quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O drama da arqueologia no Brasil: Em entrevista Niède Guindon relata descaso político com a Serra da Capivara

O tema arqueologia no Brasil sempre foi tratado com certo descaso pelas autoridades políticas, situação pela qual reflete diretamente na estrutura educacional cujos currículos das unidades de ensino básico pouca ou nenhuma ênfase oferece a esse assunto tão importante. O pior é que quando a arqueologia é abordada nas aulas, especialmente nas séries iniciais, os professores, muitas vezes despreparados, ainda adotam como principal ferramenta pedagógica, livros didáticos, com abordagens simplificadas, que impossibilita tanto aos educadores como aos estudantes, o mínimo de condições para contextualização ou reflexão mais apurada num contexto mais local.
A Serra da Capivara situada no município de São Raimundo Nonato, Piauí, é para os brasileiros o mesmo que as pirâmides no Egito, as ruínas sagradas de Machupicchu no Peru, e outros tantos monumentos e sítios importantes espalhados pela Europa, Ásia, etc. Porém, com uma diferença, nesses lugares os acervos e sítios arqueológicos são tratados estrategicamente como objeto de Estado, enquanto no Brasil impera o descaso, o abandono dos governos em relação a tudo que se refere aos ancestrais humanos que transitaram por aqui há milhares de anos.
É, portanto, uma questão de segurança nacional a proteção das inúmeras pinturas rupestres da Serra da Capivara cujas pesquisas mais recente dão conta que a presença humana no continente americano ocorreu muito antes da data na qual era defendida pelos arqueólogos norte americanos. Outro aspecto revelador é em relação ao caminho percorrido pelos ameríndios. Até recentemente alguns correntes de pesquisadores admitiam que as primeiras levas humanas que adentraram no continente, chegaram atravessando o Estreito de Bering, no Alasca, se deslocando para o sul. Portanto tais conclusões durante décadas dominaram e ainda prevalecem nos círculos de debates nos Estados Unidos, referendando que os achados arqueológicos mais antigos, são aqueles encontrados no território americano entre dez a onze mil anos atrás.
A desconstrução de tais teorias, entre outros assuntos relativos à arqueologia no Brasil e no mundo foi abordada em entrevista realizada no dia 29 de setembro de 2014, no programa Roda Viva da Tv Cultura com a Arqueóloga e Paleontóloga Niède Guindon. Na entrevista o tema que norteou o debate foi a situação dos sítios arqueológicos descobertos na Serra da Capivara no município de São Raimundo Nonato, que segundo a pesquisadora ambos estão em estado desolador correndo sérios riscos de perder todo um trabalho de décadas desenvolvido na região. 
Niède relatou que o primeiro contato com a região se deu em 1973 por meio de uma missão científica na qual foram identificadas mais de mil figuras pintadas nas paredes das rochas. Dois anos depois de a missão ter se fixado na região, escavações com profundidade de até um metro e meio foram realizadas cujas conclusões preliminares confirmaram que os artefatos identificados datavam de vinte mil anos aproximadamente. Essas datações, portanto, superavam em muito a idade dos fósseis encontrados em escavações nos EUA identificadas até o momento como os achados humanos mais antigos nas Américas.
Em 1978 uma nova missão científica constituída por uma equipe interdisciplinar formada por arqueólogos, geólogos, botânicos, historiadores, entre outros, estiveram na Serra da Capivara, que depois de estudos feitos se engajaram na tentativa de chamar a atenção do governo brasileiro sobre a riqueza cultural da região e a urgente necessidade de estabelecer políticas públicas para protegê-la. Em 1979, finalmente foi oficializada a criação de um parque no entorno do sítio, que embora esteja constituído legalmente, até o momento vem sofrendo descaso das autoridades com a mitigação de recursos financeiros e profissionais capacitados para mantê-lo funcionando.
