domingo, 27 de junho de 2021

 

AS ATRIBUIÇÕES DA FAMA (FUNDAÇÃO MUNICÍPAL DO MEIO AMBIENTE) CONFORME DISPOSITIVOS  ESTABELECIDAS EM ESTATUTO HOMOLOGADO EM 2007

 

Desde a criação da FAMA (FUNDAÇÃO AMBIENTAL DE ARARANGUÁ) há cerca de quinze anos, ainda hoje se questiona qual realmente é a sua função, proteger o meio ambiente ou agilizar licenciamentos para obras de infraestrutura? A questão é levantada pelo fato das inúmeras ações de irregularidades protocoladas por entidades ambientais, a exemplo da OSCIP PRESERV’AÇÃO  suspeitando-a de ter promovido “vistas grossas” na concessão  de licenças para a supressão de vegetação e execução de obras de terraplanagem no Balneário.  Inúmeras vezes o próprio Ministério Público Estadual solicitou explicação da superintendência a da equipe técnica do órgão pela aprovação de serviços ambientais suspeitos.   

Um deles foi a autorização da supressão de espécies nativas no bairro mato alto para dar lugar a um loteamento. Na época o chefe do órgão ambiental relatou que o proprietário da área teria que compensar a supressão, concedendo à FAMA área equivalente no próprio bioma da mata atlântica. De lá para cá não houve mais qualquer menção ao ato. É possível que o empreendedor não tenha cumprido o que determinava a legislação ambiental. Algo corriqueiro no município e que jamais poderia acontecer é a ocorrência de ações como a supressão de vegetação em APP a exemplo da beira rio, na última semana, gerando manifestações de revolta nas redes sociais.

Se a ação é considerada legal como disseram os representantes do órgão ambiental municipal, toda essa comoção poderia ter sido evitada se fosse cumprida muito do que está escrito no estatuto da entidade.  Um dos artigos mais importantes é o de número quatro, distribuído em vinte sete parágrafos. Não é necessário aqui mencionar todos os parágrafos, porém é imprescindível destacar alguns que clarificam as reais atribuições do órgão ambiental municipal. O art.4 diz que é função da FAMA supervisionar, fiscalizar, autuar e executar a política ambiental e arqueológica protegidas no município.

Desde 2014 após ter sido confirmada a existência de sítios arqueológicos datados de 4 a 5 mil anos de idade, nenhuma ação de proteção ou educativa por parte do órgão ambiental municipal foi executada, tornando-os suscetíveis a atos de vandalismo. Tais negligências ferem preceitos contidos no parágrafo XIII, do artigo 4 que diz ter a FAMA a obrigação de promover a conscientização política de proteção ambiental e arqueológica, criando instrumentos adequados para a educação como processo permanente, integrado e multidisciplinar, em todos os níveis de ensino, incluindo a criação de espaços formais e informais, com objetivo de fomentar a cidadania ambiental e arqueológica especialmente nas crianças e adolescentes.

Nesse parágrafo aparece uma serie de proposições obrigatórias cujo órgão ambiental municipal insiste em negligenciar. Quando se fala em promover a conscientização política e proteção ambiental e arqueológica, estamos nos referindo às ações que asseguram o empoderamento da população com aquilo que lhes fortalecerá e lhes tornará mais humano. Conhecimentos das leis ou regras são algumas das muitas estratégias que qualquer órgão ou instituição deve promover para o seu fortalecimento junto a sociedade onde atua.  

Parece que não é exatamente isso o objetivo do órgão ambiental municipal, pois nesses últimos quinze anos não se tem notícia de ter havido no município qualquer iniciativa descrita no parágrafo acima: fomentar a cidadania ambiental e arqueológica especialmente nas crianças e adolescentes. Se alguma atividade desse gênero foi desenvolvida foi graças a boa vontade de professores e gestores das escolas no município. A Escola de Educação Fundamental Padre Antônio Luiz Dias do Morro dos Conventos, é um exemplo entre outras instituições de ensino, com inúmeros projetos executados na área ambiental e patrimonial no bairro.

