O ciclo
vicioso da má gestão dos recursos públicos pelas administrações municipais
Durante
os últimos anos o município de Araranguá vem sendo acometido por frequentes fenômenos
climáticas cujos transtornos e prejuízos socioeconômicos são enormes. Podemos
até admitir que tais anomalias são motivadas por mudanças climáticas como o
aquecimento global já sentido na região como as estiagens prolongadas ocorridas
entre os anos de 2010 e 2011, bem como de fortes chuvas intermitentes que
inundam o centro e alguns bairros da cidade. No entanto, os impactos de tais anomalias
do tempo poderiam ser minimizados ou contidos se os governos federais,
estaduais e municipais, com raras exceções, fossem mais responsáveis frente a
seus compromissos como gestores priorizando a qualificação técnica e não
unicamente política no momento da escolha daqueles que ocuparão os principais
postos de comando no município.
Esse
tipo de postura reflete diretamente na boa ou má gestão dos recursos públicos
quando projetos de obras caras são executados como o sistema de esgotamento
sanitário urbano cujo projeto inicial apresentado para o público em 2007 e
orçado em 20 milhões de reais para atender 17 mil pessoas, foi embargado já no
início por constatar falha técnica de execução. A solução encontrada foi
arrancar os tubos fixados para a captação dos resíduos e removê-los para outro
terreno, porém, sem prazo para reiniciar a obra. Além dos tubos, toda
canalização feita nas ruas da cidade para transportar os fluídos orgânicos certamente
serão removidos e substituídos por outros elevando ainda mais os gastos.
É
inadmissível acreditar que depois de milênios quando certos povos do passado
com todas as limitações técnicas possíveis construíram obras imponentes que
resistem até hoje ao tempo como as pirâmides, em Araranguá ainda se comete
falhas primarias quando se decide construir um sistema de tratamento de esgoto cujo
terreno indicado não oferecia as mínimas condições infraestruturais para a
instalação dos equipamentos, que depois de iniciada a obra foi constatada a
fragilidade do terreno, que não suportaria o peso da construção. Qualquer
cidadão mais experiente teria certeza de que o terreno indicado não oferecia
qualquer garantia de sucesso. Como que engenheiros certamente com formação em
universidades conceituadas puderam cometer falhas tão primárias e o que é pior,
avalizadas pelo poder público que teve que rasgar as ruas já pavimentadas com
asfalto para a colocação dos tubos.
Sem
contar os grandes cilindros, orçados próximos a 10 mil reais por unidade, que
depois do embargo ficaram inutilizados e foram cobertos pelo mato, alguns já
com rachaduras expostas. Quem vai ressarcir os prejuízos aos cofres públicos?
Em entrevista a uma rádio do município, isso há cerda dois a três anos, o
presidente o Samae afirmou que embora a obra tivesse parada, a autarquia tinha
que arcar com o pagamento das parcelas do empréstimo obtido, cujo valor mensal
estava orçado em sessenta mil reais aproximadamente. Atualmente o município
adquiriu outro terreno próximo ao anterior, onde foi acomodado o que restou dos
equipamentos, muitos dos quais poderão ser descartados devido ao seu péssimo
estado de conservação. Como todos os prazos já devem ter espirado e os recursos
disponíveis devolvidos, o município seguramente deverá elaborar um novo
projeto, com custos iguais ou superiores ao anterior.
Quando será reiniciada a obra, não há qualquer
informação. O que se sabe é que todos os municípios brasileiros têm prazos
estipulados para se ajustarem às leis federais referentes às políticas de
saneamento básico, com riscos de sofrerem sansões federais vetando a liberação
de verbas para projetos de infraestrutura. Seguindo essa linha de obras duvidosas podem-se
incluir outras tantas como o equivocado projeto de fixação da barra do rio Araranguá
e a emblemática e polêmica abertura da uma Rua no Morro Azul, bairro Coloninha,
cuja população residente no entorno vem enfrentando o caos em dias de chuvas forte
devido erosão de terra que escorre pelo morro e invade as casas. O que se
observou no emblemático episódio do Morro Azul é mais uma dos tantos equívocos
cometidos pelas administrações públicas, no qual tomam decisões precipitadas
sem avaliar os impactos resultantes.
O
que causou estranheza, além é claro do corte do morro, que gerou revolta por
parte dos moradores, especialmente os mais antigos e setores do legislativo,
foi o fato de ter sido realizado por máquinas da própria prefeitura. Isso
porque a área em questão é particular, cabendo ao empreendedor a realização de
tal serviço. O caso chegou à justiça, quando o ministério público estadual
enquadrou o município por crime ambiental, por acreditar que no entorno da rua
aberta havia nascentes. Técnicos foram contratados e depois de estudos feitos
confirmaram não existir qualquer elemento que pudesse caracterizar o morro como
APP. No entanto, passado quase um ano depois da abertura, o problema persiste
sem qualquer prazo para solução. Essa é mais uma das tantas obras com problemas
quando o poder público se exime de dialogar com a sociedade avaliando os prós e
contras de projetos complexos como dessa rua.
A obra de fixação que vem se constituindo
em cada período eleitoral como uma das principais propostas de campanha dos
partidos tradicionais, vem se constituindo como algo inalcançável devido ao
fato dos governos que se sucedem não cumprirem com todas as recomendações
exigidas pelos órgãos competentes. Como forma de se eximir da responsabilidade
da não execução, as administrações sempre procuram uma justificativa pelo
fracasso, dessa vez a atual administração responsabilizou o próprio IBAMA por
excesso de intransigência nas solicitações recomendadas. O que se sebe é que o
embargo da obra foi resultante de inúmeros equívocos cometidos desde a
apresentação do projeto em audiência pública ocorrida na sede do grêmio
fronteira.
