sábado, 30 de novembro de 2019


EM DEFESA DAS ORGANIZAÇÕES AMBIENTAIS CONTRA A TRUCULÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL

Há muito tempo organizações ambientais como o Greenpeace e WWF vêm prestando um serviço irreparável a preservação dos frágeis ecossistemas ameaçados pela cobiça do capital. Muitas das publicações postadas no meu blog na área ambiental foram elaboradas a partir das reportagens, artigos, divulgadas por essas duas organizações, entre outras. Em nenhum momento se questionaram a veracidade dos fatos publicados por ambas as organizações.
Caso houvesse alguma ilicitude de fato, a exemplo do que se supõe ter tido a WWF recebido dinheiro do ator Leonardo DiCáprio para o financiamento das queimadas na Amazônia, automaticamente os responsáveis já teriam sido processados, por se tratar de uma organização com sucursais espalhadas no mundo inteiro. Não há qualquer dúvida que tais acontecimentos difamatórios são frutos de manobras articuladas por setores ligados a grilagem de terra e aos desmatamentos na Amazônia, cujos principais incentivadores são o governo do estado do Pará e o presidente do Brasil.
A tentativa de criminalizar organizações ambientais como a WWF tem por finalidade criar um clima negativo da sociedade contra milhares de outras entidades ambientais espalhadas pelo Brasil, das quais vem prestando um importante serviço a proteção de ecossistemas frágeis. Desde que assumiu o governo, Bolsonaro vem executando o que prometeu quando candidato à presidência. O seguimento ambiental, porém, é o que mais vem sofrendo tais investidas impactantes.
A tentativa do governo é combater todo o tipo de resistência ao insano desejo de transformar a Amazônia em terra arrasada. A fragilização fiscalizadora de entidades como IBAMA, ICMbio é um bom exemplo de como o governo está se comportando frente a questão ambiental no Brasil. A invasão de territórios indígenas por grileiros e desmatadores e os intermináveis incêndios que destruíram milhões de hectares de florestas, colocaram o Brasil no centro das notícias negativas no mundo inteiro. Como não bastasse os incêndios, para manchar ainda mais a imagem do país no exterior, a costa oceânica do nordeste brasileiro foi tomada por toneladas de óleo, sem que os responsáveis fossem até hoje identificados e processados.
Entidades ambientais, universidades e governos questionam a morosidade do governo federal de tomar posição efetiva no combate ao derramamento criminoso de óleo. A lamentável saber que mesmo depois de tantos absurdos cometidos pelo atual presidente e seus comandados, muitos dos seus eleitores ainda mantém confiança nas suas políticas, que já promoveu um forte desmonte do Estado e dos direitos sociais.
Mesmo diante desse triste episódio de tentativa de manchar a reputação de entidades ambientais como a WWF, nenhuma organização como Oscip PRESERV’AÇÃO não se intimidará em continuar a sua saga em defesa do frágil ecossistema do Morro dos Conventos. Sabemos do nosso desafio, porém não nos renderemos às pressões dos seguimentos econômicos locais, muitos dos quais alinhados as políticas dos governos estadual e federal, que não se limitam em promover o “desenvolvimento” cujos meios justificam os fins.         
Prof. Jairo Cezar

quarta-feira, 20 de novembro de 2019


NÚMEROS DO (PRODES) REVELAM O CRESCIMENTO DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA
https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?74082/Desmatamento-Amazonia-9762-km2-maior-numero-desde-2008


