sexta-feira, 3 de abril de 2020


A FACE PERVERSA DE UM GOVERNO EGOCÊNTRICO, INSENSÍVEL, QUE SE NUTRE NO CONFLITO

Há dez anos criei um blog cuja proposta era publicar textos ou artigos discorrendo aspectos da economia, política, educação, ambiente, entre outros temas de relevância social. Desde 2011, jamais poupei palavras isentando de críticas personalidades de destaques no campo político, econômico e social. Na época da criação do Blog o Brasil estava no começo da segunda fase do regime petista, com Dilma Rousseff ocupando a cadeira de Presidente da República, vaga deixada por Luiz Inácio da Silva.  
Foram muitas as críticas das quais lancei tanto na gestão Lula quando do seu sucessor, Dilma, especialmente no campo ambiental, em decorrência de posturas equivocadas em mega projetos desenvolvimentistas, insustentáveis, como as inúmeras hidrelétricas programadas para serem edificadas na região da Amazônia Legal.  Embora em menor grau, houve alguns avanços nas gestões petistas, a exemplo das políticas de renda mínima, da qual retiraram da miséria absoluta milhões de famintos.
Entretanto o pecado cometido pelas gestões petistas foi não ter iniciado o plano de ruptura do sistema capitalista de produção, altamente excludente. Tal iniciativa poderia se configurar no nascedouro de um novo modelo econômico, talvez menos degradante, trágico, como o que a sociedade passou a conviver pós era petista.  A articulação e a execução do golpe que suprimiu do posto de presidente, Dilma Rousseff, deram mostras claras que a poderosa elite econômica, a mesma que apoiou o golpe de 1964, estava mais uma vez no comando absoluto do país. 
Quem achou que os quase quinze anos do regime petista não foram tão promissores à economia e a sociedade, os governos que os sucederam davam mostras de um futuro cenário terrível às massas trabalhadoras, que seriam profundamente afetadas pelas brutais reformas neoliberais. Reforma trabalhista e previdenciária foram umas delas, fragilizando ainda mais direitos que tornariam milhões de brasileiros reféns à ganância do Capital.
Em pouco mais de dois anos no poder, o golpista Michel Temer, conseguiu preparar o terreno para o pior, pois a eleição presidencial de 2018, parcela significativa da população brasileira elegeu para presidente uma figura caricata, um ex-capitão do exército e defensor do regime militar, que espalhou o terror e medo por cerca de vinte anos. O governo de Jair Bolsonaro se traduziria no eco da voz reprimida de uma imensa legião de brasileiros odiosos. São figuras acobertadas por discursos moralistas, que defendem a família tradicional, o proselitismo religioso, entre outros absurdos não mais condiz com o atual modelo plural de sociedade.  
Bastaram poucos dias de governo para que a parcela da população menos esclarecida tomasse consciência do terrível erro cometido, elegendo Bolsonaro para presidente.  No entanto, para outros milhares de pessoas e integrantes do capital selvagem, Bolsonaro demonstrava ser a pessoa ideal para a concretização dos seus macabros interesses. Para concretizar seus planos insanos contra a sociedade, reuniu uma legião de figuras sem o mínimo de capacidade para o exercício do cargo, a exemplo dos ministérios do Bem Estar Social, Educação e Meio Ambiente, áreas consideradas estratégicas de qualquer governo.
O pior foi a indicação de um ex-integrante da escola de Chicago e articulador do golpe militar no Chile, na década de 1970, para ocupar a pasta da economia. Paulo Guedes, Damares Alves, Abrahan Weintraub, Ricardo Salles,  entre outros nomes, serão lembrados no futuro como protagonistas de um dos maiores desarranjos sociais praticados na história brasileira. A incitação a violência através da flexibilização no uso de armas e o incentivo a ocupação de áreas de preservação permanente e indígenas, ascenderam o estopim da violência nessas áreas, podendo resultar em um dos maiores genocídios semelhantes à época da ocupação portuguesa. 
Com o fim do primeiro ano de governo Bolsonaro, o desemprego já havia alcançado cifras preocupantes, atingindo 15% da população economicamente ativa.  Para sobreviver, esses brasileiros são desafiados a recorrer à informalidade, sem qualquer garantia de seguridade social, como aposentadoria. Se em 2019 uma tempestade de medidas impopulares solapou direitos de milhões de brasileiros que terão de trabalhar até a morte, que lembra a escravidão, em 2020 um terrível acontecimento põe em cheque não só espécie humana como o próprio sistema capitalista.  