As
propostas ou proposta de obra apresentada, no trecho situado em frente a
comunidade de Morro Agudo, não assegurava o fim definitivo das cheias, apenas minimizava
os impactos agilizando a vazão das águas. O fato é que esse imbróglio produziu
dissabores e conflitos envolvendo as duas comunidades vizinhas, Morro Agudo e
Ilhas, ligadas por vínculos de parentescos, pois ambas defendiam a fixação
próxima suas comunidades. Enfim, o que realmente levou o cancelamento do
empreendimento foi o relatório encaminhado pelo MPF ao órgão ambiental federal,
IBAMA, informando que a obra não resolveria por definitivo o problema das inundações,
que o próprio município não restringia no seu plano diretor licenças para novas
construções em áreas inundáveis, nem mesmo propostas de obras como diques que
pudessem minimizar os impactos das inundações.
Quando
tudo levava a crer que as gastanças de dinheiro público com obras equivocadas e
inconclusivas estivessem solucionadas, os meios de comunicação do município
divulgaram informações de que teria havido irregularidade em mais uma obra
pública. A denúncia agora envolve o projeto de canalização entre as avenidas
João Fernandes e Capitão Pedro Fernandes, orçado em mais de um milhão de reais.
Nos últimos anos a região vem sendo acometida por inundações provocando
transtornos à população que reside nas proximidades. Depois de alguns meses a
obra de canalização foi concluída, porém, menos de três meses depois de pronta,
dois temporais provocaram novas inundações.
A justificativa do órgão responsável pela obra
foi de que não há como solucionar definitivamente o problema, que o projeto
executado apenas minimizará não a solução definitiva como se previa e divulgada
pela imprensa. O que é sabido é que toda área que margeia o córrego é constituída banhado, que sempre foi acometida por
inundações. A partir da década de 1970, com o processo da urbanização, as
administrações públicas passaram a liberar alvarás para construções das
respectivas áreas inundáveis do município, como no bairro barranca, baixadinha
e sobre o córrego que cruza as Avenidas Getúlio Vargas, João Fernandes, XI de Novembro
e Sete de Setembro, desaguando no rio Araranguá.
O
que ocorre é o fato que a intensa impermeabilização do solo faz com que água da
chuva não absorvida escorra rapidamente para os pontos baixos provocando
inundações. Outro agravante nesse caso é que o trecho da Avenida 15 de Novembro,
atrás da empresa Dimasa, a pavimentação feita há poucos anos forma uma barragem
que represa a água E o problema se estende até a foz do córrego em decorrência
de haver construções que não respeitaram os limites legais das APPs, como a
supressão das matas ciliares que auxiliavam na absorção do excedente de água,
bem como a degradação das encostas que minimiza o assoreamento. O que deveria ter
ocorrido nas muitas obras licenciadas, algumas executadas indevidamente, era o
estudo mais detalhado de toda a dinâmica geomorfológica do território que
circunda o respectivo córrego ou sanga. Primeiramente jamais o órgão ambiental
municipal deveria ter liberado licenças para obras dentro do próprio banhado
que margeia a Avenida 15 de novembro, como também permitir o aterramento dos
terrenos, parte inundável, na rua lateral da empresa Dimasa, pelo fato de que o
aterro intensificará o represamento das águas.
Além
da contratação de uma equipe de profissionais especializados não se pode jamais
desconsiderar o conhecimento empírico das pessoas mais experientes habitantes no
entorno, além, evidentemente, a consulta necessária de imagens de fotografias e
mapas antigos e outras fontes documentais do local que poderão subsidiar os
técnicos na melhor compreensão da geomorfologia do território e suas
modificações no decorrer do tempo. Faz-se necessário também, se possível,
relatórios dos índices pluviométricas no município e suas variações no decorrer
das últimas décadas.
Com
essas informações é possível mensurar com maior precisão o volume das
precipitações, o tempo necessário para o escoamento e algumas ações que deverão
ser encaminhadas como remoção de muros e quem sabe até construções indevidas
que dificultam a passagem da água, para depois, sim, executar a obra principal,
que embora aparentemente o custo orçamentário possa ser elevado, com a solução
do fim dos alagamentos, o município economizará recursos extras utilizados na
recuperação de ruas destruídas e na indenização de cidadãos que tiveram algum prejuízo
com os alagamentos.
O que se constata são as posturas negligentes
dos administradores públicos que jamais adotaram políticas responsáveis de
ocupação restringindo as áreas de risco. Não foi o que ocorreu, pois bem se
sabe que sempre prevaleceu nas administrações brasileiras o caráter
eleitoreiro, ou seja, como forma de assegurar os votos, os administradores
concediam licenças de construções para essas áreas na condição de que a
retribuição fosse sob a forma de voto. Embora as legislações limitassem ao
máximo tais ocupações, as mesmas não eram suficientes para impedir.
Sobre
a as tubulações fixadas para a contenção das inundações nas proximidades do Teatro
Célia Belizária, cujo custo elevado da obra foi motivo de críticas, pelo fato
de não resolver o problema, a Revista W3, traz na sua edição 043, de 14 de
maio, página 3, manchete onde diz: “Obra milionária: Ministério Público
confirma investigação sobre suspeita de fraude. Na leitura da reportagem, a
promotora pública Cristinae Anguski da Luz instaurou inquérito civil público
para apurar possíveis irresponsabilidades. O caso está sendo investigado pela
segunda promotoria e há fortes evidências de ter ocorrido fraudes no projeto,
segundo a revista. O argumento da justiça é que a administração além de não
cumprir o que a legislação determina, ou seja, a obrigação de processo de
licitação para escolha de empresa que executória o projeto, há indícios também
que a obra é de má qualidade, que não condiz com o valor investido.
Prof.
Jairo Cezar