quinta-feira, 23 de setembro de 2021

 

A CULTURA DOS CEMITÉRIOS COMO IMPORTANTE ACERVO DE MEMÓRIA E CONHECIMENTO

Foto - Jairo


Geralmente quem compra pacotes de viagens para a Europa ou até mesmo países sul americanos estão incluídos nos roteiros, visitas obrigatórias em igrejas, museus e também cemitérios. Isso mesmo, cemitérios. Não com o intuito de visitar despretensiosamente sepulturas, a proposta vai muito mais além.  O objetivo é observar criteriosamente a arquitetura das construções, suas distribuições espaciais e representações simbólicas, artísticas, religiosas e de poder; os sujeitos sepultados, famílias e laços de influência na condução do processo político, cultural, filosófico, daquele momento histórico.

Foto - Jairo


Viram o quanto que se pode aprender a partir de uma visita a um local que para muitos traz calafrios, medo, etc. Talvez isso explica o fato de muitos cemitérios, antigos, estarem hoje totalmente abandonados, tomados pelo mato, túmulos depredados por atos de vandalismo.  Estados Unidos, França, a Argentina, entre outros tantos países, todos os anos milhões de pessoas visitam os principais cemitérios dessas nacionalidades trazendo forte impulso ao PIB.

No Brasil, visitar cemitérios é um programa quase que exclusivo ao dia dois de novembro, feriado nacional dedicado aos mortos. Fora isso, algumas cidades importantes como São Paulo e Rio de Janeiro, dois cemitérios se destacam, o da Consolação e de São João Batista. Ambos recebem turistas do Brasil e de todos os cantos do mundo, contendo serviços de guia e QR- COD para dar mais informações ao público.

 Em Santa Catarina são dezenas de cemitérios antigos abandonados que poderiam hoje estar inseridos nos planos de desenvolvimento turístico sustentável dos municípios. Revitalizar esses espaços seria o primeiro passo. Em seguida, devem-se integrar os departamentos de cultura, educação e meio ambiente, com vistas a desmistificar e sensibilizar a sociedade sobre a riqueza cultural material e imaterial desses ambientes.  

Na região sul de Santa Catarina, incrível que pareça, existem inúmeros cemitérios que já deveria há muito tempo estarem tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico. Muitos desses espaços são datados do final do século XIX e início do XX. Os túmulos guardam registros importantes da sociedade da época, em especial aspectos da religiosidade cristã, representados por meio de símbolos sacros. O fato é que parte de toda essa preciosidade cultural está se perdendo e, junto, a memória de gerações que nos antecederam.

Foto - Jairo


A comprovação de que estamos perdendo um rico tesouro cultural material e imaterial foi revelado na última quarta feira, 15 de setembro, quando fomos visitar dois cemitérios no município de Praia Grande e outros três em municípios do RS que fazem fronteira com SC. Jamais imaginei que iria me deparar com um lugar repleto de memória, de extraordinária simbologia para os cristãos, tão desprezado, tão maltratado. O mato já cobria o que restava dos poucos túmulos ainda intactos. Os demais jazigos, já estavam completamente descaracterizados pela ação do tempo e atos de vandalismo. Pela estrutura dos túmulos o cemitério aparentava ter sido instalado ali, junto à rodovia estadual Praia Grande/Jacinto Machado há quase um século.

Foto - Jairo

Foto - Jairo


Observando registros ainda possíveis de serem compreendidos nas lapides, algumas sepulturas datam dos anos 1950, porém, é possível que haja outras sepulturas bem mais antigas, pois essa estrada servia no passado como passagem dos tropeiros que subiam e desciam a serra transportando gado e demais mantimentos. Tanto eu quanto os dois companheiros presentes sobre aquele rico acervo histórico, fomos tomados por sentimentos que misturava incitação e frustração.

Qual ou quais motivos as forças políticas do município e região deixaram chegar um espaço tão simbólico e promissor turisticamente naquelas condições? É claro que o estado deplorável daquele histórico cemitério é apenas um exemplo de tantos outros ambientes desprezados pelas autoridades. O que deve ser feito de imediato para salvar o pouco do que resta daquele rico acervo cultural é pressionar do poder público do município de Praia Grande para que assuma a responsabilidade de preservá-lo.

No projeto Geoparque Caminho dos Canyos que integram sete municípios, o objetivo do plano é promover a preservação e o desenvolvimento sustentável das potencialidades geológicas, históricas, artísticas e culturais dessa região. Ao mesmo tempo em que o projeto geoparque propõe a revitalização do tropeirismo como protagonista da ocupação dessa região, comete o grave equívoco de dispensar devidas atenções aos cemitérios, locais que poderão estar sepultados muitos desbravadores desconhecidos.

A presença do imigrante italiano e do alemão é observada nos costumes locais bem como na arquitetura das edificações. Não podemos excluir desse prelúdio ocupacional regional, os indígenas e os negros africanos. Esse último empregado como mão de obra escrava pelos proprietários de terras em várias atividades laborais. A comprovação da presença de remanescentes africanos pode ser constatada visitando a comunidade quilombola São Roque, na região da Pedra Afiada, município da Praia Grande. É um lugar histórico que ainda conserva elementos importantes da cultura luso africana e que deveria receber todas as atenções no projeto Geoparque.

