sábado, 29 de fevereiro de 2020


A ADI - 5.553/16 DO “BOLSA-AGROTÓXICOS” É ADIADA NO STF SEM DATA DEFINIDA – ENTENDA O QUE ESTÁ POR TRÁS DESSA QUESTÃO

Imagem de um cartaz com a frase "Chega de Agrotóxicos".
https://www.greenpeace.org/brasil/blog/stf-passa-batata-quente-para-frente/

Quem já não andou pelas ruas dos bairros da cidade ou no interior e não se surpreendeu com tamanha aberração do uso de agrotóxicos para eliminar ervas invasoras. Há casos em que o veneno é despejado ao redor das residências pondo em risco à saúde das famílias. Sobre o uso dos agrotóxicos, as legislações estabelecem que é proibida sua aplicação em áreas urbanas.  No campo, a aplicação dos químicos deve seguir protocolos rígidos, porém pouco obedecidos, como a fixação de placas informativas, bem como a restrição do acesso de pessoas no campo pulverizado por 48 horas.[1] 
E por que tanto veneno sendo disseminado, sem que a população reaja ao eminente perigo à saúde de todo o ecossistema? A atividade fumageira e mais tarde a agricultura intensiva, com ênfase as culturas da soja, algodão, cana de açúcar, entre outros, foram os principais vetores da introdução dos químicos nos pratos dos brasileiros. Empresas do seguimento químico, afetadas com o fim da segunda guerra mundial, passaram a atuar na fabricação de substâncias para matar plantas, insetos, ditos invasores ou daninhas.
Era necessário, portanto, forjar instrumentos que facilitassem a comercialização de tais aditivos sem resistência da sociedade. Uma longa campanha pró-agrotóxico foi disseminada pelas mídias por décadas, com intuito de construir uma cultura na qual justificasse o seu uso como necessário à sobrevivência humana, pois do contrário, a população poderia passar fome pela escassez de alimentos. Associado as poderosas corporações dos agrotóxicos estavam e ainda estão setores produtivos do agronegócio e do seguimento político, onde constituem poderosas bancadas, entrincheiradas nas diferentes esferas dos poderes municipais, estaduais e federal.
Nas décadas de 1980 em diante, mais e mais veneno passou a compor o prato nosso de cada dia. O que é mais revoltante, é que alguns desses venenos já banidos há décadas em escala global foram autorizados sua aplicação no Brasil. Relatórios de entidades ligadas à saúde, porém não divulgado pelas mídias conservadoras, vem revelando um cenário quase catastrófico de milhares de intoxicações resultantes dos agrotóxicos. Outro dado preocupante é em relação a água que abastece comunidades ou municípios com uso diário de agrotóxicos.[2]
As análises realizadas revelam a presença de inúmeros metais altamente contaminantes e letais à saúde humana.  Não há dúvida que expressiva parcela dos atendimentos em unidades de saúde e hospitais tem alguma relação com o contato com agrotóxicos. O que é estarrecedor nesse caso é saber que quem paga a conta de todo esse prejuízo é a própria sociedade.
O Brasil, de dois anos para cá, passou ser líder mundial na comercialização de agrotóxicos. Essa triste liderança se deve as benesses auferidas pelos governos às empresas que fabricam pesticidas, fungicidas, herbicidas, com a concessão de vantajosos subsídios no momento da venda de algum produto. Com isso, estados e o governo federal deixam de arrecadar bilhões de reais, recursos esses imprescindíveis à educação, à segurança e principalmente à saúde pública.
Diante de tais absurdos, em 2016, o PSOL, encaminhou ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) recomendando a revogação de dispositivos dos quais favorecem setores atrelados ao veneno. Todos os anos são quase 15 bilhões de reais que a união deixa de arrecadar com tais subsídios. Nas últimas semanas houve intensa mobilização através das redes sociais com intuito de pressionar os juízes da suprema corte para que acatem a ADI (5.553/16), onde seria discutida e votada dia 19 de fevereiro de 2020.
No entanto, o julgamento, como estava previsto, não ocorreu. É importante ressaltar que a ADI foi elaborada para tornar inconstitucionais as clausulas 1ª e 3ª do Convênio n°. 100/1997 do CONFAZ (Convênio do Conselho Nacional de Políticas Fazendárias). O CONFAZ é um órgão colegiado, que envolvem estados e o distrito federal, com intuito de celebrar convênios para efeito de concessão ou revogação de isenções.
Nesse caso, o convênio 100 de 1997, estabelece entre outros dispositivos, a redução de 60% da alíquota de ICMS de produtos como Pesticidas. Isso significa que com essa redução os estados deixam de arrecadar importantes somas de recursos essenciais ao financiamento de políticas públicas como saúde e educação. Essa clausula, de acordo com a ADI, fere outros dispositivos constitucionais importantes como o art.153§3°, I, relativo aos princípios da seletividade tributária do ICMS e do IPI.
Resumidamente, produtos de enormes impactos à saúde humana e ao meio ambiente têm seus valores iguais ou até inferiores àqueles considerados ecologicamente saudáveis.  Ou seja, o preço pago por um quilo de soja, produzido com agrotóxico, torna-se inferior ao produzido de forma orgânica. Outro princípio defendido na ADI é o da dignidade da pessoa humana, art. 1°, III, da Constituição Federal.
Esse artigo garante a todos/as, direitos considerados essenciais à segurança, à liberdade, à igualdade e da justiça, princípios do estado democrático, pouco respeitado pelo atual presidente.  Outros dois princípios se somam aos anteriores, o direito ao meio ambiente equilibrado, art. 225 da CF e o art. 196, também da CF, no seu caput, que assegura a todos o direito fundamental à saúde.
Diante de tantas justificativas contrárias às benesses auferidas aos agrotóxicos, é quase imaginável pensar que o supremo irá votar contrário a ADI. Outro absurdo relativo aos agrotóxicos é o fato de dar direito ao produtor de deduzi-lo no imposto de renda, como se a nota fiscal fosse um recibo de uma consulta médica. Para cada caso notificado de intoxicação por agrotóxico no Brasil, outros cinqüenta não são.
Quase todo o atendimento envolvendo contaminação por agrotóxico ocorre em alguma unidade de saúde bancada com recursos do SUS. No entanto, quem paga a conta do prejuízo é a população que desembolsa cerca de 80 reais para cobrir uma conta injusta, cuja responsabilidade, direta e indireta, é das corporações que controlam o mercado de sementes e venenos em âmbito global.
Prof. Jairo Cezar

