção e pelo fato das pessoas estarem em ângulos diferentes.
No plano histórico há erros, se me permitem o jogo de palavras, histéricos. Tomemos um exemplo um pouco distante de nós: os debates sobre a Primeira Guerra Mundial. Uma época em que a França e a Alemanha tinham partidos socialistas fortes, potentes e muito pacifistas, e que, evidentemente, eram contrários à guerra que se anunciava. Mas, a partir do momento em que se desencadeou a guerra, os dois partidos se lançaram, massivamente a uma campanha de propaganda, cada um imputando ao outro os atos mais ignóbeis. Isto durou até o fim da guerra. Hoje, podemos constatar com os eventos trágicos do Oriente Médio a mesma maneira de tratar a informação. Cada um prefere camuflar a parte que lhe é desvantajosa para colocar em relevo a parte criminosa do outro.
Este problema se apresenta de uma maneira perceptível e muito evidente, porque as traduções e as reconstruções são também um risco de erro e muitas vezes o maior erro é pensar que a ideia é a realidade. E tomar a ideia como algo real é confundir o mapa com o terreno.
Outras causas de erro são as diferenças culturais, sociais e de origem. Cada um pensa que suas ideias são as mais evidentes e esse pensamento leva a ideias normativas. Aquelas que não estão dentro desta norma, que não são consideradas normais, são julgadas como um desvio patológico e são taxadas como ridículas. Isso não ocorre somente no domínio das grandes religiões ou das ideologias políticas, mas também das ciências. Quando Watson e Crick decodificaram a estrutura do código genético, o DNA (ácido desoxirribonucléico), surpreenderam e escandalizaram a maioria dos biólogos, que jamais imaginavam que isto poderia ser transcrito em moléculas químicas. Foi preciso muito tempo para que essas ideias pudessem ser aceitas.
Na realidade, as ideias adquirem consistência como os deuses nas religiões. É algo que nos envolve e nos domina a ponto de nos levar a matar ou morrer. Lenin dizia: "os fatos são teimosos, mas, na realidade, as ideias são ainda mais teimosas do que os fatos e resistem aos fatos durante muito tempo". Portanto, o problema do conhecimento não deve ser um problema restrito aos filósofos. É um problema de todos e cada um deve levá-lo em conta desde muito cedo e explorar as possibilidades de erro para ter condições de ver a realidade, porque não existe receita milagrosa.
O Conhecimento Pertinente
O segundo buraco negro é que não ensinamos as condições de um conhecimento pertinente, isto é, de um conhecimento que não mutila o seu objeto. Nós seguimos, em primeiro lugar, um mundo formado pelo ensino disciplinar. É evidente que as disciplinas de toda ordem ajudaram o avanço do conhecimento e são insubstituíveis. O que existe entre as disciplinas é invisível e as conexões entre elas também são invisíveis. Mas isto não significa que seja necessário conhecer somente uma parte da realidade. É preciso ter uma visão capaz de situar o conjunto. É necessário dizer que não é a quantidade de informações, nem as sofisticações em Matemática que podem dar sozinhas um conhecimento pertinente, mas sim a capacidade de colocar o conhecimento no contexto.
A economia, que é das ciências humanas, a mais avançada, a mais sofisticada, tem um poder muito fraco e erra muitas vezes nas suas previsões, porque está ensinando de modo a privilegiar o cálculo. Com isso, acaba esquecendo os aspectos humanos, como o sentimento, a paixão, o desejo, o temor, o medo. Quando há um problema na bolsa, quando as ações despencam, aparece um fator totalmente irracional que é o pânico, e que, frequentemente, faz com que o fator econômico tenha a ver com o humano, ligando-se, assim, à sociedade, à psicologia, à mitologia. Essa realidade social é multidimensional e o econômico é apenas uma dimensão dessa sociedade. Por isso, é necessário contextualizar todos os dados.
