segunda-feira, 22 de março de 2021

 

DIA MUNDIA DA ÁGUA: AINDA ESTAMOS LONGE DE COMEMORAR

Em 2016 a EEB de Araranguá iniciou o projeto escola sustentável com o objetivo de envolver a comunidade escolar em práticas ambientais sustentáveis de energia elétrica e água. Inúmeras atividades, palestras, oficinas e saídas de campo foram promovidas nos três anos de duração do projeto. Além visitar uma das nascentes do rio Araranguá, os estudantes da escola conheceram as duas principais estações de tratamento e distribuição de água para o município de Araranguá.

Conheceram o complexo processo de captação e tratamento, bem como o montante de água consumido pela população. O que mais chamou a atenção dos estudantes no relato de um dos técnicos da companhia de abastecimento de município foi quando confessou que mais da metade dá água que é distribuída, é desperdiçada. A perda de água ocorre, ou por vazamento ou por uso inadequado, ou seja, além do necessário. Por que razão procurei trazer tal experiência da EEBA para o atual momento, 23 de março de 2021?

A resposta se deve ao dia de ontem, 22 de março, comemorada no mundo inteiro como dia mundial da água. É sabido e não é de hoje, que pouco se tem o que comemorar nesse dia acerca do precioso líquido. Todo ano no mundo inteiro a quantidade de água disponível para o consumo humano vem reduzindo progressivamente. As mudanças climáticas estão influenciando no fluxo pluviométrico de muitas regiões. Ano após ano a quantidade de chuvas não está sendo suficiente para a reposição dos mananciais e aqüíferos.

Outro agravante é a poluição. Muitos rios se transformam em depósito de esgoto e outros tantos rejeitos. O Brasil, mesmo sendo um dos países com maior concentração hídrica planetária, a falta de água já é uma realidade em regiões como Manaus, cortada pelo rio amazonas, o maio do mundo em volume de água doce. Santa Catarina, quem diria, possui três bacias hidrográficas que juntas a de outros estados estão no topo das mais poluídas.

São elas, as bacias hidrográficas dos rios Tubarão, Urussanga e Araranguá.   O carvão mineral foi e continua sendo um dos principais vetores desse quadro desolador que ainda assombra as três bacias. Agrotóxicos, esgotamentos sanitários, desmatamento, manejo equivocado do solo, são outros fatores que estão comprometendo com a qualidade e quantidade de água disponível. A agricultura e a indústria são hoje os segmentos que mais tem demanda por água.

O extremo sul de Santa Catarina se destaca pela rizicultura irrigada. A cada ano, o comitê da bacia do rio Araranguá tem aumentado sua participação em ações de apaziguamento de conflitos decorrentes pelo uso da água.  É inacreditável, mas já acontece no extremo sul de Santa Catarina. Muitos municípios, a exemplo de Turvo, frequentemente tem o seu abastecimento comprometido pela escassez de água. Em várias oportunidades o município chegou ao extremo de recorrer a caminhões pipas para o abastecimento dos reservatórios.

É inacreditável, mas a região é uma das que mais chove no Brasil. O fato é que associada as praticas agrícolas equivocadas, desmatamento, etc, toda essa água precipitada rapidamente é escoada no oceano. O município de Araranguá, distintivamente dos demais municípios que integram a bacia do rio Araranguá é agraciado pela natureza por tantos mananciais de água doce em seu território.  Infelizmente os governos que se sucedem no município acreditavam e acreditam que o problema do abastecimento comum na AMESC jamais ocorrerá aqui.

Nos planos para o desenvolvimento do município o que mais se observa são medidas visando à expansão econômica. Estimular o crescimento demográfico é um deles. No entanto, nesse debate o tema água e a sua disponibilidade pouco espaço é dado nos encontros. Tem-se a equivocada sensação de que nossos recursos hídricos são inesgotáveis. Problemas ambientais e maior demanda por água já dão sinais da necessidade de maior atenção quanto aos cuidados no manejo desse precioso e finito líquido.

Bem no dia alusivo ao Dia Mundial da Água, o município de Araranguá dá um mau exemplo sobre o tema, que não deve ser seguido por ninguém. Por três dias um vazamento em uma tubulação na rua geral Canjiquinha lançou à natureza milhares de litros de água tratada. Se água fosse prioridade da administração ou das administrações passadas, rapidamente o problema seria sanado. Talvez precisemos passar por uma grave crise hídrica para nos tocarmos do quão importante é cuidar dos nossos mananciais e valorizar cada gota de água.