http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com/2018/12/agrotoxico-perigoso-24-d-destroi.html

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020


PROJETO DE LEI 191/2020 
 - UM PLANO GENOCIDA/ETNICIDADE ÀS POPULAÇÕES INDÍGENAS

Resultado de imagem para pl 191/20
https://cimi.org.br/tag/projeto-de-lei-no-191-20/

Não bastasse a imensa quantidade de ações inconsequentes no primeiro ano do governo federal e de seus asseclas, que afetam conquistas históricas como unidades de conservações federais, seriamente comprometidas pelo furor do capital, dessa vez, o governo ultrapassou os limites da sanidade, com a apresentação da PL 191/20, que autoriza atividade mineradora, atividade agrícola, entre outros absurdos em terras indígenas.
Qualquer cidadão/ã brasileiro/a, mesmo aquele/a que por algum motivo não teve a oportunidade de ir à escola, sabe da hecatombe sofrida pelos originários habitantes do Brasil no instante da ocupação portuguesa há mais de quinhentos anos. Milhares foram mortos, vitimados por doenças e trabalho escravo. Suas terras foram tomadas com violência, os que resistiram o quase genocídio, vivem em reservas, muitas das quais ainda não demarcadas, onde vivem sob ameaças de invasores grileiros, pistoleiros, entre outras tantas brutalidades.
É preciso entender que áreas indígenas são propriedades da união, protegidas por legislações específicas a exemplo da constituição federal no seu artigo 176. Isso, portanto, já seria um motivo elementar para inviabilizar qualquer ação que coloque em risco a soberania e a segurança desses povos sobre as terras que ocupam. Na cabeça do governo federal, de seus ministros e aliados políticos, permeia o sentimento de agora tudo pode para promover o dito desenvolvimento econômico, dito por eles como sustentável.
O desmatamento desenfreado, somado aos incêndios intermináveis que devastaram ecossistemas inteiros na Amazônia, Serrado e outros biomas, repercutiram no mundo inteiro, colocando o governo brasileiro e seus vassalos numa saia justa em eventos importantes como a COP-23 ocorrida em Madri. Virou regra geral o governo tratar indígenas e lideranças indígenas com desdém, a exemplo do cacique Raoni, da comunidade Ianomâmi, cuja tentativa de desqualificá-lo como representante máximo na luta em defesa dos povos indígenas.
A ideia de desqualificação indígena vem sendo construída mediante discursos xenófobos, repetidos incessantemente pelo governo e que repercute perigosamente no inconsciente coletivo. Um exemplo foi a fala do governo Bolsonaro quando disse que o indígena está evoluindo devagar e está quase próximo do branco.   Quando diz evoluir, o mesmo segue um discurso darwinista acreditando na ideia evolucionista de que todos devem seguir um único caminho, a evolução, no caso ocidental, o cientificismo cartesiano.
Desconhece as peculiaridades e particularidades das culturas, suas escolhas acerca do modo como desejam existir. Se muitas comunidades indígenas não se integraram ao modelo de produção capitalista nos territórios dos quais habitam não se deve pelo fato da baixa capacidade cognitiva, como é escancarado nos discursos do atual presidente, são escolhas, pautadas em princípios e valores herdados de seus antepassados, que permanecem presentes em espírito, nas florestas, nos rios, nas montanhas, nos animais, no cosmo, etc, etc.   