Se não houver, por exemplo, a contextualização dos conhecimentos históricos e geográficos, cada vez que aparecer um acontecimento novo que nos fizer descobrir uma região desconhecida, como o Kosovo, o Timor ou a Serra Leoa, não entenderemos nada. Portanto, o ensino por disciplina, fragmentado e dividido, impede a capacidade natural que o espírito tem de contextualizar. E é essa capacidade que deve ser estimulada e desenvolvida pelo ensino, a de ligar as partes ao todo e o todo às partes. Pascal dizia, já no século XVII: "não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer o todo sem conhecer as partes".
O contexto tem necessidade, ele mesmo, de seu próprio contexto. E o conhecimento, atualmente, deve se referir ao global. Os acidentes locais têm repercussão sobre o conjunto e as ações do conjunto sobre os acidentes locais. Isso foi comprovado depois da guerra do Iraque, da guerra da Iugoslávia e, atualmente, pode ser verificado com o conflito do Oriente Médio.
A Identidade Humana
O terceiro aspecto é a identidade humana. É curioso que nossa identidade seja completamente ignorada pelos programas de instrução. Podemos perceber alguns aspectos do homem biológico em Biologia, alguns aspectos psicológicos em Psicologia, mas a realidade humana é indecifrável. Somos indivíduos de uma sociedade e fazemos parte de uma espécie. Mas, ao mesmo tempo em que fazemos parte de uma sociedade, temos a sociedade como parte de nós, pois desde o nosso nascimento a cultura nos imprime. Nós somos de uma espécie, mas ao mesmo tempo a espécie é em nós e depende de nós. Se nos recusamos a nos relacionar sexualmente com um parceiro de outro sexo, acabamos com a espécie. Portanto, o relacionamento entre indivíduo-sociedade-espécie é como a trindade divina, um dos termos gera o outro e um se encontra no outro. A realidade humana é trinitária.
Eu acredito ser possível a convergência entre todas as ciências e a identidade humana. Um certo número de agrupamentos disciplinares vai favorecer esta convergência. É necessário reconhecer que, na segunda metade do século XX, houve uma revolução científica, reagrupando as disciplinas em ciências pluridisciplinares. Assim, há a cosmologia, as ciências da terra, a ecologia e a pré-história.
Por outro lado, as ciências da terra nos inscrevem neste planeta formado por fragmentos cósmicos, resultados de uma explosão de sóis anteriores. Resta saber como estes fragmentos reunidos e aglomerados puderam criar uma tal organização, uma auto-organização, para nos dar este planeta. É necessário mostrar que ele gerou a vida, e a nós somos, filhos da vida. A biologia, com a teoria da evolução, nos prova como trazemos dentro de nós, efetivamente, o processo de desenvolvimento da primeira célula vivente, que se multiplicou e se diversificou.
Quando sonhamos com nossa identidade, devemos pensar que temos partículas que nasceram no despertar do universo. Temos átomos de carbono que se formaram em sóis anteriores ao nosso, pelo encontro de três núcleos de hélio que se constituíram em moléculas e neuromoléculas na terra. Somos todos filhos do cosmos, mas nos transformamos em estranhos através de nosso conhecimento e de nossa cultura. Portanto, é preciso ensinar a unidade dos três destinos, porque somos indivíduos, mas como indivíduos somos, cada um, um fragmento da sociedade e da espécie Homo sapiens, à qual pertencemos. E o importante é que somos uma parte da sociedade, uma parte da espécie, seres desenvolvidos sem os quais a sociedade não existe. A sociedade só vive com essas interações.
É importante, também, mostrar que, ao mesmo tempo em que o ser humano é múltiplo, ele é parte de uma unidade. Sua estrutura mental faz parte da complexidade humana. Portanto, ou vemos a unidade do gênero e esquecemos a diversidade das culturas e dos indivíduos, ou vemos a diversidade das culturas e não vemos a unidade do ser humano.  Esse problema vem causando polêmicas desde o século XVIII, quando Voltaire disse: "os chineses são iguais a nós, têm paixões, choram". E Herbart, o pensador alemão, afirmou: "entre uma cultura e outra não há comunicação, os seres são diferentes". Os dois tinham razão, mas na realidade essas duas verdades têm que ser articuladas. Nós temos os elementos genéticos da nossa diversidade e, é claro, os elementos culturais da nossa diversidade.