Foto - Jairo


Quanto a etnia alemã, quando aqui chegaram muitas famílias eram convertidas ao luteranismo. Sendo assim uma das primeiras iniciativas dos grupos foi a edificação de uma igreja e de um cemitério, ambos exclusivos para quem seguisse o culto luterano. Um bom exemplo de riqueza histórica e conservação é o cemitério situado na comunidade de Itoubava, município de Araranguá. No tour cemiterial da quarta feira dia 15 de setembro visitamos outros dois, um na Praia Grande e outro na comunidade de Villa Lothammer, município de Torres. Ambos também bem conservados e munidos de certas peculiaridades históricas.

Foto - Jairo

Foto - Jairo

Por ser um cemitério luterano, todos ali sepultados são ou foram convertidos ao culto luterano. Quando se diz que é um ambiente rico culturalmente e repleto de curiosidades, isso se deve ao fato de que os que estão ali sepultados são membros de famílias alemãs que migraram para região a partir do início do século XX. Cada túmulo conta fragmentos da história, que ajuda compreender o cenário social e político local e global daquele momento. Conforme relatou um colega conhecedor da cultura germânica regional, o mesmo informou que há em uns dos cemitérios da região, cidadão sepultado e cujo padrinho de batismo teria sido o líder alemão Adolfo Hitler.

Relatou que, antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial, as notícias que chegavam da Alemanha descreviam um país em franco desenvolvimento e cujo responsável era Hitler. Muitos alemães ou descendentes que habitavam essas terras externavam enorme apresso ao chanceler alemão, a exemplo desse cidadão de Torres que resolveu dar o nome do líder alemão ao seu filho.  Carta foi enviada a Adolfo Hitler convidando-o para padrinho de batismo. Não podendo vir ao Brasil para celebrar o ritual de batismo, o líder alemão agradeceu e enviou à família trezentos marcos como presente de agradecimento.

Certamente deve haver muito mais relatos curiosos e intrigantes  adormecidos nesses ambientes, que poderão ser silenciados para sempre se o processo de depreciação cultural permanecer. Isso serve também para outros segmentos patrimoniais. Um exemplo é uma imponente residência construída em 1881 na cidade gaúcha de Mampituba, que pertence à família Muller. Conforme relatos a casa foi construída por escravos, pois nessa época, sete anos antes da abolição, as famílias abastadas da região possuíam escravos.

Foto - Jairo


O estilo arquitetônico da residência é luso brasileiro, construída toda em pedra, com argamassa entremeada. É interessante aqui destacar que obra embora já decorridos 140 anos da sua construção, toda a estrutura em pedra continua intacta, exceto o reboco que está descascando em alguns pontos. Essa satisfatória condição da estrutura em pedra não é vista na cobertura, construída em madeira e telha de barro. É possível constatar que um lado do telhado da residência está comprometido, com risco iminente de desabamento.

Foto - Jairo


Conforme está descrito no projeto Geoparque caminho dos Canyons Sul, no segmento educação, o mesmo traz o seguinte enunciado no aspecto educação: “desenvolver estratégias para envolver professores, estudantes e seus familiares em ações que contribuam com o conhecimento e a valorização do patrimônio natural e cultural do território, a conservação da natureza e o desenvolvimento sustentável da região”. Partindo desse enunciado, esperamos que esse singelo texto possa contribuir com sugestões ao grupo gestor do projeto geoparque, inserindo no seu escopo a temática cemitério, como campo de pesquisa a cultura material e imaterial regional.

Prof. Jairo Cesa   

              

https://canionsdosul.org/    

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/turismo/2019/05/23/interna_turismo,756573/cemiterios-para-visitar.shtml

file:///C:/Users/LOJA349/Downloads/Patrimonio_Funerario_Catarinense_web.pdf

https://ndmais.com.br/literatura/historiadora-organiza-guia-sobre-patrimonio-cultural-funerario-catarinense/

https://canionsdosul.org/educacao/

 


 

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

 

A POLÊMICA SOBRE O MARCO TEMPORAL QUE PODERÁ INTENSIFICAR A VIOLÊNCIA ENTRE INDÍGENAS E NÃO INDÍGENAS

https://ujc.org.br/nao-ao-marco-temporal/


Há mais de quinhentos anos os povos originários do Brasil vêm travando insistentes lutas para garantir o direito de posse às poucas terras que lhes sobraram após a invasão portuguesa em 1500. Assassinatos e doenças foram formas como os invasores europeus adotaram para facilitar a tomada, exploração e mercantilizarão das riquezas brasileiras às metrópoles europeias. A tomada do Brasil permaneceu nos séculos XIX e XX com a imigração italiana, alemã, polonesa, nas regiões sudeste e sul do Brasil. Tais incentivos partiram do governo imperial e republicano com vistas à colonização das terras habitadas há séculos pelos povos originários: os guaranis, os Xoklengs, os Kaygangs, etc, etc.