Se o projeto genocida for aprovado nas duas casas do congresso, não há dúvida que será o tiro de misericórdia para o extermínio definitivo dessa população. Hoje, mais da metade da população Ianomâmi, da Amazônia, está contaminada por mercúrio pela exploração de garimpos. Na extração do ouro, por exemplo, o mercúrio é adicionado para separá-lo de outros sedimentos. Após esse processo, a água contaminada com esse metal pesado é lançada novamente aos rios, contaminando peixes e toda a biótica do entorno, inclusive a população.
Essa, porém, é a forma brutal como vem sendo aplicando o plano genocida contra os indígenas, tendo como principal protagonista o próprio governo, cujo papel constitucional seria protegê-los. E por que tamanha brutalidade. A resposta é bem simples. Quando estava em campanha à presidente da república, recebeu apoio de segmentos ultraconservadores atrelados ao grande capital, nesse caso grandes empresas ligadas à atividade mineradora, ao hidrocarboneto e agronegócio.
Desde a sua posse a cerca de um ano vem conduzindo ao pé da letra seu projeto sanguinário. Desqualificar os povos indígenas tratando-os como indolentes e incapacitados de autogestão de suas terras foi o que fez e está fazendo com insana maestria o presidente Bolsonaro. Mas nada está perdido ainda.
Esperamos que o presidente da câmara, Rodrigo Maia, cumpra sua promessa feita com representantes indígenas que estiveram em Brasília, de segurar o projeto, quem sabe, arquivá-lo. Mas, certamente, será pressionado para colocá-lo nas pautas de apreciação e votação. Disse ele que o projeto é consistente e constitucional, que não devolverá ao executivo por esse motivo.
A única saída para evitar sua aprovação no congresso é através da pressão dos segmentos organizados e da própria sociedade não alinhada a postura neofascista do atual governo. Infelizmente as mídias burguesas mantêm uma postura de indiferença ao terrível estelionato proposto por Bolsonaro contra as terras indígenas. Em vez de MP 191, deveria ser 171, que no código penal se define como crime de estelionato.
Professo Jairo Cezar   

domingo, 16 de fevereiro de 2020


MUITO AINDA DEVE SER FEITO PARA DINAMIZAR O TURISMO NO EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA
Cachoeira do bizungo
https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/trilha-da-cachoeira-do-bizungo-20950740/photo-13114338


Durante as férias ou em certas ocasiões sempre reservo um tempinho para me aventurar em trilhas, cachoeiras e outros locais deslumbrantes dos quais requer doses de disposição, coragem e paixão. Foi o que aconteceu em Florianópolis há cerca de trinta dias quando, junto com o meu filho, desbravamos alguns roteiros no sul da ilha, região cujas comunidades ainda conservam traços arquitetônicos e culturais herdadas das primeiras famílias açorianas que chegaram a região na metade do século XVIII.
 Como já havia escrito em texto anterior afirmando que o sul do estado de Santa Catarina apresentava potencialidades turísticas iguais ou até mesmo superiores a capital, Florianópolis, porém pecava pela indisposição dos gestores e seguimentos empresariais locais em dinamizar esse seguimento, um passeio a um dos municípios que reúne grandes potencialidades do extremo sul nesse setor, comprovou meu argumento.

Foto Jairo

Como já havia feito o mesmo passeio há dois anos para conhecer a famosa cachoeira do Bizungo, no município de Morro Grande, dessa vez decidi convidar uma família de amigos de Caxias do Sul, que passavam férias no Baln. Arroio do Silva. A chegada a sede do município força o visitante a fazer uma parada quase obrigatória as proximidades da igreja católica e tirar umas fotos da mesma, tamanha a beleza das paredes daquela edificação, toda revestida de fragmentos cerâmicos. Seguindo em frente, a próxima parada seria a trilha que levaria a cachoeira do Bizungo.