A situação se agravou a beira do desespero em 2002 quando dos 270 funcionários disponibilizados foram reduzidos para 70, muito dos quais contratados por empresas terceirizadas, dedicando pouco empenho e responsabilidade pelo parque. Como comparação, na África do Sul, Austrália, Indonésia, França entre outros tantos parques, os trabalhadores contratados são todos funcionários públicos. No Brasil apenas dois são de carreira que atuam no Icmbio (Instituto Chico Mendes), os demais são terceirizados. O pior é que houve denúncias de que os salários desses trabalhadores ficaram atrasados por mais de seis meses. O agravante é que as empresas terceirizadas, que atrasaram os salários, receberam o dinheiro do governo, porém não passaram para os funcionários.
É preciso criar uma infraestrutura na região para intensificar o turismo que dinamizará a economia local e do próprio estado do Piauí. Para isso é preciso concluir urgentemente as obras do aeroporto de São Raimundo Nonato iniciadas em 1997, na qual impulsionará a economia da região através da construção de hotéis e de toda uma rede de infraestrutura necessária. Niède relatou que uma equipe do BID (Banco Interamericano) esteve em São Raimundo Nonato realizando estudos da potencialidade econômica, que após diagnosticarem constataram que o solo apresenta alto teor de salinidade que o incapacita para o desenvolvimento da agricultura e pecuária. No entanto, a região deverá aproveitar seu potencial turístico, podendo se constituir na principal maquina motriz do desenvolvimento da região.
Destacou que existem empresas europeias do setor hoteleiro interessadas em se instalar na região, porém, no exato momento se torna inviável devido à falta de infraestrutura. Com a conclusão do aeroporto, disse ela que duas empresas aéreas, a Avianca e a Emirates, já se credenciaram em promover voos da Europa para região.  Atualmente, para se chegar à região o caminho mais próximo é por Petrolina, Pernambuco, onde está o aeroporto, distante 400 km do parque. Seguindo por terra, o turista pode ter o incômodo de ficar encalhado devido às chuvas ou sofrer acidentes por serem as estradas muito perigosas. Sobre o público que frequentemente procura esses lugares, são geralmente indivíduos mais velhos, de classe média alta e com elevado nível cultural. Disse também Niède que os principais parques existentes no planeta recebem por ano cerca de cinco milhões de pessoas. Enquanto o parque da serra capivara, anualmente, circula por lá pouco mais de vinte e cinco mil visitantes anualmente.
Voltando a política do Banco Interamericano de disponibilizar recursos para a área cultural, segundo Niède, foram liberados 2.5 milhões de dólares para serem aplicados na infraestrutura do parque. Com esses recursos foram construídas 28 guaritas, sistemas de rádio comunicador e geradores para produção de energia solar. Desse total das guaritas construídas, apenas nove possuem funcionários, ou seja, estão em funcionamento. No interior do parque existem 400 km de estradas que fazem ligações com as trilhas espalhadas por todos os cantos. Porém, todas as estradas e trilhas estão abandonadas, sendo que a manutenção deveria estar sendo realizada pelo próprio governo federal, que não faz. Em relação ao futuro parque, Niède se diz preocupada porque as dificuldades são inúmeras. Para ela o principal problema hoje são as brigas contínuas e o stress de ter que ir a Brasília e mendigar recursos junto aos ministérios e demais órgãos federais. Quando perguntada sobre por que no Brasil poucas são as publicidades divulgando e incentivando o turismo no parque da Serra da Capivara, a mesma respondeu que não há como estimular o turismo para uma região que não oferece o mínimo de infraestrutura satisfatória, isso poderia ter um efeito negativo para a região.
Durante todo período que vem coordenando os trabalhos de pesquisa e administração do parque, Niède relatou que foi em 2002 que o parque recebeu a única visita de um chefe de estado, na época o então presidente Fernando Henrique Cardoso. Sua breve visita se deu em decorrência dos cerimoniais comemorativos aos quinhentos anos de descobrimento do Brasil. De lá para cá apenas alguns ministros, porém, sempre foram visitas rápidas. Paradoxalmente, o parque recebe mais delegações estrangeiras que brasileiras. Em agosto desse ano, o parque recebeu delegação da UNESCO brasileira como também a visita do embaixador francês, que rotineiramente se desloca para lá para acompanhar os trabalhos da missão científica francesa na região.