 Essas comunidades foram literalmente massacradas pela atuação dos bugreiros, jagunços contratados pelas empresas colonizadoras para deixar as terras livres aos novos “donos”.  Hoje em dia o pouco do que restou desses grupos originários habitam pequenas aldeias, onde enfrentam todas as dificuldades possíveis para sobreviver.  O que há, no entanto, é uma insistente luta travada por dezenas de etnias indígenas na qual vem pressionando os governos pela demarcação de áreas reconhecidamente suas.  

A destruição das florestas, a poluição dos cursos d’água pelo garimpo ilegal e por agrotóxicos estão gradativamente comprometendo o ciclo de vida e cultural desses povos. Se o cenário já era difícil para as mais de duzentas nações indígenas, com a eleição de Jair Bolsonaro para presidente da República o processo de extermínio tomou proporções assustadoras. Os ataques à constituição brasileira, sobretudo no que tange a direitos assegurados aos povos originários e quilombolas, foi uma das primeiras investidas desse governo.

O desmonte de algumas estruturas importantes na proteção das florestas tropicais e unidades de conservação, como o IBAMA e o ICMbio, corroborou para o aumento da grilagem e expansão da fronteira agrícola sobre áreas públicas.   Como não bastasse a perda de vastos territórios a partir da ocupação portuguesa, tramita no STF processo que trata sobre a validade ou não marco temporal defendido pelo agronegócio e respaldado pelo governo federal.

O Marco Temporal é uma proposta que procura introduzir critérios sobre a ocupação de terras por indígenas. Essa discussão teve início a partir do impasse envolvendo área habitada pelos povos Xoklengs em Santa Catarina. O conflito se dá na Reserva Indígena Ibirama-laklãnõ, na qual reivindicam como sendo sua área de terra correspondente a 36.988 hectares. Hoje os Xoklengs estão distribuídos em 15 mil hectares.  Todo esse problema teve início a partir de uma ação impetrada pela FUNAI no ano de 2000, no qual admitia que a área de direito dos Xoklengas era mais que o dobro do que já tinham como garantia, chegando a quase 40 mil hectares.

Parte expressiva da reduzida área pertencente aos Xoklengs foi transformada na reserva biológica do Sassafrás pelo governo de Santa Catarina. Essa decisão foi contestada pelo Ministério da Justiça por meio da portaria 1.128/2003, que ampliou a terra indígena Xokleng, porém, até hoje o processo de demarcação não foi homologado.  Em 2009 o estado de Santa Catarina entrou com ação para reintegração de posse dessa área em litígio junto ao TRF, da quarta regional de Porto Alegre. O órgão, no entanto, julgou favorável o pedido do IMA (Instituto do Meio Ambiente) de Santa Catarina de reintegração de posse.  A FUNAI e a fundação nacional do índio elaboraram recurso extraordinário direcionado ao STF, cujo relator foi o ministro Fachin onde atribuiu o caso em particular como de Repercussão Geral.

Isso significa que a decisão, favorável ou contra, terá efeitos em todo o território nacional. A tese defendida por setores ligados aos ruralistas faz jus ao marco temporal, ou seja, se considerará como área indígena de direito, aquelas que foram ocupadas e estejam habitando até o dia 05 de novembro de 1988, data da homologação da atual constituição.  Quanto a Constituição Federal, o artigo 231 não estabeleceu nenhuma data ou outro tido de critério para decidir se o território é ou não é indígena, basta apenas à comprovação da ligação ancestral dos indígenas à área.

A própria constituição obriga a união demarcar todas as terras ocupadas por esses povos. Também foi dada como data limite o ano de 1993 para que todas as terras indígenas ocupada, totalizando 487, fossem homologadas, fato que não aconteceu. Atualmente são 724 áreas em diferentes fases de processos demarcatórios. Esse tópico referente à garantia ou não do direito sobre área ocupada ou reivindicada como indígena, tramita no congresso por meio da PL 490 de 2007.

Essa proposta apresentada na câmara federal, o texto reclama entre outros tópicos a alteração do Estatuto do Índio, dando permissão para contratos de cooperação entre índios e não índios. O texto, no entanto, foi rejeitado na época pela Comissão de Direitos Humanos da câmara e arquivado posteriormente em 2018. Na campanha presidencial de 2018, o candidato Jair Bolsonaro havia prometido que o projeto seria desarquivado, como de fato ocorreu. Em 29 de junho de 2021 a proposta foi aprovada na CCJ da câmara cuja relatora foi a deputada Bia Kicis, do PSL-DF.

Caso seja aprovado na seção de votação da câmara deverá a proposta ser discutida no senado. Passando nas duas casas do legislativo, zero será a expectativa do Presidente da República vetar na hipótese da proposta for totalmente favorável ao agronegócio.  A alegação do setor ruralista na defesa do marco temporal parte do pressuposto de os indígenas já possuem muita terra e que não estão produzindo. Esse argumento não procede conforme pesquisa publicada em uma das revistas mais influentes do mundo, a ELSEVIER. Segundo o relatório apresentado, no Brasil 97 mil fazendeiros têm sob sua posse 21,5% de todo o território brasileiro. Enquanto que 572 mil indígenas ocupam somente 13% de toda a área. Portanto proporcionalmente a extensão de terras ocupadas pelos povos originários é absurdamente menor que a dos ruralistas.