O parágrafo XV, do art. 4 diz o seguinte: é papel da FAMA operacionalizar a participação comunitária no planejamento, na execução e na vigilância das atividades que visem às proteções ambientais e arqueológicas. Aqui está o motivo das insistentes manifestações da população denunciando ou comentando atos suspeitos de irregularidades ambientais cometidas pela fundação do meio ambiente. O fato é que jamais houve durante a existência da FAMA qualquer convite às entidades ambientais, ONGs, OSCIP, para participar e articular ações conjuntas para o planejamento de ações ambientais e arqueológicas.

O modo como a atual gestão da Fama vem agindo nesse primeiro ano de governo já deixa explícito que não será diferente das anteriores. Podemos citar alguns exemplos de negligência. As insistentes irregularidades ambientais ocorridas na foz do rio Araranguá, área transformada por decreto em 2016 em RESEX (Reserva Extrativista); a supressão de espécies da mata atlântica no Morro dos Conventos para abertura de estrada, que resultou em autuação da PMA, impetrando multa ao poder público; retirada de areia da estrada que liga ao Yate Clube e depositada sobre área de restinga; permanência do transito de veículos na orla do município de Araranguá, mostrando explicito descaso do poder público e órgão ambiental com decisões tomadas pela 4 Regional do Tribunal de Justiça de Porto Alegre que vedou essa atividade na orla, exceto para veículos oficiais e pescadores.

Não é mais segredo para ninguém que o município de Araranguá possui um dos melhores potenciais turísticos do extremo sul de Santa Catarina. Entretanto sai governo entra governo ficando somente as promessas de campanha. Não precisa grandes investimentos, basta apenas reunir a população e discutir com a mesmo como gerir todo esse potencial. No Morro dos Conventos já existem algumas iniciativas independentes em curso, porem o governo municipal e o órgão ambiental insiste em desconhecer ou negligenciar. Estamos nos referindo ao projeto ROTEIRO GEOECOLÓGICO criado em 2017, sendo uma entre as mais de 200 demandas elencadas no projeto Orla.

Foram cinco pontos onde nove placas informativas e educativas foram fixadas explicitando detalhadamente toda a potencialidade geoecológica da região. É tanto descaso que a placa que fora fixada nas proximidades da balsa que faz travessia no morro dos conventos foi literalmente destruída pelas máquinas envolvidas na pavimentação daquela rodovia.

O mínimo que a administração e o órgão ambiental poderiam ter feito seria removê-la e guardá-la. Mas não foi essa a atitude. Cuidar das demais placas instaladas em outros pontos, bem como proteger todo o patrimônio arqueológico, que vão desde os sítios sambaquianos de quase cinco mil anos, aos abrigos sobre rocha, são de responsabilidade da FAMA conforme está escrito no parágrafo IX, do artigo 4: estimular a implantação e normatizar atividades relacionadas com turismo ecológico e arqueológico no município.

A última vez que foi realizada reunião para tratar do assunto patrimônio arqueológico no município envolvendo o poder público, FAMA, UNESC/IPAT, IPHAN/SC e demais entidades, ocorreu no final de 2016. Dessa data em diante nenhuma ação efetiva foi promovida, no mínimo a atividade de educação patrimonial nas escolas do município para sensibilizar os/as estudantes sobre a importância do porque proteger esse rico patrimônio.

Em uma recente entrevista realizada em uma emissora de radio do município de Araranguá, o superintendente da FAMA afirmou que o atual prefeito está muito voltado para o meio ambiente. A pergunta que se faz é o que é proteção ou sustentabilidade ambiental na concepção do poder público e do órgão ambiental municipal? Até que ponto ambos vem agindo de modo a fomentar a cidadania ambiental e arqueológica entre os cidadãos/as de Araranguá?  

Prof. Jairo Cesa

 

https://leismunicipais.com.br/a/sc/a/ararangua/lei-ordinaria/2007/260/2608/lei-ordinaria-n-2608-2007-institui-a-fundacao-ambiental-do-municipio-de-ararangua-sc-fama

     

sexta-feira, 25 de junho de 2021

 

A PL 490/2007 QUE LEVERÁ AO EXTERMINIO OS REMANENESCENTES INDÍGENAS QUE HABITAM O BRASIL

Não é segredo para ninguém que os indígenas brasileiros vem tendo suas terras saqueadas e depredadas desde a chegada dos portugueses há cinco séculos. De lá para cá a população indígena ficou reduzida a alguns milhares ocupando áreas ameaçadas a todo instante por grileiros, garimpeiros e madeireiros. Essas invasões ou ameaças vêm se dando em áreas já demarcadas e principalmente àquelas cujos indígenas esperam há décadas por demarcações que estão emperradas pela burocracia de governos entreguistas. 