Em relação às últimas escavações realizadas que resultaram mudanças conceituais profundas no que tange as metodologias adotadas nas investigações, Niède ressaltou que definitivamente a teoria de CLOVIS[1] está superada, que as amostras retiradas em escavações e enviadas para os laboratórios franceses dão testemunhos de que os vestígios da Pedra Furada são sim os mais antigos. A metodologia que vem sendo aplicada nas investigações parte do pressuposto de que as escavações devam ocorrer até a base rochosa, profundidade média de 8,5 metros. Até esse limite é possível adotar a técnica do carbono 14 com datação máxima de 58 mil anos. Abaixo desse limite é necessário adotar a técnica do termoluminescência que garante uma datação aproximada de cem mil anos.
Os conflitos de datações entre pesquisadores americanos e franceses se dão, resultantes das metodologias adotadas. Enquanto os franceses procuram executar escavações mais profundas, os arqueólogos americanos mantém sua investigação nas Camadas Pleistocenas, de até doze mil anos, onde acreditam não encontrar mais nada abaixo dessa camada. Sobre a possibilidade de encontrar algum fóssil humano que poderia definitivamente esclarecer a origem do homem na região, Niède ressaltou que tal possibilidade é remota em decorrência do clima quente e úmido da região, antes ocupada pela floresta amazônica. Diante de tal condição adversa não haveria qualquer possibilidade de manter intactos fósseis com idade superior a 12 mil anos. O que traz esperança são as cavernas calcárias existentes que poderá existir sobre seus escombros possíveis fragmentos de fósseis humanos. No entanto, inexistindo vestígios fósseis, os artefatos líticos encontrados não deixam dúvidas da presença humana muito antes do que se acreditava.
As próprias escavações realizadas no sul do Chile, na região de MONTE VERDE, os achados fósseis datam de 15 a 16 mil anos atrás, muito mais antigos que os encontrados nos Estados Unidos.  Além do Chile, os fósseis e artefatos descobertos no Uruguai e Golfo do México, são suficientes para questionar as antigas teorias sobre a presença e as datações dos primeiros humanos no continente. Se há ainda enormes discussões sobre as datações e localizações dos primeiros vestígios humanos na América, não estão excluídas desse processo os caminhos utilizados pelos grupos étnicos que aqui chegaram. Para Niède, baseada em observações físicas de grupos indígenas que habitam o Piauí, admite-se que primeiros habitantes devam ter sofrido cruzamento entre africanos e asiáticos. É uma questão de intensificar as pesquisas para que tais hipóteses sejam confirmadas.
Sobre a presença africana na formação do homem da serra da capivara, no Piauí, há fortes indícios que deve ter ocorrido. Acredita-se que algum ou alguns africanos devam ter chegado ao Brasil seguindo o oceano atlântico, possivelmente munidos de uma embarcação que partiu da costa africana, talvez atingida por uma tempestade cuja corrente marítima a empurrou para o litoral do Ceará e Piauí.  Há 100 ou 120 mil anos aproximadamente o norte da África sofreu uma longa estiagem, que pressionou os habitantes do interior a se deslocarem para o litoral, tendo o mar como uma das principais fontes de subsistência. Talvez a ocupação na Serra da Capivara tenha se dado seguindo esse contexto climático. Novas pesquisas também confirmam que a presença do homo sapiens se deu a cerca de 180 mil anos atrás, muito antes do que vinha se presumindo. Sobre as datações arqueológicas que ainda norteiam os debates no Brasil, prevalecem as de origem americana, que trazem dados muitas vezes contestados por outras escolas arqueológicas como a europeia. 
No Brasil impera a falta de compromisso com as promessas assumidas no quesito arqueologia. Uma delas ocorreu quando em 2013 do Deputado Federal Paes Landim conseguiu agendar reunião com a Ministra da Cultura Marta Suplici para que fosse discutido o tema Parque da Serra da Capivara. Na ocasião, a ministra prometeu que atenderia a solicitação repassando recursos para sua manutenção. No entanto, segundo Niède, até o momento nenhum dinheiro foi repassado, que confirma o total desrespeito à cultura e a pesquisa arqueológica no Brasil. No que tange às medidas de conter o estado de degradação das pinturas rupestres, tanto pela água como pelos cupins do parque, um dos entrevistadores sugeriu que as mesmas fossem cobertas para evitar desgastes. Niède ressaltou que tal ação é inviável por ser a rocha um elemento vivo. Quando perguntada sobre a existência de outros sítios arqueológicos no Brasil que poderiam corroborar para fortalecer a teoria da presença humana no território muito antes do que se imagina, a mesma afirmou que no Brasil o principal problema é a falta de pesquisas, que apenas na Serra da Capivara é que ocorrem pesquisas o ano inteiro.
