segunda-feira, 21 de outubro de 2019


DERRAMAMENTO DE PETRÓLEO EM PRAIAS NORDESTINAS É COMPARADO AO DESASTRE NUCLEAR OCORRIDO EM CHERNOBYL EM 1986

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http://www.vermelho.org.br/noticia/324197-1

Enquanto o nordeste brasileiro enfrenta um dos maiores desastres ambientais de proporções gigantescas comparado a uma Chernobyl, muito maior que os rompimentos das barragens em Marina e Brumadinho, com centenas de mortes e desaparecidos, o governo Bolsonaro e integrantes do seu partido viraram as costas a esse crime ambiental, pois estão se digladiando disputando os milhões de reais do fundo partidário, dinheiro do contribuinte.
  Em outro país com o mínimo de seriedade dos seus dirigentes, no instante que o problema é detectando, a exemplo dos derramamentos de óleo nas praias nordestinas, emergencialmente uma força tarefa seria montada para limpeza e buscar os culpados. Já se passaram quase três meses desde o aparecimento das primeiras manchas de óleo, sem saber realmente a origem do produto. São muitas as hipóteses levantadas acerca do material poluente,[1] tendo o governo Bolsonaro dito que o petróleo poderia ter sido derramado por um navio venezuelano.
De acordo com artigo escrito por uma das maiores conhecedoras do tema no Brasil, a professora Yara Schaeffer Novelli, doutora e professora sênior da Universidade de São Paulo (USP) site “marcozero”, é impossível, com todo o aparato tecnológico hoje a disposição das autoridades, especialmente na Marinha, não ter identificado o ponto exato do derramamento e os autores. A comprovação que a marinha brasileira tem equipamento capaz de identificar uma garrafa pet no oceano. Como não ter identificado uma mancha de óleo que chega a atingir 24 km quadrados de área? Isso vem deixando muita gente intrigada.
Informações dão conta que o óleo que chegou a costa brasileira, é a ponta do iceberg diante do volume que ainda poderá chegar. Se as ações contingenciais tivessem sido executadas bem no começo do aparecimento das manchas, haveria possibilidade de minimizar os impactos, pois o óleo em águas mais frias tende a manter-se com menos fluidez, podendo ser recolhido por navios impedindo que se espalhassem.
A sensação que prevalece é que o desastre pode ter sido premeditado, com a clara intenção de o presidente vingar-se do povo e dos governos nordestinos, pela diminuta votação obtida no pleito eleitoral de 2018. Claro que tudo isso são especulações, entretanto, por que razão até o momento nenhuma ação mais consistente foi executada pelo governo federal, no mínimo uma reunião extraordinária com todos os governadores dos estados atingidos pelo óleo? Nada disso foi feito.
Qualquer um dirigente sério, teria cancelado todos os compromissos programados e transferido toda a estrutura do Estado para a região atingida. No caso brasileiro, o governo Bolsonaro viu que era mais importante viajar para a Ásia com a clara intenção de “vender” o Brasil. É estarrecedor ver todos os dias, telejornais, sites, exibindo imagens de toneladas de óleo sendo removidas por voluntários das praias, muitas das quais consideradas santuários de espécies da fauna marinha em risco de extinção.
É louvável a ação desses voluntários na luta quase subumana de tentar remover o óleo. O que muitas dessas pessoas não sabem é que esse produto é extremamente tóxico. Quando dissolvido ou em estado de fusão, os cases liberados podem causar doenças como câncer. Imaginemos agora essas partículas tóxicas presentes nos tecidos de pescados dos quais são fontes de sobrevivência para milhares de pessoas nos nove estados atingidos pelo derramamento.
A omissão do governo com a acontecido é espantosa que o povo de estados como de Pernambuco, vem realizando a difícil tarefa de recolher o óleo das praias. A ação é mais complicada pelo fato do produto possuir maior fluidez. Esse é sem dúvida o que causa mais desespero entre pescadores, ambientalistas, pesquisadores. Estando o petróleo em estado mais viscoso, a tendência é a sua dissolução na água comprometendo ecossistemas marinhos inteiros.    
O risco agora é que as manchas atinjam outras áreas frágeis como manguezais, estuários e o arquipélago de abrolhos, considerado um dos maiores santuários de corais na América Latina. Informações confirmam que 12 unidades de conservação nos mais de 2000 mil quilômetros de consta nordestina já foram atingidas pelo petróleo já foram afetados. Em 2013, o governo federal assinou decreto que criou o Plano Nacional de Contingenciamento para incidentes de poluição por óleo em águas sob jurisdição da união.[2]