É preciso lembrar que rir, chorar, sorrir, não são atos aprendidos ao longo da educação, são inatos, mas modulados de acordo com a educação. Heigerfeld fez uma observação sobre uma jovem surda-muda de nascença que ria, chorava e sorria. Atualmente, estudos demonstram que o feto começa a sorrir no ventre da mãe. Talvez porque não saiba o que o espera depois... Mas isso nos permite entender a nossa realidade, nossa diversidade e singularidade.
Chegamos, então, ao ensino da literatura e da poesia. Elas não devem ser consideradas como secundárias e não essenciais. A literatura é para os adolescentes uma escola de vida e um meio para se adquirir conhecimentos. As ciências sociais vêem categorias e não indivíduos sujeitos a emoções, paixões e desejos. A literatura, ao contrário, como nos grandes romances de Tolstoi, aborda o meio social, o familiar, o histórico e o concreto das relações humanas com uma força extraordinária. Podemos dizer que as telenovelas também nos falam sobre problemas fundamentais do homem; o amor, a morte, a doença, o ciúme, a ambição, o dinheiro. Temos que entender que todos esses elementos são necessários para entender que a vida não é aprendida somente nas ciências formais. E a literatura tem a vantagem de refletir sobre a complexidade do ser humano e sobre a quantidade incrível de seus sonhos.
Podemos, então, compreender a complexidade humana através da literatura. A poesia nos ensina a qualidade poética da vida, essa qualidade que nós sentimos diante de fatos da realidade. Como, por exemplo, os espetáculos da natureza: o céu de Brasília que é tão bonito. A vida não deve ser uma prosa que se faça por obrigação. A vida é viver poeticamente na paixão, no entusiasmo.
Para que isso aconteça, devemos fazer convergir todas as disciplinas conhecidas para a identidade e para a condição humana, ressaltando a noção de homo sapiens; o homem racional e fazedor de ferramentas, que é, ao mesmo tempo, louco e está entre o delírio e o equilíbrio, nesse mundo de paixões em que o amor é o cúmulo da loucura e da sabedoria.
O homem não se define somente pelo trabalho, mas também pelo jogo. Não só as crianças, como também os adultos gostam de jogar. Por isso vemos partidas de futebol. Nós somos Homo ludens, além de Homo economicus. Não vivemos só em função do interesse econômico. Há, também, o homo mitologicus, isto é, vivemos em função de mitos e crenças. Enfim o homem é prosaico e poético. Como dizia Hölderling: "O homem habita poeticamente na terra, mas também prosaicamente e se a prosa não existisse, não poderíamos desfrutar da poesia".
A Compreensão Humana
O quarto aspecto é sobre a compreensão humana. Nunca se ensina sobre como compreender uns aos outros, como compreender nossos vizinhos, nossos parentes, nossos pais. O que significa compreender?
A palavra compreender vem do latim, compreendere, que quer dizer: colocar junto todos os elementos de explicação, ou seja, não ter somente um elemento de explicação, mas diversos. Mas a compreensão humana vai além disso, porque, na realidade, ela comporta uma parte de empatia e identificação. O que faz com que se compreenda alguém que chora, por exemplo, não é analisar as lágrimas no microscópio, mas saber o significado da dor, da emoção. Por isso, é preciso compreender a compaixão, que significa sofrer junto. É isto que permite a verdadeira comunicação humana.