Como forma de pressionar tanto o STF quanto ao executivo federal, cerca de cinco mil lideranças indígenas, representando 172 etnias participaram em Brasília no dia 07 de setembro, de manifestação contra o marco temporal. A intenção do movimento foi pressionar os ministros do STF para que não cometam o erro de defender a tese do marco temporal, que gerará um impacto sem precedente na vida de milhares de indígenas.

O marco temporal terá repercussão direta nos processos de demarcação que estão correndo na justiça há décadas. Essas ações demarcatórias poderão ser canceladas, fato que abrirá precedentes para uma enxurrada de ações de despejos contra comunidades indígenas. No dia 14 de junho último, o relator da ação sobre o marco temporal no do STF, o ministro Edson Fachin votou contra, realimentando a esperança em prol dos indígenas.

Na quarta feira, 15 de setembro, o ministro do STF, Kássio Nunes Marques, votou favorável ao marco temporal. Essa posição favorável ao agronegócio e ao governo federal já era esperada com base no seu alinhamento político com o governo Bolsonaro. Uma postura que desconsidera todos os abusos praticados há séculos contra os indígenas. Defender o marco temporal é defender a violência, o assassinato de milhões de índios desde a chegada dos invasores portugueses em 1500 até hoje, por jagunços, grileiros, fome e doenças.    

Prof. Jairo Cesa    

 

https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/08/27/o-que-e-o-marco-temporal-sobre-terras-indigenas-entenda-o-que-esta-em-jogo-no-julgamento-do-stf.ghtml

https://cimi.org.br/2021/09/ataques-segurancas-privados-queimam-casas-guarani-kaiowa-dourados-ms/

http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2013/10/indios-invadem-fazenda-e-reserva-biologica-em-santa-catarina.html

https://cimi.org.br/2020/10/xokleng-laklano-luta-terra-indigena-pode-ser-marco-reparacao-historica/

https://cimi.org.br/2020/10/conheca-historia-povo-xokleng-centro-debate-direitos-indigenas-stf/

https://cimi.org.br/2020/10/pacificacao-xokleng-armadilha-violencia-esbulho-territorial/

https://cimi.org.br/2020/10/requiem-para-marcondes-nambla-xokleng/

https://cimi.org.br/2020/10/desalojados-proprio-territorio-barragem-norte-deslocamento-forcado-povo-xokleng/

https://agrosaber.com.br/nao-podemos-nos-enganar-por-achar-que-este-e-um-conflito-entre-indios-e-o-agro-nao-e-isso-essa-e-uma-questao-que-podera-impactar-toda-a-sociedade-brasileira/

https://g1.globo.com/natureza/noticia/2021/06/29/xokleng-o-povo-indigena-quase-dizimado-em-santa-catarina-que-protagoniza-caso-historico-no-stf.ghtml

https://www.cartacapital.com.br/justica/stf-e-o-caso-da-terra-indigena-xokleng/

https://cimi.org.br/2021/09/julgamento-stf-suspenso-nunes-marques-anistia-invasoes-terras-indigenas-moraes-vista/

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

 

PARALISAÇÃO DOS CAMINHONEIROS E O PSEUDO MOVIMENTO GOLPISTA ARTICULADO PELO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO


Ontem, oito de setembro de 2021 viajando em direção a Caxias do Sul passei por alguns pontos de bloqueios parciais de caminhoneiros na Br 101 e na rodovia estadual rota do sol. Tais manifestações haviam iniciado no dia anterior em todo território brasileiro atendendo solicitações de lideranças municipais e estaduais na maioria simpatizantes do presidente Bolsonaro. Durante a viagem procurei refletir fatores realmente relevantes que motivam essa categoria a estarem ali empunhando bandeiras do Brasil e cercando a passagem de veículos.

Veio a mente atos semelhantes de caminhoneiros que geraram inúmeros transtornos a toda população. Somente em 2015, no governo de Dilma Rousseff foram três paralisações, uma em fevereiro, a segunda em abril e a terceira em outubro. Na época a pauta de reivindicação dos caminhoneiros estava, entre outras, a redução dos preços dos combustíveis; o valor cobrado nos pedágios e valor mínimo dos fretes. É importante destacar que na época o preço médio do óleo diesel não chegava a três reais o litro.

Atendendo as pressões da categoria, a presidente Dilma sancionou a lei n.13.103/2015 contendo uma série de artigos e dispositivos que atendida suas demandas. Lembro de ter lido uma reportagem onde um dos líderes do movimento assim descrevia os atos de paralisação: diziam que o movimento não estava vinculado a sindicatos ou federações, sendo, portanto, apartidários e sem vínculo político. Que lutavam pela salvação do país, que tal ensejo só seria possível a partir da deposição de Dilma, ou por renúncia ou por impeachment. Um ano depois, em 2016, Dilma sofreu impeachment e cuja alegação foi ter praticado pedaladas fiscais.