Um dos itens estabelecidos no plano era a instalação imediata de um grupo de acompanhamento e avaliação dos desastres, coordenado pelo IBAMA e ANP (Agência Nacional do Petróleo). O governo atual simplesmente desestruturou o plano, a exemplo de outros organismos imprescindíveis à segurança ambiental. O governo mostra de modo explícito o seu descaso na área ambiental. Um grupo de contingenciamento somente foi instalado um mês e meio após o aparecimento das primeiras manchas de óleo. Todo esse problema somado a outros conhecidos e de repercussão internacional como os incêndios na Amazônia, poderia ter sido evitado ou minimizado se o governo federal não adotasse o plano macabro de desmonte de setores chave da área ambiental.
Mariana, Brumadinho, incêndios na Amazônia, liberação de agrotóxicos e agora o desastre na costa nordestina, são demonstrações nítidas de que a mãe terra está se definhando dia após dia. Cada um desses episódios devastadores seus impactos aos ecossistemas são difíceis de mensurar. Geralmente são necessários anos, décadas, séculos para que ambientes atingidos por ações depredatórias consigam se regenerar.
No caso do derramamento de óleo nos oceanos, o impacto é muito pior. O fato é que a remoção do produto sobre a praia se caracteriza como uma ação atenuante. Os acidentes ou crimes envolvendo combustíveis fósseis, como petróleo, carvão, combustíveis radioativos não são exceções. Já e quase rotina notícias reportando desastres ambientais no mundo proveniente desses combustíveis. Os governos especialmente dos países mais industrializados deveriam repensar suas políticas produtivas, tornando concretos os protocolos sobre o clima referendados nos encontros de cúpula a exemplo das COP (Conferência das Partes Sobre o Clima). A substituição de fontes de combustíveis fósseis por energias limpas é uma delas.
Já notaram que quase todos os desastres ambientais de proporções gigantescas no Brasil e outros países ocorreram geralmente envolvendo empresas privadas. Como a venda a preço de banana da estatal Vale do Rio Doce ao capital privado, já se perdeu a contagem da quantidade de crimes ocorridos desde a sua privatização no Brasil. Até hoje não se tem notícia de terem sido punidos os responsáveis pelos desastres ou que algum estejam presos e condenados.  
Há evidências de que a Marinha do Brasil sabe a procedência das manchas de óleo.  O aparecimento na costa nordestina de três barris de petróleo, com o adesivo da SHELL, levantou suspeita que o produto derramado pertencia a essa empresa petrolífera holandesa. Estudos realizados pela Universidade Federal de Sergipe comprovaram que o material presente nos barris apresenta as mesmas características do petróleo que apareceu na costa.
É presumível que a marinha deva ter recebido algum comunicado para não divulgar o relatório onde aparecem os responsáveis, principalmente num momento em que o governo Brasileiro vem arrematando o pré-sal às grandes corporações do petróleo no mega-leilão. Além dessa companhia, outras 13 estavam na disputa por uma fatia desse tesouro subterrâneo e mortífero.  É importante relevar que não estou aqui afirmando categoricamente que a marinha vem guardando segredos quanto à origem e os responsáveis pelo crime ambiental, que a Shell é protagonista.
Tudo são especulações ainda. Entretanto, há fortes indícios que todo o estrago de dimensões faraônicas pode ter sido sim praticado pela empresa petroleira holandesa Shell. Se for comprovado o crime, na hipótese de uma ação crime contra a companhia, todo o dinheiro acumulado pela empresa não seria suficiente para restabelecer o dano provocado. Serão necessárias décadas até mesmo séculos para que os ecossistemas danificados possam se regenerar. Porém, nem tudo poderá jamais ser recuperado. Muitas espécies, especialmente de corais, pescados e demais organismos desaparecerão para sempre.
    O que é consenso hoje é enquanto persistir políticas econômicas pautadas em fontes não renováveis, outros desastres similares a costa nordestina estreitarão ainda mais o caminho para a extinção humana. Ainda há tempo, no entanto, o relógio planetário já está numa contagem regressiva. Segundo estudos realizados, a não cumprimento dos protocolos assinados no último COP de Páris, em 2030 ou 2050, a sobrevivência humana na terra estará seriamente comprometida. 
PROF. JAIRO CEZAR

