INVASÕES
DE TERRAS E O CORONA VÍRUS PODEM RESULTAR EM GENOCÍDIO ÀS POPULAÇÕES INDÍGENAS
Em
2019 muitos devem lembrar-se das queimadas criminosas que devastaram milhões de
hectares de florestas na região da Amazônia e de outros biomas importantes como
o serrado. Não há dúvida que ninguém foi advertido ou punido pelos atos
cometidos. Isso porque as ações foram incentivadas pelo próprio governo federal
com a intenção de expandir a fronteira agrícola favorecendo grileiros e outros
criminosos ambientais. Quem achava que o processo de desmatamento e ocupação da
Amazônia havia recuado por conta da pandemia do corona vírus, se enganou.
Na edição do programa fantástico da rede globo
do dia, uma longa reportagem trouxe a público um cenário preocupante. De acordo
com imagens de satélite, o desmatamento na região da Amazônia teve um
crescimento de 279% em março, em comparação ao mesmo mês do ano passado. Foram mais de 250 km quadrados de áreas
desmatadas e invadidas por garimpeiros e grileiros. O fato é que as ações
criminosas investem sob territórios indígenas, a exemplo dos povos Yanomamis,
na Amazônia e Roraima, que vêem suas terras invadidas, contaminando rios com
mercúrio proveniente dos garimpos.
Na
reportagem do fantástico foi mostrado a ação de fiscais do IBAMA que
desativaram madeireiras e maquinários ilegais. O que gerou perplexidade depois
da exibição dessa reportagem, foi a notícia de que o membro do órgão ambiental,
que foi entrevistado no fantástico, havia sido demitido pelo governo federal,
pelo fato de ter cumprido sua função constitucional. A ação de garimpeiros em
áreas públicas na Amazônia põe em perigo milhares de indígenas devido ao
contágio com o corona vírus. São cerca de 20 mil garimpeiros atuando
ilegalmente em terras yanomamis.
O
que causa mais revolta é quando se sabe da existência de uma MP de número 910,
elaborada pelo próprio governo federal, no final do ano passado, na qual
defende a regularização das terras já ocupadas por grileiros. A intenção é
tornar legal áreas públicas invadidas até 2014. Esse ato é parecido o que
consta em dispositivos do código florestal brasileiro de 2012, quando foram
anistiados de punição quem desmatou florestas até 2008. A divulgação da
primeira morte de um adolescente da etnia Yanomami por corona vírus acendeu a
luz vermelha do que poderá ocorrer na região amazônica se tais absurdos como a
MP forem referendadas.
Há
cerca de quinhentos anos, quando terras brasileiras foram ocupadas por
colonizadores brancos europeus, gripes e outras doenças infecciosas, levaram a
morte mais da metade da população indígena. Não foram necessárias armas e
outras técnicas belicosas convencionais para dominar o inimigo, bastou um
gripezinha, um resfriadinho, para que tribos inteiras contaminassem rios e o
solo com corpos em decomposição.
O
que pretende o atual governo e o seu ministério do meio ambiente é levar a cabo
o desafio de exterminar a “raça de improdutivos”, que são responsabilizados
pelo baixo índice de desenvolvimento econômico da região. É desse modo como o
governo e seus asseclas vêem os indígenas, indolentes, improdutivos, que
ocuparam uma vastidão de terras, que afirmam não produzir.
Portanto,
no imaginário daqueles que comandam o Brasil por que manter improdutiva tanta
terra, que sejam ocupadas e transformadas mesmo que viça sejam sacrificadas. Um vírus, o corona vírus, poderia ser uma ação
barata para suprimir barreiras impeditivas naturais, nesse caso o próprio índio. Quem duvida que esse tipo de sentimento permeia
o pensamento das mentes macabras de ruralistas, do governo e de seu grupo de
apoio.
Nesse
dia 19 de abril, não há o que comemorar. Essa data serve para levar a população
a refletir sobre o eminente perigo que assombram as centenas de comunidades
indígenas espalhadas pelos quatro cantos do Brasil. Não bastassem as investidas
criminosas de grileiros, madeireiros, garimpeiros, agora vivem a ameaça do
corona vírus. As políticas de incentivo às ocupações e redução de limites de
terras indígenas já demarcadas, resultarem em 2019, nove indígenas assassinados
e outras 39 lideranças ameaçadas.
Uma
dessas lideranças, na véspera do dia do índio, foi assassinada em Rondônia. Trata-se
do índio Ari, da comunidade URU-EU-WAU-WAU, que integrava o grupo de
vigilância, fiscalização e denúncias a invasões de terras indígenas. Não há
dúvida que outras tantas lideranças indígenas na Amazônia seguirão o mesmo
caminho de Ari, se medidas severas contra essa barbárie não forem executadas
imediatamente.
Indiretamente,
por traz desses assassinatos e ameaças teve e tem um aceno positivo do presidente
da república, quando reitera em seu discurso da necessidade de ocupar a Amazônia.
Além da MP 910 que propõe regularizar as ocupações criminosas em terras indígenas,
outra proposta insana de projeto de lei foi encaminhada pelo presidente em
fevereiro de 2020, a PL 191/2020, que defende entre outras atribuições:
regulamentação da pesquisa e exploração de recursos minerais, o garimpo, a
extração de hidrocarbonetos e o aproveitamento dos recursos hídricos para a
geração de energia elétrica em terras indígenas.
É
necessária uma resposta urgente das autoridades constituídas, principalmente do
STF, para impedir que tal barbárie seja oficializada contra as populações indígenas
e grupos tradicionais remanescentes. Não podemos admitir que fatos trágicos se
repitam, a exemplo do que aconteceu há quinhentos anos, na primeira invasão e
massacre indígena, patrocinado pela corroa portuguesa.
Prof.
Jairo Cezar
Nenhum comentário:
Postar um comentário