PARA
ENTENDER O CONFLITUOSO CAMINHO PERCORRIDO PELO MDB/PMDB/MDB DE ARARANGUÁ DESDE O SEU
SURGIMENTO ATÉ OS DIAS ATUAIS
A
última vez que o MDB foi vitorioso em uma eleição para prefeito no município de
Araranguá aconteceu em 1988, em uma disputa tumultuada, com denúncias de
irregularidades. A confusão se deu quando foi noticiado que o candidato
vitorioso, Neri Francisco Garcia, havia sido eleito com 58 votos de diferença sobre
o seu oponente, Antônio Eduardo Ghizzo. Sobre
os desse histórico episódio político relatarei mais tarde, antes irei reconstruir fragmentos da
política de Araranguá a partir de 1966 ano da fundação do MDB municipal.
Em
nível nacional o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), sua origem ocorreu
depois do golpe político de 1964. Uma das primeiras ações do regime militar foi
por fim ao pluripardidarismo, permitindo que somente dois partidos, a ARENA e o
MDB existissem. De fato, a ARENA, como
partido ou movimento político, por cerca de vinte anos se constituiu como força
hegemônica na condução do Estado brasileiro.
O
MDB, no entanto, assumiu a função de partido coadjuvante, com o mínimo de
expressividade e possibilidade de galgar o principal posto de comando nacional.
A existência do partido foi para dar certo verniz à inexistente democracia do
regime militar. Em escala federal, os generais ascendiam ao posto de Presidente
da República por meio do Colégio Eleitoral, constituído majoritariamente por
parlamentares da ARENA. Nos estados da federação, de 1964 a 1982, os
governadores eram indicados pelos presidentes militares. Um dos critérios imprescindíveis
para ter direito ao posto de governador
era ser filiado a ARENA. As instâncias
onde o sufrágio universal permaneceu foram
os municípios, que de quatro, cinco ou seis anos, eram realizadas eleições majoritárias
e proporcionais.
Durante
a ditadura, a ARENA se figurou como instituição hegemônica em escala federal,
realidade que se repetiu nos municípios brasileiros. O poderio da maquina eleitoral local
impossibilitou o sucesso eleitoral do MDB eleitoral em quase todos os municípios. Em Araranguá,
mesmo tendo sido fundado em 1966, a primeira vez que venceu uma eleição para
prefeito foi em 1982. Com o fim do
militarismo, o MDB adquiriu status para protagonizar a transição do regime
ditatorial à democracia.
É
importante ressaltar que a ascensão do MDB em Araranguá e demais municípios
brasileiros ocorreu em momento de abertura política gradual. A intenção dos militares era evitar que o MDB se transformasse em força capaz de corroer a
estrutura capitalista. Tal receio se evidenciava pelo fato de o partido
acomodar integrantes de outros segmentos e facções progressistas que postulavam
reformas estruturais. A volta do
pluripartidarismo teve por objetivo fragilizar o ímpeto reformista do MDB. A
ARANA, parcela dos partidários e
filiados não tiveram dificuldades em decidir qual agremiação deveriam seguir. Para esse agrupamento, o PDS
foi o partido escolhido.
No cenário local, no momento que foi
consolidado o golpe militar, o município estava sendo administrado pelo
prefeito José Rocha, do PTB. Permaneceu no cargo até 1965, quando houve novas eleições municipais, sendo eleito o radialista
da UDN, Osmar Nunes. Nessa eleição,
Osmar Nunes venceu o pleito derrotando Walter Belinzoni, empresário, ex-udenista, que na ocasião estava filiado ao PSD.
Osmar
Nunes foi o primeiro político araranguaense a migrar para a ARENA em 1966.
Nesse ano foi instituído o
bipartidarismo com a homologação do MDB municipal. O MDB, no entanto, passou a
existir de fato em 1972 quando da criação do estatuto e do diretório municipal.
Conforme regras eleitorais estabelecidas
o MDB começou a participar dos pleitos municipais para prefeito somente a
partir de 1969. Nessa eleição o prefeito
escolhido foi o empresário e comerciante Jercino Pacoali, que integrou a chapa 2
da Arena, derrotando o candidato oposicionista, Martinho Herculano Ghizzo, também
da Arena 1. A diferença de votos pró Jercino foi de 78 sufrágios.
