A
FACE PERVERSA DE UM GOVERNO EGOCÊNTRICO, INSENSÍVEL, QUE SE NUTRE NO
CONFLITO
Há
dez anos criei um blog cuja proposta era publicar textos ou artigos discorrendo
aspectos da economia, política, educação, ambiente, entre outros temas de
relevância social. Desde 2011, jamais poupei palavras isentando de críticas
personalidades de destaques no campo político, econômico e social. Na época da
criação do Blog o Brasil estava no começo da segunda fase do regime petista, com
Dilma Rousseff ocupando a cadeira de Presidente da República, vaga deixada por
Luiz Inácio da Silva.
Foram
muitas as críticas das quais lancei tanto na gestão Lula quando do seu sucessor,
Dilma, especialmente no campo ambiental, em decorrência de posturas equivocadas
em mega projetos desenvolvimentistas, insustentáveis, como as inúmeras
hidrelétricas programadas para serem edificadas na região da Amazônia Legal. Embora em menor grau, houve alguns avanços nas
gestões petistas, a exemplo das políticas de renda mínima, da qual retiraram da
miséria absoluta milhões de famintos.
Entretanto
o pecado cometido pelas gestões petistas foi não ter iniciado o plano de
ruptura do sistema capitalista de produção, altamente excludente. Tal
iniciativa poderia se configurar no nascedouro de um novo modelo econômico,
talvez menos degradante, trágico, como o que a sociedade passou a conviver pós
era petista. A articulação e a execução
do golpe que suprimiu do posto de presidente, Dilma Rousseff, deram mostras
claras que a poderosa elite econômica, a mesma que apoiou o golpe de 1964, estava
mais uma vez no comando absoluto do país.
Quem
achou que os quase quinze anos do regime petista não foram tão promissores à economia
e a sociedade, os governos que os sucederam davam mostras de um futuro cenário
terrível às massas trabalhadoras, que seriam profundamente afetadas pelas
brutais reformas neoliberais. Reforma trabalhista e previdenciária foram umas
delas, fragilizando ainda mais direitos que tornariam milhões de brasileiros reféns
à ganância do Capital.
Em
pouco mais de dois anos no poder, o golpista Michel Temer, conseguiu preparar o
terreno para o pior, pois a eleição presidencial de 2018, parcela significativa
da população brasileira elegeu para presidente uma figura caricata, um
ex-capitão do exército e defensor do regime militar, que espalhou o terror e
medo por cerca de vinte anos. O governo de Jair Bolsonaro se traduziria no eco
da voz reprimida de uma imensa legião de brasileiros odiosos. São figuras
acobertadas por discursos moralistas, que defendem a família tradicional, o
proselitismo religioso, entre outros absurdos não mais condiz com o atual
modelo plural de sociedade.
Bastaram
poucos dias de governo para que a parcela da população menos esclarecida tomasse
consciência do terrível erro cometido, elegendo Bolsonaro para presidente. No entanto, para outros milhares de pessoas e integrantes
do capital selvagem, Bolsonaro demonstrava ser a pessoa ideal para a
concretização dos seus macabros interesses. Para concretizar seus planos
insanos contra a sociedade, reuniu uma legião de figuras sem o mínimo de
capacidade para o exercício do cargo, a exemplo dos ministérios do Bem Estar
Social, Educação e Meio Ambiente, áreas consideradas estratégicas de qualquer
governo.
O
pior foi a indicação de um ex-integrante da escola de Chicago e articulador do
golpe militar no Chile, na década de 1970, para ocupar a pasta da economia.
Paulo Guedes, Damares Alves, Abrahan Weintraub, Ricardo Salles, entre outros nomes, serão lembrados no futuro
como protagonistas de um dos maiores desarranjos sociais praticados na história
brasileira. A incitação a violência através da flexibilização no uso de armas e
o incentivo a ocupação de áreas de preservação permanente e indígenas,
ascenderam o estopim da violência nessas áreas, podendo resultar em um dos
maiores genocídios semelhantes à época da ocupação portuguesa.
Com
o fim do primeiro ano de governo Bolsonaro, o desemprego já havia alcançado
cifras preocupantes, atingindo 15% da população economicamente ativa. Para sobreviver, esses brasileiros são
desafiados a recorrer à informalidade, sem qualquer garantia de seguridade
social, como aposentadoria. Se em 2019 uma tempestade de medidas impopulares
solapou direitos de milhões de brasileiros que terão de trabalhar até a morte, que
lembra a escravidão, em 2020 um terrível acontecimento põe em cheque não só
espécie humana como o próprio sistema capitalista.
