quarta-feira, 26 de outubro de 2022

   ITÁLIA ELEGE SUA PRIMEIRA MINISTRA DA EXTREMA DIREITA 100 ANOS DEPOIS DO SURGIMENTO DO FASCISMO NAQUELE PAÍS

Tomou posse no sábado, 22 de outubro, a nova premiê da Itália, Georgia Meloli, eleita pela liga Fratelli d’Italia, (Irmãos da Itália) agremiação partidária de tendência extremista, por defender demandas que criminalizam a imigração, refugiados, etc. Além do mais, defende pautas conservadoras como a não permissão de casamento entre LGBTQI  e anti aborto.  O que mais chamou atenção no episódio de sábado, posse de Meloli, foi ter sido a primeira vez depois do fim da segunda guerra mundial que a Itália elegeu uma primeira ministra com posições neofascistas.

Desde jovem, com 15 e 16 anos de idade, Meloli já havia se integrado a grupos militantes neofascistas, atuando em manifestações contrárias a grupos comunistas. Há algumas coincidências curiosas relativas ao pleito que elegeu Meloli para a Itália. A primeira delas se refere a data do dia 29 de outubro próximo, quando estará completando um século da fundação do fascismo no Itália, por Benito Mussolini.

Na realidade o processo de fundação iniciou dois dias antes, no dia 27 de outubro 1922, com a marcha dos camisas negras, saindo da cidade de Nápoles e terminando em Roma, no dia 29. O segundo fato curioso é que no dia 30 de outubro, um dia após o centenário do nascimento do fascismo na Itália estarão ocorrendo no Brasil uma das eleições mais tensas e decisivas de todos os tempos, podendo, conforme o resultado das urnas, estarem sacramentado no Brasil um regime com viés neofascista. 

Benito Mussolini permaneceu no poder por 23 anos, cujo programa de governo inspirou outros estadistas, como Hitler, nomeado chanceler da Alemanha em 30 de janeiro de 1933. Hitler foi um dos mentores do Nazismo, um sistema de governo tão ou mais violento que o fascismo italiano. Outros países da Europa seguiram a mesma direção da Itália/Alemanha, ou elegendo governos ditatoriais como Salazar em Portugal e Franco na Espanha, ou por meio de regimes colaboracionistas durante a segunda guerra, como a França, Bélgica, Noruega.

O fascismo, o Nazismo e as duas grandes guerras mundiais, ambos se notabilizaram como verdadeiras tragédias humanitárias. Acreditava-se que jamais a humanidade um dia viesse a repetir acontecimentos traumáticos. Os conflitos desencadeados como a ocupação da Ucrânia pela Rússia e os avanços dos partidos ultra direitistas que venceram as eleições ou obtiveram inúmeras cadeiras nos parlamentos europeus, são demonstrações de que a humanidade mais retrocede que avança.

Como imaginar um país na estatura da Itália, berço de civilizações milenares, onde também teve origem os fundamentos do direito clássico ocidental, em pleno século XXI, retrocederem umas gerações na história a ponto de eleger alguém que tem Mussolini como referência de estadista. Claro que retrocessos políticos e sociais não são exclusividade na Itália entre outras sociedades desenvolvidas, o Brasil também aparece no rol de nações que insistem em querer repetir erros cometidos no passado, como os trágicos vinte anos de ditadura militar.

Enquanto Meloni enaltece figuras tão nefastas para a humanidade como Mussolini, no Brasil, o candidato a reeleição, Bolsonoro, exalta figuras escrotas como Brilhante Ustra, um dos maiores torturadores do regime militar. O ditador chileno Augusto Pinochet e o paraguaio Alfredo Stroessner também torturar e sanguinário completam a lista de personagens ilustres que provocam orgulho ao presidente brasileiro. Na Itália, a guinada política mais à direita já havia sido constada nas eleições de 2018, conforme os mapas eleitorais do país exibidos abaixo.


Em 2013 o mapa político italiano se mostrava mais diversificado com mesclas de azul, vermelho e amarelo. A cor azul representa as forças de centro-direita; o vermelho, a centro-esquerda, e o amarelo, o movimento cinco estrelas, que não se define como um partido, mas um movimento, cujo propósito é deslocar partidos tradicionais para assegurar cidadãos comuns ao poder sob a forma de uma democracia direta a partir da internet.

Na eleição seguinte, 2018 as cores ficaram mais concentradas, sem manchas espalhadas por todo território italiano. O único reduto vermelho que aparece é na região de Roma, onde estão as universidades, ou seja, a intelectualidade italiana, que mantém viva os ideais socialistas. No norte do País, região mais industrializada e desenvolvida economicamente, o azul foi predominante, revelando forte conservadorismo. O sul, e as Ilhas da Cicília e Sardenha, cuja predominância foi o amarelo, demonstrou certa negação a política tradicional, haja vista que essas regiões, tradicionalmente foram dominadas por grupos políticos tradicionais vinculados a atividade rural.

Agora observemos o mapa eleitoral para o parlamento italiano ocorrido em setembro de 2022. Observe a cor azul, que representa a centro-direita, que está espalhada por todo o território. O vermelho permaneceu apenas em Roma e cidades do entorno e na extremidade superior, na região de Turim, onde estão grandes concentrações de operários que atuam na atividade automobilística.


Convém fazer algumas considerações comparativas entre o processo eleitoral da Itália e do Brasil. Existiam semelhanças entre ambos, entretanto, do modo invertido. Enquanto o sul da Itália, menos desenvolvido, prevaleciam forças políticas arregimentadas na figura dos mandantes tradicionais, os coronéis, no norte, mais industrializada, o sistema político partidário é mais pulverizado, predominado por forças políticas burguesas. No Brasil, norte e nordeste se assemelham ao sul da Itália, enquanto o sul/sudeste apresenta características econômicas e culturais muito parecidas com o norte daquele país, região mais desenvolvida.   

Mapa eleitora de  2018 - 2022

   Vendo os mapas acima, que exibem cenários eleitorais de 2018 e 2022, cuja cor azul representa votos a favor da direita/extrema direita e o vermelho, a esquerda/centro esquerda, o que chamou a atenção foi perceber que houve o crescimento da cor vermelha no sul/sudeste e centro oeste, e de certa estabilização da cor azul nessas mesmas regiões. Situação bem parecida do que ocorreu na Itália, na eleição de setembro último, que também teve um avanço vertiginoso das forças conservadoras no país.

Na ilustração abaixo está a imagem da candidata Georgia meloli eleita e algumas de suas demandas aprovadas por ampla maioria do povo italiano.  Dentre as propostas uma se refere a vacinação, na qual defendia o fim da obrigatoriedade. O próprio governo Bolsonaro manteve o mesmo posicionamento durante a fase mais critica da pandemia, pondo  em questionamento a eficácia da vacina e sugerindo tratamentos paliativos. O resultado foi mais de duzentos mil mortos pela Covid 19 que poderiam ter sido evitados se o governo admitisse desde o início que a vacina era o único tratamento eficaz.    

      


   

Prof. Jairo Cesa

 

 

            

sábado, 22 de outubro de 2022

 

O PLEITO ELEITORAL DE 02 DE OUTUBRO FOI DESFAVORÁVEL AO FUTURO DA AGROECOLOGIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA

No encontro da agroecologia ocorrido nas dependências do CETRAR/Araranguá fiz manifestação relativa ao futuro incerto desse segmento agrícola no Brasil, quiçá no estado de Santa Catarina.  O desabafo foi motivado pelos desenlaces das urnas no último dia 02 de outubro, quando para o congresso nacional foi eleita poderosa bancada de parlamentares/senadores que irá, sem sombra de dúvida, fazer resistência às demandas relativas à agroecologia, que pouco interessa aos grandes latifundiários do agronegócio.

Entre os partidos que historicamente tem tradição e pautas importantes nesse setor como o PT, PSol, PCdoB e Rede, para a câmara federal foi eleita uma bancada pouco representativa, somente 87 do de 513 assentos que compõem aquela casa legislativa. Será bem difícil pautar e aprovar qualquer proposição que assegure alguns ganhos significativos ao segmento agroecológico, com uma câmara federal que se configurou no último pleito mais conservador ainda que a atual. O que poderá trazer um pouco de alento a essa e outras categorias engajadas no cultivo sustentável é se no dia 30 de outubro os/as eleitores/as brasileiros/as escolherem o candidato do PT à presidente da República.