Foto Jairo


Foto Jairo

Para quem conhece um pouco a região era de se prever que rapidamente seria encontrado o caminho que levaria ao local. Nada disso, depois de quase uma hora, solicitando informações de um e de outro morador, finalmente encontramos a estrada. O fato é que não havia qualquer placa informativa para facilitar os visitantes a se guiarem pelas redondezas. Seguindo uma estrada de chão batido, depois de quase trinta minutos, chegamos ao que deveria ser uma ponte de madeira, onde todos teriam obrigatoriedade de cruzar se quisessem chegar à cachoeira. As condições da referida ponte ou pontilhão eram tão precárias que ficamos em dúvida se era realmente aquele o caminho para se chegar ao nosso destino.

Foto Jairo

Para tirar as dúvidas adentramos em uma propriedade e pedimos mais uma vez informações se realmente estávamos no caminho certo. Acredito que outros devem ter tido o mesmo comportamento.  A resposta da cidadã foi positiva, aquele era o caminho.  O desafio agora era atravessar a pontilhão, correndo o risco de furarmos os pneus do veículo tamanho os pregos que estavam à amostra.   Vencendo mais esse desafio, não imaginávamos que outros tantos estavam a nossa frente. Estacionamos os carros nas proximidades de riacho e caminhamos por cerca de uma hora por um caminho onde as únicas placas que encontramos estavam próximas a junto a cachoeira, com informações do tipo, não jogue lixo, preserve a natureza. 


Foto Jairo

É muito pouco para um local que hipnotiza qualquer um, tamanho espetáculo de uma queda d’água com mais de cem metros de altura. Foi possível observar no caminho a ação de vândalos, rabiscando árvores com nomes. Sem fiscalização ou o acompanhamento de um guia, é possível que muitas espécies da flora, como bromélias, orquídeas, são saqueadas por  quem ali transitam. Além desse fabuloso ponto turístico, pouco conhecido e de difícil acesso, os visitantes são instigados a conhecer as famosas furnas da comunidade de três barras, que conservam inscrições dos primeiros habitantes da região que lá viveram há cerca de três ou quatro mil anos.

Foto Jairo

Chegando a três barras, uma placa apontava o caminho que deveríamos seguir até o local desejado. Depois de trinta minutos, atravessamos uma ponte recém construída, onde havia uma placa informando sobre a existência da respectiva furna. Foi a última placa encontrada pelo caminho. Paramos junto a um riacho, com águas cristalinas, porém, não sabíamos como fazer para chegar as ditas furnas. Atravessei o riacho a pé e caminhei por dez ou quinze minutos, sem qualquer pista das mesmas. Tomei a decisão de retornar, me sentindo frustrado por, mais uma vez, não ter visitado o importante local histórico. Talvez esse sentimento tenha sido sentido por outras tantas pessoas que vieram ao local e retornaram decepcionados.  
É preciso repensar a forma como vem sendo tratado o tema turismo na região. Todos sabem que o projeto geossítio, que envolverá cinco municípios na região, incluindo Morro Grande, tem por finalidade o desenvolvimento de estratégias políticas para fortalecer esse seguimento na região. Mas enquanto as etapas do projeto não são concluídas, cabe os municípios adotarem ações básicas e de baixo custo para atrair novos visitantes e que não saiam decepcionados.
O maior divulgador dos atrativos turísticos de um município é o próprio visitante. Se não há dinheiro para investimentos em grandes estruturas, o mínimo que uma administração pode fazer é facilitar os acessos, com o máximo de informações, como placas, folders, quem sabe uma central de atendimento ao visitante. Um bom exemplo de proposta de programa de informação turística está em construção no município de Araranguá.