Nessa
eleição o empresário Lino Jovelino Costa desejava se lançar candidato a
prefeito. Afonso Ghizzo, uma das principais forças da UDN e cujo Lino sempre
foi seu fiel escudeiro, lhe deu uma rasteira lançando seu filho, Martinho
Ghizzo para candidato. Lino Costa não satisfeito à atitude de Afonso decidiu
apoiar Jercino, da ala do PSD, na Arena. A derrota de Martinho Ghizzo nesse
pleito pode ter tido participação decisiva de Lino Jovelino Costa.
A
criação de sublegendas foi outra estratégia bem sucedida do regime para neutralizar
possível ameaça da oposição à soberania do regime. Sabendo que o MDB aglutinava
membros com posições divergentes politicamente, a existência das sublegendas
permitia que, nos pleitos eleitorais, cada tendência ou facção criasse seu
próprio partido dentro do partido. Se não existisse esse dispositivo legal, o
MDB se unificaria nas convenções lançando um único candidato e com reais condições de sagrar-se vitorioso.
Em
1972, o MDB começou os preparativos para a confrontação eleitoral marcada para
o mesmo ano. O diretório municipal foi criado sendo eleito Edson da Costa
Ferreira para presidente da comissão. Concluída essa etapa iniciou-se os preparativos para a escolha dos
postulantes concorrentes aos cargos de prefeito e vice-prefeito. Os indicados da
sigla foram João da Silva, para prefeito e Edson da Costa Ferreira, para vice. Nessa eleição a quase invencível máquina eleitoreira da ARENA entrou em ação
cerceando a população à votar no candidato do partido situacionista.
O
MDB, mesmo derrotado nas urnas por Lino Jovelino Costa, seus integrantes
admitiram que o partido saiu vitorioso por ter eleito dois vereadores, Manoel
Jovelino de Souza e Maria Rita Machado, além de um suplente, Alamiro Ferreira
Matos. Nessa eleição a força da oligarquia Ghizzo teve participação, porém mais
uma vez saiu derrotada, a exemplo do pleito passado. Lino Costa se tornou a
peça chave dessa derrota. Como na eleição passada onde teve sua campanha à
prefeitura abortada, nessa, Lino novamente expõe seu desejo de ser prefeito.
Afonso
Ghizzo, sabendo que o PSD não demonstrava qualquer interesse ao nome de Lino, o
lançou assim mesmo para ser queimado pelos adversários. Essa estratégia de Afonso
era para indicar novamente o seu filho, Martinho, como candidato a
prefeito. Quando foi descoberta a
manobra de Afonso para com Lino Costa, o PSD reagiu furioso e decidiu assim
mesmo “engolir” Lino indicando-o como
candidato. Por que “engolir”? Deve-se ao fato de Lino Costa pertencer a UDN
e, principalmente, de ser Afonso, adversário de morte ao PSD.
Walter
Belinzoni, descontente com a situação manteve contato com João da Silva,
candidato do MDB, propondo apoiá-lo. No
entanto, o apoio oferecido por Belinzoni estaria condicionado, na hipótese de eleito,
de manter Celso Bertoncini, secretário da prefeitura. O candidato João negou a
proposta. Dias depois Walter Belinzoni oficializou apoio a Lino Jovelino Costa,
que venceu as eleições. A vitória de Lino Costa foi possível porque a ARENA montou
um plano de guerra para inviabilizar qualquer chance da oposição. Na época não
havia concurso público. Os funcionários da prefeitura, os contratados se davam
por indicação. Durante as eleições era comum a prática da chantagem contra os
funcionários da prefeitura, eram ameaçados de demissão se votassem contra o
candidato da situação.
As
pressões não vinham somente do paço municipal, os órgãos estaduais e federais
instalados no município, como a Secretaria da Fazenda, a Caixa Econômica e o
Banco do Brasil tinham participação
importante, apoiando candidatos da ARENA.