Na hipótese do resultado ser adverso, os agroecologistas, bem como tudo o que se enquadra a essa cadeira produtiva ficarão a mercê dos ataques da bancada ruralista, chancelada pelo presidente da república.  O que leva ter tanta certeza disso? Imaginemos então, uma câmara federal, cujo PL, partido do presidente, que elegeu 99 deputados, juntando os demais partidos aliados, que superam uma dezena, que esperança teremos?  Podemos afirmar que será a primeira vez, depois da redemocratização política, que conviveremos com uma câmara/senado, predominantemente defensores de pautas absolutamente conservadoras.

Analisando o espectro político em escala regional, nesse caso o sul do Brasil, RS, SC e PR, os escrutínios do pleito de 02 de outubro também trouxeram apreensão ao segmento agroecológico. O Rio Grande do Sul, os dois candidatos concorrentes ao cargo de governador do estado, nos seus planos de governo apresentados não há uma linha sequer citando a agroecologia, porém, são parágrafos inteiros enaltecendo o agronegócio, com políticas públicas mais robustas de fomento ao setor.

O candidato do PSDB, atual governador, no plano, tem um caderno específico para o agronegócio. Nele a única coisa descrita é a concessão de bolsas juventude rural, para manter o jovem na escola durante o ensino médio. Cita também projetos produtivos nas propriedades rurais familiares. Agroecologia, agricultura orgânica, políticas de estímulos ao setor, não há nada. A mesma coisa acontece como o candidato concorrente, Onix Lorenzoni. O primeiro desafio dos interessados a conhecerem as propostas do candidato é conseguirem ler o que está escrito no programa disponível na rede.  O modo como foi redigido e a resolução são péssimos. É de se questionar se tais falhas foram ou não foram intencionais, com real intuito ou não de inviabilizar sua compreensão.

São quatro parágrafos com relevo ao agronegócio, dar incentivo ao cooperativismo, ao combate a estiagem, a produção de biodiesel, etc. Não aparece nada sobre agroecologia, muito menos produtores familiares. O que traz um pouco de alento a esses dois setores, agricultores familiares e groecológicos para o RS, é quando se observa o novo desenho do parlamento gaúcho, etapa 2023-2026, e se depara com 15 deputados, 11 do PT; 03 do PSol e 01 do PCdoB, do total de 55 cadeiras disponíveis, que terão grandes desafios na ALERG em relação às demandas do segmento.

No estado do Paraná, onde não haverá segundo turno para governador, pois o candidato à reeleição Ratinho Junior sagrou-se vitorioso, analisando o seu plano de governo na atividade agroecológica, o mesmo apresenta tópico cuja meta é tornar o Paraná Mais Orgânico. Elem desse tópico, o plano aborda outras iniciativas como ICMS sustentável, carbono zero, entre outros. Entretanto, não há qualquer citação sobre políticas de agrotóxicos, transgenia, etc.

Por fim, destacamos o estado de Santa Catarina, que terá segundo turno e cujos candidatos concorrentes defendem proposições políticas e ideológicas bem distintas. Para comprovar basta observar os planos de governos de ambos, principalmente no segmento da agricultura.  O candidato do PL, Jorginho Mello, do PL, nas duas páginas do seu programa reservada a agricultura, não fez sequer menção ao seguimento agroecológico. O sul do estado, como outras regiões do estado, existem milhares de famílias que subsistem cultivando alimentos sem insumos químicos e agrotóxicos.  

Nos encontros dos grupos e núcleos, que são mediados por profissionais da Epagri, os maiores reclames são as escassas políticas públicas do estado para essa fração que vem crescendo significativamente. Não inúmeras as barreiras que o setor enfrenta, desde programas de subsídio, a políticas de manejo e comercialização dos produtos. Os pomposos subsídios auferidos ao agronegócio para a compra de sementes, insumos e principalmente agrotóxicos, dificulta de sobremaneira manejo eficiente do cultivo orgânico no estado.

Enquanto o produtor agrícola convencional usa e abusa de insumos químicos e agrotóxicos em suas culturas, o produtor não convencional é forçado a se virar nos trinta para proteger sua área de terra da deriva de pesticidas e transgênicos. Geralmente o produtor orgânico leva de dois, três ou mais tempo para obter sua certificação de alimento livre de pesticida, enquanto o convencional está isento de certificação, muito menos de regras que os obriguem comprovarem ou não a presença de toxidade química.

É público e notório que o programa de governo do candidato do PL ao governo do estado garante quase exclusividade ao segmento do agronegócio, excluindo do seu plano, iniciativas que estimulem a prática de cultivos saudáveis.  Deveria o candidato, no mínimo, ter citado no plano que a agroecologia e produção orgânica são setores consolidados no estado e que envolvem milhares de famílias. Ademais, é importante saber que em setembro de 2021, o governo do Estado sancionou legislação especifica para o setor, a Lei n. 18.200/2021 onde estabelece política estadual de agroecologia e produção orgânica (PEOPO).

O plano de governo do PT, no segmento agroecológico, se mostra espantosamente mais sofisticado e realização que do PL. O candidato ao governo do estado, Décio Lima, o seu programa de governo dá detalhes sobre demandas pretendidas tanto para a agricultura convencional, mas, sobretudo, a produção ecossustentável. São diversos os parágrafos dedicados a esse segmento, porém, o que será essencial na administração é o fortalecimento do CONSEA (Conselho Estadual de Segurança Alimentar Nutricional).

O plano também destaca a aquisição de alimentos sem agrotóxicos, políticas de incentivo a alimentação saudável e políticas públicas de educação alimentar. Quanto ao CONSEA, o governo concentrará esforços para estimularem os municípios catarinenses a criarem seus CONSEAs municipais. Não há como criar políticas para promover a alimentação saudável sem um plano de redução progressiva de agrotóxicos na agricultura. No programa do Partido dos Trabalhadores há esse interesse, cuja ação se dará por meio de pesquisa, capacitação, assistência técnica e extensão rural.

Na hipótese de derrota do programa do Partido dos Trabalhadores ao governo do estado pelo programa do PL, existem fortes indícios de haver retrocessos desse setor nos próximos anos. Os próprios profissionais da EPAGRI vivem expectativas nada otimistas acerca do futuro da entidade. Há mais de seis anos a empresa carece de concursos para o preenchimento de vagas. Para alguns técnicos ouvidos da empresa, a vitória de Jorginho Mello pode elevar o nível de sucateamento da empresa. Em vez de estruturar a empresa, o governo poderá terceirizar os serviços de pesquisa e extensão agropecuária, ou seja, contratar os serviços de universidades ou instituições particulares.  

 PT derrotado para o governo do estado vitoria do PL, qual o alento que teriam os agricultores não convencionais do estado? Claro que seria ter eleito uma boa representatividade de parlamentares na ALESC. Porém, não foi o que aconteceu de fato.  Dessa vez como de outros tantos pleitos no passado, os partidos alinhados ao status quo social prevaleceram sobre as agremiações mais progressistas. O desenho do parlamento se configurou sendo mais conservador/elitista que de eleições passadas.

O partido do candidato a reeleição à presidente da república e do candidato a governador do estado, o PL, terá 11 assentos na ALESC. Se somado com os assentos dos partidos que prestaram apoio ao candidato do PL, como o MDB, PP, PSDB, REPUBLICANOS, NOVO e PTB, o número de deputados/as situacionistas chega a 25. Somando os 25 com outros 9 que se declararam neutros, por não declararem apoio ao PL e ao PT, como o PODEMOS, UNIÃO BRASIL e o PSD, restaram somente 6 vagas na ALESC, a serem preenchidas pelo PT, PSol e PDT, ambos da oposição.

Diante de um parlamento nada favorável as pautas progressistas na ALESC, principalmente para a agroecologia, os deputados do PSol, do PT, considerados oposição, terão que concentrar esforços para mobilizar esses e outros segmentos visando darem apoio e sustentação às demandas a serem apresentadas na ALESC.  Serão demandas que certamente terão feroz resistência na casa legislativa dos partidos financiados por corporações do agronegócio.

Muitas das diligências aprovadas na câmara legislativa de Florianópolis tendo como protagonista o vereador e agora eleito deputado, Marquito, podem, sim, serem pautas de debates na casa legislativa do estado. Podemos destacar algumas das leis de interesse ambiental de autoria do vereador Marquito, do PSol, que foram sancionadas na capital e que podem ser transformadas em leis estaduais. São elas: PEL 00089/2018 que reconhece a natureza como sujeito de direitos, que deve ser preservada pelo direito inato de existir; a Lei 10.628, que deflagra Floripa zona livre de agrotóxicos; lei n. 10.501, que estabelece políticas publicas sobre compostagem; lei n. 10.176, na qual rege sobre políticas de fomento a economia solidária, a Lei n. 10.436, que garante proteção às abelhas nativas; por último, a lei n. 10.436, onde estabelece parâmetros relativos a segurança alimentar.  