Foto Samanta

Foto Samanta

Foto Samanta

Foto Samanta

Foto Samanta

Foto Samanta

Foto Samanta

Foto Samanta

Foto Samanta

Foto Samanta

Porém esse projeto não foi idealizado por algum integrante do poder público municipal. Partiu do projeto orla, que entre as demandas elencadas no PGI (Plano de Gestão Integrada) estão a instalação de nove painéis informativos em cinco pontos distintos das potencialidades geoecológicas inseridas em três Unidades de Conservação municipais. O turista ou qualquer cidadão que queira saber um pouquinho mais sobre a região é só seguir o roteiro e ler os painéis onde estão esmiuçados  informações de cada cenário específico.
Prof. Jairo Cezar





           

sábado, 8 de fevereiro de 2020

GEOGRAFIA DAS INUNDAÇÕES NO BRASIL

Deslizamento de terra na comunidade de Vila Bernardete, em BH, matou pelo menos três pessoas
ornaldocomercio.com/_conteudo/geral/2020/01/722492-enchentes-e-deslizamentos-provocam-38-morte-em-minas-gerais.html

Nas últimas semanas do mês de janeiro, um dos assuntos mais divulgados pela imprensa brasileira foi às fortes chuvas que se abateram sobre a região sudeste, com destaque ao estado de Minas Gerais com dezenas de mortes e imenso prejuízos materiais. O fato é que tais fenômenos climáticos extremos vêm se repetindo e se tornando mais e mais violento a cada estação das chuvas. Um dos fatores motivadores das enxurradas são as mudanças climáticas globais, cujo Brasil não está isento de responsabilidade.
A devastação da floresta amazônica somada a outros fatores como as crescentes emissões de gases poluentes à atmosfera estão alterando ciclos naturais da biosfera. Regiões do planeta estão sofrendo com ciclos mais longos de estiagens. Outras, ao contrário, são afetadas com freqüentes temporais e cujos volumes pluviométricos vêm ultrapassando médias históricas, a exemplo de Belo Horizonte, que em 24 horas choveu 171,8 mm.  
Um volume gigantesco de chuva como foi registrado no dia 24 de fevereiro de 2020 para uma megalópole densamente povoada e com sérios problemas habitacionais como Belo Horizonte, o resultado não poderia ser outro. Quanto às inundações e suas conseqüências já era para estar em andamento nos municípios e estados suscetíveis as inundações, políticas públicas para amenizar tais impactos. E leis existem, aos montes.  
Com o processo de urbanização do Brasil, encostas de morros e áreas historicamente inundáveis foram sendo aterradas e ocupadas por populações na sua maioria de baixa renda. O solo cada vez mais impermeabilização por construções e asfalto, durante as chuvas mais intensas, a água tende a escorrer com velocidade carregando tudo o que estiver a frente.
É sabido que uma das soluções para minimizar os impactos das enxurradas seria remover as populações das áreas de risco, encostas de morros, margens dos rios. O rio Tietê, que corta a cidade de São Paulo, toda vez que ocorrem fortes pancadas de chuva, o mesmo transborda causando transtorno a milhares de pessoas. Cidades menores do interior também já sofrem com tais transtornos: Criciúma, Araranguá, são alguns exemplos.    
As ocupações das encostas de morros de grandes e medidas cidades, dos quais são passivos de deslizamentos, deveriam receber maior atenção das autoridades. E por que não ocorre? Os interesses eleitoreiros e a fragilidade dos órgãos ambientais municipais e estaduais são cúmplices dessas anomalias sociais previsíveis. Algumas cidades brasileiras vêm criando estratégias muitos simples para evitar ou minimizar os impactos provocados pelas freqüentes inundações.
Há poucos anos visitei a cidade gaucha de Lajeado e fiquei surpreso com a atuação do poder público na solução dos problemas das inundações na cidade. A solução foi muito simples, em vez de aterrar as áreas inundáveis para incentivar a ocupação imobiliária, transformaram-na em um parque municipal com vários atrativos. Milhares de cidadãos/ãs todos os dias ocupam essas áreas para praticar atividades esportivas e recreativas. Lajeado, entre outras cidades com projetos semelhantes, poderia inspirar gestores públicos de cidades que sofrem com tais intempéries climáticas.   
Alguém duvida que no próximo ano, as principais manchetes dos jornais brasileiros e os noticiários televisivos estarão abordando as inundações no sudeste brasileiro? Embora sendo um ano eleitoral, é bem possível que muitos candidatos incluirão o tema enchentes nos seus programas de governo. Entretanto, na hipótese da vitória de candidatos de partidos conservadores ao executivo e as câmaras municipais, pouco ou quase nada será feito para conter tais tragédias.
O motivo é conhecido por todos. Enxurradas e outros fenômenos climáticos extremos são episódios onde muitos políticos barganham o voto em troca de algum benefício. Esse ciclo vicioso vem se repetindo há décadas. Será que dessa vez será diferente, quando se tem a frente do executivo federal alguém que trata o tema meio ambiental com desdém.
Prof. Jairo Cezar