https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=bv4AoqZsfHs - the battle of chernobyl (a batalha de Chernobyl).

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

IRMÃ DULCE A SANTA DOS POBRES

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  http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-10/canonizacao-de-irma-dulce-reconhece-trabalho-social

Lembro-me quando adolescente das inúmeras imagens e reportagens externando o trabalho e a dedicação de uma freira baiana que não media esforços para acalentar a dor e o sofrimento de dezenas, centenas de pessoas. Eram pessoas desassistidas pelo Estado, que tinham na madre uma espécie de porte seguro para confortar o sofrimento. Diante do esforço descomunal de uma pessoa franzina, que aparentava fragilidade, muitos não entendiam de onde vinha tanta energia, vigor, que lhe transformava em uma super mulher, capaz de construir um hospital por meio de doações de voluntários, no qual se transformaria em uma das principais referências em saúde pública na Bahia e no Brasil.
Com tantas dificuldades imagináveis para manter um hospital público em funcionamento, o que causava estranheza, espanto, por parte dos órgãos da vigilância sanitária era o não registro de casos de contaminação de pacientes no respectivo hospitala, como é comum em unidades de saúde com poucos recursos. Muitos atribuíam a essa façanha a um milagre. No entanto a resposta pela a não contaminação era bem simples, limpeza, limpeza, limpeza. Isso mesmo, a Irma Dulce era extremamente rígida nesse aspecto.
Era comum vê-la com vassoura e pano pelos corredores do hospital, auxiliando o pessoal da limpeza na higienização. Pela sua bondade e profunda solidariedade aos mais necessitados, após a sua morte, diversas pessoas, contendo enfermidades, passaram a intercedê-la na esperança que as preces fossem atendidas e as dores curadas. Foi a partir de curas milagrosas, acatadas pela própria medicina como algo inusitado, que o vaticano passou a atuar e estudar os casos ocorridos.
Não havendo dúvidas que as curas eram advindas da interseção da Irma Dulce, o Vaticano tomou a decisão de convertê-la numa divindade, uma santa, a primeira nascida no Brasil. Com a data da sua canonização marcada para o dia 13 de outubro de 2019, um domingo, deu início os preparativos para que o evento se transformasse num dos principais acontecimentos esse desse século para os adeptos do credo católico e de outras religiões cristãs.
É claro que para um evento dessa magnitude, a ser realizado no vaticano, a centenas de quilômetros de distância de sua terra natal, Bahia, quem acompanharia todo o rito canônico, com certeza não seria o povo pobre do qual a Irmã Dulce dedicou toda sua vida. Provavelmente algumas centenas de pessoas que estavam na Praça de São Pedro assistindo o evento religioso eram das classes populares, que promoveram campanhas para angariar recursos para custear a viagem e a estadia. Os demais eram pessoas bem aquinhoadas, que supostamente jamais pisaram os pés em um hospital público.
Pelo fato de o Brasil ser uma República, a laicidade deveria prevalecer, não é mesmo? Porém não é a realidade que se apresenta. Desde a Proclamação da República o Brasil não conseguiu até o momento se desvencilhar das amarras do crede católico. Basta adentrar em alguns repartimentos públicos como câmaras de vereadores, assembléias legislativas e até mesmo no judiciário para ver o crucifixo fixado na parede nas salas de audiência. Até aí tudo bem.
Não é possível, em um século, desconstruir tradições milenares que fortes ligações, raízes, com povo brasileiro. Era sabido que para um evento tão importante para o catolicismo brasileiro como a canonização da Irma Dulce, a presença de políticos de diversas esferas eram garantidas. O que causou estarrecimento e, certamente, visto por mitos devotos da madre como uma afronta a sua memória, foi saber que muitos desses políticos foram para o vaticano abordo do avião da Força Área Brasileira, com direito a diárias de quase dois mil reais, além de outras tantas mordomias que lhes são de direito, porém, imorais.
Imoral pelo fato de ambos estarem participando de um evento cuja protagonista foi uma pessoa que viveu todas as dificuldades e miséria de um povo, que foram e são ainda reflexos de políticas públicas excludentes, muitas das quais patrocinadas por esses mesmo políticos que estavam lá no vaticano de joelhos, acompanhando a canonização. O desmonte neoliberal com reflexos diretos no crescimento do desemprego e da miséria que desestruturam e devassam famílias tem relação direta com figuras chaves que presidem as duas casas do congresso, câmara e senado, que também estavam no vaticano, acompanhando a canonização da santa dos pobres.
Prof. Jairo Cezar  

  http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-10/canonizacao-de-irma-dulce-reconhece-trabalho-social

sábado, 12 de outubro de 2019


SÍNODO NA AMAZÔNIA: O CAMINHO PARA UMA ECOLOGIA INTEGRAL

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https://portalgarotinho.com.br/sinodo-da-amazonia-comeca-neste-domingo-sob-o-olhar-atento-do-governo/