É necessário e urgente que o agricultor familiar se apodere de praticas de manejo do solo e das plantas sem depender mais do mercado de insumos. Técnicas como análise de solo com o emprego da cromatografia; produção de farinha de rocha; adubação verde; peletização de sementes; coleta de microorganismos eficientes; biofertilizantes; água de vidro; microrrizas; caldas minerais, entre outras, são algumas conhecidas e utilizadas há milênios por comunidades de camponeses. A disseminação coletiva dessas técnicas de manejo do solo elevará a auto estima dos envolvidos, reduzindo ou até mesmo eliminando a dependência com o mercado de insumos químicos.   

Prof. Jairo Cesa

 

https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/RS/546/candidatos/900447/5_1659820853865.pdf

https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/RS/546/candidatos/210001609847/pje-43463806-Proposta%20de%20governo.pdf

https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/PR/546/candidatos/903003/5_1659964804874.pdf

https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/SC/546/candidatos/240001611127/pje-ff646043-Proposta%20de%20governo.pdf

https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/SC/546/candidatos/912835/5_1660240248844.pdf

https://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/

https://www.sds.sc.gov.br/index.php/conselhos/consea

http://leis.alesc.sc.gov.br/html/2021/18169_2021_lei.html

https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=420294

 https://leismunicipais.com.br/a/sc/f/florianopolis/lei-ordinaria/2018/1040/10392/lei-ordinaria-n-10392-2018-dispoe-sobre-a-politica-municipal-de-agroecologia-e-producao-org-nica-de-florianopolis-pmapo?q=Lei+n%C2%BA+10.392

https://www.marquitoagroecologia.com/leis-aprovadas

 

 

 

 

 

 

 

    

terça-feira, 18 de outubro de 2022

 

MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL ASSOMBRADO COM O ESPECTRO DE UM PROFUNDO RETROCESSO DO JÁ PRECARIZADO SISTEMA PÚBLICO DE ENSINO.

Lembro das incansáveis vezes quando nós professores nos reuníamos nos intervalos das aulas para lanchar ou descontrair das tensões, sempre havia alguém que abria discussões sobre problemas na escola ou na profissão. Reflexões sobre políticas educacionais e até mesmo entrando em temas considerados tabus nas escolas como políticas e pleitos eleitorais, também eram assuntos de pauta.  O que acontecia de fato nesses breves momentos eram manifestações discretas, desconfiadas dos  colegas, sobretudo, quando o diretor da escola estava recinto. A figura da “autoridade superior”, mesmo sendo colega de profissão, produzia a sensação de um sujeito insólito aos demais, pois sua ascensão  ao cargo acontecia via indicação política partidária.

A resposta de décadas de hegemonia das elites oligárquicas ao comando do Estado se deve sim a conduta direta e indireta do magistério público e demais servidores do Estado. Quantos governadores, deputados/as, com demandas de massacres à profissão docente, não foram respaldados/as nas urnas com os votos de professores/as.  Somente o magistério estadual ultrapassa os sessenta mil entre efetivos, inativos e Acts. Acrescentando os/as demais servidores/as de outras categorias, o número supera facilmente os cem mil, quantidade mais que suficiente para eleger uma bancada de forte representação da classe.  Mas o histórico dos pleitos ocorridos mostra exatamente o contrário.

No último sufrágio eleitoral, 02 de outubro, o magistério terá para os próximos quatros anos somente  uma representação, porem, certamente terá o apoio, nas discussões de projetos de interesse o magistério, outros quatro deputados, com  demandas mais orientadas para temas sociais, defesa da educação pública, saúde e meio ambiente. E qual seriam as causas possíveis dessa frágil representação na ALESC? As respostas são diversas, todavia o que pode ser consensual entre os pesquisadores e críticos do magistério é admitirem que a explicação no próprio processo de formação da classe docente, constituída, no começo, final do século XIX e início do XX, por cidadãos do sexo masculino. Motivado por baixos salários pagos pelo Estado, os proventos os incapacitam de subsistir a própria família. Aos poucos o espaço da escola foi sendo ocupado predominantemente de mulheres. Muitas das ingressantes à carreira docente, viam o magistério como oportunidade  de alcançar a emancipação, frente a autoridade do pai.  

 Se prestarmos atenção nos discursos declamados pelos governantes dá época ou até mesmo o sentimento que permeava o imaginário social sobre o/a professor/a, nesse caso a mulher, a ideia planeada era de alguém imbuída de “missão divina”, uma linhagem de sacerdotisa, onde em sala de aula professaria o que estava descrito nos manuais, apregoando “bons” hábitos morais e amor irrestrito aos símbolos nacionais. A figura da mulher, portanto, se embaralhava como progenitora, mãe. Já as salas de salas, extensões da suas residências. Diante desse embaralhamento,  incoscientemente, os/as estudantes, crianças, eram tutorados/as pela professora como sendo seus  filhos/as.

Essa condição de missão vocacional, que era  o ato de ensinar, persistiu por mais de um século, até pelos anos 1980/1990, quando o magistério catarinense começa dar  os primeiros passos para a profissionalização da carreira docente. Nesse período a predominância era de mulheres ocupando os espaços das escolas públicas da rede estadual de ensino.  A LDB lei n.9394/96 e outras tantas legislações, resoluções, entre elas as que estabeleceram o plano estadual de educação; as propostas curriculares; planos de carreira, etc, se deram num cenário de forte mobilização da categoria do magistério.

Revisando o recente passado do magistério, sobretudo a partir do final do regime militar quando o SINTE começou a se constituir de fato e de direito, pela primeira vez milhares de trabalhadores da educação vislumbravam no horizonte reais possibilidades de serem valorizados e respeitados como categoria profissional. Entretanto um árduo e tortuoso caminho de lutas e enfrentamentos dominou os anos vindouros, tendo como algozes, governos e legisladores imbuídos em moderar ações que assegurassem conquistas significativas aos trabalhadores/as em educação. Cada governo eleito tinha clareza que o não cumprimento das pautas progressistas elencadas pelo magistério, derivaria em forte pressão, com paralisações, longas greves e desgastes políticos inevitáveis à estrutura de poder do Estado.   

Não há registros que certificam ter havido governos eleitos após o regime militar de terem cumprindo promessas de campanha favoráveis a educação e a carreira docente.  Como de  costume, no primeiro ano   a frente do cargo de professor, o chefe do executivo já era “laureado” com uma ou duas greves, todas com forte adesão da categoria. Ocupação das CRES (Coordenações Regionais de Ensino); tomada das SEDs, acampamentos na ALESC, pressões em frente da sede do executivo estadual, fechamento de pontes, rodovias, entre tantas outras ações, ambas  foram iniciativas de grande sucesso do magistério estadual nesses quase cinquenta anos de SINTE. Se hoje os/as trabalhadores/as das escolas estaduais recebem salários que asseguram o mínimo de dignidade, entre outros direitos,  tudo isso se deve ao  extraordinário empenho do sindicato, das grandes lideranças que exerceram com  dignidade o complexo encargo de manter os/as trabalhadores/as unidos/as e preparados/as para resistência. 

Incrível é que em nenhum momento  o magistério estadual teve trégua e tranquilidade  na condução do seu trabalho docente nas escolas. Além de enfrentar as adversidades  do dia a dia da sala de aula, com infraestruturas depreciadas, os/as professores/as tinham que permanecer vigilantes aos movimentos que aconteciam nos corredores do executivo e do legislativo estadual, na capital dos catarinenses. A todo instante ou na calada da noite, articulações envolvendo  parlamentares e o chefe do executivo aconteciam, na intenção de criar legislações que fragilizasse o  já precarizado ambiente das  escolas e a vida profissional dos/as professores/as.  

Tudo o que se conquistou, dos planos de carreira às frágeis gestões democráticas nas escolas, se deu pela da organização da categoria, das intermitentes lutas, muitas das quais reprimidas de maneira truculenta pelas forças de segurança do Estado, treinadas para bater em professores/as. Impressionante é que a partir das últimas duas décadas houve certo recrudescimento das lutas, tendo em vista a depreciação ainda maior das estruturas do sistema publico estadual de educação.