A situação se já era ruim, piorou ainda mais nos últimos quatro anos com a ascensão de governos que buscam a todo custo flexibilizar ou suprimir legislações que asseguram direitos aos indígenas para beneficiar algumas dezenas de poderosos latifundiários. Pressionado pelo agronegócio e grandes corporações a CCJ da câmara dos deputados aprovou bem no dia que o ministro do meio ambiente pediu saída da pasta, com 40 a favor a 21 contra, a PL 490/07 que pode por fim a qualquer possibilidade de demarcação ou expansão de novas áreas indígenas. O PL obriga, para que haja novas demarcações, que as terras tenham sido ocupadas antes ao dia 05 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição.

Atualmente para que haja homologação não é necessário marco temporal, ou seja, comprovação de data de ocupação da área. Outro ponto relevante que poderá cair com a PL será a obrigação da existência de uma equipe multidisciplinar da FUNAI na avaliação das áreas suscetíveis a novas demarcações. Não são somente os povos indígenas que ocupam a Amazônia que sofrerão os impactos dessa medida. A proposta impacta outros territórios indígenas espalhados pelo Brasil, que estão sob ameaças de perder suas terras, a exemplo da comunidade Mbya guarani na região do morro dos cavalos, município da Palhoça, SC.   

Na tentativa de barrar a votação, centenas de indígenas de 45 etnias promoveram ato de protesto em frente ao congresso no dia da votação. Além de Brasília, outras manifestações também ocorreram em vários estados. Em Santa Catarina, dezenas de indígenas bloquearam a Br.101, nas imediações do Morro dos Cavalos. Tanto em Brasília quanto em Santa Catarina a polícia agiu de forma enérgica, reprimindo os manifestantes.

 A exigência de comprovação documental de terras hoje ocupadas por várias nações pode gerar muitos problemas as respectivas etnias, pois muita não tem documentação ou título de propriedade devido ao fato de terem sofrido várias ações no passado com a expulsão dessas. Outro detalhe importante é bem recente o período em os indígenas brasileiros foram reconhecidos constitucionalmente como cidadãos de fato e de direito. Portanto, poucos são os grupos que possuem titulação de suas áreas e tudo isso os parlamentares tem conhecimento, principalmente os responsáveis pela elaboração da maléfica PL.

Os deputados articuladores dessa proposta, apoiados pelo agronegócio, sabem que tais áreas de interesse são legitimamente indígenas, porém, vão se munir de artifícios burocráticos criados pelo “homem branco civilizado” para expulsá-los, do mesmo modo como ocorreu há quinhentos anos quando chegaram os portugueses. O fato é que a pressão a favor a aprovação da PL e contra os indígenas tem ressonância em muitos veículos de comunicação, principalmente nos municípios onde o governo Bolsonaro tem forte aprovação popular.

É claro que o projeto em questão tem o apoio incondicional dos parlamentares bolsonaristas, muitos dos quais integrantes da poderosa bancada ruralista, chancelada pela ministra da agricultura Maria Cristina, apelidada de Menina Veneno. É preciso denunciar mais esse golpe genocida contra os povos das Amazônia e da própria floresta que sofrerá mais impacto ainda. Caso a PL passe também pelo senado, projetos como de hidrelétricas poderão ser executados em áreas protegidas ocupadas por indígenas. 

O agravante nisso é que muitas comunidades indígenas ainda isoladas na Amazônia, mais de cem, poderão ser afetadas. Doenças e violência provocarão o seu extermínio definitivo. Levantamentos ultimamente realizados na Amazônia comprovam que o desmatamento ocorrido no governo Bolsonaro foi superior a dos últimos quinze anos. Se já presenciávamos uma tragédia ambiental naquele ecossistema mesmo com todos os regramentos proibitivos, o que esperar da região no futuro quando a porteira da “legalidade” estiver completamente escancarada?