Prof. Jairo Cesa                

sexta-feira, 19 de março de 2021

 

PEC 186 DO AUSTERICIDIO ESTADO MÍNIMO

Tornou-se hábito acordar todos os dias sabendo que algo de ruim está sendo tramado pela equipe do presidente genocida Jair Bolsonaro, visando ferrar o povo brasileiro. O aumento quase que semanal dos combustíveis está refletindo diretamente nos preços dos alimentos, tornando mais difícil ainda a vida de milhões de desempregados.  Num cenário catastrófico onde mais de duas mil pessoas morrem diariamente vítima do Covid 19, o governo federal chancelado pelo congresso nacional, Alá do centrão em especial, aproveitam do fato da população não poder ir às ruas protestarem, para aprovar mais e mais dispositivos constitucionais que lhes retiram direitos.

As reformas realizadas no passado como a previdenciária e a trabalhista, ambas colocaram os trabalhadores numa situação de subserviência perpétua aos donos do capital. A justificativa apresentada pelos reformistas na época foi afrouxar regras com vista a elevar a oferta de trabalho à população. Lembram da Emenda Constitucional 95, que além de outras medidas efetivadas, congelou os salários dos servidores públicos por cerca de 20 anos. Ainda assim a elite sanguessuga culpa os servidores públicos pelo caos das contas públicas.

Esse disparate de criminalizar servidores públicos pela crise econômica vem sendo construído há muito tempo. A mídia conservador pró capital teve e tem papel importante nesses ataques. A reforma administrativa que está em curso propõe atacar frontalmente os trabalhadores do serviço público, menos, é claro, a classe política que abocanha parcela significativa dos recursos públicos em forma de salários e outros benefícios.

A estratégia dos governos quando pretendem privatizar estatais, começam a mudar a própria constituição, suprimindo artigos ou dispositivos.  Enxugar estatais, banco do Brasil, correios, entres outras dos segmentos estaduais e municipais, garantirá ao comprador caminho livre para explorar os serviços, angariar mais e mais lucros, sem compromisso algum com o bem estar da sociedade.   

A EC 186 aprovada no Senado Federal no dia 18 de março de 2021, abriu caminho para a entrega definitiva dessas instituições à iniciativa privada. Mais uma vez, o governo usou como artifício para aterrorizar ainda mais o servidor público, o auxílio emergencial, ajuda financeira às famílias em situação de pobreza decorrente do COVID 19.  São parcos 40 bilhões de reais a serem distribuídos em quatro parcelas à aproximadamente vinte milhões de pessoas. Em 2020, o valor do auxilio emergencial aprovado pelo congresso atingiu os 600 reais parcelados também em quatro meses. Dessa vez as parcelas foram divididas por categorias, grupos de pessoas receberão 150 reais, outros, 250 e, por fim, 375 reais.

Se compararmos o atual custo de vida com a do ano passado, esses valores cobrirão 30%, 40% a 50% de uma sexta básica, conforme a região e o estado brasileiro. Água, luz, transporte, etc, como irão pagar? No texto aprovado no senado, o mesmo condicionou o auxílio ao congelamento dos salariais dos servidores públicos por 15 anos. Se a intenção era garantir o auxilio emergencial, o governo poderia ter se utilizado de outros meios, como a decretação de estado de calamidade, que lhe autorização para gastar além do teto.  

O fato é que a emenda constitucional lhe possibilita trilhar caminhos que levam a completa destruição do serviço público, bem ao gosto do capital. Congelar salários, bem como por fim aos concursos públicos, garantira ao novo gestor dessas instituições, agora privada, contratar e dispensar trabalhadores sem sofrer sansões administrativas e jurídicas. Os 45 bilhões à parcela ínfima da população miserável terão como moeda de troca algo assombroso     que comprometerá o futuro do Brasil. Quando falamos de futuro, estamos nos referindo à educação pública, segurança pública, saúde pública, saneamento básico, que também estão na mira das privatizações.

Prof. Jairo Cesa

segunda-feira, 15 de março de 2021

 

BOLSONARO E SEUS SEGUIDORES FAZEM MAL AO BRASIL

Nós professores temos clareza que o que falamos em nossas classes incrivelmente influencia o modo de pensar e comportar-se dos/as estudantes. Isso também acontece no campo religioso,  padres, pastores e demais líderes religiosos exercem papel importante na condução dos seus fiéis. Agora vamos transportar isso para um cenário mais abrangente, Estado brasileiro. Mais uma vez vou trazer o exemplo da Nova Zelândia, que diariamente ou semanalmente a presidente daquele país falava em rede nacional instruindo o seu povo sobre os cuidados contra o COVID 19.