Atualmente, quase a metade dos/as trabalhadores/as que lecionam nas escolas estaduais  é formada por ACTs, segmento do magistério demasiadamente precarizado/a. A debilitação se deve as ultimas legislações aprovadas pela ALESC, como a que definiu as regras do novo sistema previdenciário dos servidores, que impôs aos professores e outros servidores do estado  o incremento de quase dez anos a mais de trabalho para ter direito a sua aposentadoria. Se confirmada a vitória do candidato a governador pelo PL, Jorginho Mello, paradoxalmente muitos/as servidores/as do estado terão saudades dos últimos governos no trato da coisa pública e do magistério estadual.

Tudo indica que o cenário projetado para a educação para os próximos quatros anos, na hipótese de vitória do candidato bolsonarista, irá se confundir com o do começo da república, quando a professora só era jubilada/aposentada no instante que  completasse 60, 65 ou mais anos de trabalho. Além de idade mínima, pasmem, as postulantes à “aposentadoria” deveriam comprovar mediante laudos médicos, incapacidade física para permanecer lecionando em sala de aula.

    A reforma da previdência dos servidores públicos do estado de Santa Catarina aprovada em 2021, na ALESC,  na qual sequestrou 14% dos proventos dos/as aposentados/as, foi um aperitivinho das maldades que estarão por acontecer. Por que essa certeza? A resposta é simples, basta conferir os/as novos/as deputados/as eleitos/as, partidos que integram, e suas demandas para o serviço público, com ênfase o magistério público estadual. O quadro será mais assombroso ainda se o candidato do PL for eleito ao governo do Estado.  

Não podemos jamais esquecer que os ataques sem precedentes aos proventos dos/as aposentados/as teve, sim, respaldo incondicional de grande parcela dos/as servidores/as estaduais, maior ou menor parcela de trabalhadores da educação. Muitos/as dos/as deputados/as que votaram contra os/as professores/as naquela nefasta sessão na ALESC, cujos servidores foram reprimidos com gás lacrimogêneo e cassetete, haviam sido respaldados nas urnas na eleição de 2018.   Quem já tirou um tempinho para espiar os/as futuros/as deputados/as que ocuparão as cadeiras do legislativo estadual, já deve ter assimilado que o magistério estadual terá enormes  enfrentamentos pela frente, com possibilidades bem remotas de obter algum sucesso profissional no parlamento e executivo.

Por último, cabe aqui discorrer que  na história do legislativo estadual catarinense pós ditadura, jamais houve uma composição tão adversa aos professores como a que foi formada em  02 de outubro último. Quem acompanha as falas do candidato a governador pelo PL ou já leu o seu programa de governo sobre demandas para a educação, deve ter se aterrorizado com o que está escrito. Afinal, quase nada foi escrito, especificando etapa por etapa do que será feito, como o fez o candidato do PT, Décio Lima. Um plano robusto e facilmente aplicável.   O que aparece no plano do candidato do PL, Jorginho Mello, são proposições generalistas, focando no ensino técnico e parcerias com o sistema “S”, SENAC, em especial. Isso dá uma  ideia de terceirização do ensino, ou seja, buscar no segmento S e na iniciativa privada, parceiras.

Lembro que nas reuniões, greves e assembleias do Sinte, quando eu me manifestava muitos olhavam para mim com certo desdém de desconfiança. Minhas argumentações e respostas  sempre se pautavam  a partir de análises da conjuntura política daquele momento. Muitos me consideram um tanto pessimista, pois era irredutível em afirmar que se quiséssemos conquistar 1% ou 2% de reajuste, tínhamos que ficar mobilizados por dois, três ou mais meses. Era o que realmente acontecia. Acredito que não será diferente nos próximos quatros anos. Dessa vez, as longas paralisações se darão não por reajustes salariais, mas para assegurar conquistas históricas, dentre elas a permanência na sala de aula como docente.   

Prof. Jairo Cesa  

   https://eleicoes.poder360.com.br/media/planos/PG240001611127_pje-ff646043-Proposta_de_governo_UMxgVkf.pdf

https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/SC/546/candidatos/240001647445/pje-6f425343-Proposta%20de%20governo.pdf

 

           

                   

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

 

FRAGMENTOS DA COMPLEXIDADE POLÍTICA QUE PERMEIAM ALGUNS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA

Penso ser oportuno fazer algumas considerações relativas às afirmações errôneas, maldosas, ditas por pessoas sobre sistemas de governos socialistas e comunistas. É corriqueiro ouvir de pessoas que se dizem apoiadores de Bolsonaro, quando afrontadas, responderem agressivamente: vá para a Venezuela, vá para Cuba!!! São indivíduos que pouco ou nada conhecem a fundo a realidade política e econômica desses e outros países, mesmo sendo capitalistas. Suas informações são fundamentadas em opiniões de grupos de redes sociais ou em leituras fragmentadas de sites sem qualquer credibilidade científica. O mais grave de tudo, aí sim demonstrando profunda limitação cognitiva, é de insistir taxar qualquer indivíduo que pensa que questiona o atual governo, de defender o comunismo.

Comunista na sua concepção filosófica se define aquele indivíduo ou grupo social cujas relações de convívio, de produção são compartilhadas entre os seus integrantes. No entanto, comunismo é um estágio de evolução extremamente complexo que somente foram atingidos por alguns grupos sociais bem específicos, como certas comunidades indígenas na América Latina. A Revolução Russa em 1917, primeiro país a experimentar o socialismo idealizado por Karl Marx e outros teóricos, no seu curso, vários equívocos foram cometidos pelos seus líderes resultando na sua derrocada em 1989, com a derrubada do muro de Berlim, principal fronteira entre o mundo soviético/socialista e o ocidente/capitalista.

China, Cuba, Vietnã, são países que embora se caracterizem como socialistas, tem parte da sua economia gestada por empresas do segmento privado, principalmente de altas tecnologias como o Vietnã e China. Cuba, por exemplo, mais de trinta por cento do PIB é oriundo do setor privado, na sua maioria empresas ligadas ao setor de turismo. A China é outro exemplo de nação, onde embora o Estado tenha o controle de parcela de suas empresas estratégicas, a economia é significativamente dominada por fluxos de capitais globalizados. Atualmente, são chineses e norte americanos que dominam o tabuleiro geoeconômico mundial, sendo o Brasil como parceiro econômico importante exportador de commodities a essas potências.

Já a Venezuela, país da América do Sul, jamais foi e é uma nação socialista ou comunista, como muitos insistem em afirmar que é.  Como todas as sociedades latino americanas, a Venezuela sofreu o mesmo processo de espoliação colonial a partir do século XV. A Venezuela tem no petróleo a sua principal base de sustentação econômica, grau de importância tão expressivo que lhe garantiu inclusão no seleto grupo da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). As crises cíclicas do capitalismo que assolam o planeta, seus efeitos são mais relevantes naqueles países cujas economias são menos diversificadas e dependentes da exportação de commodities, a exemplo da Venezuela, que depende da exportação de petróleo.

Vamos tentar aqui procurar quebrar os espectros dos termos bizarros expressados por bolsonaristas ultraconservadores/neoliberais, que demonstram sentir saudades da ditadura de 1964, usando expressões agressivas do tipo, vá morar na Venezuela, vá morar em Cuba, para aqueles que não comungam com suas concepções. Como já expressei em um parágrafo acima, Venezuela jamais foi e é uma nação comunista, e Cuba, que é socialista e não comunista, já possui mais de 20% da população do país empregada na iniciativa privada, somando mais de 30% do Píb para o país.

Afinal como está estruturado o mapa político ideológico da América latina, sabendo que somente um país, Cuba, se caracteriza como socialista, porém com uma pequena abertura para o capitalismo. Vamos entender, portanto, como cada nação ou grupo de nações da América Latina e Caribe se enquadram segundo as tendências políticas ideológicas fundamentadas no sistema de produção capitalista. Podemos começar falando sobre aqueles que se enquadram como integrantes da DIREITA CONSERVADORA. Temos exemplos do Paraguai, de Mario Abdo Benitez, atual presidente, e da Colômbia, quando governada por Ivan Duque. Ambos os líderes adotaram ou adotam posições contrárias a legalização do aborto, ao casamento do mesmo gênero, entre outras pautas conservadoras de cunho neoliberal.

