SAI GOVERNO ENTRA GOVERNO E OS
PROBLEMAS AMBIENTAIS NA FAIXA COSTEIRA DE ARARANGUÁ PERMANECEM
É
inacreditável que depois de quase três anos de incontáveis reuniões, inúmeras
oficinas e a participação de dezenas de delegados/as representando entidades civis
e governamentais, no qual resultou em um PGI (Plano de Gestão Integrada) com
mais de 200 demandas, temos que ouvir falas tão deslocadas do atual Superintendente
da FAMA sobre os balneários Ilhas e Morro dos Conventos em entrevista concedida.
A sensação foi de alguém que desconhece ou nega o passado, pois inúmeras
iniciativas foram elencadas nos últimos cinco anos por meio do PROJETO ORLA, com
vistas a alavancar o turismo sustentável nessa região.
O
Projeto Orla foi uma iniciativa que envolveu o Poder Municipal e Federal, cujo
objetivo foi definir estratégias sobre o que pode e o que não pode ser
realizado em toda a faixa costeira do município de Araranguá. Tendo o seu
início em outubro de 2014, o Projeto Orla, com mais de cem reuniões, dezenas de
delegados participantes e um custo orçado em quase 500 mil reais, se configurou
como uma das iniciativas mais importantes já realizadas pelo município de
Araranguá nos últimos tempos.
No
final de 2016 o Projeto Orla teve a sua primeira etapa concluída, com a
apresentação de um PGI. Dentre as propostas concretizadas no plano estavam a
assinatura de decretos criando três unidades de conservação: Uma UPPA (Unidade
de Preservação Particular Ambiental); um MONA-UC (Monumento Natural Morro dos
Conventos; uma APA (Área de Preservação Ambiental) e uma RESEX (Reserva
Extrativista Unidade de Conservação), essa última abrangendo as comunidades de
Ilhas e Morro Agudo.
Outra conquista importante no plano foi a
aprovação e a execução de um projeto que criou um ROTERIRO GEOECOLÓGICO entre
os Balneários Morro dos Conventos e Ilhas. A iniciativa contou com a
participação de diferentes profissionais, universidades e o apoio da FUNDAÇÃO SOS
MATA ATLÂNTICA. Foram nove painéis distribuídos em cinco pontos estratégicos da
faixa costeira. O turista ou qualquer outro cidadão/ã, por meio dos painéis,
poderá conhecer com detalhes todas as peculiaridades e potencialidades
geoecológicas, em particular a do OASIS Morro dos Conventos, termo sugerido por
uma Jornalista do Jornal O GLOBO, do Rio de Janeiro, e visita ao município de
Araranguá.
Acredita-se
que poucos integrantes da atual administração têm informações detalhadas de
todas as demandas executadas e das que faltam implantar na orla do município. Antes
de apresentar propostas como a cobrança de PPA (Plano de Pagamento Ambiental)
para visitação à barra, o diretor da FAMA deveria ter lido o Decreto sobre a
RESEX, onde deixa clara a aplicação de instrumentos para a arrecadação de
fundos para o financiamento de projetos ambientais em Ilhas e Morro Agudo.
Deveria também saber que a barra, foz ou
estuário, como queira, da margem esquerda do rio, onde carros tracionados
transitam sobre dunas e restinga, todo aquele ecossistema esta inserido na RESEX,
cuja função é promover o desenvolvimento sustentável das duas comunidades. Uma
das proposições contidas no decreto da RESEX é criar instrumentos com vistas ao
retorno dos botos aquele estuário. O que se vê principalmente aos finais de
semana no estuário são carros com sons automotivos estridentes, Jet Sky e
lanchas transitando perigosamente entre canoas de pescadores artesanais e
banhistas. Mesmo com todas as denúncias feitas às autoridades tudo permanece inalterado,
como se o local fosse exatamente para tais objetivos.
É
possível também ouvir na entrevista. a proposta absurda de construção de “cancelas
inteligentes” para a cobrança de taxas ecológicas, etc. Será que o órgão
ambiental e a atual administração, lembram da cancela construída há algum tempo
proibindo o acesso de veículos à orla do Morro dos Conventos? Puseram fogo no
segundo dia de instalação. Mesmo com cancela, palanques e outros meios físicos
para impedir o acesso, o acesso de automóveis e motocicletas à barra e dunas continua
sem qualquer restrição.
Jamais
até hoje se teve notícia de algum motorista ter sido multado ou seu carro
guinchado por estar trafegando pela orla. Um detalhe importante, o trecho que
vai do Morro dos Conventos a Foz do rio Araranguá, faz parte hoje do MONA-UC.
Para quem não sabe o que o MONA-UC, é uma unidade de preservação permanente. Qualquer
projeto de infraestrutura deve passar por severas discussões com a comunidade e
critérios técnicos rígidos. Isso também vale para a RESEX. No entanto parece
que esse dispositivo democrático não combina muito com a atual administração. Deixar
bem claro, o MONA, embora seja de preservação permanente, não impede o poder
público de criar instrumentos capazes de desenvolver o turismo sustentável. Mas
isso tudo está no PGI, do projeto Orla.
O
que se previa acontecer antes do término da administração anterior era a
realização de encontro entre o antigo e o futuro chefe da FAMA, acompanhada
pelo prefeito e seu secretariado, para cientificarem dos projetos já executados
e os previstos para a área turística dos balneários. A fala do superintendente
da FAMA, durante a entrevista, confirmou não ter havido ou de não ter sido
incluído na pauta das reuniões o assunto Projeto Orla. A sensação é que tudo começará
do zero na área turística para atual administração, seguindo o que já é praxe
na cultura das gestões públicas no Brasil.