Há fortes evidências que seu discurso de líder tenha contribuído para minimizar o número de mortes pelo vírus, menos de 30 pessoas desde o início da pandemia. Usar máscaras, distanciamento e higienizar as mãos sempre foram e continuam as recomendações da OMS para evitar a propagação do vírus. Entretanto, essas regras obrigatórias não foram bem aceitas  ou cumpridas por muitos governantes, cujos impactos foram e são perceptíveis com números de contaminados e mortes em seus países.   

EUA e Brasil, por exemplo, ambos devem ser ressaltados como péssimos gestores na condução dos protocolos contra o COVID 19. O agravante foi e é que tanto lá quanto cá têm uma legião de fanáticos seguidores que compartilham do mesmo pensamento. Andar sem máscaras ou envolver-se em aglomerações passou a ser uma constância, chegando ao cúmulo de seus apoiadores xingarem até mesmo agredirem aqueles que se opusessem a tais práticas. Vejam só, o caso brasileiro.

O presidente Bolsonaro trabalhou incansavelmente contra a vacinação da população. Insistentemente se utilizava das mídias para divulgar o uso de certos medicamentos como a hidroxicloroquina, evermectina, no tratamento preventivo contra o vírus. As pesquisas realizadas com os medicamentos comprovaram nenhuma eficácia contra o corona vírus. Não satisfeito, o presidente e seus apoiadores  trabalharam contra a ciência, contra a vacina, estimulando as pessoas a não tomarem as doses. Chegaram ao limite doentio  de afirmarem que tomando a vacina, especialmente a da Butantã, sofreriam mutações genéticas, podendo até virar certos animais, jacaré, cobra...  

Março de 2021 fez um ano do primeiro caso do COVID 19 diagnosticado no Brasil. Quem imaginava que depois de um ano difícil as coisas poderiam melhorar, principalmente pelo fato de já  ter a vacina  disponível, deve ter se frustrado. A partir de fevereiro em diante os números de contaminados e mortes pelo vírus só aumentaram, batendo recordes diários. Um dos fatores desses novos contágios se deve as novas variantes do vírus  com capacidade de mais contágios e mortes.

Somente isso seria motivo suficiente para um lockdown imediato. Em se tratando de Brasil, de um governo que desde o seu início procurou negar a existência do vírus, admitindo ser uma gripezinha, os quase 270 mil mortos contabilizados até o momento, podem sim, grande parcela, ter sido culpa do presidente pelo seu comportamento irresponsável.   Frente a uma situação de caos que atinge os sistemas de saúde de todos os estados brasileiros, os governos se rendem  à pressão do segmento empresarial, a exemplo de Santa Catarina, decretando lockdown somente nos finais de semana.

Transitando pelas ruas dos municípios de Araranguá e Arroio do Silva, durante o lockdown do dia 13 e 14 de março, era visível o elevado número de pessoas sem mascaras e aglomeradas em supermercados e outros espaços. O que chamou a atenção no domingo, quando as pessoas deveriam estar em suas casas se protegendo do vírus, foi uma carreata pró Bolsonaro em muitas cidades brasileiras. Em Araranguá, o número de carros envolvidos comprovaram o por que do colapso no sistema de saúde no estado e na região sul. 

No vídeo apresentado por um veículo de comunicação local, poderia ser visto muitas pessoas caminhando ou próximas de outras sem máscaras. No discurso de um dos organizadores, dizia que o ato seguia todas as recomendações sanitárias. Quem duvida que daqui a sete ou quatorze dias muitos desses participantes não estarão nos hospitais implorando por um leito de UTI. O que é preocupante é que durante o trajeto, quem já estava com o vírus poderia ter espalhado pela cidade, pois não usavam máscaras.

Outro detalhe que muito me intrigou foram os escritos em uma das postagens na internet em defesa do movimento. Eram essas as frases: “Agora é Guerra, Agora é na Frente dos Quartéis”. Qual o sentido real dessa mensagem? Guerra!! Frente dos quartéis!! Meu deus que absurdo é isso. O pior é que muitos desses que estavam e estão aí defendendo e endeusando um presidente torturador e nagacionista, foram estudantes da EEBA Araranguá, onde tiveram professores renomados na área de história, onde jamais ouviram desses mestres palavras ou ideias semelhantes às que estavam defendendo.