O segundo grupo são aqueles classificados de DIREITA FLEXÍVEL. Temos exemplos do Chile, quando governado por Sebastião Pinheira e da Argentina, por Mauricio Macri. Embora Macri tenha realizado algumas privatizações como energias e centrais térmicas, ambas revogadas pelo sucessor Alberto Fernandes, o estadista argentino foi o primeiro a defender a legalização do aborto em seu país, posição semelhante do seu colega chileno, Pinheira. O chileno, no final do mandato, já propunha a aprovação de leis que garantisse o casamento entre os mesmos gêneros. No final de quatro anos de governo Macri, a Argentina havia contraído uma divida pública de mais de 200 bilhões de dólares.

O terceiro grupo de países são aqueles que defendem pautas ultraconservadoras, nacionalistas, anticosmopolitas, militaristas e fundamentalistas. Nesse caso, temos como exemplo o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, considerado um DIREITISTA EXTREMISTA. Suas ideias e conceitos se aproximam de ex-presidentes golpistas como Alfredo Stroessner, do Paraguai e Augusto Pinochet, do Chile. Ambos protagonizaram golpes políticos, cujas ditaduras resultaram em centenas de milhares de mortos e desaparecidos.  

Tivemos e temos na América Latina nações e governos cujos mandatos seguiram e seguem diretrizes políticas com pautas mais progressistas no campo social e econômico. Esses grupos são identificados de esquerdas dentro do capitalismo.  Deixar claro aqui que por serem considerados esquerdistas não significa que defendam rupturas econômicas estruturais, nada disso, defendem políticos de melhor distribuição de renda e relativo controle de empresas estratégicas pelo Estado. Observando os mandatos desses países, todos, sem exceção, mantiveram algum grau de alinhamento com o sistema financeiro internacional, porém, mais focados em investimentos em programas sociais como educação, saúde, segurança, meio ambientes, etc.

Estiveram e estão nesse grupo de ESQUERDAS PROGRESSISTAS os ex-governos Tabaré Marques e José Mujica, ambos do Uruguai, e o atual presidente do Chile, Gabriel Borges. São governos que defenderam explicitamente pautas ditas progressistas como a legalização do aborto, da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Existem também governos dentro da esquerda latino-americana que se definem conservadores, contrários as políticas de legalização do aborto, casamento homo afetivo, etc. Entretanto, no campo social e econômico concordam que o Estado se mantenha forte e atuante na concessão e preservação de políticas que proporcionem o bem estar social. Pedro Castilho, do Peru, é um exemplo de estadista mais alinhado a esse viés social conservador, comparado a outros líderes também de esquerda, porém, mais progressistas no campo social.

Por últimos, talvez muitos queiram até discordar desse rótulo ideológico de esquerda extremista concedido a dois estadistas, um dá América do Sul, Nicolau Maduro, da Venezuela, e o segundo, da América Central, Daniel Ortega, da Nicarágua. As mídias corporativas e grupos à direita da América latina e de outros continentes definem esses dos mandatários como ditadores, por apregoarem o terror em seus países. Embora sendo governos esquerdistas, muitos alegando até esquerdistas reacionários, em nenhum momento proferiram algum discurso defendendo a estatização de toda a estrutura produtiva dos seus países.  

O caso da Venezuela é emblemático, pois o governo vem sofrendo sérias sansões econômicas, que deixaram o país desabastecido, principalmente com medicamentos para o enfrentamento da COVID 19. As mídias e o próprio governo brasileiro  se aproveitaram do momento critico vivido pela Venezuela para taxar o governo maduro de ditador, de culpado pelo quadro social e econômico caótico.    

Fato curioso é quando os mesmos que incitam aos que se opõem ao governo Bolsonaro a saírem do país e viverem na Venezuela, por serem socialista/comunista, esses mesmos que criticam têm Portugal como um dos destinos preferidos. Atualmente o país europeu é o segundo destino de brasileiros. O que muitos desses não sabem ou fingem não saberem é que Portugal é governado por um presidente socialista, isso mesmo, socialista, como outros países europeus. Portanto, por que não fazem a mesma crítica, chacota com aqueles que viajam para Portugal, na sua grande maioria para trabalhar?

Outra contradição desses que vêem no atual presidente a possibilidade de instalação de uma ditadura no Brasil e que tornará a economia mais liberal. Não sabem e deveriam estudar mais que durante o regime militar o Brasil se fechou para o mundo, quase nada era importado, em vez de privatização, foi o período de maior estatização da história recente do Brasil, mais de 300 empresas importantes passam para o regime público. Se imaginavam que estatização, passar para as mãos do Estado, é coisa de regime socialista/comunista, qual a explicação que se poderia dar aos governos militares?  

A Argentina, durante a ditadura, manteve forte comércio bilateral com a União Soviética, que era socialista!! Então, como explicar a postura dos generais argentinos, que se reafirmavam anticomunistas? Como irão reagir muitos dos adeptos ao governo ultradireitista de bolsonaro, que acreditam que somente com uma ditadura é possível solucionar os problemas econômicos e sociais, entregando tudo para a iniciativa privada. Quando souberem desses fatos envolvendo os governos militares com estatizações em massa e fechamentos brutais da economia terão surtos psicóticos.

Prof. Jairo Cesa 

https://www.brasildefato.com.br/2019/02/04/10-mentiras-sobre-a-venezuela-que-de-tanto-repetirem-se-tornaram-base-para-opiniao

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62598789

domingo, 9 de outubro de 2022

 

CURSO DE AGROECOLOGIA COM O DR. SEBASTIÃO PINHEIRO EM DOM PEDRO DE ALCÂNTARA/RS: COMPREENDER A DINÂMICA DOS SOLOS  PARA ASSEGURAR A SOBREVIVÊNCIA DO PLANETA



Durante os dias 25, 26, 27 e 28 de setembro de 2022 aconteceu no Centro Ecológico em Dom Pedro de Alcântara, RS, curso de Agroecologia com o renomado professor Dr. Sebastião Pinheiro. Há mais de quarenta anos o professor atua junto às comunidades camponesas na América latina em ações que visam empoderá-las de técnicas simples e de baixo custo para compreender a dinâmica da biótica do solo. Durante séculos as populações campesinas e de agricultores dominavam técnicas de manejo equilibrado do solo e de sementes, sem se subjugarem à escravidão do mercado.

Nas décadas de 1960 em diante, o avanço da Revolução Verde impôs aos quatro cantos do planeta, modelo de agricultura que transformou o agricultor/camponês em escravo das corporações que paulatinamente dominaram o bilionário mercado de sementes, insumos e agrotóxicos. A agroecologia, no entanto, nas últimas décadas do século XXI vem se contrapondo a ação perversa do agronegócio, que esteriliza solos, impacta rios, florestas e toda a biótica.

O empoderamento de técnicas de confecção da CROMATOGRAFIA DE PFEOFFER; DA PRODUÇÃO DE FARINHA DE ROCHA; ADUBAÇÃO VERDE; PALETIZAÇÃO DE SEMENTES; MICROORGANISMOS CAMPONESES; BIOFERTILIZANTES; ÁGUA DE VIDRO; MICORRIZAS; CALDAS MINERAIS, entre outras soluções, são poderosas ferramentas conhecidas há séculos, milênios, por certas culturas, que asseguram absoluta independência do agricultor no manejo do solo, colheita e comércio do que é produzido.  O fato é que são irrisórios os agricultores que conhecem e aplicam essas técnicas alternativas de cultivo, pois diariamente são enfeitiçados por publicidades que os seduz à praticidade no campo, a promessa de grande de grande produção e riqueza comprando os pacotes oferecidos pelo mercado.  

O que acontece de fato é a perda quase completa do agricultor da sua identidade de sujeito histórico, conhecedor das etapas do processo produtivo.  A não compreensão do conjunto sistêmico produtivo o transforma em uma espécie de marionete social, guiada por mãos poderosas, insensíveis e sem o mínimo de identidade coletiva. Quando se imagina que as forças dominantes do agronegócio se colocam como irreversíveis, que a agroecologia teria apenas espaço limitado nesse planeta afetado por mudanças climáticas extremas e letais aparece do professor Sebastião como uma ave fênix ressurgido das cinzas.

Plantar esperança é sem dúvida uma das suas principais propostas. Reconstruir paradigmas quase esquecidos de coletividade permeia toda a sua dinâmica educativa. Para o professor, nada resolve apresentar modelos prontos de técnicas de cultivo às culturas distintas, pois cada qual tem suas particularidades, diferenciações. O melhor meio para absorver práticas é ensinar conceitos e não fórmulas matemáticas prontas.

