terça-feira, 1 de novembro de 2022

 

O MPT (MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO) AUTUA CENTENAS DE EMPRESÁRIOS EM SANTA CATARINA POR ASSÉIDO ELEITRAL

Os pleitos eleitorais brasileiros a partir da proclamação da república sempre foram repletos de vícios, pois prevalecia o poder absoluto dos coronéis e seus jagunços, cabos eleitorais, que se utilizava de artimanhas disponíveis para vencer as eleições. O “curral eleitoral” fez parte da nossa triste história política, local metafórico onde o candidato reunia seus correligionários e a população pobre da vila, paróquia, para negociar votos em troca de proteção e promessas jamais cumpridas.  A compra de votos ou fraudes eleitorais era mais comumente durante os pleitos municipais, para os cargos de prefeitos e vereadores.

O aparelhamento das estruturas de poder,  nesse caso o judiciário, promotores e juízes, todos alinhados aos ditames da facção detentora do poder, era a certeza de que jamais o candidato eleito teria o processo de fraude deferido, ou seja, julgado e sentenciado por cometimento de crime eleitoral. Incrível que a prática de corrupção eleitoral foi uma realidade que dominou todo o século XX, até a implantação do sistema de votação eletrônica. Quem não se lembra do voto formiguinha, voto carbono e tantas outras práticas criminosas que trouxe tantas vantagens aos candidatos eleitos, muitos dos quais sem o mínimo de capacidade ao exercício do cargo.

É exatamente esse o resultado quando se elege pessoas desqualificadas para comandar um município, estado ou pais, miséria, serviços de saúde, educação, saneamento, segurança, etc, de péssima qualidade. O que também chama atenção é que os filhotes, netos e bisnetos dos antigos coronéis e seus bandos de apoiadores permanecem atuantes no cenário político atual, mantendo os mesmos procedimentos violentos dos seus antepassados.

Levar o terror, o medo à população parece ser a estratégia ideal para ter os resultados desejados, que é vencer os pleitos eleitorais e manter vivo o ciclo de domínio das forças oligárquicas. Dessa vez esse processo não acontece como no início do século XX, quando existia apenas um partido, o Partido Republicano e sua facção, formada por grupos federalistas, que defendiam maior autonomia dos estados sobre o governo central. Por décadas a mesma facção do partido, os situacionistas, se manteve no poder inviabilizado qualquer possibilidade de sucesso político de  grupos opositores. Claro que o sucesso das empreitadas políticas se devia a eficiente atuação dos cabos eleitorais, jagunços, que armados de pistolas promoviam o terror junto aos munícipes.

Alguém imaginaria que cem anos mais tarde, em 2022, era possível ler ou ouvir notícias de alguém coagindo, ameaçando pessoas para votarem em candidato/os só porque acredita ser favorável aos seus interesses individuais? Sim, não é piada de mau gosto, é pura realidade. Em 19 de outubro último o DC (Diário Catarinense) trouxe a seguinte manchete em sua publicação eletrônica: Joaçaba Lidera casos de assédio eleitoral em SC – Ao todo, 33 cidades de SC possuem denúncias ao MPT (Ministério Público do Trabalho) por assédio eleitoral.

Assédio é quando alguém intimida pessoas no interior do seu curral eleitoral, fábrica ou comércio, por exemplo,  para votarem no candidato X ou Y. Há casos esdrúxulos, que ultrapassaram os limites da perversidade, de trabalhadores demitidos por terem votado no candidato oposto. O estado de Minas Geral liderou o ranque nacional com maiores casos de assédio registrados pelo Ministério do trabalho. São desde o terrorismo econômico, do tipo em que o proprietário da empresa anuncia que vai fechar as portas se o candidato A ou B ganhar a eleição, até prêmios em dinheiro ou churrasco oferecido aos trabalhadores com o único propósito de assediá-los.

O fato é que quase todas as empresas denunciadas têm algum débito com direitos trabalhistas, ou seja, vem infringindo as legislações  trabalhistas no que tange a direitos como férias, décimo terceiro, entre outras obrigações legais. São essas empresas que tem no candidato no qual prestam apoio a certeza de assegurar suas benesses trabalhistas. Houve um caso na Bahia onde uma trabalhadora foi forçada pelo patrão a entrar na sessão eleitoral com celular no sutiã e fotografar o voto comprovando que o candidato votado era Bolsonaro.

Entrando no site do MPT lá e possível acompanhar a ações ajuizadas pelo órgão contra empresários de diversos segmentos econômicos, tanto urbanos quanto rurais. São dezenas, centenas de denúncias protocoladas no Ministério somente nos últimos dois ou três dias que antecedem o dia trinta de outubro, data do segundo turno eleitoral. Convém aqui destacar especificamente  os casos de assédio ajuizados no estado de Santa Catarina, entre os dias 28 e 29 de outubro último.

