sexta-feira, 10 de setembro de 2021

 

PARALISAÇÃO DOS CAMINHONEIROS E O PSEUDO MOVIMENTO GOLPISTA ARTICULADO PELO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO


Ontem, oito de setembro de 2021 viajando em direção a Caxias do Sul passei por alguns pontos de bloqueios parciais de caminhoneiros na Br 101 e na rodovia estadual rota do sol. Tais manifestações haviam iniciado no dia anterior em todo território brasileiro atendendo solicitações de lideranças municipais e estaduais na maioria simpatizantes do presidente Bolsonaro. Durante a viagem procurei refletir fatores realmente relevantes que motivam essa categoria a estarem ali empunhando bandeiras do Brasil e cercando a passagem de veículos.

Veio a mente atos semelhantes de caminhoneiros que geraram inúmeros transtornos a toda população. Somente em 2015, no governo de Dilma Rousseff foram três paralisações, uma em fevereiro, a segunda em abril e a terceira em outubro. Na época a pauta de reivindicação dos caminhoneiros estava, entre outras, a redução dos preços dos combustíveis; o valor cobrado nos pedágios e valor mínimo dos fretes. É importante destacar que na época o preço médio do óleo diesel não chegava a três reais o litro.

Atendendo as pressões da categoria, a presidente Dilma sancionou a lei n.13.103/2015 contendo uma série de artigos e dispositivos que atendida suas demandas. Lembro de ter lido uma reportagem onde um dos líderes do movimento assim descrevia os atos de paralisação: diziam que o movimento não estava vinculado a sindicatos ou federações, sendo, portanto, apartidários e sem vínculo político. Que lutavam pela salvação do país, que tal ensejo só seria possível a partir da deposição de Dilma, ou por renúncia ou por impeachment. Um ano depois, em 2016, Dilma sofreu impeachment e cuja alegação foi ter praticado pedaladas fiscais.

Em 2018, já no governo golpista de Michel Temer, nova paralisação dos caminhoneiros gerou mais transtornos e imensos prejuízos a economia do país.  Coma a ascensão de Jair Bolsonaro a presidência da república em 2019 a situação dos caminhoneiros e demais setores dependentes de óleo diesel, etanol e gasolina, tenderam a se agravar em decorrência da elevação dos preços. No entanto o cenário político mudou, pois expressiva parcela dos caminhoneiros ajudou Bolsonaro a sagrar-se presidente em novembro de 2018.

Nos três anos a frente do executivo federal, Bolsonaro vem colecionando uma serie de equívocos administrativos dos quais já seriam mais que suficientes para que fosse deposto. Nesse sentido, sua permanência no governo é assegurada graças a um conjunto de partidos e parlamentares que integram o chamado Centrão no congresso nacional. Fora desse ambiente estão seus fanáticos seguidores dando-lhe respaldo independentemente de das maldades cometidas. 

Diante de uma CPI que investiga o envolvimento do seu governo na condução da pandemia, com reais possibilidades de torná-lo inelegível, Bolsonaro intensifica sua artilharia de guerra criando situações novas de tensões sociais com o intuito de desviar o foco das atenções. É preciso forjar inimigos ou algo semelhante que possa agradar seu fiel grupo de apoio. É nisso que o presidente vem se dedicando ultimamente, esquecendo de fazer o que realmente deveria fazer que é governar o país. 

Completamente cego e alucinado pelo poder, Bolsonaro coloca todas as suas fichas numa possível reeleição em 2022. Para isso tenta de todas as formas intensificar o discurso afirmando que o voto eletrônico não é seguro, pois há risco de fraude. Mesmo com decisão do congresso que votou pela permanência do voto eletrônico, o presidente tenta incitar seus apoiadores a agirem contrários à decisão do congresso. Não satisfeito, Bolsonaro eleva o seu tom de voz contra ministros ao STF Alexandre de Moraes e Barroso, onde protocolou na câmara dos deputados pedido de impeachment a ambos.

Cada vez mais enfraquecido, Bolsonaro mobilizou seus apoiadores para que no dia sete de setembro fosse às ruas lutarem por “liberdade”. É de certo modo contraditório esse discurso, pois a proposta de pauta encaminhada para esse dia estava entre outras proposições, à deposição de ministros do STF. Brasília, no entanto, no dia da “independência” do Brasil, todas as atenções foram centralizadas a capital do país, na maneira como o presidente e seus apoiadores se comportariam. Havia até comentários nas redes sociais de um possível golpe de Estado. Muitos dos manifestantes que estavam em Brasília, principalmente de representantes dos caminhoneiros e do agronegócio, acreditavam, sim, que o golpe aconteceria.

No dia seguinte ao catastrófico plano golpista, os jornais publicaram reportagens dando destaques às carreatas e aos bloqueios em rodovias federais e estaduais. No sul do Brasil, diversos foram os pontos bloqueados parcialmente, porém as ações mostraram pouca adesão da categoria. Um dos jornais da região sul de Santa Catarina escreveu assim em sua manchete de capa: “em toda a região, manifestantes foram às ruas para demonstrar apoio ao presidente Jair Bolsonaro, pedir o impeachment de ministros do STF, defender o voto impresso e mais liberdade de expressão”.

É quase inimaginável acreditar que uma categoria tão espoliada, tão maltratada, como a dos caminhoneiros, se prestasse ao ridículo de fazer bloqueios em rodovias para prestar apoio a um presidente que tanto mal lhes faz. Interessante é que na lista de reivindicações, todas as propostas em nenhum momento colocam o presidente como responsável pelo aumento da inflação, preço do gás, da gasolina, e das quase seiscentas mil mortes pela COVID 19.