É comum antes do plantio de certas culturas o produtor rural avaliar a qualidade do solo, o ph, potencial nutricional e demais componentes obrigatórios ao bom desenvolvimento da planta. Essa tarefa geralmente é incumbida ao agrônomo, técnico agrícola, que colhe amostras do solo, leva até o laboratório para analise por meio de combinações químicas. Análises de tipo têm certo custo, podendo ser bem mais oneroso quando se deseja obter mais informações. Pequenos agricultores jamais foram oportunizados a essas técnicas, custo elevado tende a ser o fator impeditivo.

Era inimaginável que algo aparentemente tão complexo e reservado somente a profissionais altamente qualificados pudesse ser construído com custo quase zero. Isso mesmo, custo quase zero. Foi isso o que aconteceu no primeiro dia do curso com o professor Sebastião Pinheiro. Ele ensinou aos presentes a CROMATOGRAFIA, técnica de separação de partículas de terra para identificar ou não presença de vida e tipos de minerais no solo. O que impressionou foi o fato de a mesma poder ser realizada coletivamente, ou seja, em casa dos próprios camponeses, transformadas em laboratórios. Água destilada ou água de “deus”, soda caustica e nitrato de prata são os ingredientes necessários para a realização dos experimentos. Em cinco ou seis dias os resultados estarão prontos. Entretanto, a compreensão de como está o solo será interpretativa, pois cada tom de cor apresentada no cromo tem se significado.  

Uma diversidade de cores, do branco, preto e vários tons de cinza vão se destacando no papel. Cada cor representa um tipo diferente de mineral, elementos vivos e nocivos presentes no solo. O branco, por exemplo, que poderá se destacar no centro do papel revelará que o solo tem presença significativa ou discreta de vida microbiana. Se estendendo para as extremidades do círculo pode-se verificar a presença ou não de minerais e outros elementos químicos importantes para o desenvolvimento da planta, como potássio, fosfato, entre outros. Com base nas observações cromatográficas será possível fazer o manejo correto do solo, para torná-lo o mais produtivo possível.

A regulação da CADEIA BIÓTICA do solo é o que será realizado no momento que o agricultor concluir o processo de análise cromatográfica. Restabelecer a vida no solo, a diversidade microbiana, exigirá a aplicação de pó de rocha, folhas secas, matéria verde, esterco, etc. o processo regulatório é tão importante e necessário porque ajudará na regulação do clima global. Países como o Japão, após um rigoroso inverno, o solo é recuperado como a aplicação de TORTA DE BOCASHI, um adubo fermentado. Em climas tropicais ou subtropicais o bocashi pode ser preparado com extraordinário êxito. É comum na agroecologia, quando se constata a baixa incidência de vida no solo, recolher na floresta os MICRÓBIOS ESSENCIAIS utilizando arroz cozido ou abóbora. Esses micróbios, principalmente os que apresentam tons mais claros podem ser inseridos em compostagens e outros compostos, tornando-os mais ricos em termos nutricionais.   

Em uma agricultura moderna, o mercado estabelece modelos a serem seguidos por todos os agricultores independente do local, clima, relevo, etc. As sementes, os insumos, os agrotóxicos, etc, apresentam as mesmas moléculas aplicadas em qualquer parte do mundo. Bem diferente de um sistema agroecológico, onde em um mesmo bioma ou fração territorial, o solo, aspectos climáticos, geomorfológicos se mostram diferentes da do vizinho ao lado. Portanto, são particularidades que devem ser consideradas antes do cultivo.

Um dos graves equívocos cometidos pelo ser humano foi ter passado longo período discutindo transgênicos, tempo esse aproveitado para estudar ambientes, mudanças na propriedade, o ângulo da incidência maior ou menor de solo, alterações na quantidade e na qualidade do produto colhido, etc. Claro que diante de um sistema produtivo baseado rentabilidade a qualquer custo, os transgênicos foram bem vindos.  

Por ser a região do norte do rio Grande do Sul um dos pólos produtivos de banana do muito do que se aprendeu no curso com o professor Sebastião teve a fruta como principal objeto de investigação. O tema ÁGUA DE VIDRO, intensamente debatido e aprendido a sua formulação química, tem a sua aplicabilidade às culturas da banana, maça, pitaya, entre outras tantas. A fruta banana geralmente é cultivada em regiões com boa incidência de chuva. Esse fator contribui para que o tronco da fruta produza doses elevadas de potássio. A aplicação de água de vidro ajuda no fortalecimento das folhas, impedindo a perda desse importante elemento.

Água de vidro é um preparado antigo, surgido no oriente, século XI. Ingredientes necessários são QUATRO PARTES DE CINZA DE FOGÃO, UMA PARTE DE CAL E CINCO PARTES DE ÁGUA QUENTE. Em dez minutos a solução estará pronta. O silício é absorvido e rapidamente engrossa o caule. Ele é um estimulador de proteção metabólica as plantas, fortalecendo, tornando-as resistentes as pseudo pragas, às geadas, às estiagens.

Recomenda-se sua aplicação durante as manhãs ou à tardinha. Deve-se repetir a aplicação a cada dez dias. Jamais aplicar em dias ensolarados, pois a cal pode danificar as folhas e reação a luz solar. É recomendado não guardar em garrafas pets. Portanto, repetindo, a cinza deve ser misturada com cal e misturada a seco. Depois, colocar água quente e mexer até dissolver completamente. Concluída essa etapa, dependendo o montante desejado, inserir 91 partes de água fria, coar com um pano e está pronto para aplicação. Para cada vinte litros de água adicionar 250 ml do produto.

Outro produto importante para o desenvolvimento de raízes das plantas da bananeira, em especial, é o ACIDO FÚLVICO, elaborado a partir da adição de TERRA TURFA, CINZA, PITADINHA DE SODA, MAIS ACIDO MURIÁTICO OU ACIDO CLORÍDRICO. Feita a poção, é recomendado 2,5 ml de acido fulvico em água de vidro e pulverizar as folhas das plantas. Esse produto ativa o sistema secundário das plantas.

Durante a fala o professor destacou as cinco espécies de seres vivos no planeta classificadas de agricultoras. O primeiro deles é o CUPIM. Como funciona o processo agrícola do cupim? O inseto rói madeiras e defeca um pó. No pó é impregnada uma enzima que faz gerar um fungo ou cogumelo, alimento do cupim. O segundo ser vivo agricultor é a FORMIGA SAÚVA. O interessante é que o inseto é considerado excelente indicador de problemas no campo que o agricultor deve prestar a atenção. Geralmente a formiga ataca plantas que apresentam deficiências, doenças, para cortar as folhas. Por que plantas doentes são as preferidas dessas formigas? A resposta é simples. Quanto mais frágeis forem as plantas, mais acelerado será o processo de fermentação ou formação de fungo para se alimentar. Por que prestar atenção no comportamento desse inseto? A resposta são 90 milhões de anos de existência do inseto.

O ataque de plantas por formigas cortadeiras frequentemente é combatido por inseticidas. Na agroecologia esse recurso é completamente impraticável. Uma das alternativas recomendadas é a aplicação de um fungo obtido da laranja em início de decomposição. Quando a laranja é envolvida por um mofo, ou fungo, recomenda-se lavá-la em um balde de água. Os esporos são despejados nos buracos dos formigueiros onde faz desaparecê-las. Os esporos fazem germinar o fungo no interior do formigueiro, atuando como um antagonista, opositor ao fungo das folhas que alimentam as formigas. É importante acrescentar que são medidas paliativas o uso desses recursos até o momento que for restabelecido a vida desse solo. Ao melhorar a vitalidade do solo, que pode levar seis ou sete anos, as formigas se retiram naturalmente. Muitos devem ter observado que é muito difícil ver formigas cortadeiras em hortas quando o solo está bem alimentado.   

O terceiro agricultor são as ABELHAS, que a 60 milhões de anos retiram o pólem, néctar das flores e as transformam em mel. A abelha possui enzimas das quais impedem a fermentação do néctar durante o vôo até a colméia. No entanto, o inseto regurgita o néctar na colmeia, liberando enzimas que se transformam em mel.  O quarto na sequência é UM RATO, que só existe no Quênia. O roedor vive no solo e se reproduz rapidamente. Esse mamífero é semelhante às abelhas, ou seja, sociedade matriarcal cujas fezes da rainha são transformadas em fungo, cujas quais alimentam as operárias. E presença de enorme quantidade de hormônio nas fezes contribui para que as operárias se tornem estéreis, inférteis, porém, não impedem de desenvolverem elevado senso maternal. São, por fim, as abelhas operárias que criam os filhos da rainha.