Um
vírus batizado de Corona Vírus, ou COVID 19, se abateu sobre uma cidade chinesa,
de 11 milhões de pessoas, onde em poucos meses se alastrou pelo resto do mundo,
transformando em uma pandemia. Para
evitar ou minimizar o alastramento, cidades, estados e países tiveram que adotar
medidas rígidas como a restrição do deslocamento de pessoas. Um mundo
globalizado como é atualmente, raros são os países sem nenhum cidadão
contagiado com a doença, cujos sintomas se assemelham a uma gripe, porém,
letal, às idosas com alguma moléstia preexistente.
De
tempo em tempo o mundo é acometido por pandemias que ceifam milhões de vidas
humanas. A mais recente e extremante
letal aconteceu há cento e dois anos foi a Gripe Espanhola, que matou mais de
50 milhões de pessoas no mundo. O Brasil também teve suas vítimas com a gripe,
trinta e cinco mil mortes, não poupando nem autoridades importantes como o
recém eleito à Presidência da República Rodrigues Alves, que não chegou assumir
o cargo. Na ocasião da gripe, uma das medidas tomadas para reduzir sua
proliferação foi decretar quarentena à população.
Na
realidade, a gripe Espanhola, segundo pesquisadores, sua verdadeira origem foi
na cidade de Kansas, EUA. A doença foi levada para Europa por soldados americanos
durante a primeira guerra mundial. Na ocasião, vários países incluindo o Brasil,
as autoridades trataram a gripe com certo desdém, retardando as medidas de
isolamento da população. Higienização das mãos, entre outras medidas para
evitar o contágio, foram disseminadas na época.
O
fato é que o surto do corona vírus revela o quão frágil é a espécie humana no
qual habita um planeta que divide espaço com outras milhares de espécies, porém,
de forma arrogante, insiste e se sentir superior as demais. Pesquisadores
afirmam que o vírus do corona vírus, sua disseminação tem alguma relação no
modo como o homem vem atuando sobre ecossistemas frágeis. Grande parte das
doenças, epidemias ou pandemias que se abatem sobre o ser humano seus vetores geralmente
são animas silvestres que tem o vírus incubado no seu organismo.
No
instante que florestas ou ambientes selvagens são impactadas por agentes
humanos, alguns animais, vetores de doenças, são expostos nos ambientes
urbanizados. É possível que o vetor do corona vírus tenha sido um morcego. No
momento que o animal suga o sangue de outro animal, equino, suíno, bovino, etc,
o patógeno é inoculado e transmitido ao ser humano por meio da carne consumida.
A AIDS teve o macaco como vetor nas florestas da África. Deng, Malária, Zica Vírus,
Chikungunya, são doenças também transmitidas por algum animal silvestre, como
mosquitos.
O
modo como lideranças políticas mundiais se posicionaram diante da pandemia do
Corona Vírus foram essenciais para poupar ou levar a morte milhares de pessoas.
Enquanto a China, com uma população superior a um bilhão de habitantes, medidas
importantes tomadas por lideranças municipais e estaduais contribuíram para que
o número de mortas fosse minimizado.
Esse
comportamento deveria ter sido assumido por outras autoridades como da Itália e
Espanha, cujas cifras de mortes já superam em muito aos ocorridos na China. Na
Itália, as autoridades desdenharam o vírus, acreditaram que não se espalharia
tão rapidamente. Quando foi decretado quarentena, parte da população do norte
do país já estava contaminada.
Na
Espanha, no mesmo dia em que a população italiana se isolava, manifestações
contendo milhares de pessoas ocorriam nas ruas de Madri. O resultado foi
catastrófico. Hoje, 29 de março, o país registrou quase mil mortes ao dia
vítima do Corona Vírus. É um número espantoso, que poderia ser muito menor se
as posições das autoridades fossem diferentes.
Quando
o primeiro caso de corona vírus foi detectado no Brasil, acendeu uma luz
amarela junto às autoridades públicas. Com a confirmação das primeiras mortes,
vários estados e municípios deram início ao programa de restrição do
deslocamento de pessoas em vias públicas. O que se esperava diante dessa
determinação era uma convergência das forças políticas para tomada de posições
conjuntas. O que se vê foi o acirramento das forças decisórias entre os
gestores dos estados e o governo federal.
Os
governos, nas suas tomadas de ações, como a decretação de quarentena e o
isolamento geral da população, se baseiam em decisões encaminhadas pela ONS.
Entretanto, o presidente da República, Jair Bolsonaro, vem agindo na contramão
dessas medidas, fazendo pronunciamentos em rede nacional, incitando a população
para voltar à normalidade, que o corona vírus é uma “gripezinha”, um “resfriadinho”.
São posturas irresponsáveis, muito semelhantes à adotada pelo prefeito de Nápoles,
na Itália. O resultado foi o aumento vertiginoso de contaminados. O próprio
prefeito de Nápoles foi à imprensa pedir desculpas à população sobre o erro
cometido.