Em 2018, já no governo golpista de Michel Temer, nova paralisação dos caminhoneiros gerou mais transtornos e imensos prejuízos a economia do país.  Coma a ascensão de Jair Bolsonaro a presidência da república em 2019 a situação dos caminhoneiros e demais setores dependentes de óleo diesel, etanol e gasolina, tenderam a se agravar em decorrência da elevação dos preços. No entanto o cenário político mudou, pois expressiva parcela dos caminhoneiros ajudou Bolsonaro a sagrar-se presidente em novembro de 2018.

Nos três anos a frente do executivo federal, Bolsonaro vem colecionando uma serie de equívocos administrativos dos quais já seriam mais que suficientes para que fosse deposto. Nesse sentido, sua permanência no governo é assegurada graças a um conjunto de partidos e parlamentares que integram o chamado Centrão no congresso nacional. Fora desse ambiente estão seus fanáticos seguidores dando-lhe respaldo independentemente de das maldades cometidas. 

Diante de uma CPI que investiga o envolvimento do seu governo na condução da pandemia, com reais possibilidades de torná-lo inelegível, Bolsonaro intensifica sua artilharia de guerra criando situações novas de tensões sociais com o intuito de desviar o foco das atenções. É preciso forjar inimigos ou algo semelhante que possa agradar seu fiel grupo de apoio. É nisso que o presidente vem se dedicando ultimamente, esquecendo de fazer o que realmente deveria fazer que é governar o país. 

Completamente cego e alucinado pelo poder, Bolsonaro coloca todas as suas fichas numa possível reeleição em 2022. Para isso tenta de todas as formas intensificar o discurso afirmando que o voto eletrônico não é seguro, pois há risco de fraude. Mesmo com decisão do congresso que votou pela permanência do voto eletrônico, o presidente tenta incitar seus apoiadores a agirem contrários à decisão do congresso. Não satisfeito, Bolsonaro eleva o seu tom de voz contra ministros ao STF Alexandre de Moraes e Barroso, onde protocolou na câmara dos deputados pedido de impeachment a ambos.

Cada vez mais enfraquecido, Bolsonaro mobilizou seus apoiadores para que no dia sete de setembro fosse às ruas lutarem por “liberdade”. É de certo modo contraditório esse discurso, pois a proposta de pauta encaminhada para esse dia estava entre outras proposições, à deposição de ministros do STF. Brasília, no entanto, no dia da “independência” do Brasil, todas as atenções foram centralizadas a capital do país, na maneira como o presidente e seus apoiadores se comportariam. Havia até comentários nas redes sociais de um possível golpe de Estado. Muitos dos manifestantes que estavam em Brasília, principalmente de representantes dos caminhoneiros e do agronegócio, acreditavam, sim, que o golpe aconteceria.

No dia seguinte ao catastrófico plano golpista, os jornais publicaram reportagens dando destaques às carreatas e aos bloqueios em rodovias federais e estaduais. No sul do Brasil, diversos foram os pontos bloqueados parcialmente, porém as ações mostraram pouca adesão da categoria. Um dos jornais da região sul de Santa Catarina escreveu assim em sua manchete de capa: “em toda a região, manifestantes foram às ruas para demonstrar apoio ao presidente Jair Bolsonaro, pedir o impeachment de ministros do STF, defender o voto impresso e mais liberdade de expressão”.

É quase inimaginável acreditar que uma categoria tão espoliada, tão maltratada, como a dos caminhoneiros, se prestasse ao ridículo de fazer bloqueios em rodovias para prestar apoio a um presidente que tanto mal lhes faz. Interessante é que na lista de reivindicações, todas as propostas em nenhum momento colocam o presidente como responsável pelo aumento da inflação, preço do gás, da gasolina, e das quase seiscentas mil mortes pela COVID 19.

Não há relatos de ter havido algo similar na nossa história recente, onde uma categoria, frontalmente afetada pelas políticas perversas de um governo, se mobilizou para enaltecê-lo, apoiá-lo. Como explicar o tamanho grau de ignorância de uma população onde é levada a acreditar cegamente em alguém tão insensível, tão perverso, tão insano, tão mal resolvido emocionalmente, como é o presidente Bolsonaro. Ao mesmo tempo em que Bolsonaro e seus fieis seguidores juram fidelidade à democracia, na lista de reivindicações estão lá redigidas as seguintes propostas: cassação de parlamentares corruptos, impeachment de ministros do STF e a não interferência do STF nos poderes executivo e legislativo.

Quanto a proposta de cassação de parlamentares corruptos, parcela significativa daqueles que o apoiam no congresso, o chamado Centrão, possuem algum processo correndo no judiciário por suspeita de irregularidades ou atos de corrupção. Quem consegue raciocinar um pouquinho percebe que esses itens da pauta, sua efetivação resultaria em um regime ditatorial, que é exatamente o que pretendiam milhares de manifestantes espalhados pelo Brasil. Há quem acredita que Bolsonaro não teve responsabilidade nas quase seiscentas mil mortes pela COVID 19. Em um de seus pronunciamentos aos manifestantes no dia sete último, pôs a culpa em governadores e prefeitos, por terem ignorado a constituição proibindo o povo de trabalhar e frequentar templos e igrejas para suas orações.