A grande inimiga da compreensão é a falta de preocupação em ensiná-la. Na realidade, isto está se agravando, já que o individualismo ganha um espaço cada vez maior. Estamos vivendo numa sociedade individualista, que favorece o sentido de responsabilidade individual, que desenvolve o egocentrismo, o egoísmo e que, consequentemente, alimenta a autojustificação e a rejeição ao próximo. A redução do outro, a visão unilateral e a falta de percepção sobre a complexidade humana são os grandes empecilhos da compreensão. Outro aspecto da incompreensão é a indiferença. E, por este lado, é interessante abordar o cinema, que os intelectuais tanto acusam de alienante. Na verdade, o cinema é uma arte que nos ensina a superar a indiferença, pois transforma em heróis os invisíveis sociais, ensinando-nos a vê-los por um outro prisma. Charlie Chaplin, por exemplo, sensibilizou platéias inteiras com o personagem do vagabundo. Outro exemplo é Coppola, que popularizou os chefes da Máfia com "O Chefão". No teatro, temos a complexidade dos personagens de Shakspeare: reis, gangsters, assassinos e ditadores. No cinema, como na filosofia de Heráclito: "Despertados, eles dormem". Estamos adormecidos, apesar de despertos, pois diante da realidade tão complexa, mal percebemos o que se passa ao nosso redor.
Por isso, é importante este quarto ponto: compreender não só os outros como a si mesmo, a necessidade de se auto-examinar, de analisar a autojustificação, pois o mundo está cada vez mais devastado pela incompreensão, que é o câncer do relacionamento entre os seres humanos.

A Incerteza
O quinto aspecto é a incerteza. Apesar de, nas escolas, ensinar-se somente as certezas, como a gravitação de Newton e o eletromagnetismo, atualmente a ciência tem abandonado determinados elementos mecânicos para assimilar o jogo entre certeza e incerteza, da micro-física às ciências humanas. É necessário mostrar em todos os domínios, sobretudo na história, o surgimento do inesperado. Eurípides dizia no fim de três de suas tragédias que: "os deuses nos causam grandes surpresas, não é o esperado que chega e sim o inesperado que nos acontece". É a velha idéia de 2.500 anos, que nós esquecemos sempre.
As ciências mantêm diálogos entre dados hipotéticos e outros dados que parecem mais prováveis. Os processos físicos, assim como outros também, pressupõem variações que nos levam à desordem caótica ou à criação de uma nova organização, como nas teorias sobre a incerteza de Prigogine, baseadas nos exemplos dos turbilhões de Born. Analisando retroativamente a história da vida, constata-se que ela não foi linear, que não teve uma evolução de baixo para cima. A evolução segundo Darwin foi uma evolução composta de ramificações, a exemplo do mundo vegetal e o mundo animal. O homem vem de uma dessas ramificações e conseguiu chegar à consciência e à inteligência, mas não somos a meta da evolução, fazemos parte desse processo. A história da vida foi, na verdade, marcada por catástrofes.
As duas guerras mundiais destruíram muito na primeira metade do século XX. Três grandes impérios da época, por exemplo, o romano-otomano, o austro-húngaro e o soviético, desapareceram.
Isto nos demonstra a necessidade de ensinar o que chamamos de ecologia da ação: a atitude que se toma quando uma ação é desencadeada e escapa ao desejo e às intenções daquele que a provocou, desencadeando influências múltiplas que podem desviá-la até para o sentido oposto ao intencionado.

A história humana está repleta de exemplos dessa natureza. O mais evidente no final do século XX foi o projeto político de Gorbatchev, que pretendeu reformar o sistema político da União Soviética, mas acabou provocando o começo de sua própria desagregação e implosão. Assim tem acontecido em todas as etapas da história. O inesperado aconteceu e acontecerá, porque não temos futuro e não temos certeza nenhuma do futuro. As previsões não foram concretizadas, não existe determinismo do progresso. Os espíritos, portanto, têm que ser fortes e armados para enfrentarem essa incerteza e não se desencorajarem.
Essa incerteza é uma incitação à coragem. A aventura humana não é previsível, mas o imprevisto não é totalmente desconhecido. Somente agora se admite que não se conhece o destino da aventura humana. É necessário tomar consciência de que as futuras decisões devem ser tomadas contando com o risco do erro e estabelecer estratégias que possam ser corrigidas no processo da ação, a partir dos imprevistos e das informações que se tem.
A Condição Planetária
O sexto aspecto é a condição planetária, sobretudo na era da globalização no século XX – que começou, na verdade no século XVI com a colonização da América e a interligação de toda a humanidade. Esse fenômeno que estamos vivendo hoje, em que tudo está conectado, é um outro aspecto que o ensino ainda não tocou, assim como o planeta e seus problemas, a aceleração histórica, a quantidade de informação que não conseguimos processar e organizar.