Imagino que muitos devem ainda ter na memória o funesto episódio da exoneração pelo governo Bolsonaro do diretor do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) Ricardo Magnus Osório Galvão, acusado de ter superdimensionados os números relativos aos desmatamentos na Amazônia. Os números das áreas desmatadas na Amazônia, apresentados pelo INPE e questionados pelo governo Brasileiro como irreais, foram confirmados no dia 18 de novembro de 2019 por meio do PRODE (Projeto de Monitoramento do desflorestamento na Amazônia Legal) cujo desmatamento entre agosto de 2018 a julho de 2019, aumentou 29,5%.
A área desmatada foi de 9.762 km quadrados, equivalente a 1.4 milhão de campos de futebol ou seis vezes a cidade de São Paulo. Entre os estados que mais desmataram estão: Roraima com 216%; Acre, com 55% e Pará, com 41%.  E agora como se esquivar desses números que revelam uma política sórdida do governo contra o meio ambiente e as populações tradicionais que habitam essas áreas.
Lembram da perseguição insana do governo contra a instituição IBAMA, ambientalistas e qualquer um que ousasse criar algum empecilho ao avanço do agronegócio na Amazônia.  Pois bem, em 2019, como forma de incapacitar o IBAMA de atuar na fiscalização a autuação dos infratores ambientais, o governo cortou 24% dos repasses do orçamento ao órgão, e mais 34% destinados ao combate das queimadas. Todo esse imbróglio administrativo envolvendo o governo e seu ministério do meio ambiente, ambos acusados de incitar o desmatamento e as queimadas, repercutiu negativamente em todo planeta.
Em discurso proferido na ONU, o governo brasileiro esteve no epicentro das atenções e motivo de chacota por parte dos chefes de estados presentes. Na sua fala de abertura da sessão, teve a coragem de dizer que o Brasil vem preservando suas florestas contra os desmatamentos. Ao mesmo tempo em que o governo falava na ONU, o mundo vinha acompanhando apreensivo os noticiários destacando o fogo que jaziam milhares hectares de florestas na Amazônia e no restante do Brasil.
Se não houver uma ação mais incisiva dos agentes internacionais através de retaliação a compra de produtos comprovadamente produzidos em áreas de desmatamento ilegal, os riscos de uma hecatombe climática tenderão a ser muito mais devastador e próximo de acontecer. Quem achava que esses números recordes de desmatamento apresentados pelo PRODE cessou a partir da apresentação do relatório anual, se equivocou.
De julho a outubro de 2019, ou seja, em um trimestre, os números já superaram os cem por cento, em comparação ao mesmo período de 2018. É importante lembrar que estamos apenas no primeiro ano do governo Bolsonaro. Certamente serão mais três anos difíceis pela frente. O que temos que fazer é continuar nossa luta, capitaneando mais e mais pessoas a se engajarem nessa difícil tarefa de colocar um basta em toda essa insanidade que afetou expressiva parcela da sociedade e da comunidade política.
Prof. Jairo Cezar
        
http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes

terça-feira, 19 de novembro de 2019


AMÉRICA DO SUL REAGE COM ENERGIA AS BRUTALIDADES DAS POLÍTICAS NEOLIBERAIS

Resultado de imagem para manifestação na bolivia
https://br.sputniknews.com/americas/2019111014757544-lula-maduro-e-fernandez-denunciam-golpe-de-estado-na-bolivia-mexico-oferece-asilo/

Em 2010 em uma viagem realizada em alguns países do altiplano andino, tive a oportunidade de conhecer La paz, capital da Bolívia. Na oportunidade presenciei uma cidade ainda vivendo os reflexos de períodos tensos no passado, cuja ascensão de Evo Morales no comando do país, vinha trazendo uma atmosfera positiva para cerca de 80 da população do país, de origem indígena.
Entretanto, a chegada ao poder de um governo de origem indígena e de viés progressista, não era visto com bons olhos por cerca dos 20% da população mais rica, na sua maioria, branca européia. Essa parcela da população ocupava as planícies ricas da meia lua do mapa boliviano, território rico em petróleo e produção de grãos para exportação.  Em 2007 essa elite conservadora e truculenta, iniciou um processo político separatista com vistas a  criação de um Estado autônomo. Tudo isso não aconteceu de forma espontânea.
Os Estados Unidos, por meio de seu órgão de inteligência, CIA, e outros departamentos de Estado, tiveram participação direta na desarticulação do regime de Evo Morales. Porém sem sucesso. Durante o período que Morales permaneceu no poder, a Bolívia obteve avanços econômicos e sociais significativos. A população indígena, que desde a colonização se mantinha submetida ao domínio sanguinário de governos entreguistas, agora pela primeira vez tendo um representante indígena no poder, vê surgir no no horizonte esperanças de dias melhores.
Alguns equívocos cometidos por Morales como a tentativa de manter-se a frente do poder em um quarto mandato, transformou-se em estopim para que a elite aproveitasse o momento para assumir o controle do país.  A pressão fez com que Morales renunciasse o cargo de presidente e solicitasse asilo político no México. O cenário social no país tornou-se tenso desse momento em diante. Dezenas de pessoas, na sua maioria indígena, foram mortas na manifestações que dominaram e ainda dominam as principais cidades e departamentos do país, principalmente na capital La Paz. 
O caso boliviano não é exceção na América Latina. Outros países como Equador, Peru, Venezuela, Argentina, Chile, a população vem reagindo ao avanço das políticas neoliberais que tentam suprimir avanços sociais conquistados pelos trabalhadores. A Bolívia, comparado com outros países da América do Sul, é visto como um barril de povoa dentro do cenário geopolítico regional. A elite local jamais se conformou de ter no poder um indígena, no qual passou a priorizar políticas em benefício dos mais pobres, nesse caso os indígenas.
A ascensão no poder de governos de tendência progressista como na Argentina, associada as intensas manifestações anti neoliberais como no Chile, Equador e Peru, acendeu uma luz vermelha nos departamentos de inteligência como a CIA norte americana. Antes que esses movimentos progressistas se espalhassem e chegassem à Bolívia, rapidamente as elites se reorganizaram, levando ao poder Jeanine Áñez Chavez, que adentrou ao palácio presidencial em La Paz segurando uma bíblia cristã, uma demonstração explícita de afrontamento as tradições indígenas.
O Chile que também se transformou em palco de guerra com milhares de pessoas protestando nas ruas, apresenta um cenário um pouco diferente do que está ocorrendo na Bolívia. A crise chilena se deve ao violento arruinamento da sociedade diante das políticas reformistas neoliberais. O Chile, é importante não esquecer, foi o laboratório do neoliberalismo que posteriormente espalhou-se pelo mundo, a exemplo da Inglaterra, Estados Unidos e o Brasil.
Até hoje o país, muitas das decisões importantes são fundamentadas a partir de uma constituição elaborada na época de Pinochet. O que a população reivindica além de uma nova constituição é o fim das políticas de estado mínimo. As reformas em curso como a privatização da educação e a reforma previdenciária ambas foram articuladas na Escola de Chicago, braço direito do neoliberalismo estadunidense. O pior de tudo é que esse modelo de reformas no Chile vem se espalhando e já atingindo o Brasil. Convém salientar que o ministro da economia do governo Bolsonaro é uma cria da escola de Chicago. Portanto, não tardará muito para que um levante popular também aconteça no Brasil?
Prof. Jairo Cezar            