Um vírus batizado de Corona Vírus, ou COVID 19, se abateu sobre uma cidade chinesa, de 11 milhões de pessoas, onde em poucos meses se alastrou pelo resto do mundo, transformando em uma pandemia.  Para evitar ou minimizar o alastramento, cidades, estados e países tiveram que adotar medidas rígidas como a restrição do deslocamento de pessoas. Um mundo globalizado como é atualmente, raros são os países sem nenhum cidadão contagiado com a doença, cujos sintomas se assemelham a uma gripe, porém, letal, às idosas com alguma moléstia preexistente.   
De tempo em tempo o mundo é acometido por pandemias que ceifam milhões de vidas humanas.  A mais recente e extremante letal aconteceu há cento e dois anos foi a Gripe Espanhola, que matou mais de 50 milhões de pessoas no mundo. O Brasil também teve suas vítimas com a gripe, trinta e cinco mil mortes, não poupando nem autoridades importantes como o recém eleito à Presidência da República Rodrigues Alves, que não chegou assumir o cargo. Na ocasião da gripe, uma das medidas tomadas para reduzir sua proliferação foi decretar quarentena à população.
Na realidade, a gripe Espanhola, segundo pesquisadores, sua verdadeira origem foi na cidade de Kansas, EUA. A doença foi levada para Europa por soldados americanos durante a primeira guerra mundial. Na ocasião, vários países incluindo o Brasil, as autoridades trataram a gripe com certo desdém, retardando as medidas de isolamento da população. Higienização das mãos, entre outras medidas para evitar o contágio, foram disseminadas na época.
O fato é que o surto do corona vírus revela o quão frágil é a espécie humana no qual habita um planeta que divide espaço com outras milhares de espécies, porém, de forma arrogante, insiste e se sentir superior as demais. Pesquisadores afirmam que o vírus do corona vírus, sua disseminação tem alguma relação no modo como o homem vem atuando sobre ecossistemas frágeis. Grande parte das doenças, epidemias ou pandemias que se abatem sobre o ser humano seus vetores geralmente são animas silvestres que tem o vírus incubado no seu organismo.
No instante que florestas ou ambientes selvagens são impactadas por agentes humanos, alguns animais, vetores de doenças, são expostos nos ambientes urbanizados. É possível que o vetor do corona vírus tenha sido um morcego. No momento que o animal suga o sangue de outro animal, equino, suíno, bovino, etc, o patógeno é inoculado e transmitido ao ser humano por meio da carne consumida. A AIDS teve o macaco como vetor nas florestas da África. Deng, Malária, Zica Vírus, Chikungunya, são doenças também transmitidas por algum animal silvestre, como mosquitos. 
O modo como lideranças políticas mundiais se posicionaram diante da pandemia do Corona Vírus foram essenciais para poupar ou levar a morte milhares de pessoas. Enquanto a China, com uma população superior a um bilhão de habitantes, medidas importantes tomadas por lideranças municipais e estaduais contribuíram para que o número de mortas fosse minimizado.
Esse comportamento deveria ter sido assumido por outras autoridades como da Itália e Espanha, cujas cifras de mortes já superam em muito aos ocorridos na China. Na Itália, as autoridades desdenharam o vírus, acreditaram que não se espalharia tão rapidamente. Quando foi decretado quarentena, parte da população do norte do país já estava contaminada.
Na Espanha, no mesmo dia em que a população italiana se isolava, manifestações contendo milhares de pessoas ocorriam nas ruas de Madri. O resultado foi catastrófico. Hoje, 29 de março, o país registrou quase mil mortes ao dia vítima do Corona Vírus. É um número espantoso, que poderia ser muito menor se as posições das autoridades fossem diferentes.
Quando o primeiro caso de corona vírus foi detectado no Brasil, acendeu uma luz amarela junto às autoridades públicas. Com a confirmação das primeiras mortes, vários estados e municípios deram início ao programa de restrição do deslocamento de pessoas em vias públicas. O que se esperava diante dessa determinação era uma convergência das forças políticas para tomada de posições conjuntas. O que se vê foi o acirramento das forças decisórias entre os gestores dos estados e o governo federal. 
Os governos, nas suas tomadas de ações, como a decretação de quarentena e o isolamento geral da população, se baseiam em decisões encaminhadas pela ONS. Entretanto, o presidente da República, Jair Bolsonaro, vem agindo na contramão dessas medidas, fazendo pronunciamentos em rede nacional, incitando a população para voltar à normalidade, que o corona vírus é uma “gripezinha”, um “resfriadinho”. São posturas irresponsáveis, muito semelhantes à adotada pelo prefeito de Nápoles, na Itália. O resultado foi o aumento vertiginoso de contaminados. O próprio prefeito de Nápoles foi à imprensa pedir desculpas à população sobre o erro cometido.