Prof. Jairo Cesa  

 

 

domingo, 20 de junho de 2021

 

19 DE JUNHO DE 2021 - O POVO VAI ÀS RUAS CONTRA AS ABERRAÇÕES DE UM GOVERNO GENOCIDA


Foto Jairo - calçadão de Araranguá


No dia em que o Brasil alcançou a triste marca de quinhentas mil mortes em decorrência da COVID 19, expressiva parcela da população saiu às ruas indignadas, gritando FORA BOLSONARO. É importante frisar que não foram unicamente às milhares de mortes contabilizadas os únicos móvitos das mobilizações, são vastas as listas que credenciam o atual presidente como um dos piores da história desde a proclamação da republica. O fato é que Araranguá não ficou alheia dessa demonstração de perplexidade e revolta, cujas ruas da cidade revelaram com centenas de manifestantes.

É claro que muitos, muitos cidadãos e cidadãs dessa “pacata” cidade gostariam de terem estado ali protestando, expondo sua revolta, raiva por viverem em um país governado por um genocida, que reverencia torturadores e incita o fascismo. Sabemos que o medo ainda é um ingrediente perverso que neutraliza milhões de pessoas no Brasil. Viver em uma cidade ou mesmo sair às ruas com faixas, bandeiras, cartazes, contra um presidente, no qual arrebanhou mais de 70% dos votos, realmente é ter muita coragem, principalmente em um momento em que nas redes sociais o povo é incitado ao ódio a todo instante. 

  

Foto Jairo - calçadão de Araranguá

No entanto não há outra saída que não seja essa, sair as ruas enfrentando o vírus da COVID, as criticas e as pressões daqueles/as que se solidarizam ou vibram frente a um governo que não demonstra o mínimo de sentimento às milhares de famílias que perderam algum anti-querido. Ontem, 19 de junho, o presidente da república deveria ter se apresentado em rede nacional de rádio e televisão e se solidarizado frente às quinhentas mil mortes decorrentes da COVID. Mas não preferiu enaltecer os policiais que estão envolvidos na captura de um bandido em Goiás, claro que sem desmerecer o empenho dessa categoria tão discriminada.  

Foto Jairo - Av. Sete de Setembro/Araranguá

É óbvio que o presidente jamais faria tal pronunciamento, pois agiria contrário ao modo de pensar dos seus fanáticos apoiadores. A resposta que muitos gostariam de saber é, o que faz o presidente e seus fieis fanáticos adotarem comportamentos tão bizarros? Quem poderia explicar? Talvez as ciências do comportamento humano, psicologia, psicanálise, psiquiatria, etc, etc? É possível haver algum desvio de personalidade ou sentimento reprimido na infância a agir dessa maneira? Mais uma vez reitero que não estou afirmando nada, apenas lançando hipóteses na qual gostaria de ter respostas.  

 São tão nítidos os absurdos cometidos pelo presidente e seus aliados, cuja aqueles que os apóiam agem parecidos aos personagens do filme “Ensaio Sobre a cegueira”, obra cinematográfica baseada no livro escrito pelo português José Saramago. Diante de todas as aberrações cometidas por um governo que vibra com a dor alheia, o dia 19 de junho servirá como centelha de esperança de dias melhores, mesmo com tantos olhares de ódio direcionados àqueles/as que ousam se indignar.

Prof. Jairo Cesa          

sábado, 19 de junho de 2021

 

MP 1031/21 DA PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRAS – PROPOSTA QUE COLOCARÁ O BRASIL NAS TREVAS DO APAGÃO

Diante de uma violenta crise energética, fruto de uma histórica estiagem que esta afetando o abastecimento das principais hidrelétricas, foi aprovada no senado federal a Medida Provisória 1031/21 cuja finalidade é a privatização da Eletrobras. A primeira tentativa de desmonte nesse setor aconteceu no governo de Fernando Henrique Cardoso, no entanto o próprio presidente desistiu da ideia em 2001 em decorrência do Brasil estar vivendo uma longa estiagem.

Em uma situação energética crítica como na época de FHC e a atual, uma estatal do porte da Eletrobras pensar em privatizá-la é colocar milhões de brasileiros na escuridão. E por que essa certeza? Ela se deve ao fato de que entregando ao capital reverterá em mais lucros. Nos quinze anos de governo Lula e Dilma alguns investimentos ocorreram no setor energético, grandes e polêmicas obras como a hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu foram construídas.  