Há treze anos ambientalistas e entidades defensoras das florestas e da vida no planeta, espalhadas pelo mundo, receberam com perplexidade a notícia do assassinato da religiosa e ativista ambiental, Dorothy Stang, em Anapu, Pará. A morte da religiosa foi um recado a outros/as ativistas que arriscam suas vidas enfrentando grileiros, mineradores e desmatadores, na Amazônia. Quantos como Dorothy foram mortos/as nos últimos anos sem que os assassinos fossem jamais presos e julgados.
Os projetos megalomaníacos como as inviáveis hidrelétricas, também entram no repertório de obras assassinas, que estão matando e desestruturando culturas tradicionais, diante do aumento dos indicadores de alcoolismo, suicídios e doenças não comuns na região.  Quando se julgou que as brutalidades direcionadas às populações fragilizadas na Amazônia, indígenas, ribeirinhos, por exemplo, pudesse ser contido com a presença ativa do Estado na região, o resultado das urnas em 2018, elevou a expectativa de um cenário nada favorável à segurança daquele bioma e das populações tradicionais.
Os meses subsequentes à posse do presidente Jair Bolsonaro atestaram o que ambientalistas e defensores das florestas já alertavam, o principal plano do governo foi estimular a expansão do agronegócio, mineração e abertura de rodovias na região, e se necessário, empregar força das armas para combater os oponentes. Os incêndios que se sucederam em 2019, devastando milhões de hectares de florestas, deram visibilidade e voz às ativistas e autoridades políticas do mundo inteiro, que passaram a ver as queimadas como um acontecimento de repercussões planetárias.
O discurso de Bolsonaro na ONU com argumentos revelando o lado sórdido de um governo que ousou enaltecer o regime militar e torturadores, sendo traduzido para inúmeras línguas. Não há dúvida que a fala de Bolsonaro, assistida e ouvida por milhões de pessoas no mundo inteiro, deve ter gerado vergonha para uma entidade que presa pela paz e unidade entre os povos. O antiambientalismo do governo Bolsonaro caminha na contramão de um discurso já sedimentado globalmente contra o aquecimento global. Inúmeras vezes tanto o presidente quanto integrantes do seu governo, a exemplo do ministro do meio ambiente, insistem em afirmar que o aquecimento global não existe.
Na Europa milhões de pessoas estão saindo às ruas alertando que ainda a tempo de salvar o planeta. Toda essa movimentação teve e tem como um/a das/os protagonistas a ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos, que viaja o mundo alertando as autoridades da necessidade de rever as políticas econômicas que sufocam o planeta. Antecedendo a reunião anual da ONU que reúne chefes de governos do mundo inteiro, ativistas da área ambiental, discutiram e lançaram proposições para combater as emissões de gases poluentes. Entre as debatedoras estava lá a ativista Sueca. No entanto, como já se imaginava, a jovem foi alvo de incontáveis insultos no Brasil através das redes sociais. A intenção dos desacatos foi desconstruir seu discurso e constrangê-la frente à pública.
Como vem se sucedendo de tempos em tempos, desde 1965, a igreja católica a partir do dia 06 de outubro de 2019, promoverá encontro com bispos e outras autoridades dos nove países que congregam a floresta amazônica.  O evento, Pan-amazônico, ocorrerá no Vaticano, entre o 06 e 27 de outubro, com presença de 250 pessoas, sendo 184 bispos, 58 deles brasileiros e mais 35 mulheres. Durante os 21 dias serão debatidos entre outros assuntos, políticas de evangelização e temáticas ambientais. É possível que o tema meio ambiente ocupe expressiva parcela da agenda do encontro, com relevo nas mudanças climáticas, vida ameaçada, extrativismo, conservacionismo, desenvolvimento e governos, terra, urbanização, migração e ecologia integral.  
Para o encontro desse ano, o lema escolhido pelo vaticano foi ecologia integral.   O tema evangelização certamente terá também prioridade, pelo fato da igreja católica ter o papel de articuladora na construção de pontes com a diversidade de culturas existentes na Amazônia. Desde o momento que Bergóglio foi empossado papa da igreja católica, sua conduta política frente a instituição foi fazer valer aquilo que cristo fez, ensinou e defendeu até a sua morte prematura crucificado, a libertação dos oprimidos.
A publicação da encíclica Casa Comum, que já foi tema de campanha da fraternidade de 2016, pode ser considerada um dos documentos mais avançados já publicado por um representante principal da igreja católica. Sua visão de mundo sistêmica, ecologia integral, está acarretando uma ousada reconfiguração da igreja que por séculos permaneceu engessada, sem qualquer conexão entre espiritualidade e natureza.
O modelo de igreja pensado pelo Papa Francisco, realçado escritas, encíclicas e discursos, é uma igreja capaz de transcender, de levar os sujeitos a compreenderam que seu lugar no mundo, sua sobrevivência, depende do modo como nos procedemos com o outro e os biomas. Já era previsto que diante de sua posição vanguardista frente aos problemas sociais, se tornaria alvo de críticas de leigos e de grupos conservadores presentes na igreja.  
A maior ousadia de Francisco foi adentrar num campo espinhoso dentro da igreja cujos serviços clericais são dominados por homens. Um dos temas pautados para os debates no Sínodo será permitir que homens casados tornem-se sacerdotes e mulheres exerçam a função sacramental ambos na Amazônia. A justificativa da mudança é atender as populações desassistidas nos rincões da Amazônia, decorrente da falta de sacerdotes.
Quando veio a notícia que o tema gerador do sínodo era evangelização e meio ambiente, bioma amazônico lembrei-me do trágico curso de colonização da América Latina, no início do século XVI, onde além da comitiva da coroa portuguesa e espanhola, estavam abordo das caravelas missionários jesuítas a serviço da igreja católica. Foram os missionários jesuítas, evangelizadores dos “impuros” indígenas, que também protagonizaram um dos maiores hecatombes humanas na América espanhola e portuguesa. Também cabe aqui não generalizar, pois tiveram religiosos que foram importantes para salvaguardar indígenas da rapina do colonizador.  
O que intrigava era o fato de nenhum papa desde a colonização não ter lançado qualquer manifesto admitindo o erro cometido pela igreja. O Papa Francisco, por sua vez, em 2017, num encontro ocorrido Puerto Maldonado, Peru, pediu perdão às populações indígenas pelo o ocorrido no passado. Admitindo assim o erro histórico cometido pela instituição.