Bolsonaro se mostra tão irresponsável e despreparado que através das redes sociais que ousou promover campanha nacional, cujo slogan O Brasil não Pode Parar, para que as pessoas, do grupo de não risco, voltassem ao trabalho. O resultado dessa mente insana foi ocorrência de carreatas de seus adeptos em várias cidades brasileiras.
No domingo, 29 de março de 2020, o fantástico trouxe reportagem mostrando o presidente visitando alguns locais no Distrito Federal, Brasília, atraindo junto a si dezenas, centenas de pessoas. Essa atitude descumpre todas as recomendações do ministério da saúde e de demais organizações de saúde do assunto no mundo inteiro.  
Nos EUA, o Presidente Donald Trump, uma personalidade controvertida e admirada por Jair Bolsonaro, embora com certa relutância no início, tomou todas as atitudes para conter a disseminação do vírus em conformidade as recomendações das OMS. O presidente brasileiro, junto com outros dois, são os únicos estadistas que insistem descumprir decisões das agencias internacionais de saúde para não proliferar o vírus nos seus respectivos países.  Como explicar tal comportamento confuso de um presidente? Talvez a resposta esteja no campo da saúde mental, psicologia ou psiquiatria.
A revista Carta Capital, publicou artigo admitindo que o presidente Bolsonaro esteja acometido por um tipo de patologia cujos profissionais da área classificam como sociopatia. Os sintomas dessa anomalia se verificam a partir do modo egocêntrico de comportamento, da insensibilidade diante da dor alheia, o desejo de criar conflitos e de jamais se sentir culpado por tudo que faz.
Desde que assumiu a presidência, vem tomando posições sempre com a intenção de criar controvérsia, isso pode ser comprovado atualmente quanto a sua relação com os governadores e outras autoridades dos demais poderes. Ele sabe que suas ações equivocadas são compartilhadas por milhares de simpatizantes, que provavelmente convivem com sintomas parecidos. Tem consciência que tanto o STF, o congresso nacional ou as comunidades científicas não irão aprovar suas posições. No entanto, vai usar isso para se justificar junto aos seus apoiadores, mantendo o respaldo que deseja.
O desejo doentio de querer chamar a atenção de todos, ser visto e admirado pelas pessoas é outro sintoma de um sóciopata. Buscar sempre responsabilizar governos anteriores pela atual crise econômica é perceptível toda vez que questionado sobre o assunto. Quando fazemos uma reflexão historiográfica, percebemos que no passado alguns estadistas que protagonizaram a dizimação de milhões de vidas, Adolfo Hitler, Benito Mussolini, Francisco Franco, entre outros, apresentavam sintomas parecidos a do atual presidente. Um bom filme para esclarecer melhor essa patologia que acometeu autoridades no passado e no presente foi produzido pelo diretor italiano Pier Paulo Pazolini, com o título Salò, 120 Dias de Sodoma.  
O maior receio será como uma pessoa que apresenta tais patologias agirá quando, por ventura, tiver o cargo ameaçado. Por ser um ex-capitão do exército e ter nos quadros do primeiro e segundo escalão do governo, militares de diversas patentes, inclusive generais, é claro que tenderá a resistir à força a perda do posto.   Quem achava que depois das críticas advindas das agencias de saúde, entidades científicas e expressiva parcela da população, pela atitude irresponsável de ter saído à rua no domingo contrariando todas as recomendações, reconhecesse o erro e pediria desculpas à população, enganou-se.
Além de não reconhecer o erro, continuou insistindo admitindo que todas as medidas tomadas são extremas e gerarão um caos na economia, que levarão à morte mais pessoas de fome que contaminadas pelo vírus. Na saída do palácio da alvorada, no dia 31 de março de 2020, um aglomerado de apoiadores recepcionou o presidente com palmas e gritos histéricos de apoio ao modo como vem governando. Mais uma vez procurou humilhar os profissionais da imprensa que estavam presentes.
Quando perguntado sobro o 31 de março, data relativa ao golpe militar de 1964 foi enfático em afirmar que a ação foi necessária, pois o Brasil passou a respirar a democracia. É consenso de todos, exceto daqueles que acreditam que a terra é plana, que o regime militar produziu centenas de mortes e desaparecidos.  Não bastasse a insensatez do presidente, o vice- presidente comungou do mesmo raciocínio, parabenizando a data. A ação dos militares foi importante e necessário, pois restabeleceu a ordem social e a democracia, disse.  
Prof. Jairo Cezar

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