Lendo o restante da postagem, ficou nítido que o que realmente estão querendo, o retorno da ditadura!!! Ou será que estou enganado? Não, não estou enganado!! Estava lá escrito na postagem: “Fora STF e Fora Congresso”. Penso que nada aprenderam ou tudo esqueceram quando  estudantes, temas como Regimes Institucionais, Republicanismo, Democracia, Ditadura, Golpismo, etc, etc.

O problema que alegam existir no STF e Congresso Nacional não pode ser resolvido com a seu fechamento ou extinção, como desejam.  Numa república, esses são as instituições mais importantes e necessárias para a garantia dos direitos constitucionais. Não é extinguindo  que irá se resolver. Quando fui professor explicava para os estudantes a necessidade da construção de um novo país, mais justo e solidário. Essa construção se daria por grandes investimentos em educação pública, algo que não aconteceu.

Uma população mal educada tende a gerar o que vivemos hoje, um executivo e um congresso recheado de maus elementos. Se estamos indignados com os nossos/as governantes, legisladores/as,  etc, penso que temos alguma culpa, pois somos nós que o/a elegemos. Na realidade o congresso nacional, assembleias legislativas e câmaras de vereadores, muitos dos seus integrantes ali presentes, refletem exatamente  o desejo e o sentimento de uma camada “pobre” da sociedade.

Meus queridos jovens que demonstram estar cegados pelo vírus da imbecilidade de um líder vingativo e negacionista, lembrem dos seus mestres professores, que  dedicaram parte do seu tempo a instruí-los,  para serem bons cidadãos, conscientes e livres de falsos líderes. Lembrem, temos uma triste experiência de uma ditadura, foram mais de vinte anos de terror, com centenas de mortos e desaparecidos, muitos pelos quais pelo simples  fato de pensarem diferente, de sair às ruas para expressar seu pensamento, igual como vocês fizeram nesse domingo. Com regime militar, nunca mais foram as ruas, foram calados por vinte anos.

Ficaria feliz se fossem às ruas gritarem contra esse governo genocida que tanto vocês veneram. Mas penso que vocês estão equivocados quanto ao caminho que estão trilhando. Ainda há tempo de livrar-se dessa armadilha, criada por uma estrutura de poder sanguinário que manipula os pensamentos dos mais desatentos. Vocês, por favo, acordem imediatamente. Assistam o filme, Ensaio Sobre a Cegueira,  obra inspirada no livro do escritor José Saramago. Penso que entenderão o motivo da minha preocupação por ver vocês, que tanto carinho dediquei em instruí-los, de  estarem seguindo um caminho perigoso, porá vocês e toda a sociedade. 

Prof. Jairo Cesa                    

segunda-feira, 8 de março de 2021

 

BRASIL A BEIRA DE UMA CATÁSTROFE HUMANITARIA

É assustador o que está se sucedendo no Brasil governado por um sociopata desequilibrado. Com um novo recorde de mortes por COVID, o dólar beirando os seis reais e quase 45% de reajuste dos combustíveis em dois meses, o povo parece engessado, assistindo atônito tanta barbaridade. Lembram o motivo que levou a ex-presidente Dilma ser impeachment em 2016? Pedaladas fiscais, algo tão banal que quase todos os governos fizeram e ainda fazem sem que por isso sejam exauridos do cargo.

É claro que no caso de Dilma ficou nítido de ter havido golpe político, arquitetado pelas elites arcaicas que controlam o sistema produtivo brasileiro.  O que a elite mais moderada não imagina era chegar ao posto de presidente um ex-capitão do exército sem o mínimo da capacidade intelectual e equilíbrio emocional. A Pandemia do COVID 19 serviu de teste para mostrar quem são os verdadeiros líderes, autoridades que não mediram esforços para proteger o seu povo.

Um exemplo para elucidar, a primeira ministra da Nova Zelândia, que adotou um comportamento que todos os demais deveriam ter seguindo, alertar e informar o seu povo sobre como agir para evitar o contágio com o vírus. Desde o início da pandemia, até o dia 03 de março de 2021, o país, com uma população aproximadamente cinco milhões, havia registrado 26 óbitos.  Não há dúvida que se países como os EUA e o Brasil, que desde o começo da pandemia negaram explicitamente a doença, se ambos tivessem adotado medidas parecidas a da primeira ministra da Nova Zelândia, jamais teriam registrado tantas mortes.