Estaria o Papa Francisco e demais integrantes da alta cúpula da igreja católica, outra vez, querendo repetir erros cometidos no passado? Lendo o documento de trabalho (Instrumento Laboris) organizado desde 2017 através de uma série de encontros com habitantes da Amazônia, cujo relatório irá mediar o sínodo até 27 de outubro de 2019, constatei sua relevância no modo como a igreja católica pensa a região.
E texto que contém 60 páginas foi dividido em três eixos principais onde aborda: A Voz da Amazônia; A Ecologia Integral: O Clamor da Terra e dos Pobres; Igreja Profética na Amazônia: Desafios e Esperanças. Na leitura do documento o mesmo procura reconstruir uma igreja viva, semelhante as das décadas de 1970 e 1980, cujo trabalho sacramental mesclou evangelização e luta política.
Lendo o texto nas entrelinhas percebe-se não estar atravessado por interesses de domínio de uma doutrina sobre culturas diversas, cada qual com práticas ritualísticas muito peculiares. O que vem se sucedendo nos últimos tempos é a forte pressão do modelo econômico ecocida sobre territórios e culturas com frágil capacidade de resistência.
Quando a igreja defende que é necessário ouvir a voz da Amazônia, está se referindo não somente a voz dos povos, mas de todo o complexo ecossistema que está intrincamente conectado. Numa região onde convivem centenas de povos muitos ainda desconhecidos e que dependem da floresta para sobreviver, a imposição de um modelo econômico e social predatórios, compromete sua existência.
A população mundial hoje que compõem o chamado campo civilizatório, são seguidoras de cinco ou seis religiões predominantes. No entanto, o cristianismo, o islamismo, o budismo e o hinduísmo, prevalecem entre as demais em número de adeptos. Agora imaginamos uma região com mais de cem culturas distintas, como a Amazônia, que não seguem nem uma nem outra dessas doutrinas.
Quanto os jesuítas chegaram junto com os demais colonizadores no continente americano, século XVI, sua função foi “salvar” as culturas dos povos locais do “pecado”, impondo-lhes uma verdade como inquestionável. O resultado disse todos sabemos. A evangelização cinco séculos depois idealizada pela igreja não tem nada de catequização, se fundamenta numa interculturação, ou seja, uma igreja com rosto amazônico. Sem essa inculturação o sucesso da “evangelização” proposta estaria ameaçado.
No documento há uma passagem onde é ressaltado o papel das mulheres, principalmente indígenas, que possam exercer o rito sacramental nas celebrações. Por que a necessidade da flexibilização no tocante as mulheres? É atribuído, em primeiro lugar, ao fato de as culturas amazônicas diversidade delas serem matriarcais, ou seja, o cuidado dos filhos, da casa e os rituais místicos são funções do sexo feminino.
Outro eixo do documento, ecologia integral, ocupa-se de um complexo conjunto de redes sistêmicas, onde cada elemento ou família (nicho) executa funções específicas no equilíbrio do todo, eco-cosmo. As propostas contidas no documento serviram como alento às comunidades científicas inquietadas com a casa comum (terra). Uma possível ruptura da complexa rede (teia da vida), onde organismos simples e complexos convivem mutuamente, levará a extinção mais rápida e definitiva da espécie humana (antropocêntrica).
O sínodo, sob outra perspectiva, recebeu e vem recebendo críticas de setores conservadores tanto da igreja católica como de outras congregações. Isso se deve a decisão ousada tomada pelo papa em restabelecer dentro da igreja os princípios que nortearam a curta vida de Jesus Cristo, o combate a opressão e as injustiças sociais.
É relevante enaltecer que a construção do documento foi possível graça ao dialogo com segmentos de igrejas evangélicas que convergiram com o pensamento defendido pelo papa. Porém não são todas que convergem com esse pensamento. É comum nas comunidades ou cidades da Amazônia a presença de seitas ou igrejas que se desfrutam da fragilidade ou miséria social para expandir o poder de influência. Esse instrumento de conversão é denominado proselitismo religioso.
Uma das facções ultraconservadoras dentre da igreja católica cuja sigla é TEP (Tradição, Família e Propriedade) no qual parte de seus membros apoiou Bolsonaro, vem trabalhando na tentativa de criminalizar o papa, alegando-o estar desvirtuando os escritos dos evangelhos. O grupo chegou a criar um site (Anazon, Synod Whatch) com publicações acusando o sínodo de incentivar rituais neopagãs, que são cerimoniais praticados pelos indígenas na Amazônia. Denunciam também o papa por estar dando mais importância à vida material que a espiritual dos fiéis.
Outras críticas são direcionadas à postura do papa em priorizar temas como o meio ambiente e as injustiças sociais. Esses ataques partem principalmente de duas personalidades influentes no governo de Trunp e Bolsonaro. O primeiro é Steve Bannon, principal mentor da campanha de Trup a presidente dos Estados Unidos. O segundo é o “guru” de Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho. Banner alega que o papa Francisco é inimigo da extrema direita, enquanto Olavo de Carvalho defendeu que o papa fosse tirado do trono de Pedro a pontapés. Tanto o primeiro quanto o segundo são direta e indiretamente responsáveis por muitas das atitudes insanas praticadas pelos pupilos dos quais “orientam”.
Deve ser consenso de quase todas as religiões tradicionais a deliberação do vaticano em promover o sínodo para tratar entre outros assuntos a proteção da floresta amazônica. Contrariando o que postulou o ministro do meio ambiente afirmando que os números do desmatamento não correspondem a realidade, em 11 de outubro de 2019, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apresentou relatório sobre o desmatamento na Amazônia onde é assustador. Destacou o órgão que no mês de setembro de 2019, houve o aumento de 96% de desmatamento em comparação ao mesmo período de 2018. De janeiro a setembro, período governado por Jair Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia foi 92,7% maior que no mesmo período do ano anterior.
Mais do que nunca o Sínodo se mostra relevante num momento onde parece que as pessoas não mais acreditam ser possível frear a devastação dos frágeis ecossistemas do planeta. Empoderar as populações da floresta amazônica pode ser uma possível saída para o enfrentamento dos novos colonizadores, sem o mínimo de sensibilidade à mãe natureza e seus habitantes.   
Prof. Jairo Cezar
  