Em 1975 realizou estudos com uma tribo indígena situada no sul do estado e constatou que seus traços físicos como o formato asiático dos olhos são diferentes dos demais grupos amazônicos. Tudo indica que esses grupos investigados sema remanescentes dos antigos habitantes da Serra da Capitava, que chegaram à região seguindo os rios Piauí e Parnaíba, que cruzaram o atlântico vindo da África. As novas descobertas arqueológicas ocorridas no México dão conta de ter havido o contato de grupos asiáticos e africanos na América, que na Serra da Capivara os fósseis pesquisados demonstram haver referências aos africanos. Porém, devido às características do clima local os fósseis possuem pouca composição orgânica para análises de DNA que dariam informações mais consistentes acerca das datações. No entanto, na Suécia existe um laboratório que consegue fazer análise desses ossos mesmo apresentando o mínimo de matéria orgânica, e isso pode trazer resultados mais otimistas em relação à ocupação da região.
Ressaltou a importância da Arqueologia e de pinturas rupestres para países como a França, onde uma pequena que possui uma caverna com cinco figuras rupestres, recebe anualmente cinco milhões de visitantes e que é necessário se inscrever com antecedência para poder visitá-la.   A teoria de que o homem tenha se originado da África está completamente superada, visto que nos últimos anos as pesquisas confirmam que a China poderá ter sido o berço da humanidade e não a África.
Além do museu do homem construído na região, o BNDS liberou investimentos para a construção do primeiro Museu da Natureza, que será capaz de reconstituir o ambiente da região há dez, vinte mil anos atrás quando lá se fixaram os primeiros povoamentos. Quando aos questionamentos acerca dos fósseis de animais encontrados, foi citada a figura do Tatu Bola desenhada na parede da rocha. Um animal que vem habitando a região e o Brasil há milhares de anos, porém hoje ameaçado de extinção. A FIFA quando da realização da copa adotou esse animal como mascote, oferecendo a Associação Caatinga que desenvolve ações pela preservação do animal, 300 mil reais de ajuda. A associação rejeitou a verba em forma de protesto.
Em referência ao modo como os primeiros povoadores da região organizavam suas habitações, Niède destacou que os grupos jamais se aglomeravam ou ficavam no mesmo local por muito tempo, talvez cinco ou seis anos. Após esse período ocorria o acúmulo de lixo resultando em doenças. As residências eram disponibilizadas em circos com cerca de cem metros de diâmetro, cujo centro era utilizado como espaço para reuniões, celebrações e rituais. O curioso é que num prazo de trinta a cinquenta anos o grupo retornava para o mesmo local, dando continuidade ao ciclo.
No município de São Raimundo Nonato onde está a serra da capivara foi desenvolvido projeto de educação patrimonial mediante intercâmbio entre o governo italiano e o governo do estado do Piauí. A Itália se comprometeu em construir as escolas e estrutura-las disponibilizando recursos por cerca de cinco anos. A partir desse período o governo do estado assumiria o compromisso de mantê-las. Segundo Niède, nessas escolas as crianças ficavam envolvidas em atividades durante o período integral. Além do currículo básico as crianças desenvolviam inúmeras atividades culturais, teatro, pintura, música, etc. cujos professores recebiam treinamentos de profissionais da USP e da Universidade estadual Paulista. A fundação Osvaldo Cruz do Rio instalou um posto de saúde no local para atender as crianças e a comunidade.