Não há relatos de ter havido algo similar na nossa história recente, onde uma categoria, frontalmente afetada pelas políticas perversas de um governo, se mobilizou para enaltecê-lo, apoiá-lo. Como explicar o tamanho grau de ignorância de uma população onde é levada a acreditar cegamente em alguém tão insensível, tão perverso, tão insano, tão mal resolvido emocionalmente, como é o presidente Bolsonaro. Ao mesmo tempo em que Bolsonaro e seus fieis seguidores juram fidelidade à democracia, na lista de reivindicações estão lá redigidas as seguintes propostas: cassação de parlamentares corruptos, impeachment de ministros do STF e a não interferência do STF nos poderes executivo e legislativo.

Quanto a proposta de cassação de parlamentares corruptos, parcela significativa daqueles que o apoiam no congresso, o chamado Centrão, possuem algum processo correndo no judiciário por suspeita de irregularidades ou atos de corrupção. Quem consegue raciocinar um pouquinho percebe que esses itens da pauta, sua efetivação resultaria em um regime ditatorial, que é exatamente o que pretendiam milhares de manifestantes espalhados pelo Brasil. Há quem acredita que Bolsonaro não teve responsabilidade nas quase seiscentas mil mortes pela COVID 19. Em um de seus pronunciamentos aos manifestantes no dia sete último, pôs a culpa em governadores e prefeitos, por terem ignorado a constituição proibindo o povo de trabalhar e frequentar templos e igrejas para suas orações.

Como ocorreu nas paralisações de caminhoneiros em 2015, 2018, seus impactos passaram a ser sentidos quando os postos de combustíveis foram sendo fechados por desabastecimento. Um dia depois do sete de setembros de 2021 filas já se formavam em muitos postos de combustíveis no Brasil inteiro. Muitos ou até mesmo milhares de condutores de veículos posicionados nas filas dos postos para encherem o tanque do seu automóvel, prestaram apoio ao movimento dos caminhoneiros pelo fechamento das rodovias.  

Afinal quem mais se beneficiou com todo esse circo patrocinado pelo presidente da república? Claro que não foi o povo, inclusive muitos dos que estavam vestidos de verde e amarelo ou cobertos com a bandeira do Brasil. São presas fáceis desse sistema que os transformou em cidadãos maleáveis, que aceitam serem conduzidos como manada de animas para o abatedouro. Pois para entender o funcionamento desse complexo tabuleiro político que privilegia os mais abastados, requerem muito tempo de leitura, muita pesquisa, etc.

E é exatamente isso que as elites procuram fazer e fazem com muita eficiência, precarizar ao máximo as escolas públicas onde estudam milhões de filhos de trabalhadores. Não é por acaso que em três anos de governo Bolsonaro já tivemos quatro ministros da educação. Alguém se lembra de algum projeto relevante para a educação básica proposto de um desses ministros? Nenhum. É tão verdade que para as elites, educação, principalmente universidade são privilégios para poucos.

O Brasil, segundo o atual ministro da educação, “é um país que precisa de mão de obra técnica, profissional”. O próprio ministro sabe que se a universidade fosse realmente universalizada, muito difícil seria o Brasil ter no comando do executivo um presidente tão despreparado, tão incapacitado para um posto tão importante. Isso também seria verdade para outros tantos postos importantes no executivo, legislativo e judiciário.

Talvez se tivéssemos um povo que pudesse ler e compreender com mais criticidade todo o é que escrito ou falado nas diferentes mídias dificilmente seriam ludibriados. Saberiam distinguir discursos produzidos sobre o mesmo assunto, de verdades reveladas ou veladas do tipo: “moradores de criciúma e região estavam apreensivos também com uma possível falta de alimentos e desabastecimento dos estoques dos supermercados. Porém, os proprietários estavam precavidos, com mais produtos que o normal nos depósitos, já esperando as paralisações previstas para sete de setembro – e que se conformaram”.

Notaram o que está nas entrelinhas dessa frase? Aqui esconde algo perverso. Mostra que os segmentos empresariais ligado aos supermercados estavam de certo modo empolgados com a possibilidade de ampliar suas vendas e lucros com os atos de apoio ao presidente. É óbvio que milhares de pessoas induzidas pelo medo do desabastecimento correriam aos supermercados para comprar. Nesse cenário a tendência seria o aumento dos preços e por consequência da inflação. E quem ganharia com isso?

Muitos proprietários de postos de combustíveis são apoiadores das políticas do presidente Jair Bolsonaro.  Certamente teriam lançados posicionamentos favoráveis à pauta de reivindicações elaboradas pelo movimento do dia sete de setembro. Dentre as reivindicações está: um país livre da corrupção. No dia 09 de setembro, em Criciúma, os postos de combustíveis já sentindo os impactos da paralisação, um jornal diário lançou a seguinte manchete: “preços chegaram a ter alta de 20 centavos – Com a iminente falta de combustível, alguns postos da Região Carbonífera chegaram a aumentar os preços da gasolina em 20 centavos”

Como devem ser designadas pessoas que se aproveitam de cenários forjados de instabilidade social para galgar benefícios próprios? Imoralidade, perversidade, corrupção ou algo mais, é isso? Penso eu que sim. A meu ver parece que foi exatamente o que planejavam esses ditos Bolsonaristas defensores da “moralidade”, da “justiça” e da “democracia”...

Prof. Jairo Cesa

 

               

    

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