sábado, 5 de outubro de 2019


TRAGÉDIAS EVITÁVEIS ESTÃO SOLAPANDO ECOSSISTEMAS E  COMUNIDADES INTEIRAS NA AMAZÔNIA

É algo inimaginável um presidente da república provocar tantos estragos e retrocessos sociais em tão pouco tempo a frente do cargo. Todas as minhas escritas publicadas nesse blog, expressiva parcela delas, discorrem sobre economia, política, educação, meio ambiente, dos governos que antecederam o atual a partir da abertura política. Em nenhum momento poupei criticas as políticas equivocadas de todos os governos, especialmente no período cuja população teve a experiência de ter no poder pessoas ligadas ao partido dos trabalhadores.
Embora tivesse forte afinidade a essa sigla, tendo até me candidatado à disputa legislativa municipal no final da década de 1990, sem sucesso, já encerrada a ciclo do partido dos trabalhadores em âmbito federal, a decepção foi tamanha que me forçou a uma ruptura definitiva com a sigla. Na área ambiental os fatos comprovam que muitas das decisões tomadas como das inúmeras hidrelétricas construídas na Amazônia legal, a exemplo da hidrelétrica de Belo Monte, os impactos ao ambiente e as comunidades tradicionais do entorno se tornaram quase que irreversíveis.
Mesmo com todas as contrariedades de um partido e governos gerados nas periferias, no imaginário social pairava o sentimento pouco pessimista do futuro, pois jamais os governos se esquivaram dos debates, de encaminhar proposições criativas nas conferências e encontros sobre o clima global. O modo como a ex-presidente Dilma foi execrada do cargo e toda a articulação das forças conservadoras para o sucesso da empreitada acendeu uma luz ameaçadora no fundo do túnel.
Os acontecimentos que se sucediam após o impeachment lançavam uma névoa espessa sobre o futuro da sociedade bem como meio ambiente. A gestão de Temer foi apenas uma demonstração terrível de como um governo, atrelado ao capital, poderia em pouco tempo produzir tanto retrocesso. No entanto, sua presença no cargo seria curta, por exercer um mandato tampão até a eleição seguinte em 2018, quando seria eleito o próximo presidente da república. De repente, sem que ninguém pudesse imaginar, brota das profundezas do inferno a imagem de uma figura na convencional, que adquiriu corpo, convergindo para sim uma legião de seguidores entorpecidos pelo seu discurso ameaçador.  
Numa cultura fortemente influenciada pelo catolicismo, na bíblia tem uma passagem onde afirma que no final dos tempos a humanidade receberá a visita do messias, cuja tarefa é escolher os bom e os juntos para o paraíso eterno. Os resultados das eleições de 2019 me parecem que tal profecia se consolidou, será que finalmente chegamos aos finais dos tempos? Muitas foram as suplicas e incontáveis alertas de que uma possível vitória do candidato Bolsonaro, o Brasil estaria caminhando para o abismo ambiental e social, fatos sem precedentes na história da república brasileira.
O comportamento e os discursos dos quais proferiam nos comícios e entrevistas, deixava explícito seu desejo sórdido de levar o Brasil a um retrocesso inimaginável. No entanto, a população talvez, embrutecida, decepcionada com os desmandos dos governos passados, ou por protestos, ou por acreditar, lançou seu voto a Jair Bolsonaro. Não foram necessários muitos dias no cargo para que seus eleitores não fanáticos se apercebessem da burrada que haviam cometido.  Já era tarde. Independente das críticas e denúncias em todos os quadrantes do território brasileiro, o governo permanecia com sua postura de campanha, prometendo e executando seus planos sórdidos, a maioria sob a forma de decretos, muito semelhante a do regime militar.  
Primeiro a Reforma Trabalhista, Temer, vindo sem seguida a Reforma da Previdência, entre outras tantas medidas anti sociais foram sendo executadas uma a uma. Um dos temas polêmicos do governo Bolsonaro e passivo de críticas de entidades de defesa de direitos humanos, a liberação do porte de armas, foi levada à frente com o aval de parcela significativa da sociedade. Um país no qual vem alcançando níveis recordes de assassinatos, tanto nas áreas urbanas quanto rurais, a liberação do porte de armas é sem dúvida a sentença à limpeza étnica, comparada ao holocausto.
Foram tantas em tão pouco tempo as ações destrutivas e ameaçadoras do atual governo à integridade física e moral da sociedade, suficiente ao ponto de a sociedade ter esquecido o curto/longo período Temer, protagonista de uma avalanche de ações impopulares. O governo Bolsonaro, dia após dia, sua popularidade passou a decrescer diante de seu discurso tosco e comportamento autoritário. É claro que por trás dessa postura esdrúxula, caricata, setores da sociedade como o agronegócio, representantes do segmento evangélico no congresso, ente outros, lhe dão guarida. Sua pauta política de governo os agradava muito, pais lhes favoreciam mediante a liberação quase incondicional de agrotóxicos e a reestruturação da moralidade, dita por ele, judaico cristã.
A indicação de figuras alinhadas ao seu discurso aos principais ministérios dava o tom de como seria o Brasil nas áreas econômicas, educacionais e ambientais. Economia, Educação e Meio ambiente, os gestores foram estrategicamente escolhidos cujos desafios eram a execução de planos dos quais deixariam cicatrizes por gerações. Isso mesmo, gerações.     Na economia, coordenada pelo “super ministro Guedes”, o plano principal era a aprovação da reforma da previdência, da qual como foi a reforma trabalhista, restabeleceria a escravatura, tendo a população que trabalhar até a morte.