Bolsonaro
se mostra tão irresponsável e despreparado que através das redes sociais que
ousou promover campanha nacional, cujo slogan O Brasil não Pode Parar, para que
as pessoas, do grupo de não risco, voltassem ao trabalho. O resultado dessa
mente insana foi ocorrência de carreatas de seus adeptos em várias cidades brasileiras.
No
domingo, 29 de março de 2020, o fantástico trouxe reportagem mostrando o
presidente visitando alguns locais no Distrito Federal, Brasília, atraindo junto
a si dezenas, centenas de pessoas. Essa atitude descumpre todas as
recomendações do ministério da saúde e de demais organizações de saúde do
assunto no mundo inteiro.
Nos
EUA, o Presidente Donald Trump, uma personalidade controvertida e admirada por Jair
Bolsonaro, embora com certa relutância no início, tomou todas as atitudes para
conter a disseminação do vírus em conformidade as recomendações das OMS. O
presidente brasileiro, junto com outros dois, são os únicos estadistas que insistem
descumprir decisões das agencias internacionais de saúde para não proliferar o vírus
nos seus respectivos países. Como explicar
tal comportamento confuso de um presidente? Talvez a resposta esteja no campo
da saúde mental, psicologia ou psiquiatria.
A
revista Carta Capital, publicou artigo admitindo que o presidente Bolsonaro esteja
acometido por um tipo de patologia cujos profissionais da área classificam como
sociopatia. Os sintomas dessa anomalia se verificam a partir do modo
egocêntrico de comportamento, da insensibilidade diante da dor alheia, o desejo
de criar conflitos e de jamais se sentir culpado por tudo que faz.
Desde
que assumiu a presidência, vem tomando posições sempre com a intenção de criar
controvérsia, isso pode ser comprovado atualmente quanto a sua relação com os
governadores e outras autoridades dos demais poderes. Ele sabe que suas ações
equivocadas são compartilhadas por milhares de simpatizantes, que provavelmente
convivem com sintomas parecidos. Tem consciência que tanto o STF, o congresso
nacional ou as comunidades científicas não irão aprovar suas posições. No
entanto, vai usar isso para se justificar junto aos seus apoiadores, mantendo o
respaldo que deseja.
O
desejo doentio de querer chamar a atenção de todos, ser visto e admirado pelas
pessoas é outro sintoma de um sóciopata. Buscar sempre responsabilizar governos
anteriores pela atual crise econômica é perceptível toda vez que questionado
sobre o assunto. Quando fazemos uma reflexão historiográfica, percebemos que no
passado alguns estadistas que protagonizaram a dizimação de milhões de vidas, Adolfo
Hitler, Benito Mussolini, Francisco Franco, entre outros, apresentavam sintomas
parecidos a do atual presidente. Um bom filme para esclarecer melhor essa
patologia que acometeu autoridades no passado e no presente foi produzido pelo
diretor italiano Pier Paulo Pazolini, com o título Salò, 120 Dias de Sodoma.
O
maior receio será como uma pessoa que apresenta tais patologias agirá quando,
por ventura, tiver o cargo ameaçado. Por ser um ex-capitão do exército e ter
nos quadros do primeiro e segundo escalão do governo, militares de diversas
patentes, inclusive generais, é claro que tenderá a resistir à força a perda do
posto. Quem achava que depois das
críticas advindas das agencias de saúde, entidades científicas e expressiva
parcela da população, pela atitude irresponsável de ter saído à rua no domingo
contrariando todas as recomendações, reconhecesse o erro e pediria desculpas à
população, enganou-se.
Além
de não reconhecer o erro, continuou insistindo admitindo que todas as medidas tomadas
são extremas e gerarão um caos na economia, que levarão à morte mais pessoas de
fome que contaminadas pelo vírus. Na saída do palácio da alvorada, no dia 31 de
março de 2020, um aglomerado de apoiadores recepcionou o presidente com palmas
e gritos histéricos de apoio ao modo como vem governando. Mais uma vez procurou
humilhar os profissionais da imprensa que estavam presentes.
Quando
perguntado sobro o 31 de março, data relativa ao golpe militar de 1964 foi
enfático em afirmar que a ação foi necessária, pois o Brasil passou a respirar
a democracia. É consenso de todos, exceto daqueles que acreditam que a terra é
plana, que o regime militar produziu centenas de mortes e desaparecidos. Não bastasse a insensatez do presidente, o vice-
presidente comungou do mesmo raciocínio, parabenizando a data. A ação dos
militares foi importante e necessário, pois restabeleceu a ordem social e a
democracia, disse.
Prof.
Jairo Cezar