A reestruturação do GRUPO GESTOR DO PROJETO
ORLA seria a primeira iniciativa importante e necessária do atual gestor
municipal. O grupo foi constituído por decreto municipal em 2017. No entanto, o governo anterior trabalhou incessantemente
para sua desarticulação. Várias demandas relativas ao Projeto Orla estão com os
seus prazos expirados ou quase expirados, uma delas é a elaboração do PLANO DE
GESTÃO das três unidades de conservação. A indicação de chefias para as três unidades,
bem como a contratação de profissionais como a de um barqueiro para a RESEX, já
poderiam estar funcionando atualmente.
Sobre
os recursos financeiros para manter as unidades funcionando, os decretos
estabelecem a cobrança de taxas ambientais compensatórias pelo poder público
nos licenciamentos ambientais para residências e obras de infraestrutura nos
limites das Unidades de Conservação. O dinheiro arrecadado seria direcionado às
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO para programas educativos e outras ações definidas pela
comunidade. Nada difícil para ser implantado. O fato é que a administração
anterior fez vistas grossas ao projeto orla, mantendo uma postura negacionista
ao plano.
Sobre
a Barra do Rio Araranguá, margem direita, onde é “vedado” o transito de
veículos não oficiais, essa decisão foi do MPF/TRF, 4 REGIONAL/PORTO ALEGRE. Desde
2012 o órgão federal alertava o poder público municipal para que fossem adotadas
medidas de proteção na orla para preservação daquele ecossistema.
Diversas
visitas foram realizadas pelos/as procuradores/as federais na orla de Araranguá,
onde na época alertavam o município para que apresentasse plano turístico
sustentável e participativo capaz de conter o vandalismo e promover o desenvolvimento
da região. A intenção do MPF jamais foi proibir as pessoas de irem à barra, mas
criar algo capaz de limitar ao máximo a degradação daquele frágil local. Nas
dependências do MPF/Criciúma, houve até encontros com a participação do poder
público, Polícia Ambiental, FAMA, OSCIP PRESERV’AÇÃO e a AMOCO (Associação de
Moradores do Morro dos Conventos), com a intenção de discutir plano sustentável
para o balneário Morro dos Conventos, principalmente para a barra do rio Araranguá.
Na
época, a procuradora sugeriu que a AMOCO (Associação de Moradores do Morro dos
Conventos) tomasse a iniciativa de “explorar” turisticamente a barra. A
sugestão foi a aquisição de um veículo coletivo, Dim-Dim, por exemplo, para
transportar pessoas interessadas em apreciar as belezas da barra e do entorno. No
entanto, ficou só no discurso e o vandalismo na orla permaneceu. Várias ameaças de fechamento ao
trânsito de veículos foram apresentadas pelo órgão federal se o município
continuasse negligenciando os problemas. O total desinteresse do poder público em resolver o problema forçou o
TRF (Tribunal Regional Federal) de Porto Alegre, em proibir definitivamente que veículos não
oficiais trafegassem sobre toda a
extensão da orla do município de Araranguá.
Já
virou regra em Araranguá, governos incompetentes e comunicadores de egos
inflados de certos veículos de comunicação, culparem por decisões como do
fechamento da orla, entidades ambientais ou ambientalistas do município. Transformam
ONGS OU OSCIPS como bodes expiatórios na tentativa de se eximirem das
responsabilidades pelos erros cometidos. O termo mais comum utilizados para
denegrir a imagem dos membros dessas entidades são de “ecochatos”, afirmando
que só querem atrapalhar o desenvolvimento do município.
Quando
alguma ação do MP é executada no município, geralmente jogam a culpa nos
ambientalistas por serem responsáveis pelas denúncias. Aproveitando a ingenuidade ou desinformação da
população, a estratégia desses segmentos foi e é amedrontar integrantes dessas
organizações ambientais com o intuito de “passar a boiada”, uma alusão ao termo
utilizado pelo ministro do meio ambiente do atual governo sobre a
flexibilização de regras ambientais.
Sobre
as dunas onde muitos desinformados defendem até que BUGGS possam transitar
sobre elas. Cabe informar que as dunas estão inseridas no MONA-UC e constituem
um complexo e frágil ecossistema com espécies endêmicas da fauna e flora. Em
2015, um pesquisador da UNESC/IPAT, apresentou tese de doutorado onde discorre
sobre a presença inúmeros sítios arqueológicos, entre o Morro dos Conventos e a
barra, que guardam informações de populações e do ambiente há 4 ou cinco mil
anos. Populações sambaquianas, guaranis, entre outras, tiveram suas vidas
construídas nesse ecossistema. São diversas leis que asseguram a preservação
desse rico patrimônio cultural. O próprio plano diretor municipal e a Lei Complementar
149/2012, ambos possuem inúmeros dispositivos que garantem proteção tanto aos
sítios quanto aos demais ecossistemas do entorno.
O
problema é que pouca gente sabe disso, sendo que o poder público e o órgão
ambiental municipal não demonstraram até então nenhum interesse em informar a
população ou mesmo adotar medidas de proteção. A desinformação faz com que
pessoas lancem opiniões desencontradas e até mesmo extremistas em franca
sintonia com o que pensam e desejam grupos econômicos predadores. A ideia é criminalizar
pessoas e entidades que de forma voluntária e corajosa dedicam parte do seu
tempo de vida na defesa desses frágeis ecossistemas.
Prof.
Jairo Cezar
http://movimentopreservacao.blogspot.com/2012/02/relatorio-previo-das-principais_16.html
http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com/2013/08/a-incansavel-luta-da-oscip-pela-criacao.html
http://morrodosconventos-jairo.blogspot.com/2017/08/para-entender-absurda-leiaprovada-na.html
file:///C:/Users/LOJA349/Downloads/8655877-Texto%20do%20artigo-67420-3-10-20200408.pdf