Na educação, tanto o primeiro ministro escolhido, demitido por demonstrar incapacidade intelectual, o segundo, ninguém imaginava que pudesse ser pior que o primeiro e que causasse tantos estragos na educação em tão pouco tempo no cargo. Suas atitudes na pasta deixaram nítidas mostras que é muito mais cômodo eleger governos sem qualquer capacidade para o cargo, para manter a população ignorante e submissa. O ataque aos professores e principalmente as universidades públicas com cortes expressivos de recursos foi o primeiro cartão de visita, mostrando seu verdadeiro objetivo no ministério da educação. Se as condições estruturais das universidades públicas e dos institutos federais já eram precárias sem os cortes, imaginamos agora com os “contingenciamentos”.   
Desde a primeira aparição na TV, ainda como pré candidato à presidência, Bolsonaro já lançava pinceladas de que a mira de seu governo estaria apontada ao segmento ambiental. Isso se tornou realidade no instante que afirmou que fundiria os ministérios da agricultura e o meio ambiente. A proposta poderia ser comparada a fábula onde as galinhas seriam cuidadas das raposas. Pressões de todos os lados fizeram que o mudasse de ideia, mantendo os ministérios separados. Porém, tal atitude não foi suficiente para assegurar que os respectivos postos pudessem proporcionar cenários tão terríveis à preservação das florestas.
A indicação de dois ministros, uma para o ministério da agricultura, ligada ao agronegócio, e outro do meio ambiente, tendo sido condenado por crime de responsabilidade quando atuava no governo do estado de São Paulo, se transformou em figuras conhecidas nos noticiários diários por suas peripécias a frente das pastas. Jamais no passado um presidente havia liberado em tão pouco tempo tantas marcas de agrotóxico, em comparação a Bolsonaro.
O agravante é que muitos dos princípios ativos presentes nesses pesticidas já haviam sido banidos há anos tanto na comunidade européia quanto nos Estados Unidos. Infelizmente a pressão social, de ambientalistas e comunidades científicas nacionais e internacionais não foi suficiente para conter a fúria gananciosa e genocida do agronegócio. Como já era de esperar, embora os dois ministérios, agricultura e meio ambiente, estivessem atuando em separados, suas ações se convergiam, pois suas políticas estavam direcionadas em promover um dos maiores desmontes e retrocessos na área ambiental, de forte repercussão global.
A perseguição e criminalização de órgãos governamentais ambientais, como o IBAMA, ICMbio, ativistas ambientais, entre outros, se configurou como estratégica de limpar o caminho qualquer obstáculo àquilo que viriam a ser meses depois uma das maiores tragédias ambientais, os incêndios florestais no bioma da Amazônia e de outros espalhados pelo Brasil. Se havia agora no poder um presidente com um discurso incitando à violência, a homofobia, a grilagem, a invasão de terras indígenas e de demais grupos tradicionais, psicologicamente, o sentimento que perpassaria sobre o bioma do serrado e da Amazônia, por exemplo, era de que tudo agora seria permitido, pois os fins justificariam os meios.
As queimadas na Amazônia se transformaram num dos principais acontecimentos de repercussão planetária, fato que mobilizou autoridades de dezenas de país pressionando o governo brasileiro para que tomasse providências enérgicas ao combate dos incêndios. Como já vem sendo praxe às queimadas na Amazônia nos últimos tempos, muitas das quais criminosas com vista a expansão da fronteira agrícola, o que chamou a atenção dessa vez foi o elevado número, superando todas as estatísticas históricas conhecidas. Era visível aos olhos de todos que o fogo sobre as florestas da região tinha mão humana.
Denúncias confirmaram que fazendeiros, pecuaristas, entre outros, articularam pelas redes sociais a campanha macabra o dia do fogo. Florestas inteiras foram sendo derrubadas e incendiadas para dar lugar à pecuária e a agricultura. Nos encontros de cúpula sobre o clima o Brasil sempre compartilhou as decisões da COP se propondo em adotar políticas para a redução das emissões de CO2, resultantes da queima de florestas.  
A floresta amazônica concentra parcela significativa de carbono retido nas florestas. Uma das propostas acatadas pelo Brasil na última COP, em Paris, foi compromisso de nos próximos 20 ou trinta anos combater os desmatamentos ilegais, ou seja, zero desmatamento. A chegada de Bolsonaro ao Poder colocou uma pá de cal em todos os avanços obtidos pelo Brasil sobre as florestas e o clima planetário.
Não podemos nos iludir que o problema na Amazônia se limita aos incêndios e suas conseqüências para o planeta. A região já vem sendo assolada por outros tantos problemas ambientais de proporções avassaladoras à região. Muitos devem não lembrar mais das abomináveis barragens construídas sobre o leio dos principais rios da bacia amazônica, entre eles a mortal hidrelétrica de Belo Monte.
Na época, pesquisadores e ambientalistas alertavam os governos Lula e Dilma que a execução desse bilionário projeto, bem como de outras barragens similares na região provocaria impactos terríveis aos frágeis ecossistemas e sociedades tradicionais. Os alertas não foram suficientes para impedir sua execução. Quase dez anos depois do início do projeto, nesse ou no próximo ano, o governo brasileiro irá inaugurar a última turbina da hidrelétrica que entrará em funcionamento. É incrível como no Brasil algumas tragédias se sobrepõe a outras como num passe de mágica. Porém, pouco tempo é suficiente para cair no esquecimento.
A hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, foi uma das maiores manobras de corrupção envolvendo políticos, empreiteiras na execução da obra. Desde o seu início críticas eram lançadas alertando sobra a inviabilidade econômica da obra, pelo fato do rio Xingu, nas estações de estiagem, não fornecer água suficiente para movimentar as turbinas. Um dos acordos assinados era para que o fluxo de vazão da água da barragem seria monitorado e controlado para o não comprometimento das comunidades situadas a montante do rio cuja sobrevivência dependia do fluxo normal da água do Xingu.
Reportagens dão conta que comunidades inteiras como os povos Juruna estão vivendo em condições quase subumanas em decorrência da redução drástica de pescado, uma de suas principais fontes de subsistência. Alegam que os administradores da barragem não estão cumprindo o que foi pré-estabelecido. E não para por aí. A Belo Monte também é protagonista de outra tragédia que está matando de fome e pela violência centenas, milhares de pessoas todos os anos.
Tais acontecimentos trágicos fazem referência à cidade de Altamira, no Pará, que a partir da hidrelétrica de Belo Monte viu crescer sua população em números alarmantes. A maioria da população ou foram expulsas de suas terras pressionadas pela barragem ou migraram de outras regiões atraídas pela promessa de emprego. A cidade de Altamira é atualmente considerada uma das mais violentas do Brasil. Na região da Amazônia já é considerada a mais violenta.
Há poucos dias os/as brasileiros/as ficaram estáticos frente a televisão acompanhando os horrores em Altamira, quando 62 pessoas foram brutalmente assassinadas por gangs rivais no interior do principal presídio do município. A tragédia em Altamira só perdeu para o massacre do Carandiru, RJ, onde morreram mais de duas centenas de pessoas assassinadas pela polícia.
Todo o problema na região tem relação direta e indireta com as políticas equivocadas dos governos anteriores, alucinados pelo “vírus” do nefasto do desenvolvimentismo, que tão mal proporcionou à sociedade, a exemplo do regime militar. Altamira é um reflexo desse equivoco político. O que é gritante é saber que ninguém mais ousa trazer para o debate Belo Monte, como de outras barragens construídas equivocadamente na região. Nem o atual governo fez ou faz qualquer menção ao fato, pois os projetos muito lhe interessam.
Na realidade esses projetos se encaixam ao seu programa neo-desenvolvimentista, porém mais sórdido ainda que dos governos anteriores. A expansão da fronteira agrícola não é o principal problema enfrentado pelas populações indígenas na Amazônia. O apoio incondicional à prática da mineração na Amazônia pode acelerar a tragédia ambiental e humana na mesma proporção das barragens. Populações inteiras, indígenas, ribeirinhas, que dependia diretamente do rio Xingu para sua sobrevivência, poderão sucumbir.
O restabelecimento da mineração em Serra Pelada, no estado do Pará, poderá resultar no crescimento desordenado do fluxo migratório para a região, com impactos ambientais e sociais dramáticos a exemplo do município de Altamira. Do mesmo modo que a Belo Monte é responsabilizada por um etnocídio em toda a região abrangida pela hidrelétrica, a mineração na serra pelada poderá ser responsabilizada no futuro por outro genocídio, de proporção gigantesca.
Antes da instalação da hidrelétrica Belo Monte, a população de Altamira beirava os 80 mil habitantes. Mesmo com as dificuldades de uma região pouco assistida pelo Estado, a população encontra saídas para sobreviver. Em 2019, a população da cidade já alcançava os 111 mil habitantes. Com pouca infraestrutura e emprego, a violência e os homicídios tornaram-se freqüentes. Em termos comparativos, o município do Rio de Janeiro as cifras de homicídio chegam a 35,6 mortes por cem mil. Altamira, o número de homicídios por cem mil habitantes atingiu os assustadores 133,7 mortes. É bom frisar que a população na qual inchou o município de Altamira são os retirantes das áreas ocupadas pela represa.
É importante também frisar que jamais o governo federal, durante a gestão Rousseff, jamais deveria ter permitido a funcionamento da hidrelétrica de Belo Monte sem que os responsáveis da obra tivessem comprido com as ações mitigatórias. A construção de um complexo penitenciário em Vitória do Xingu, a quarenta e oito quilômetros de Altamira, era uma dessas obrigações da empresa. Não cumpriu.
Para a execução desse elefante Branco no coração da Amazônia somente foi possível graças a um bem sucedido plano macabro de suspensão da lei para a concretização da obra. O custo da Belo Monte solapou dos cofres públicos cerca de quarenta bilhões de reais. A corrupção e um plano estratégico para silenciar indígenas fizeram parte desse plano.
Prof. Jairo Cezar

https://brasil.elpais.com/brasil/2014/12/01/opinion/1417437633_930086.html Belo Monte: a anatomia de um etnocídio.

https://brasil.elpais.com/brasil/2015/07/06/opinion/1436195768_857181.html  Belo Monte, empreiteiras e espelhinhos.

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/14/opinion/1565799016_403909.html As crianças de Altamira - O massacre dos inocentes nos denuncia na mais violenta cidade amazônica.



https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/12/opinion/1568300730_780955.html?fbclid=IwAR1qOfaLLGNwS1Euw-QS2sAL-G1qDa-bn0rvYlp98_aQK7w3rf6WGsu6FNw “A notícia é esta: o Xingu vai morrer”