quarta-feira, 26 de outubro de 2022

   ITÁLIA ELEGE SUA PRIMEIRA MINISTRA DA EXTREMA DIREITA 100 ANOS DEPOIS DO SURGIMENTO DO FASCISMO NAQUELE PAÍS

Tomou posse no sábado, 22 de outubro, a nova premiê da Itália, Georgia Meloli, eleita pela liga Fratelli d’Italia, (Irmãos da Itália) agremiação partidária de tendência extremista, por defender demandas que criminalizam a imigração, refugiados, etc. Além do mais, defende pautas conservadoras como a não permissão de casamento entre LGBTQI  e anti aborto.  O que mais chamou atenção no episódio de sábado, posse de Meloli, foi ter sido a primeira vez depois do fim da segunda guerra mundial que a Itália elegeu uma primeira ministra com posições neofascistas.

Desde jovem, com 15 e 16 anos de idade, Meloli já havia se integrado a grupos militantes neofascistas, atuando em manifestações contrárias a grupos comunistas. Há algumas coincidências curiosas relativas ao pleito que elegeu Meloli para a Itália. A primeira delas se refere a data do dia 29 de outubro próximo, quando estará completando um século da fundação do fascismo no Itália, por Benito Mussolini.

Na realidade o processo de fundação iniciou dois dias antes, no dia 27 de outubro 1922, com a marcha dos camisas negras, saindo da cidade de Nápoles e terminando em Roma, no dia 29. O segundo fato curioso é que no dia 30 de outubro, um dia após o centenário do nascimento do fascismo na Itália estarão ocorrendo no Brasil uma das eleições mais tensas e decisivas de todos os tempos, podendo, conforme o resultado das urnas, estarem sacramentado no Brasil um regime com viés neofascista. 

Benito Mussolini permaneceu no poder por 23 anos, cujo programa de governo inspirou outros estadistas, como Hitler, nomeado chanceler da Alemanha em 30 de janeiro de 1933. Hitler foi um dos mentores do Nazismo, um sistema de governo tão ou mais violento que o fascismo italiano. Outros países da Europa seguiram a mesma direção da Itália/Alemanha, ou elegendo governos ditatoriais como Salazar em Portugal e Franco na Espanha, ou por meio de regimes colaboracionistas durante a segunda guerra, como a França, Bélgica, Noruega.

O fascismo, o Nazismo e as duas grandes guerras mundiais, ambos se notabilizaram como verdadeiras tragédias humanitárias. Acreditava-se que jamais a humanidade um dia viesse a repetir acontecimentos traumáticos. Os conflitos desencadeados como a ocupação da Ucrânia pela Rússia e os avanços dos partidos ultra direitistas que venceram as eleições ou obtiveram inúmeras cadeiras nos parlamentos europeus, são demonstrações de que a humanidade mais retrocede que avança.

Como imaginar um país na estatura da Itália, berço de civilizações milenares, onde também teve origem os fundamentos do direito clássico ocidental, em pleno século XXI, retrocederem umas gerações na história a ponto de eleger alguém que tem Mussolini como referência de estadista. Claro que retrocessos políticos e sociais não são exclusividade na Itália entre outras sociedades desenvolvidas, o Brasil também aparece no rol de nações que insistem em querer repetir erros cometidos no passado, como os trágicos vinte anos de ditadura militar.

Enquanto Meloni enaltece figuras tão nefastas para a humanidade como Mussolini, no Brasil, o candidato a reeleição, Bolsonoro, exalta figuras escrotas como Brilhante Ustra, um dos maiores torturadores do regime militar. O ditador chileno Augusto Pinochet e o paraguaio Alfredo Stroessner também torturar e sanguinário completam a lista de personagens ilustres que provocam orgulho ao presidente brasileiro. Na Itália, a guinada política mais à direita já havia sido constada nas eleições de 2018, conforme os mapas eleitorais do país exibidos abaixo.


Em 2013 o mapa político italiano se mostrava mais diversificado com mesclas de azul, vermelho e amarelo. A cor azul representa as forças de centro-direita; o vermelho, a centro-esquerda, e o amarelo, o movimento cinco estrelas, que não se define como um partido, mas um movimento, cujo propósito é deslocar partidos tradicionais para assegurar cidadãos comuns ao poder sob a forma de uma democracia direta a partir da internet.

Na eleição seguinte, 2018 as cores ficaram mais concentradas, sem manchas espalhadas por todo território italiano. O único reduto vermelho que aparece é na região de Roma, onde estão as universidades, ou seja, a intelectualidade italiana, que mantém viva os ideais socialistas. No norte do País, região mais industrializada e desenvolvida economicamente, o azul foi predominante, revelando forte conservadorismo. O sul, e as Ilhas da Cicília e Sardenha, cuja predominância foi o amarelo, demonstrou certa negação a política tradicional, haja vista que essas regiões, tradicionalmente foram dominadas por grupos políticos tradicionais vinculados a atividade rural.

Agora observemos o mapa eleitoral para o parlamento italiano ocorrido em setembro de 2022. Observe a cor azul, que representa a centro-direita, que está espalhada por todo o território. O vermelho permaneceu apenas em Roma e cidades do entorno e na extremidade superior, na região de Turim, onde estão grandes concentrações de operários que atuam na atividade automobilística.


Convém fazer algumas considerações comparativas entre o processo eleitoral da Itália e do Brasil. Existiam semelhanças entre ambos, entretanto, do modo invertido. Enquanto o sul da Itália, menos desenvolvido, prevaleciam forças políticas arregimentadas na figura dos mandantes tradicionais, os coronéis, no norte, mais industrializada, o sistema político partidário é mais pulverizado, predominado por forças políticas burguesas. No Brasil, norte e nordeste se assemelham ao sul da Itália, enquanto o sul/sudeste apresenta características econômicas e culturais muito parecidas com o norte daquele país, região mais desenvolvida.   

Mapa eleitora de  2018 - 2022

   Vendo os mapas acima, que exibem cenários eleitorais de 2018 e 2022, cuja cor azul representa votos a favor da direita/extrema direita e o vermelho, a esquerda/centro esquerda, o que chamou a atenção foi perceber que houve o crescimento da cor vermelha no sul/sudeste e centro oeste, e de certa estabilização da cor azul nessas mesmas regiões. Situação bem parecida do que ocorreu na Itália, na eleição de setembro último, que também teve um avanço vertiginoso das forças conservadoras no país.

Na ilustração abaixo está a imagem da candidata Georgia meloli eleita e algumas de suas demandas aprovadas por ampla maioria do povo italiano.  Dentre as propostas uma se refere a vacinação, na qual defendia o fim da obrigatoriedade. O próprio governo Bolsonaro manteve o mesmo posicionamento durante a fase mais critica da pandemia, pondo  em questionamento a eficácia da vacina e sugerindo tratamentos paliativos. O resultado foi mais de duzentos mil mortos pela Covid 19 que poderiam ter sido evitados se o governo admitisse desde o início que a vacina era o único tratamento eficaz.    

      


   

Prof. Jairo Cesa

 

 

            

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