A
POBREZA SE ALASTRA NOS MUNICÍPIOS DO SUL DE SANTA CATARINA
Nas
décadas passadas criou-se o estereótipo afirmando ser o sul do Brasil a Europa
brasileira. Havia a sensação, para os habitantes de outras regiões, o nordeste,
em especial, que a pobreza e as desigualdades sociais eram exclusividade de lá.
Isso motivou fluxos migratórios permanentes para cidades importantes,
principalmente às capitais e cidades medias desses três estados. O fato é que o
estereótipo entre sul/sudeste, desenvolvido, e o restante, empobrecido, caiu
por terra quando se tem em mãos números do censo demográfico que revelam um
país miserável.
Tal
realidade não tem relação com aspectos étnicos, geográficos ou outros fatores
muito difundidos pela literatura tradicional. O fator é estrutural,
fundamentado num modelo econômico de base mercantilista, cujos meios de
produção, terras, instrumentos de trabalho, etc, ficaram e estão concentrados
nas mãos de poucos. Outro dado interessante e atualmente desmascarado pelo IBGE
é em relação ao estado de Santa Catarina.
Por
ter sido palco de atração de imigrantes europeus, italianos, alemães,
poloneses..., construiu-se em cima fato o conceito de estado empreendedor, de
pequenas propriedades familiares. Ninguém imaginaria que fosse chegar o momento
onde fosse estampada na capa de um jornal de circulação regional, a seguinte
manchete: “a pobreza no corredor que liga o litoral à serra”. Essa reportagem
foi publicada no dia 22 de fevereiro de 2021, trazendo como destaque o município de Meleiro,
no extremo sul de Santa Catarina.
A
reportagem relata a existência de 242 pessoas que recebem o Bolsa Família,
benefício esse concedido pelo governo federal as famílias com baixa renda. É um
número de pessoas considerável para um município tão pequeno, cuja população
pouco ultrapassa os sete mil habitantes. O que se viu nos últimos anos foi um
processo migratório de cidades médias para menores ou pequenas. Isso aconteceu
motivado pelo custo de vida ser menor, além do fato de serem mais seguras.
No
entanto a realidade vem mostrando que a fome e a violência vêm se generalizando
em todas as regiões e municípios brasileiros. Não dá para alegar que tal
condição se deve a um problema cíclico da economia e que tudo irá melhorar no
futuro. Esse foi a resposta que muitas das pessoas deram na entrevista. Todos
nós sabemos que esse é um argumento conformista construído coletivamente.
Para
o sistema capitalista, responsável por tais condições de desigualdade e
miséria, a expectativa de dias melhores dificilmente ocorrerá. O motivo é
simples, para a sobrevivência do capital, quanto maior as desigualdades, o
desemprego, maior a competição por trabalho, fazendo com que os salários
permaneçam bem baixos.
As
desigualdades também permitem a perpetuação do ciclo vicioso do clientelismo
eleitoreiro. O assistencialismo seve também como moeda de troca dos governos e
políticos para ascender ou permanecer a frente do comando do Estado. Melhores
condições de vida, emprego e renda, estão associadas a níveis de educação mais
elevados. A consequência disso é a expansão dos níveis de compreensão da
população acerca da sua condição de cidadania e agente de transformação. Aqui
está o centro do problema, onde os governos têm consciência de que quanto menos
investimento para a educação pública mais poder e domínio terão juntos as
classes inferiores.
Nos
pequenos municípios geralmente são os políticos de partidos tradicionais que
conseguem se eleger para cargos do executivo e legislativo. As leis que
elaboram e aprovam quase sempre são para reduzir direitos e garantir vantagens
e proteção as camadas dominantes da pirâmide social. No caso do Meleiro e
demais municípios do entorno, podemos observar que essa fração miserável da
população se confronta com outra fração, cada vez mais rica e poderosa.
Quem
acredita que a solução para os problemas da fome das desigualdades está no
modelo de produção capitalista, está enganado. Ao contrario, esse modelo se
alimenta da fome e das desigualdades. Quanto mais desigual for a sociedade,
mais igual e poderosa será outro grupo social. Romper com esse modelo perverso
de produção deve ser necessário e urgente para que salvemos o planeta.
Prof.
Jairo Cesa
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