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PL 3.261/2019 QUE PERMITE A PRIVATIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ÁGUA E ESGOTO NO
BRASIL
Nos
últimos meses de 2019 a atenção da sociedade brasileira ficou direcionada as
tramitações de projetos como, por exemplo, a famigerada reforma previdenciária,
que fará o cidadão e a cidadã brasileira trabalhar até a sua morte, pois
dificilmente terá chance de desfrutar a sua aposentadoria. Durante as
tramitações dessa temática na câmara e no senado, cuja grande mídia teve importante
participação na condução e construção de um cenário social positivo, outro
projeto de lei, tão ou mais destrutivo à sociedade brasileira como a previdência,
uma semana apenas foi o tempo necessário para que o senado o aprovasse em toque
de caixa.
Que
projeto é esse considerado tão danoso e no qual pegou todo mundo de surpresa? Estamos nos referindo ao PL 3.261/2019 que
trata sobre mudanças no sistema brasileiro de água e esgotos. Esse projeto,
portanto, nada mais é que o caminho para entrega do nosso principal patrimônio,
á água, às grandes companhias transnacionais como a Nestlé e a Coca Cola. Já há
algum tempo muito tem se debatido que a terceira guerra mundial se dará por
disputas de reservatórios de água no mundo. No entanto essa desavença já vem
ocorrendo em várias partes do mundo, a exemplo da áfrica e oriente médio.
Quem
acompanha os noticiários deve ter notado que um dos assuntos mais discutidos
atualmente no mundo é o aquecimento global, que se medidas de redução da
emissão de gases poluentes não forem concretizadas, todas as espécies vivas do
planeta, a exemplo do homem, não irão resistir às mudanças. De todos os países
do globo, o Brasil é o que possui maior parcela de água doce superficial do
planeta.
Sem
contar outro gigantesco e precioso tesouro hídrico depositado no subsolo de
quatro países da America do sul, Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, o Aquífero
Guarani, que também vem atraindo as atenções de grande capital. Após o projeto
sobre a privatização de água e esgoto ter sido aprovado no senado, na câmara foram
inseridas algumas emendas e mudanças, onde foi aprovado em caráter de urgência
em 11 de dezembro de 2019. A partir de agora, municípios e estados poderão
transferir os serviços de água e esgoto a empresas particulares.
Não
é estranhamento para ninguém que no instante que serviços estratégicos são
privatizados, a exemplo da telefonia, energia elétrica, transporte aéreo, etc,
o objetivo das companhias ao adquiriram os serviços foi exatamente obter
lucros. O marco regulatório é uma espécie de agencia criada pelo estado para
acompanhar e regular os serviços que são prestados. A idéia agora com a lei
aprovada é estender esses serviços de água e saneamento à ANA, que passara a se
chamar Agência Nacional de Água e Saneamento Básico.
Se
nas mãos do Estado o Brasil hoje apresenta um dos piores índices de atendimento
de água e saneamento à sociedade, imaginemos como ficará quando companhias
assumirem a gestão de empresas como a CASAN, de Santa Catarina, presente em
quase todos os municípios do Estado. A tendência é que a prioridade dos
serviços em infraestrutura ficará concentrada nos municípios maiores, com
certeza de obtenção de lucros, Os pequenos e médios municípios, no entanto, que
abrange mais de cinqüenta por cento da totalidade, certamente terão os seus
serviços de água e saneamento básico piorados.
Mais
uma vez o Brasil está caminhando na contramão dos demais países no mundo que
vem intensificando um contínuo processo de remunicipalização e reestatização
dos serviços de água e saneamento básico. A resposta desse retorno a gestão
pública é simples, altas tarifas cobradas, ineficiência e falta de
investimentos e transparência. Entre 2000 a 2017 foram 235 remunicipalização,
somente em água e saneamento básico. E o processo de retorno permanece em
crescimento.
Agora
se incluirmos outros serviços como energia elétrica, coleta de lixo, serviços
sociais, etc, esse número pulou para 835 reestatizações. A França é um bom
exemplo que mostra que a privatização de água e esgoto não assegurou o que prometera
as companhias responsáveis por esses serviços. Em pouco tempo 106 municípios e
estados franceses reassumiram o controle na prestação de serviços de saneamento
básico. O governo brasileiro deveria levar em consideração os exemplos
negativos de má gestão desses serviços por empresas privadas no mundo inteiro
antes de ter homologado a lei. Porém jamais o fará, pois a pressão do mercado
prevalece sobre os interesses públicos.
Prof.
Jairo Cezar