Como ocorreu nas paralisações de caminhoneiros em 2015, 2018, seus impactos passaram a ser sentidos quando os postos de combustíveis foram sendo fechados por desabastecimento. Um dia depois do sete de setembros de 2021 filas já se formavam em muitos postos de combustíveis no Brasil inteiro. Muitos ou até mesmo milhares de condutores de veículos posicionados nas filas dos postos para encherem o tanque do seu automóvel, prestaram apoio ao movimento dos caminhoneiros pelo fechamento das rodovias.  

Afinal quem mais se beneficiou com todo esse circo patrocinado pelo presidente da república? Claro que não foi o povo, inclusive muitos dos que estavam vestidos de verde e amarelo ou cobertos com a bandeira do Brasil. São presas fáceis desse sistema que os transformou em cidadãos maleáveis, que aceitam serem conduzidos como manada de animas para o abatedouro. Pois para entender o funcionamento desse complexo tabuleiro político que privilegia os mais abastados, requerem muito tempo de leitura, muita pesquisa, etc.

E é exatamente isso que as elites procuram fazer e fazem com muita eficiência, precarizar ao máximo as escolas públicas onde estudam milhões de filhos de trabalhadores. Não é por acaso que em três anos de governo Bolsonaro já tivemos quatro ministros da educação. Alguém se lembra de algum projeto relevante para a educação básica proposto de um desses ministros? Nenhum. É tão verdade que para as elites, educação, principalmente universidade são privilégios para poucos.

O Brasil, segundo o atual ministro da educação, “é um país que precisa de mão de obra técnica, profissional”. O próprio ministro sabe que se a universidade fosse realmente universalizada, muito difícil seria o Brasil ter no comando do executivo um presidente tão despreparado, tão incapacitado para um posto tão importante. Isso também seria verdade para outros tantos postos importantes no executivo, legislativo e judiciário.

Talvez se tivéssemos um povo que pudesse ler e compreender com mais criticidade todo o é que escrito ou falado nas diferentes mídias dificilmente seriam ludibriados. Saberiam distinguir discursos produzidos sobre o mesmo assunto, de verdades reveladas ou veladas do tipo: “moradores de criciúma e região estavam apreensivos também com uma possível falta de alimentos e desabastecimento dos estoques dos supermercados. Porém, os proprietários estavam precavidos, com mais produtos que o normal nos depósitos, já esperando as paralisações previstas para sete de setembro – e que se conformaram”.

Notaram o que está nas entrelinhas dessa frase? Aqui esconde algo perverso. Mostra que os segmentos empresariais ligado aos supermercados estavam de certo modo empolgados com a possibilidade de ampliar suas vendas e lucros com os atos de apoio ao presidente. É óbvio que milhares de pessoas induzidas pelo medo do desabastecimento correriam aos supermercados para comprar. Nesse cenário a tendência seria o aumento dos preços e por consequência da inflação. E quem ganharia com isso?

Muitos proprietários de postos de combustíveis são apoiadores das políticas do presidente Jair Bolsonaro.  Certamente teriam lançados posicionamentos favoráveis à pauta de reivindicações elaboradas pelo movimento do dia sete de setembro. Dentre as reivindicações está: um país livre da corrupção. No dia 09 de setembro, em Criciúma, os postos de combustíveis já sentindo os impactos da paralisação, um jornal diário lançou a seguinte manchete: “preços chegaram a ter alta de 20 centavos – Com a iminente falta de combustível, alguns postos da Região Carbonífera chegaram a aumentar os preços da gasolina em 20 centavos”

Como devem ser designadas pessoas que se aproveitam de cenários forjados de instabilidade social para galgar benefícios próprios? Imoralidade, perversidade, corrupção ou algo mais, é isso? Penso eu que sim. A meu ver parece que foi exatamente o que planejavam esses ditos Bolsonaristas defensores da “moralidade”, da “justiça” e da “democracia”...

Prof. Jairo Cesa

 

               

    

terça-feira, 7 de setembro de 2021

 

GRITO DOS EXCLUÍDOS – VIDA EM PRIMEIRO LUGAR


Como acontece a 26 anos, em 2021 a 27 edição do grito dos excluídos tem como tema a Vida em Primeiro Lugar. Esse evento é o que melhor resume o dia sete de setembro, dia em que a população vai às ruas expor sua indignação e revolta às políticas elitistas e excludentes que permanecem quase intactas desde o “Grito do Ipiranga” em sete de setembro de 1822.  Desde o instante do forjado rito militar que resultou na pseudo independência, jamais o Brasil conquistou de fato sua autonomia política e econômica, onde mantém até hoje traços culturais patriarcalistas, machistas, escravistas, herdados do passado.

Nossas riquezas, ouro, prata, madeira e outros tantos produtos ajudaram a reestruturar economicamente a Europa a ponto de se transformarem em verdadeiras potências imperialistas. Se nos mantivemos subjugados à metrópole portuguesa por mais de trezentos anos, com a Inglaterra esse domínio ultrapassou um século. E não parou aí, o século XX e XXI o Brasil permaneceu como nação subjugada, satélite, orbitando junto às novas potências que passaram a ditar nosso projeto de sociedade. Sem luz própria e identidade a população vive a mercê de governos fantoches e entreguistas desde então.