A Caixa Econômica, por exemplo, quando um correntista solicitava algum
empréstimo financeiro, obrigava o interessando a apresentar documento/recomendação,
assinado pelo chefe político municipal, nesse caso, o Prefeito. No dia da eleição, em cada cessão eleitoral, a
ARENA montava stands ou barracas, uma espécie de Quartel General, onde o
eleitor era cerceado e coagido a votar no candidato indicado da legenda da
ARENA.
Dois
anos após as eleições de 1972, outra disputa política aconteceu dentro do MDB
na eleição para deputados à assembléia legislativa. O partido, percebendo o bom
desempenho tido nas urnas, indicou Sílvio Silva Sobrinho para concorrer ao
cargo de deputado estadual. A vitória de
Sílvio nas urnas deu mostras do descontentamento da população ao atual regime
na condução do Estado brasileiro. No
entanto, o MDB não previa que Silvio Silva na Assembléia fosse tomar posições contrárias ao diretório
municipal, fato que provocou profundo impasse entre o deputado e integrantes da
legenda.
O
epicentro da crise foi um projeto de lei apresentado na assembléia legislativa,
que transferiria para o Grupo Freitas de Criciúma uma área pública no Morro dos
Conventos para a construção de um camping. Quando o projeto foi inserido na
pauta do dia na sessão da assembléia, o
deputado se retirou da plenária, se abstendo de votar, dando mostras de que alguma negociação havia sido amarrada com
adversário, pertencente ARENA. A própria igreja católica se posicionou contrária
ao projeto pelo fato de existir nessa área uma igreja, na qual seria transferida
para outro local caso o projeto fosse aprovado.
Findado
os quatro anos de gestão Lino Jovelino Costa, iniciaram os preparativos para um
novo pleito eleitoral. Nessa eleição as chances do MDB derrotar a ARENA era
quase que consenso entre os partidários
das sublegendas. Isso, portanto,
desencadeou entre as três facções
participantes um clima de batalha para ver quem afinal ocuparia a prefeitura. As três facções foram assim organizadas: Paulo
Cezar da Silva, do MDB 1; João da Silva, MDB 2 e Ênio Rosa de Souza, do MDB 3.
Diferente da eleição anterior quando cada sublegenda tinha seu vice, nessa, havia
somente um nome de consenso a vice, o caminhoneiro Manoel Mota.
A
derrota do MDB na eleição de 1976 ocorreu devido à crise instalada. A situação
das sublegendas se mostrava critica chegando ao limite de ter cada uma os seus
próprios fiscais durante os escrutínios. Mota, portando, diante desse
imbróglio, agiu sem sucesso, apaziguar os ânimos entre as facções. A crise que
se instalou no início do processo atingiu o caos no final quando as três alas
perceberam possibilidades reais de vitória. Terminada a apuração, as urnas
asseguraram a vitória ao candidato Salmi Paladini, da ARENA, que obteve 3.673
votos. O segundo mais votado foi o candidato da sublegenda MDB 2, João da Silva
com 2.553 votos, uma diferença de 156 votos.
Mais
uma vez a vitória da ARENA se procedeu repleta de suspeitas de irregularidades.
O poderio persuasivo dos cabos eleitorais, a condução do pleito e a contagem
dos votos deixaram dúvidas quanto à lisura do processo. Na noite anterior a
eleição, a Força e Luz, empresa distribuidora de energia elétrica para o
município, cortou fornecimento de energia aos munícipes. E qual seria o motivo?
É possível que a ação tenha sido arquitetada por membros da própria ARENA com o intuito de prejudicar um dos dois candidatos das sublegendas do partido.
A ARENA 2, Manoel Cota e Antônio Pereira, possuía reais possibilidades de
vitória sobre os candidatos da ARENA 1, Salmi Paladino e Eduvirgis Pires.
Aproveitando
o momento de instabilidade e de disputas entre as três facções do MDB, o candidato
a vice Manoel Mota se aproveitou do ensejo para construir sua base política
pensando nas eleições de 1982. Se em 1974, o MDB obteve estrondosa vitória
elegendo Sílvio Silva Sobrinho para assembleia legislativa, esse mesmo sucesso
não se repetiu em 1978. No diretório municipal do partido, João da Silva, impôs
restrição à candidatura de Sílvio por ter ele descumprido o programa do partido
quando deputado estadual. Com a rejeição
do partido, Silvio não conseguiu a reeleição à assembleia. Em resposta, abandonou
o MDB filiando-se ao PDS, postura que lhe rendeu um cargo público na Assembleia
Legislativa.