No momento do encerramento do contrato de cinco anos, quando o governo do estado do Piauí deveria assumir o projeto, a secretaria da educação argumentou que não assumiria compromissos assumidos por gestões passadas. Com a saída do governo italiano do projeto e com a recusa da secretaria da educação do Piauí, Niède se deslocou a Brasília e obteve recursos para manter o projeto por mais cinco anos. O parque é pouco visitado pelos moradores da região, que tratam com desprezo as pinturas. Além da população, as prefeituras pouco valorizam o local, cujas iniciativas de visitação são geralmente coordenadas pelas próprias escolas e professores, como de um colégio de São Paulo que todos os anos um grupo de estudantes vistam a região para estudar arqueologia brasileira.
Prof. Jairo Cezar    


[1] A Cultura Clóvis é uma cultura pré-histórica da América que surgiu há cerca de 13.000-13.500 anos atrás, no final da última Idade. Chama-se assim por causa dos artefatos encontrados perto da cidade de Clovis (Novo México). O povo de Clóvis era considerado o mais antigo habitante do Novo Mundo. Contudo, essa visão tem sido contestada nos últimos trinta anos por várias descobertas que aparentam ser mais antigas.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Saudades da Amoreira da Minha Escola

Hó Amoreira amada tantas saudades já deixastes. Ainda com frutos, partistes muito jovem, quanta alegria proporcionastes à criançada. Um imenso vazio paira no portão onde fincavas tuas raízes de teu tronco sublime. Todos os dias, meses e anos, você lá estava, seguindo seu ciclo ininterrupto. No inverno embernavas num sono profundo. Tuas folhas te desfazias totalmente, restando apenas galhos descobertos à espera de mais uma primavera. Agosto se aproximava prenúncio de mais uma estação. Sim, é a primavera dando os primeiros sinais. Pequenas e delicadas flores brancas se despontavam transformando em suculentas frutinhas roxas. A criançada, insetos e  passarinhos ficavam maravilhados, era só diversão, sem contar os adultos que quando por ali transitavam, tiravam um tempinho, pouco é claro, mas suficiente para colher algumas “pretinhas” e empurrá-las na boca.  
Amoreira amada, quisestes crescer como é natural entre as espécies do reino  vegetal, sem se dar conta que sobre seu cume  uma rede elétrica resultaria no motivo da sua morte. Não que a fiação tenha cedido e lhe vitimado. Não! A causa foi outra! Sua brutal morte se deu pela fúria humana, que a sentenciou pelo simples fato de ter os seus galhos, repletos de frutos, provocado colapso na rede elétrica. A culpa do transtorno, todos sabemos, não foi sua, amoreira amada! Sua natureza é crescer, florescer, gerar frutos, sombra entre outros tantos benefícios!
E a culpa? Quem seria (am) responsabilizado (os) por tamanha brutalidade a um corpo indefeso que ali estava proporcionando alegria para tanta gente? O culpado seria a máquina que em poucos segundos pôs no chão uma vida ou milhares de vidinhas que quando ingeridas pelo organismo humano transformaria em propriedades terapêuticas para tenros corpos infantis? Não!! A culpa não foi da máquina! A culpa, sim, foi de quem a controlava! Alguém certamente embebecido de cólera, ódio, cujo prazer foi vê-la tombar espalhando suas folhas e frutos por todos os cantos. Seus galhos, com folhas agora murchas, frutinhas ainda verdes, sem vida, continuam lá jogadas no canto frio e úmido do muro.

O que restou, além do cenário triste e vazio onde estava a amoreira, a indignação contra quem cometeu tal brutalidade. Deixa claro que quem autorizou ou execução tal ordem não teve a mínima sensibilidade de perceber que um simples manejo na rede elétrica, o problema seria sanado sem o sacrifício da amoreira. Não! Nada disso! A “maldita amoreira”, que tanto sujava o pátio, os carros, com suas folhas e frutos, teria que pagar pelos crimes cometidos!  Porém, faltava algo que justificasse sua eliminação,  sem gerar constrangimentos e punições aos executores. Acabou o ciclo de uma vida, tudo se silenciou nessa triste quinta feira 02 de outubro. Mas ficara a certeza que tu amoreira, continuarás sempre viva no imaginário de quem muito a amou, que embora não mais floresça e produza frutos, contribuíste para alegrar e adoçar a vida de muitos que por aqui passaram e certamente carregam dentro de si um pouco da sua essência diluída, transformada em energia, fonte vital da existência.        
Prof. Jairo Cezar