Nossas riquezas continuam sendo rapinadas, sendo agora tomadas por castas de sangue sugas representadas nas esferas do legislativo e executivo. Não satisfeita, as elites brasileiras, ambiciosas por mais em mais riquezas e poder, criam instrumentos institucionais para esfolar os frágeis corpos dos/as trabalhadores/as brasileiros/as. A redução do tamanho do Estado ou neoliberalismo virou obsessão permanente dessas castas, respaldadas por milhões de brasileiros/as. Basta observar quem são e a quem estão representando os/as integrantes do congresso brasileiro, deputados/as e senadores/as.  Tacanhos investimentos em educação básica, por exemplo, sempre foram estratégias bem sucedidas das elites Brasileiras para o permanente recrudescimento das massas indolentes.

Causa espanto quando se ouve expressões do tipo: o Brasil é o que é devido a corrupção, a roubalheira e isso acontecem desde a chegada dos portugueses. Esse tipo de argumento esconde algo terrível, a percepção naturalizada dos fatos. O pior de tudo é que essas falsas fatalidades inundam o imaginário da sociedade, aceitando como uma verdade inquestionável. Curar essas terríveis cicatrizes históricas não se dará apenas no campo da política institucional, é necessário ir além, fortalecendo os movimentos sociais, sindicatos, associações de moradores, etc. A compreensão do complexo funcionamento da sociedade, suas contradições e verdades, devem ser assimiladas para, posteriormente, servir de apoio a construção das trincheiras de resistência.

Resistência contra governos genocidas, fascistas que por lapsos sociais históricos insistem a ressurgir como zumbis, trazendo medo e retrocessos que deixarão sequelas por gerações e gerações. Há uma certeza inquestionável, ditaduras ou regimes autoritários se instalam sempre respaldados por ambientes sociais propícios. Nada ocorre do dia para noite, tudo é arquitetado meticulosamente. A literatura, a música, o cinema e a imprensa exerceram no passado papeis importantes na disseminação dessas ideologias totalitárias. O caso da Alemanha nazista e da Itália fascistas é emblemático.       

Hoje em dia as redes de computadores ou internet criaram um novo velho cenário de polarização social. Notícias e informações desencontradas sobre o mesmo tema são divulgadas e compartilhadas por milhões de pessoas simultaneamente. Partes expressivas dos fatos disseminados não condizem com a realidade, ambas são distorcidas ou manipuladas para apregoar discórdias, ódios entre grupos sociais e indivíduos.

O movimento o grito dos excluídos é uma dessas trincheiras que há décadas vem plantando as sementes de um país possível, que germinará e crescerá livre das pragas oriundas do capitalismo. Ou vocês acham que 14,5 milhões de desempregados e quase 120 milhões de brasileiros submetidos à insegurança alimentar são desígnios divinos como um castigo dos céus? Nada disso, tudo isso é fruto desse perverso modelo produtivo que só existe e se prolifera explorando até o limite da extenuação os recursos naturais e a força de trabalho humano.  

Reavaliar a posição de habitante hospedeiro do planeta terra, que compartilha do mesmo ar, água, solo, com outras tantas espécies vivas é o primeiro sinal da resignação humana. Parece que todos os alertas sobre os efeitos nefastos do modo equivocado como lidamos com biosfera pouco ou nada sensibiliza nossas autoridades. Todas as energias hoje dispensadas para satisfazer vaidades e desejos doentios pelo poder, para a construção de maquinas para matar, destruição das florestas, poluição de ecossistemas inteiros, deveriam estar sendo canalizadas para um único centro, a luta pela salvação do nosso pequeno planeta, deixando-o habitável para as próximas gerações.

Prof. Jairo Cesa    

 

 

 

https://spbancarios.com.br/09/2021/grito-dos-excluidos-anhangabau-7-de-setembro-2021

 

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

 

GUERRA PREVENTIVA AO TERROR



As guerras, os grandes genocídios que quase dizimaram culturas inteiras sempre tiveram como motivação o insano desejo de pilhagem e a submissão às determinadas culturas dominantes. Um bom exemplo para elucidar foi à política de expansão comercial marítima no século XV, que teve a frente às coroas portuguesa e espanhola. Tanto Cristóvão Colombo quanto Pedro Álvares Cabral ambos tinham objetivos muito claros, saciar os desejos por riqueza da nobreza e da nascente burguesia europeia.

Ouro, prata, madeira e outras tantas riquezas naturais foram sendo progressivamente rapinadas e transportadas até a Europa. Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, etc, superaram a pobreza e o atraso social a ponto de virarem impérios, dominando outras culturas. São vastidões de relatos e fontes de pesquisas disponíveis que comprovam ter havido massacres junto aos povos invadidos que resistiram à ocupação na América. Não se tem informações ou comprovações de integrantes das coroas ibéricas de terem sidos julgados e condenados por práticas de genocídio na América. 