O Vietnã é outro exemplo de país com cerca de 90 milhões de habitantes, que conseguiu frear o vírus. O país do sudeste asiático registrou 35 mortes. O ótimo resultado se deve, primeiro, o fato da população ter o hábito de usar máscaras e a disciplina e o cumprimento as regras institucionais. Muito diferente do que está acontecendo no Brasil. Uma simples gripezinha, um resfriadinho, como foi taxado o COVID por Bolsonaro, já causou a morte de mais de 260 mil pessoas.

Um ano depois dos primeiros casos de contaminação registrados, o Brasil vive seu pior momento, com novas variantes do vírus, mais agressivos, obrigando estados e municípios decretarem lockdown para aliviar a pressão no sistema de saúde. Diante de uma realidade catastrófica, o governo brasileiro, em nada mudou seu comportamento na condução da pandemia. Insiste em descumprir todos os protocolos obrigatórios contra o COVID, no qual é acompanhado por uma legião de apoiadores. 

O que é mais assustador é o que esta ocorrendo nos três estados do sul, com crescimento vertiginoso de contaminados e vítimas fatais. Pesquisadores já vinham alertando que o Sul do Brasil iria passar por situações muitos difíceis se governos e a população continuassem agindo como se não houvesse uma pandemia. No período que antecedeu as festas de final de ano em 2020 os governadores do sul adotaram medidas de flexibilização das regras contra o COVID. O que vais se via eram centros de cidades lotadas, bem como praias, entre outros espaços públicos. Não tardou para que o que era previsível acontecesse.

Quase todos os hospitais públicos e particulares dos três estados estão com os leitos ocupados. Santa Catarina está enviado pacientes para outros estados pelo fato de não haver uma vaga sequer sobrando. Quem duvida que essa triste realidade no sul tenha relação com o modo negacionista adotado pelo presidente Bolsonaro em relação ao vírus. Parte expressiva da população do sul votou em Bolsonaro e apoia cegamente suas políticas.

Estados com 100% dos leitos e UTI ocupados pouco resolve lockdown fracionados como foi adotado no estado de Santa Catarina, fechando alguns comércios e o acesso de pessoas às praias nos finais de semana. Segunda à sexta, tudo volta ao normal.  Enquanto esses lugares ficam proibidos de acessar, supermercados, postos de gasolina, por exemplos, ficam abarrotados de pessoas.

Qualquer vírus quando não for atacado de imediato à tendência dele é sofrer mutações, tornando mais agressivo e resistente aos medicamentos. As novas variantes ou cepas do COVID que se espalham pelo Brasil tem sido motivo de preocupação dos pesquisadores, pois deixa dúvida quanto à eficácia das vacinas já aplicadas aqui. O que deveria ter acontecido e o governo federal não o fez era o fechamento de contratos com as empresas fabricantes de vacinas, a exemplo da Pfizer. A empresa Norte Americana ofereceu um lote de 50 milhões de dozes da vacina para o Brasil, da qual foi rejeitada pelo governo.

Enquanto países como Israel, Reino Unido, EUA, já vacinaram percentuais expressivos da população, o Brasil não imunizou cinco por cento da população, que supera os duzentos milhões de habitantes. O governo de Santa Catarina vem se configurando num fraco gestor no tratamento da pandemia. Diferente de quando iniciou a pandemia, no começo de 2020, onde o estado foi considerado referência por boas práticas contra o vírus.

Agora, quando o estado vive o colapso no sistema de saúde, o governo catarinense limita-se a decretar lockdown apenas nos finais de semana, durante quinze dias. Imagine, o decreto restringe a abertura de bares, restaurantes, praias e aglomerações de pessoas. Permite que postos de gasolina, supermercados, padarias, ou seja, “serviços essenciais” permaneçam abertos. O que se vê são dezenas, centenas de pessoas aglomeradas nesses ambientes, aumentando o risco de contaminação.

Na segunda feira, oito de março de 2021, um dia depois do último lockdown, transitando pelo centro da cidade de Araranguá, fiquei horrorizadas com tamanha quantidade de pessoas circulando ou aglomeradas em certos lugares, principalmente casas lotéricas. Muitos estavam sem máscaras ou usando incorretamente. No principal Banco da cidade, outro fato assustador, todos os recipientes com álcool em gel estavam vazios. Imaginem, são centenas de clientes entrando e saindo desse órgão financeiro todos os dias. Não acredito que lockdown somente nos finais de semana irá neutralizar a propagação do vírus. Seria necessário adotar essa medida de restrição total por mais tempo, medida que dificilmente será adotada num estado bolsonarista como Santa Catarina.