Este ponto é importante porque existe, neste momento, um destino comum para todos os seres humanos. O crescimento da ameaça letal se expande em vez de diminuir: a ameaça nuclear, a ameaça ecológica, a degradação da vida planetária. Ainda que haja uma tomada de consciência de todos esses problemas, ela é tímida e não conduziu ainda a nenhuma decisão efetiva. Por isso, faz-se urgente a construção de uma consciência planetária.
É necessária uma certa distância em relação ao imediato para podermos compreendê-lo. E, atualmente, dada a aceleração e a complexidade do mundo, é quase impossível. Mas, faz-se necessário ressaltar, é esta a dificuldade. É necessário ensinar que não é suficiente reduzir a um só a complexidade dos problemas importantes do planeta, como a demografia, ou a escassez de alimentos, ou a bomba atômica, ou a ecologia. Os problemas estão todos amarrados uns aos outros. Daqui para frente, existem, sobretudo, os perigos de vida e morte para a humanidade, como a ameaça da arma nuclear, como a ameaça ecológica, como o desencadeamento dos nacionalismos acentuados pelas religiões. É preciso mostrar que a humanidade vive agora uma comunidade de destino comum.
A Antropo-ética
O último aspecto é o que vou chamar de antropo-ético, porque os problemas da moral e da ética diferem a depender da cultura e da natureza humana. Existe um aspecto individual, outro social e outro genético, diria de espécie. Algo como uma trindade em que as terminações são ligadas: a antropo-ética. Cabe ao ser humano desenvolver, ao mesmo tempo, a ética e a autonomia pessoal (as nossas responsabilidades pessoais), além de desenvolver a participação social (as responsabilidades sociais), ou seja, a nossa participação no gênero humano, pois compartilhamos um destino comum.

A antropo-ética tem um lado social que não tem sentido se não for na democracia, porque a democracia permite uma relação indivíduo-sociedade e nela o cidadão deve se sentir solidário e responsável. A democracia permite aos cidadãos exercerem suas responsabilidades através do voto. Somente assim é possível fazer com que o poder circule, de forma que aquele que foi uma vez controlado, terá a chance de controlar. Porque a democracia é, por princípio, um exercício de controle.
Não existe, evidentemente, democracia absoluta. Ela é sempre incompleta. Mas sabemos que vivemos em uma época de regressão democrática, pois o poder tecnológico agrava cada vez mais os problemas econômicos. Na verdade, é importante orientar e guiar essa tomada de consciência social que leva à cidadania, para que o indivíduo possa exercer sua responsabilidade.
Por outro lado, a ética do ser humano está se desenvolvendo através das associações não-governamentais, como os Médicos Sem Fronteiras, o Greenpeace, a Aliança pelo Mundo Solidário e tantas outras que trabalham acima de entidades religiosas, políticas ou de Estados nacionais, assistindo aos países ou às nações que estão sendo ameaçadas ou em graves conflitos. Devemos conscientizar a todos sobre essas causas tão importantes, pois estamos falando do destino da humanidade.
Seremos capazes de civilizar a terra e fazer com que ela se torne uma verdadeira pátria? Estes são os sete saberes necessários ao ensino. E não digo isso para modificar programas. Na minha opinião, não temos que destruir disciplinas, mas sim integrá-las, reuni-las em uma ciência como, por exemplo, as ciências da terra (a sismologia, a vulcanologia, a meteorologia), todas elas articuladas em uma concepção sistêmica da terra.
Penso que tudo deva estar integrado para permitir uma mudança de pensamento; para que se transforme a concepção fragmentada e dividida do mundo, que impede a visão total da realidade. Essa visão fragmentada faz com que os problemas permaneçam invisíveis para muitos, principalmente para muitos governantes. E hoje que o planeta já está, ao mesmo tempo, unido e fragmentado, começa a se desenvolver uma ética do gênero humano, para que possamos superar esse estado de caos e começar, talvez, a civilizar a terra.