A partir do governo Michel Temer o sistema Eletrobrás foi deixado de lado, nenhum investimento de porte com vistas a estruturar o setor foi executado. A intenção dos não investimentos era enxugar a estatal, ou seja, não deixar dívidas para o setor privado pagar. A tendência é de que poderemos enfrentar colapsos ou apagões ainda esse ano se os níveis dos reservatórios continuarem baixando. O caminho seria investimentos maciços em fontes alternativas, como eólica e fotovoltaica. E o Brasil tem um grande potencial nesse setor.

É obvio que com a privatização o setor privado não irá se interessar em investir nessas fontes alternativas. Na realidade o capitalismo lucra na crise, em qualquer crise econômica. Quando baixa a oferta de um produto a tendência é o aumento do preço do produto, não é mesmo? Então, há poucos dias o governo federal retornou a bandeira vermelha, que é a cobrança a mais por consumo além da média. Acredita-se que o governo poderá passar para bandeira B2, que elevará ainda mais o valor da taxa. São bilhões de reais arrecadados mensalmente somente com essas cobranças emergenciais. 

É possível que com a venda da Eletrobras essas taxas emergenciais poderão se tornar definitivas e mais elevadas. Afinal, que proposta que o governo vem cogitando para amenizar o problema de um possível apagão geral? Cogita ativar os sistemas térmicos movidas a gás e a carvão mineral. Além de mais cara por kW produzido, o complexo sistema a carvão é altamente poluidor. Enquanto o valor pago por kW de energia advinda da água é na cifra de 16 reais, nas fontes térmicas esse valor salta para 1.200 reais. Estão vendo a diferença? É algo absurdo.

Na Medida Provisória aprovada no senado foram inseridos alguns “jabutis”, ou seja, incluir numa proposta legislativa outra sem qualquer relação com o tema em debate. Um desses jabutis se refere a propostas que garante a construção de usinas térmicas em estados ou regiões sem uma gota de gás para movê-las. Tudo isso tem o propósito de assegurar apoio dos parlamentares beneficiados, votos à aprovação da MP da Eletrobras.

Agora vamos pensar, uma das principais bacias de gás natural no Brasil fica no Rio de Janeiro, que estão a centenas de quilômetros de distâncias das futuras usinas pretendidas pelos jabutis. Todo custo de construção desses gasodutos serão bancados por quem? É claro que será o próprio consumidor. Outro agravante. Com todas as usinas prometidas funcionando haverá uma elevação acentuada de gases poluentes que agravará ainda mais o aquecimento global.   

Em Santa Catarina, no sul do estado em especial, há um forte lobby político defendendo incentivos nesse setor. Um dos argumentos defendidos é que a queima do carvão adota tecnologias altamente eficientes que não geram resíduos. Se isso fosse verdade, a empresa que controla a Carbonífera Jorge Lacerda, a transnacional ENGIE, não comunicaria o fechamento definitivo dessa planta no Brasil, como já o fez em outros países onde atua.

Prof Jairo Cesa                           

quinta-feira, 17 de junho de 2021

 

O DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA E A CRISE DE ABASTECIMENTO HIDRICO NO BRASIL

A maior crise hídrica ocorrida na cidade de São Paulo em 2014 serviu de alerta para as autoridades e a população brasileira de que tal fenômeno climático extremo não é somente natural, há ingredientes antrópicos contribuindo para ocorrência de ciclos mais curtos e de forte intensidade. Bem anterior a crise de abastecimento hídrico em São Paulo, organizações ambientais, universidades e pesquisadores do clima vinham alertando sobre a progressiva e diminuição dos índices pluviométricos no centro oeste, sudeste e sul do Brasil, motivado, entre outros fatores pela destruição da floresta Amazônica.

Se observarmos os dados estatísticos relativos aos desmatamentos no Brasil nos últimos dez anos, iremos constatar que o início do agravamento começou a partir de 2016 no governo Michel Temer. Foi, portanto, no governo de Jair Bolsonaro que o bioma amazônico, pantanal, mata atlântica, entre outros que passaram a serem alvos de ações violentas e chanceladas por corporações do mercado, do congresso e do executivo nacional. As agressões deliberadas contra todos os ecossistemas são partes de um plano estratégico de expansão da fronteira agrícola sobre ares protegidas ou habitadas por populações tradicionais. Um programa genocida que pode ser comparado ao que foi adotado pelos governos militares durante a ditadura.