Prof. Jairo Cesa              

 

        

segunda-feira, 1 de março de 2021

 

A POBREZA SE ALASTRA NOS MUNICÍPIOS DO SUL DE SANTA CATARINA

Nas décadas passadas criou-se o estereótipo afirmando ser o sul do Brasil a Europa brasileira. Havia a sensação, para os habitantes de outras regiões, o nordeste, em especial, que a pobreza e as desigualdades sociais eram exclusividade de lá. Isso motivou fluxos migratórios permanentes para cidades importantes, principalmente às capitais e cidades medias desses três estados. O fato é que o estereótipo entre sul/sudeste, desenvolvido, e o restante, empobrecido, caiu por terra quando se tem em mãos números do censo demográfico que revelam um país miserável.

Tal realidade não tem relação com aspectos étnicos, geográficos ou outros fatores muito difundidos pela literatura tradicional. O fator é estrutural, fundamentado num modelo econômico de base mercantilista, cujos meios de produção, terras, instrumentos de trabalho, etc, ficaram e estão concentrados nas mãos de poucos. Outro dado interessante e atualmente desmascarado pelo IBGE é em relação ao estado de Santa Catarina.

Por ter sido palco de atração de imigrantes europeus, italianos, alemães, poloneses..., construiu-se em cima fato o conceito de estado empreendedor, de pequenas propriedades familiares. Ninguém imaginaria que fosse chegar o momento onde fosse estampada na capa de um jornal de circulação regional, a seguinte manchete: “a pobreza no corredor que liga o litoral à serra”. Essa reportagem foi publicada no dia 22 de fevereiro de 2021,  trazendo como destaque o município de Meleiro, no extremo sul de Santa Catarina.  

A reportagem relata a existência de 242 pessoas que recebem o Bolsa Família, benefício esse concedido pelo governo federal as famílias com baixa renda. É um número de pessoas considerável para um município tão pequeno, cuja população pouco ultrapassa os sete mil habitantes. O que se viu nos últimos anos foi um processo migratório de cidades médias para menores ou pequenas. Isso aconteceu motivado pelo custo de vida ser menor, além do fato de serem mais seguras.

No entanto a realidade vem mostrando que a fome e a violência vêm se generalizando em todas as regiões e municípios brasileiros. Não dá para alegar que tal condição se deve a um problema cíclico da economia e que tudo irá melhorar no futuro. Esse foi a resposta que muitas das pessoas deram na entrevista. Todos nós sabemos que esse é um argumento conformista construído coletivamente.

Para o sistema capitalista, responsável por tais condições de desigualdade e miséria, a expectativa de dias melhores dificilmente ocorrerá. O motivo é simples, para a sobrevivência do capital, quanto maior as desigualdades, o desemprego, maior a competição por trabalho, fazendo com que os salários permaneçam bem baixos.

As desigualdades também permitem a perpetuação do ciclo vicioso do clientelismo eleitoreiro. O assistencialismo seve também como moeda de troca dos governos e políticos para ascender ou permanecer a frente do comando do Estado. Melhores condições de vida, emprego e renda, estão associadas a níveis de educação mais elevados. A consequência disso é a expansão dos níveis de compreensão da população acerca da sua condição de cidadania e agente de transformação. Aqui está o centro do problema, onde os governos têm consciência de que quanto menos investimento para a educação pública mais poder e domínio terão juntos as classes inferiores.

Nos pequenos municípios geralmente são os políticos de partidos tradicionais que conseguem se eleger para cargos do executivo e legislativo. As leis que elaboram e aprovam quase sempre são para reduzir direitos e garantir vantagens e proteção as camadas dominantes da pirâmide social. No caso do Meleiro e demais municípios do entorno, podemos observar que essa fração miserável da população se confronta com outra fração, cada vez mais rica e poderosa.

Quem acredita que a solução para os problemas da fome das desigualdades está no modelo de produção capitalista, está enganado. Ao contrario, esse modelo se alimenta da fome e das desigualdades. Quanto mais desigual for a sociedade, mais igual e poderosa será outro grupo social. Romper com esse modelo perverso de produção deve ser necessário e urgente para que salvemos o planeta.  

Prof. Jairo Cesa