O Japão vem investindo muito nos estudos desse rato/roedor/mamífero, isso se deva ao fato de ter sido descoberto que o mamífero não desenvolve células cancerígenas. Os japoneses acreditam que é possível detectar nesse roedor fatores biológicos que impedem a formação de tumores. A proposta, portanto, dos cientistas japoneses é produzir substâncias das células desse mamífero capaz de prevenir ou até mesmo curar cânceres em humanos. Para fechar a lista de espécies agricultoras, o último da lista é o ser HUMANO.

Diferente das demais espécies de agricultores, a atividade agrícola pelos humanos teve início há cerca de dez mil anos. No entanto apenas agora, pouco mais de 20 a trinta anos, a indústria aceita que se faça micróbio para nutrir o solo. As crises estão se tornando tão ameaçadoras que os sistemas industriais vêm concluindo que é necessário salvar os solos para que o ser humano não desapareça em decorrência das mudanças climáticas. Não há mais dúvida que é o modelo agrícola moderno ou agronegócio um dos grandes responsáveis pelo agravamento do clima global.

Imprescindível em um sistema agroecológico que o agricultor/a compreenda a dinâmica do seu espaço produtivo, se apoderando de técnicas milenares e as utilizando conforme as peculiaridades do seu solo. O mercado durante décadas impôs regras homogêneas determinando o que deve e como deve o agricultor manejar o seu solo. Esse é modelo produtivo imposto por regimes ditatoriais, no qual tirou todo o saber pensar e saber fazer do camponês. A individualização também foi outra estratégia bem sucedida pela ditadura para impedir trocas de saberes e organizações coletivas. A agroecologia diferente da agricultura moderna se sustenta no fortalecimento dos processos organizacionais de troca de experiências e no agir coletivo.

Conforme relatou o professor Sebastião, mais de 90% das doenças que ocorrem na agricultura se originam no momento da semeadura. No instante que a semente começa a germinar, fungos e demais elementos patogênicos as contaminam. Recomenda-se a peletização das mesmas, ou seja, cobri-las com pó de rocha basáltica e cola. O PÓ DE ROCHA POSSUI ELEMENTOS QUÍMICOS QUE REAGEM CRIANDO CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS QUE MATAM OS FUNGOS PRESENTE NA SEMENTE. A presença do fungo torna-se perceptível na floração, a exemplo da Antracnose. Pode-se também acrescentar na peletização PÓ DE CARVÃO VEGETAL E UM FUNGO BENÉFICO PARA TORNÁ-LA MAIS RESISTENTE.

 A técnica da coleta de MICRORRISAS também foi destaque no curso com o professor Sebastião. Algumas plantas a exemplo do picão preto pode ser arrancado com uma pá, cobrir as raízes com pano e deixá-lo secando, na sobra, por um tempo. Depois de seco, adicioná-lo em um recipiente com água, cujos nutrientes, bacilos saudáveis, devem ser lançados ao solo para aumentar a fertilidade.  Os fungos existentes nas micorrisas são divididos em endomicorrizas e ectomicorrizas.

O primeiro, endomicorrizas, é encontrado em 80% das plantas, são cerca de 300 espécies ao todo. São fungos que realizam a transferência de nitrogênio orgânico e fósforo para o vegetal. Ajudam também a aumentar a absorção de alguns microelementos, como zinco, manganês e cobre, além, é claro, da água. Esses fungos também ajudam a fortalecer as plantas contra fitopatogenos e nematódeos. Em troca as plantas fornecem o carbono fixado, na forma de açucares e vitaminas essenciais. O segundo, o ectomicorrizas, coloniza a parte externa da planta, envolvendo-as.

A produção de biofertilizantes se caracteriza como excelente e prático recurso alternativo a disposição do agricultor. O seu inventor foi um agricultor gaucho conhecido pelo nome de DELVINO MAGRO. A fórmula foi batizada de SUPERMAGRO e se espalhou por toda a América Latina e outros países. O uso desse produto permite a recuperação do solo e reduz drasticamente a dependência dos agricultores aos produtos sintetizados. São inúmeras as receitas de supermagro, no entanto, o camponês pode usar os ingredientes que estão mais a disposição que outros. Recomenda-se depositar em um tonel grande, 20 kg de esterco de vaca fresco; 2 litros de soro; 1 ½ kg farinha de rocha ou 1 ½ kg cinza, pode acrescentar ambos, metade de cada; 100g de levadura/fermento; 1kg de melado e 80% de água.

O primeiro passo é colocar o esterco no tonel e 50% de água; dissolver o melado em um balde, acrescentando o fermento. Depois de dissolvido, colocar no tonel e mexer novamente com um bastão. Acrescente também o soro/leite e novamente mexer. Agora é a vez dos minerais, podendo ser 500g de fosfito; 500g, cinza e 500g de farinha de rocha. Feita a mistura, colocar no tonel, acrescentando mais água, até rente a tampa.

Concluído todas as etapas, agora é fazer um furo na tampa e inserir uma mangueira cuja ponta ficará dentro de uma garrafa pet com água limpa. O gás metano será liberado pela fermentação. Trinta dias mais ou menos o fertilizante supermagro estará pronto. Recomenda-se fazer alguns testes em plantas para definir a dosagem ideal na aplicação das demais plantas.  Se desejar tornar o supermagro mais complexo, pode-se acrescentar depois de três dias, 2kg de sulfato de zinco; seis dias, 600g de sulfato ferroso; nove dias, 2kg de sulfato de magnésio; doze dias, 600g de sulfato de manganês; quinze dias, 500g de sulfato de cobre, e dezoito dias,  2kg de cloreto de cálcio. Depois de adicionar todos os elementos, aí sim, contar trinta dias e estará pronto para a aplicação.

Quando um solo apresenta alguma deficiência é preciso prestar atenção em alguns bio indicadores, ou seja, mecanismos altamente eficientes para verificar possíveis anomalias no solo, água, etc. Atualmente um dos maiores problemas enfrentados pela humanidade é a contaminação da água por agrotóxicos. Muitas vezes a única maneira para conferir a presença de contaminantes são análises laboratoriais. É possível a aplicação de uma técnica bem simples para saber. Depositar sementes de camomila em um pequeno recipiente com água. Depois de três ou quatro dias as sementes começam a germinar. Se a água estiver contaminada, a plantinha irá morrer após germinar, portanto essa água deverá ser evitada para o consumo.

Um dos produtos naturais de uso agrícola mais utilizado no planeta é sem dúvida biofertilizantes, que é resultado da fermentação uma ou várias substâncias. O professor relatou a história de um biofertilizante conhecido no planeta, cujo nome é supermagro. Esse nome se deve ao seu criador, um técnico agrícola do Rio grande do Sul, produtor de maçã que desenvolveu a fórmula “mágica” para produzir a fruta sem a aplicação de produtos químicos. É importante aqui destacar que o fertilizante supermagro sua fórmula pode ser ajustada de acordo com a cultura a ser aplicada, a região e o clima. Em regiões de clima tropical, de temperaturas elevadas, o tempo de fermentação desse biofertilizante pode varia de 15 a 20 dias. Já em regiões com temperaturas mais amenas como a região sul do Brasil, o processo de fermentação pode levar até 120 dias.

O professor ensinou uma fórmula para a produção de biofertilizante que dificilmente será esquecido. A fórmula é quase uma brincadeira, que é assim expressada: 144 – 44 – 4-4-, ou seja, 144 litros de água, 44 kg de esterco, 4 kg de pó de rocha e 4 litros de melado ou garapa. Deixar fermentar por 30, 60 ou 90 dias.  Quanto à matéria orgânica, cada um utiliza aquela que tem disponível, conforme a região e o clima. No Rio Grande do Sul, existem nada mais nada menos que 276 tipos diferentes de biofertilizantes. A grande quantidade se deve ao fato de evitar qualquer risco de alguma empresa vir a patentear o produto.

A química sem dúvida foi a área do conhecimento que transformou a Alemanha em uma das grandes potências econômicas. A participação de um cientista chamado Alexandre Humboldt fez grande diferença. No final do século XIX, Humboldt viajou para o México e transformou a casca da planta salix ou salgueiro, que combate a febre, no medicamento aspirina. Para dinamizar a venda desse produto, como fazem todas as corporações, criou meios para menosprezar práticas caseiras ou populares de chás, como o que era realizado com casca de salix. Outra curiosidade dita pelo professor é que a Alemanha compra quase todos os caroços de manga colhida no mundo inteiro. Os caroços são moídos e transformados em creme, da marca "nivea", para retardar o envelhecimento.