Foram indiciadas a Cooperativa ALFA, de Chapecó;  a empresa GGNET de Telecomunicações, multada em um milhão de reais; a Empresa RESICOLOR, de Criciúma; oito entidades ligadas ao setor agropecuário do estado: FAESC (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina), a FETAESC (Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Santa Catarina); a ACESC (Associação das Empresas Cerialistas do Estado de Santa Catarina; a FECOAGRO ( Federação das Cooperativas de Agropecuárias); a FECOERUSC ( Federação das Cooperativas de Eletrificação Rural de Santa Catarina); o SINDICARNE (Sindicato de Carnes do Estado de Santa Catarina) ACAV (Associação Catarinense de Avicultura) e o SINDILEITE (Sindicato de Laticínios e Produtores Derivados do Estado de Santa Catarina).

A última da relação, que congrega as principais entidades do segmente agropecuário, cuja denúncia de assédio acatada pelo Ministério Público do Trabalho, foi assim redigida na pagina eletrônica do órgão: “manifesto declarando preocupação com o momento político do país, deixando calara a preferência eleitoral das instituições e, subjetivamente, defendendo e induzindo o voto de seus trabalhadores a determinado candidato”. Embora não tenha sido citado no documento o nome do/s candidato/s preferido/s pelo grupo, não é necessário bola de cristal para descobrir que os preferidos são os candidatos Jorginho Mello e Jair Bolsonaro, ambos do PL.

As ações impetradas pelo Ministério Público do Trabalho por crime de assédio eleitoral às vésperas do segundo turno, certamente não foram suficientes para conter tamanho terrorismo vivido pelos trabalhadores para exercerem seus direitos de escolherem livremente seus representantes para o governo do estado e presidente da República. O medo e o terror por possível perseguição e demissão deve ter mudado o voto de muitos catarinenses  no dia 30 de outubro. Santa Catarina é considerado o Estado que possui um dos melhores IDH do país, além do mais os governantes e a elite política não  cansam de se vangloriarem com os bons resultados conquistados no quesito educação.

Como imaginar um estado que se diz tão desenvolvido economicamente, culturalmente entre os demais da federação, onde quase 70% da população vota em partidos ou candidatos ao governo e a presidente da república com programas de governos tão retrógrados. Inúmeros trabalhos acadêmicos realizados trouxeram algumas respostas relevantes que confirmam ser fatores étnicos culturais como motivadores  desse estranho fenômeno. A forte imigração européia, italianos e alemães, por exemplos, berços de movimentos ultrarreacionários como o fascismo/nazismo  merecem também análises  reflexivas profundas para compreender esse cenário.

Figuras como Hitler e Mussolini, incoscientemente se mantém vivos no imaginário social como símbolos de homens viris, fortes, quase um semideus.  A vinda de imigrantes para Santa Catarina, expulsos pelas guerras em suas pátrias de origem, tiveram que enfrentar outros desafios, primeiro deles era sublimar a revolta quando  perceberam que a terra que fora prometida, que “brotava leite mel”,  era tomada por densas florestas, animais peçonhentos e povos originários.

Culto e reverência a símbolos  nazifascistas são demonstrações de um saudosismo latente no inconsciente coletivo do povo catarinense. A conversão de um presidente a uma personalidade mítica que ressuscitou conceitos ultranacionalistas como deus, pátria e família, do fascista italiano, Benito Mussolini, é um pulsar de ódio e morte, permanentemente  vibrante  nos corações e mentes de milhões de catarinenses e brasileiros.  

 Muitos desses cidadãos de “bem” dos quais se prestam a promover o  terror durante o processo pré eleitoral, fazem porque acreditam piamente  na impunidade, mesmo existindo um órgão fiscalizador e atuante como o MPT. Isso explica o fato de existir tanta sonegação fiscal e outras tantas benesses fiscais a esses e outros cidadãos de bens que espalharam terror  a milhares de trabalhadores para que votassem nos candidatos por eles indicados. Bilhões de reais deixam de entrar nos cofres do Estado todos os anos devido a esses vícios institucionais, renovados a cada eleição vencida pelo candidato das elites oligárquicas. São recursos não aplicados em programas educacionais, saúde, saneamento básico e outras tantas demandas de interesse da sociedade.

Prof. Jairo Cesa

https://www.nsctotal.com.br/noticias/joacaba-lidera-casos-de-assedio-eleitoral-em-sc-veja-lista

https://elpais.com/internacional/2022-10-27/si-gana-lula-recortaremos-el-30-de-la-plantilla-las-denuncias-a-empresarios-por-acoso-electoral-se-disparan-en-brasil.html?ssm=TW_CC

https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/celular-em-sutia-pagamentos-ameacas-denuncias-de-assedio-eleitoral/

https://mpt.mp.br/pgt/noticias/resicolor-publica-nota-apos-ser-processada-por-assedio-eleitoral

https://mpt.mp.br/pgt/noticias/mpt-sc-notifica-cooperativa-alfa-por-assedio-eleitoral

https://mpt.mp.br/pgt/noticias/mpt-sc-processa-a-ggnet-telecomunicacoes-em-r-1-milhao-por-assedio-eleitoral

https://mpt.mp.br/pgt/noticias/

 

 

     

 

 

 

 

 

 

 

         

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