O segmento do agronegócio há décadas, vem se beneficiando com tais políticas expansionistas, sendo muito maior agora.  Nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, quase todos os dias os meios de comunicação de massa publicavam reportagens das queimadas que devastavam milhões de metros quadrados de florestas na Amazônia Legal. Flexibilizar  legislações ambientais, bem como desmantelar instituições importantes como o IBAMA  e o ICMbio, foram os alvos dos ataques do governo Bolsonaro e do ministério do meio ambiente.

Há décadas os cientistas vêm alertando que o setor que mais sofrerá com os desmatamentos na Amazônia será a do agronegócio. A explicação é muito simples. A região centro oeste brasileira, cuja vocação é o agronegócio, depende das chuvas par a hidratação do solo. No entanto, as chuvas que lá precipitam vêm da Amazônia por meio de rios voadores. Esses rios aéreos são imensas massas de nuvens carregadas de umidades provenientes da evapotranspiração de milhões de árvores. Esse fenômeno cíclico e que já sofre alterações depende dos ventos que empurram a umidade do oceano atlântico em direção a vasta floresta amazônica. Lá a umidade é condensada e transformada em chuva, onde caindo ao solo a água é absorvida pelas raízes profundas das árvores.

Milhões de árvores novamente irão transpirar essa água, que se transformará em vapor ou nuvens. A pressão dos ventos alísios do leste empurrará essas nuvens em direção a cordilheira dos Andes. A imensa barreira rochosa empurrará toda a umidade em direção ao sul do continente, influenciando o clima em todos os estados, em especial em São Paulo. É isso, não é mais segredo para ninguém que as políticas adotadas pelo governo brasileiro direcionadas ao meio ambiente serão a própria ruína do agronegócio brasileiro.

O fato é que a população brasileira está sentindo no bolso os reflexos da atual e já considerada histórica estiagem através do aumento das contas de energia elétrica. É importante destacar que mais de 80% da energia distribuída à população vem das hidrelétricas, a exemplo da Hidrelétrica de Itaipu. Sendo assim, para manter o equilíbrio hídrico dos reservatórios é necessário que haja o equilibro dos ciclos das chuvas, que já não ocorrem mais.  

É claro que não podemos desconsiderar alguns fatores naturais à falta de chuva como o fenômeno LA NIÑA.  O que é consenso entre os especialistas do clima é se não forem contidos os desmatamentos e as emissões de gases do efeito estufa, esses episódios extremos do clima como as estiagens serão cada vez mais e mais frequentes e devastadores à economia de países que têm o agronegócio como uma das principais locomotivas.

Quando se trata de Brasil todos esses alertas nada altera o comportamento do atual governo na continuidade de suas políticas de querer “passar a boiada” a qualquer preço. É incrível o tamanho da insensibilidade de um segmento da sociedade quando o assunto é meio ambiente. Há uma crença burra que domina as cabeças desse povo que faz acreditar que tudo que está ocorrendo é um desígnio divino, que independe da nossa vontade. Se milhares de mortes ocorreram devido a        COVID 19 é pelo fato de Deus estar castigando os pecadores. Coisas desse tipo ainda hoje dominam milhares de mentes insanas. Até quando conviveremos com tamanha ignorância?

Prof. Jairo Cesa

domingo, 6 de junho de 2021

 

AS INCRÍVEIS PALEOTOCAS DE TRÊS BARRAS, MUNICIPIO DE MORRO GRANDE/SC

Foto - Jairo

Como acreditar que depois de quase quarenta anos exercendo a profissão de professor de história na rede pública estadual, pela primeira vez fui conhecer um dos lugares mais espetaculares e deslumbrantes da região do extremo sul de Santa Catarina, as PALEOTOCAS de Morro Grande. É incrível como a região da AMESC é rica e promissora em atrativos turísticos, porém, tão desamparadas pelas autoridades. Nos últimos dez anos tive a oportunidade de conhecer mais de vinte países dos cinco continentes.