O resultado da ocupação das terras periféricas do planeta pelas metrópoles européias foi de apoderar-se das riquezas naturais, como o pau brasil, seringueira, cacau, café, entre outras centenas de espécies. A intenção foi transformar mecanicamente esses produtos e agregar valor infinitamente superior ao da matéria prima. Aqui explica o fato desses países periféricos, Brasil em especial, onde a educação e a ciência são tratadas com tanto desprezo. Se a Alemanha, Inglaterra, Itália, Bélgica, Suíça, Japão, etc, se destacam mundialmente na economia, na tecnologia, não há dúvida que o motivo foi investimento milionário no sistema educativo.

O café sombreado, gasta menos energia, portanto, mais saudável ele fica. Quando o café passou a ser cultivado no vale do Paraíba, final do século XIX, todo o esterco das fazendas de gado, burros, das fazendas do entorno dos cafezais passou a ser aplicado nos cafezais. Na década de 1940, já preparando a revolução verde, o esterco passou a ser substituído por tortas de algodão, tortas de mamona e de amendoim. Na Amazônia, o japonês ainda faz adubação verde para centenas de hectares de culturas. Em 1964, regime militar, os americanos impuseram novo modelo de cultivo agrícola a partir de compostos químicos. Afirmavam equivocadamente que a matéria orgânica deveria ser enterrada a 30 ou 40 cm de profundidade. Contrapondo ao modelo agrícola americano, os japoneses faziam adubação verde para adquirir autonomia e independência. No Brasil, com a revolução verde, as cooperativas se transformaram em entrepostos comerciais da Monsanto.

A aplicação de ÁCIDO FÚLVICO nas plantas para estimular o enraizamento se constitui em uma poderosa substância de baixo custo financeiro e muito eficiente. Para a preparação do fertilizante do solo um dos principais ingredientes é terra turfa ou substrato. Tendo a terra turfa, cabe agora adicionar uma colher de sopa de soda caustica em dois litros de água, mexer, adicionar o substrato. Pronto essa etapa, agora é coar em um pano e acrescentar acido muriático. Novamente coar, pois o líquido ficará amarelado. Está pronto o acido fulvico. Para aplicação em plantas, pulverização, é recomendado 25 ml do ácido em 20 litros de água.   

A produção da famosa TORTA DE BOCASHI tende a ser um dos nutrientes mais relevantes da agroecologia. O carvão vegetal, por sua vez, é um dos seus principais componentes, entre outros tantos que compõem o composto. Não é necessário comprar o carvão, o agricultor pode produzir na sua chácara, sítio sem custo algum. A vantagem é que se pode utilizar restos de madeiras do bioma local, que contém propriedades químicas/físicas/biológicas não identificadas em madeiras de outros biomas.

Para fazer a Torta de Bocashi, o primeiro passo é despejar pó de rocha no chão, recomendação em um local coberto para evitar chuva. O pó de rocha não possui vida e absorve a umidade do solo. Após despejado o pó de rocha, adicionar terra de barranco/terra preta, esterco seco de boi, outra camada de casca de arroz, esterco de cabra, farelo de arroz, cana moída, casca da mandioca, casca de banana, folha da bananeira – como um reator. Balde com água, esterco de galinha, carvão moído, palha verde, melado. O processo é muito parecido com uma torta, toda feita em camadas. É importante aqui picar todos os ingredientes com uma pá, misturando-os. Três dias depois se deve mexer o composto devido ao calor produzido no seu interior.

Prestar atenção nas sementes que serão lançadas no solo é algo imprescindível na agroecologia. Uma das práticas comuns para proteger a sementes a ação de patógenos é a sua peletização, ou seja, uma espécie de invólucro protetivo. A recomendação é usar cola e pó de rocha. Mais de 80% das doenças que afetam as plantações tem a sua origem no processo de semeadura. O pó de rocha cria um campo eletromagnético que impede o ataque de fungos no instante que a semente germina.

Muitos já devem ter ouvido falar da técnica de captura de fungos na mata ou MICRORGANISMOS EFICIENTES. Esse é um processo muito antigo, porém, no Brasil raríssima são as pessoas que conhecem. Fungos são microorganismos responsáveis pela decomposição de elementos vivos, no caso das florestas são folhas, troncos, etc. No entanto, os fungos podem ser capturados usando arroz cozido, que o serial mais comum. O que deve ser observado aqui é o cozimento de arroz livre de contaminantes como agrotóxicos.

O arroz, não muito cozido, pode ser acomodado num recipiente e coberto por um pano/tela e levado no interior da mata. Recomenda-se também por a caixa em contato com o solo para facilitar a entrada dos fungos. Feito isso a caixa será coberta com folha e outros elementos ali existentes. O objetivo é criar na caixa um ambiente mais próximo possível da floresta. Dez a quinze dias depois estará pronto. Fungos pretos presentes no arroz devem ser descartados novamente na floresta, ficando apenas com os fungos coloridos.

Depois dessa primeira etapa, recomenda-se adicionar três litros de melado ou garapa dentro de um balde com água limpa. Misturar e acrescentar os pedaços de arroz com os fungos. Coar tudo e por em uma bombona, vedá-la e por uma mangueira para que o gás presente no seu interior possa sair. Para verificar se a fermentação está ocorrendo, por um recipiente com água, cuja ponta da mangueira ficará no seu interior.  Nas duas primeiras semanas possivelmente não sairá bolha pelo fato do processo de fermentação estar no início. O produto pode ser armazenado por um ano.

Para a aplicação é recomendado cinco litros do concentrado misturado com um litro de melaço de cana para ativar os fungos. Primeiro por o melado na recipiente com água e depois os cinco litros de fungo. Três ou quatro horas depois já está pronto para aplicar em um hectare de terra. Para cada 100 litros de água inserir 3 litros do concentrado e mais 400g de melaço em pó ou ½ litro de melaço líquido.

Há, sim, certeza absoluta que a agroecologia é a única garantia que temos de permanecermos nesse planeta por mais tempo. Isso se deve a recuperação de toda uma simbiose perdida ao longo dos séculos e agravada nas últimas décadas pela acelerada revolução agrícola.  Acredito que o referido texto possa existir uma enormidade de equívocos que deverão ser revisados. Fora isso, espero que sirvam de subsídios aqueles que desconhecem muitas das técnicas de práticas agroecológicas relatadas.

O fato motivador desse relatório, sem dúvida alguma foi ter conhecido o grande mestre Sebastião Pinheiro. Além do mestre Sebastião, reitero toda a minha gratidão àqueles/as que por quase cinco dias junto comigo participaram do espetacular curso de agroecologia com o mestre em Dom Pedro de Alcântara.  Creio que tanto para mim quanto para muitos/as dos/as que lá estiveram, os conhecimentos e experiências repassados por Tião foi o energético que nos faltava para seguir em frente com nossas vidas acreditando que ainda há esperança de um planeta onde todos os seres possam viver em equilíbrio.

Prof. Jairo Cesa  

https://www.youtube.com/watch?v=pH8GUBg_gQE


https://www.youtube.com/watch?v=_rRW2ub5hY0

  https://www.youtube.com/watch?v=K0UmAMWX9c4

https://biome4all.com.br/fungos-que-beneficiam-as-raizes-das-plantas/?gclid=CjwKCAjwv4SaBhBPEiwA9YzZvPWz8iNAb1IJr9vIsoHmYkBUhd6dozThjFMYh9Lelh5v2R45AUqGBhoCbGsQAvD_BwE

https://www.youtube.com/watch?v=A0korY6X-jE

https://www.youtube.com/watch?v=_JO-wbabCCY

https://www.youtube.com/watch?v=nmdH1OtFnrI

https://www.youtube.com/watch?v=O-_vcg9LaNY

https://www.youtube.com/watch?v=MuodpZOyW4c

https://www.youtube.com/watch?v=gezWGtwCdrI

https://www.youtube.com/watch?v=Hm7q4nfJByE

https://www.youtube.com/watch?v=PhrcZFG1Vvg

https://www.youtube.com/watch?v=TkCOo0YmSxc

https://www.youtube.com/watch?v=c7QOjXVAKHk

https://www.youtube.com/watch?v=j0OIp4iix6o

https://www.youtube.com/watch?v=MWLfJ8aiDa0

https://www.youtube.com/watch?v=T6zL4gtEvxo importante