Chegando
a década de 1980, o regime militar apresentava sinais nítidos de
enfraquecimento. O processo de transição à “democracia” deu início com a
revogação do bipardidarismo por meio de uma emenda constitucional. A intenção
da emenda era clara, conter o impulso
agressivo do MDB cada vez mais
fortalecido no território nacional. Nas
eleições municipais de 1982, o MDB passou a ser PMDB e a ARENA se transformou em PDS.
A
mudança de sigla do MDB não evitou os impasses na escolha dos nomes à disputa eleitoral.
Repetindo o incidente de 1976, nas eleições de 1982 outra vez três legendas
elevaram o clima de tensão e disputas no partido. Os nomes que comporiam as três
sublegendas seriam Manoel Mota, Neri Garcia e João da Silva. Entretanto, nessa
eleição o candidato do MDB com grandes possibilidades de vitória seria Manoel
Mota. A certeza se fundamentava no seu trabalho nos quatro anos anteriores, quando
pavimentou sua popularidade junta às classes populares e no setor empresarial. Durante
os comícios e debates apresentou um discurso nacionalista, patriótico, sem
qualquer interesse no combate as causas
estruturais do subdesenvolvimento.
Para
dar mais musculatura a sua sublegenda, Mota convidou para ser seu vice, Walter
Pacheco Filho, empresário do setor moveleiro. Entre
os três candidatos do PMDB à prefeitura, João da Silva foi o único no qual
apresentou plano de governo com diretrizes das quais destacavam a participação
popular no governo e o reformismo econômico. O PDS, no entanto, entrou na
disputa indicando o empresário Manoel Costa como candidato. Uma profunda crise
se abateu sobre o PDS quando Manoel Costa teve sua candidatura cassada pela
justiça. A cassação aconteceu mediada pela facção de João da Silva, que protocolou
no fórum ação pedindo de impugnação da candidatura de Manoel Costa a prefeito
por indícios de irregularidades.
A
anomalia se deu no seu registro de filiação, onde não apresentava estar filiado
a nenhum partido. Conforme descreveu João da Silva em seus livro A Saga de João dos Pintos, Manoel Costa e
outros da Arena acreditavam que podiam tudo, atém disputar uma eleição sem
filiação partidária. Em conversa com a filha de Manoel Costa, a mesma relatou
que seu pai a exemplo de outros, estavam
filiados ao PP e se transferiram para o PDS. No entanto, quando se lançou
candidato não prestou a atenção nesse detalhe, conferir seu registro de
filiação. O que gerou revolta ao grupo de João foi à
recusa de integrantes das demais legendas do MDB em assinar o documento de
impugnação.
Mesmo
com a recusa, o processo foi protocolado no Fórum da comarca de Araranguá e
julgado improcedente. Não satisfeito, o grupo recorreu à segunda instância, o
TRE, que também negou a ação.
Insatisfeito com a decisão do tribunal, João da Silva não recuou e encaminhou o
pedido de impugnação ao Supremo Tribunal Federal. Faltando trinta dias para as eleições o TSE
julgou o processo, cassando as candidaturas de Manoel Costa e Mariano Mazzuco.
Vinte
dias antes da realização do pleito municipal, o PDS decidiu que a vaga deixada
por Manoel Costa seria ocupada por sua filha, Jucélia Costa, tendo como
candidato a vice, Ernesto Grechi Filho. Indignados com a postura de João da
Silva, setores do PDS promoveram campanha instruindo os filiados e
simpatizantes do partido para votarem no candidato Manoel Mota. A intenção
dessa decisão era minar qualquer possibilidade de vitória de João da Silva à
prefeitura.
Terminada
as votações e o escrutínio dos votos,
aconteceu o que muitos previam, a
vitória de Manoel Mota para prefeito de Araranguá. Mesmo com a confusão que se
abateu sobre o PDS, onde as pressas convidou Jucélia Costa para a vaga de seu pai,
o resultado final mostrou que a
candidata teve boa aceitação na sociedade. No cargo de
prefeito, Manoel Mota iniciou seu governo indicando nomes para o secretariado e
demais postos na administração.