Foto Jairo

Todos, sem exceção, o turismo é o segmento que mais recebe atenção e investimentos das autoridades públicas. Um exemplo é o Camboja, um país do sudeste asiático devastado por guerras intermináveis, que em 2019 havia recebido quase dez milhões de turistas. O Brasil com toda a sua extensão e potencialidade, que supera escandalosamente o pequeno Camboja, não chegou a receber sete milhões de turistas. É muito pouco. Hoje em dia quando se pergunta a algum cidadão ou cidadã da região sul de Santa Catarina cidades ou lugares que gostaria de visitar ou conhecer, a resposta é quase consensual, Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, São Paulo ou cidades nordestinas. Correto?

Foto Jairo

 Dificilmente será ouvido de ambos/as, com raríssimas exceções, respostas como, os Cânyos do Itaimbezinho, as inúmeras quedas d’água ou, quem sabe, as incomparáveis PALEOTOCAS que guardam informações importantes da geologia, da vida animal e humana de milhões e milhares de anos atrás. Tudo esse potencial está aqui bem perto, podendo ser visitado e apreciado em alguns dias e com o mínimo de gasto. A visita que fizemos as PALEOTOCAS de Morro Grande deixou explícito o quanto a região do extremo sul vem deixando de angariar receitas na área do turismo.

Foto Jairo

Embora seja possível observar pequenas melhorias nessa área através do projeto Geoparque Caminho dos Canyos, tudo ainda é muito rudimentar, poucos são os planos ou programas integrando sociedade e gestores públicos. Imagine, para visitar um atrativo turístico importante como a Cachoeira do BIZUNGO, também no Morro Grande, o interessado terá que ter em primeiro lugar muita sorte para chegar até o local sem se perder. Não há qualquer placa indicativa que instrua o turista a chegar ao destino. Duvido quem já não tenha errado o caminho ou perdido tempo preciso pedido informações sobre o itinerário. Isso também não deve ser diferente para quem visitou as PALEOTOCAS.

Foto Jairo

Acredite, a única placa visível dando informações sobre o fantástico tesouro está a algumas dezenas de metros do local. Mais uma vez o visitante que desconhece a região será forçado a recorrer aos moradores ou muitas vezes a algum transeunte pelo caminho para solicitar informações.  Talvez para expressiva parcela da população do município anfitrião e autoridades regionais as PALEOTOCAS nada mais são que buracos feitos nas rochas por tatus e preguiças gigantes que nada oferecem de atrativos aos turistas. Ainda pensam quem ousaria vir de tão longe para entrar em cavernas escuras, ladeada por florestas, morros e riachos?

O fato é que tais paleotocas são comparáveis as famosas cavernas turcas que serviram de abrigos para milhares de pessoas no passado. Hoje muitas dessas cavidades se transformaram em hotéis ou espaços destinados para eventos culturais e recreativos, onde atraem milhões de turistas de todos os lugares do mundo. E importante ressaltar que turistas viajam ao redor do mundo procurando locais similares ao que temos bem perto de nós. São pessoas ávidas para  conhecer novas culturas, peculiaridades geomorfológicas, arqueológicas, gastronômicas, etc, etc. 

Foto Jairo

Até quando continuaremos nos movendo como caranguejo em uma área tão importante, porém tão desacreditada pelos governos. São comuns hoje em dia, durante as campanhas eleitorais nos municípios do extremo sul de Santa Catarina, candidatos defendendo indústrias com chaminés para a geração de empregos. O fato é que são promessas vazias, jamais cumpridas, pois nossa vocação há muito tempo tem sido a indústria do turismo, limpa e sustentável.

Foto Jairo

Afinal o que está faltando para que esse segmento deslanche?   Não há sombra de dúvida que um dos motivos desse atraso vem da própria sociedade. Durante os pleitos eleitorais, em vez de eleger para o executivo e legislativo, pessoas com competência e sensibilidade, insistem em repetir erros históricos, ajudando a ocupar os assentos desses poderes figuras desqualificas. É possível que a resposta ao atraso econômico e social do extremo sul de Santa Catarina esteja exatamente nesse ponto, a desabilitada e desqualificada força política regional.

Prof. Jairo Cesa  

 

Foto Jairo

Foto Jairo