Com o fim da supremacia ibérica, ascendeu outra grande potência europeia agora fundamentada pela revolução industrial. A Inglaterra se transformou no século XIX na maior força econômica e bélica planetária, detentora de um dos maiores impérios da era moderna. Entretanto tal soberania planetária foi quebrada já na Primeira Grande Guerra com a ascensão dos Estados Unidos como nação vitoriosa. Depois da Segunda Guerra Mundial, o império estadunidense rivalizou com a Rússia/União Soviética o status de poder de persuasão e influencia política sobre os demais.  

Com o fim da cortina de ferro e do domínio soviético, os Estados Unidos são levados a compartilhar seu domínio geopolítico com a nova potência econômica, a China. Para manter ativa a poderosa indústria bélica norte americana após o fim da União Soviética, novos inimigos deveriam ser forjados como de fato aconteceu. O oriente médio, no entanto, o forte interesse sobre as imensas reservas de petróleo levou os Estados Unidos a estreitar relações políticas com regimes tiranos, como a Arábia Saudita. Porém era necessário combater qualquer força opositora que atentasse aos interesses ocidentais. A OTAN teve a sua criação baseada nesses princípios e outros.

O Iraque, assentado sobre um gigantesco Oasis e petróleo e governado por Saddam Hussein seria a bola da vez das investidas ocidentais. A justificativa da ocupação americana no Iraque e que resultou na prisão e morte de Saddam foram as denúncias de que o líder iraquiano estaria montando um grande laboratório de armas químicas, que, no entanto, jamais foram encontradas. A ocupação do território iraquiano pelos Estados Unidos não minimizou o quadro de violência no país. Os atentados as Torres Gêmeas na cidade de Nova York em setembro 2001, cuja ação foi reivindicada pelo grupo terrorista Al Qaeda, mais uma vez serviria de pretexto a expansão da influência americana naquele território. Caçar e levar a prisão o líder da AL Qaeda Ozama Bin Laden mobilizou forças bélicas poderosas e bilhões de dólares.

O alvo agora era o Afeganistão onde se acreditava estar servindo de esconderijo à Bin Laden. A ocupação americana no Afeganistão levou ao fim seis anos de domínio do grupo fundamentalista islâmico Talibã. O fato é que Osama estava escondido e foi preso no Paquistão e não no Afeganistão. É claro que para o governo norte americano foi importante forjar tal situação, pois seus objetivos extrapolavam a prisão do líder da Al Qaeda. As forças de inteligência norte americanas será que foram tão ingênuas de acreditarem que Osama estivesse escondido no Afeganistão. Entretanto era necessário mobilizar a mídia mundial e a opinião pública a favor a tomada do Afeganistão.

A supremacia americana no Afeganistão seguiu o mesmo propósito ocorrido no Iraque, Kuait, ou seja, controlar das reservas de petróleo e os extraordinários oleodutos, esse último passando em território afegão. Diante da certeza de haver o esgotamento dos hidrocarbonetos no mundo e principalmente no oriente médio, os Estados Unidos e outras potências ocidentais começa a redirecionar suas políticas de influência geopolítica A progressiva saída das forças de segurança no Iraque e no Afeganistão é parte desse novo esquema.

Bem ou mau a presença americana no Afeganistão garantia certa estabilidade à população civil de uma possível ofensiva do regime do Talibã. Algo que chama atenção quando se avalia as várias investidas ou intervenções de países ocidentais sobre o oriente médio, Irã, Kuait, Afeganistão, por exemple, traz a sensação de imaturidade, incapacidade dessas culturas de se auto organizarem. O caso da Índia que por décadas manteve-se sob a batuta do regime britânico; a África do Sul, controlada pela Holanda, Inglaterra, Alemanha, e assim vai.

Claro que essas teriam todas as possibilidades de se organizarem e tomar as rédeas do seu destino. O mesmo teria ocorrido na América hispânica e portuguesa. No entanto, o que os impérios fizeram foi construir narrativas dando a impressão de que as culturas tomadas viveriam em uma eterna barbárie. O que se viu foi a intensificação ainda maior da barbárie dessas “frágeis culturas” pelos invasores.  

Retornando o caso do Afeganistão, será que em vinte anos de presença americana não teria sido suficiente para os americanos terem auxiliado na reestruturação política e militar que pudesse resistir a possíveis investidas do talibã? Incrível foi a facilidade e a rapidez como se deu a tomada da capital Cabul. Mas o que impressionou mesmo foram as imagens chocantes do aeroporto da capital onde milhares de pessoas aglomeradas tentavam desesperadamente sair do país.

A cena das pessoas agarradas em um avião militar foi parecida a uma imagem exibida no Vietnã quando os vietcongues tomam a capital do país. Centenas de cidadãos americanos tentavam embarcar em helicópteros para fugir do país. Todas as tentativas de guerras preventivas para combater o terror geraram mais terror e morte aos civis dos países ocupados. O fato é que o terror ou guerras entre etnias ou grupos religiosos tem o dedo de grandes potências interessadas em abocanhar riquezas.

Prof. Jairo Cesa