segunda-feira, 1 de março de 2021

 

A POBREZA SE ALASTRA NOS MUNICÍPIOS DO SUL DE SANTA CATARINA

Nas décadas passadas criou-se o estereótipo afirmando ser o sul do Brasil a Europa brasileira. Havia a sensação, para os habitantes de outras regiões, o nordeste, em especial, que a pobreza e as desigualdades sociais eram exclusividade de lá. Isso motivou fluxos migratórios permanentes para cidades importantes, principalmente às capitais e cidades medias desses três estados. O fato é que o estereótipo entre sul/sudeste, desenvolvido, e o restante, empobrecido, caiu por terra quando se tem em mãos números do censo demográfico que revelam um país miserável.

Tal realidade não tem relação com aspectos étnicos, geográficos ou outros fatores muito difundidos pela literatura tradicional. O fator é estrutural, fundamentado num modelo econômico de base mercantilista, cujos meios de produção, terras, instrumentos de trabalho, etc, ficaram e estão concentrados nas mãos de poucos. Outro dado interessante e atualmente desmascarado pelo IBGE é em relação ao estado de Santa Catarina.

Por ter sido palco de atração de imigrantes europeus, italianos, alemães, poloneses..., construiu-se em cima fato o conceito de estado empreendedor, de pequenas propriedades familiares. Ninguém imaginaria que fosse chegar o momento onde fosse estampada na capa de um jornal de circulação regional, a seguinte manchete: “a pobreza no corredor que liga o litoral à serra”. Essa reportagem foi publicada no dia 22 de fevereiro de 2021,  trazendo como destaque o município de Meleiro, no extremo sul de Santa Catarina.  

A reportagem relata a existência de 242 pessoas que recebem o Bolsa Família, benefício esse concedido pelo governo federal as famílias com baixa renda. É um número de pessoas considerável para um município tão pequeno, cuja população pouco ultrapassa os sete mil habitantes. O que se viu nos últimos anos foi um processo migratório de cidades médias para menores ou pequenas. Isso aconteceu motivado pelo custo de vida ser menor, além do fato de serem mais seguras.

No entanto a realidade vem mostrando que a fome e a violência vêm se generalizando em todas as regiões e municípios brasileiros. Não dá para alegar que tal condição se deve a um problema cíclico da economia e que tudo irá melhorar no futuro. Esse foi a resposta que muitas das pessoas deram na entrevista. Todos nós sabemos que esse é um argumento conformista construído coletivamente.

Para o sistema capitalista, responsável por tais condições de desigualdade e miséria, a expectativa de dias melhores dificilmente ocorrerá. O motivo é simples, para a sobrevivência do capital, quanto maior as desigualdades, o desemprego, maior a competição por trabalho, fazendo com que os salários permaneçam bem baixos.

As desigualdades também permitem a perpetuação do ciclo vicioso do clientelismo eleitoreiro. O assistencialismo seve também como moeda de troca dos governos e políticos para ascender ou permanecer a frente do comando do Estado. Melhores condições de vida, emprego e renda, estão associadas a níveis de educação mais elevados. A consequência disso é a expansão dos níveis de compreensão da população acerca da sua condição de cidadania e agente de transformação. Aqui está o centro do problema, onde os governos têm consciência de que quanto menos investimento para a educação pública mais poder e domínio terão juntos as classes inferiores.

Nos pequenos municípios geralmente são os políticos de partidos tradicionais que conseguem se eleger para cargos do executivo e legislativo. As leis que elaboram e aprovam quase sempre são para reduzir direitos e garantir vantagens e proteção as camadas dominantes da pirâmide social. No caso do Meleiro e demais municípios do entorno, podemos observar que essa fração miserável da população se confronta com outra fração, cada vez mais rica e poderosa.

Quem acredita que a solução para os problemas da fome das desigualdades está no modelo de produção capitalista, está enganado. Ao contrario, esse modelo se alimenta da fome e das desigualdades. Quanto mais desigual for a sociedade, mais igual e poderosa será outro grupo social. Romper com esse modelo perverso de produção deve ser necessário e urgente para que salvemos o planeta.  

Prof. Jairo Cesa

 

  

    

     

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