sábado, 9 de novembro de 2019


AS VEIAS CONTINUAM ABERTAS DA AMÉRICA LATINA


Quando em 1986 entrei na FESC, hoje UNUSUL, para cursar história, pude ter contato com uma das obras primas da literatura latino americana, cuja leitura mudou minha compreensão sobre o processo de ocupação da América latina durante a expansão marítima espanhola e portuguesa, o real motivo da população até aquele momento manter-se subjugada a um quadro de miséria assustadora.  A obra literária a qual me refiro se chamava as Veias Abertas da America latina, escrita pelo professor uruguaio Eduardo Galeano. 
O professor Galeano trouxe a superfície, cenários assustadores de indígenas submetidos a trabalhos estafantes nas minas de prata, cobre, ouro, para saciar o desejo de poder e ostentação dos nobres e seus asseclas. Por estar quase toda a America Latina sob o domínio espanhol, exceto uma pequena fração de terra mais ao sul, controlada pelos portugueses, ambos adotaram modelos organizacionais semelhantes, mercantilista escravocrata.
O pau brasil, cana de açúcar, café, algodão, borracha, entre outros produtos de extrativismo vegetal e mineral, financiaram impérios e transformaram a Europa, tirando-a de um atraso econômico secular. Ainda hoje é visto nas decorações de igrejas e suntuosos palacetes aqui e na Europa o brilho reluzente do ouro, da prata, onde ainda verte o sangue, suor e lágrimas, de homens, mulheres e crianças que sacrificaram suas vidas sob as ordens dos déspotas.
Embora o domínio português e espanhol sobre a América latina tenha sido suprimido e surgido nações autônomas, com governos próprios, as marcas do colonizador jamais foram dissipadas. A submissão de homens, mulheres e crianças a trabalhos insalubres e com salários baixos permaneceram enraizadas nas culturas.  Muitos séculos se passaram, a América latina se modernizou, porém não suficientes para romper definitivamente com os grandes bolsões de miséria e o jugo dominador das grandes potências econômicas mundiais.
Inglaterra e depois Estados Unidos, final do século XIX e começo do XX, fincaram aqui suas afiadas garras, subjugando governos para a aplicação de modelos produtivos que os tornariam dependentes, como colônias fornecedoras de produtos primários. Terminou o século XX, e o cenário econômico, político e social de quase todas as ex-colônias espanholas e portuguesas na América Latina continuavam desolador.
Freqüentes golpes de Estados e a ascensão de regimes ditatoriais sangrentos deram o tom em muitos países latinos, financiados por potências econômicas interessadas em manter aqui seu domínio econômico. Algumas experiências de governos populares promoveram discretas transformações sociais, não ao ponto de reverter as profundas desigualdades sociais que insistem em permanecer como um vírus incurável. Todos os problemas que assolam milhões de cidadãos e cidadãs latino americanos têm sua raízes no modo como a região foi ocupada há mais de cinco séculos.
O século XXI tem se configurando como um período de grandes retrocessos econômicos e sociais. Os modelos econômicos neoliberais protagonizados por grandes potências econômicas, disseminados entre os países periféricos como o Brasil através do FMI e Banco Mundial, vêm provando que a América Latina permanece com suas veias abertas, onde alimenta com seu sangue os privilégios de uma pequena fração de bem nascidos cidadãos.
A ascensão de governos ultra liberais, a exemplo do Brasil, é uma demonstração cabal do impacto resultante do baixo investimento em educação e cultura. Quando vemos governos se vangloriando por assinar acordos de livre comércio entre a União Européia e o MERCOSUL, isso prova que nada aprendemos com o passado. O levante popular no Chile contra as políticas reformistas sanguinárias, a vitória eleitoral de Fernandes na Argentina e Morales na Bolívia, são sinais de que ainda pulsa esperança de um dia conquistarmos nossa verdadeira liberdade.
Prof. Jairo Cezar