Nessa
eleição o PMDB se saiu vitorioso no executivo e no legislativo. Das 13 cadeiras
na câmara municipal, o partido
conquistou 7. Essa superioridade numérica garantiria ao prefeito chances de sucesso
nas votações de projetos de interesse do partido. As divergências envolvendo o
governo de Manoel Mota e o grupo de João da Silva foi amenizada em 1984. Esse
armistício ocorreu no instante em que o prefeito distribuiu cargos aos integrantes de João da Silva. Para ocupar a pasta da secretaria da saúde o nome escolhido foi Adeliana
Dal Pont. Para a agricultura, João da Silva foi o nome indicado. Outros nomes da facção também foram contemplados,
Godofredo Salvador, para a Procuradoria Geral do Município e Luiz Antônio Ramos
para Diretor da Câmara dos Vereadores.
É
importante destacar que a inserção desses nomes na administração do PMDB, mudou
significativamente o panorama administrativo do paço municipal. A alocação de
postos de saúde nos bairros do município e roteiros semanais de médicos,
fazendo um trabalho de conscientização de hábitos de saúde das famílias
carentes, traduziu os princípios descritos no estatuto de fundação do PMDB, que
foi negligenciado pelas demais tendências dentro do partido.
Outro
programa pioneiro na administração e conduzido por João da Silva foram as feiras livres nos
bairros da cidade. Esse programa oportunizou os pequenos agricultores a comercializarem
seus produtos diretamente com os consumidores. O grupo do João na administração
de Mota contribuiu também para reorientar os rumos do governo com a comunidade.
Semanalmente passaram ocorreram reuniões nas comunidades, onde a população tinha
oportunidade de expressar suas angústias e demandas.
Quando
tudo parecia estar se equilibrando entre as forças antagônicas no PMDB, subitamente
em 1986 uma reviravolta aconteceu na administração, mudando toda a dinâmica de
trabalho em curso. A debandada do grupo do João da administração foi decorrente
das pressões advindas dos aliados a sublegenda de Mota. Durante a campanha eleitoral, o apoio dos
partidários à candidatura de Mota se pautou em acordos eleitoreiros, ou seja,
apoiar em troca de algum benefício. Embora
o grupo do João tenha participado da administração por pouco tempo, os
programas dos quais desenvolveram no município foram embasados em suas crenças partidárias.
As
tensões no PMDB não ocorreram apenas no âmbito eleitoral. As disputas e puxadas
de tapetes aconteciam no diretório do
partido. Em 1986, mobilizações se sucederam para a eleição dos conselheiros e
presidente do diretório, cuja nominata era composta por 45 nomes. João da Silva
se lançou candidato a presidente. O grupo contrário a João não assimilou a
ideia de tê-lo como presidente, queriam que fosse Neri Garcia.
Na
votação, o grupo de Neri percebendo
pequena chance de vitória, adotaram uma
saída inusitada para tentar vencer, alugaram um avião e foram buscar um de seus
conselheiros, Igínio Orestes do Canto, que estava hospitalizado em Porto
Alegre. Terminada a votação, o resultado
apresentou empate. Por ser João da Silva três meses mais velho que o oponente
Neri Garcia, a vaga de presidente ficou para João.
O
fim da gestão de Manoel Mota foi alvo de denúncias de irregularidades. Dentre as
denúncias, a mais contundente era a existência de uma legião de funcionários
fantasmas na prefeitura, pessoas que recebiam proventos sem prestar serviço
público. Essa prática clientelista era comum na época e ainda hoje em muitos municípios
brasileiros. Apoiadores ou cabo eleitorais assumiam a tarefa de arrebanhar votos
para certo candidato, que quando eleito retribuíam tal gentileza acomodando
seus indicados no paço municipal.
Faltando
pouco tempo para o fim do mandato, Manoel Mota sancionou uma lei que
reajustaria os salários dos servidores públicos. Entretanto, embora tendo sido
homologada a lei, Mota se eximiu de
cumpri-la fato que contribuiu ainda mais para o seu enfraquecimento político.
Porém, mesmo assim o partido se articulou com intuito de permanecer no paço
municipal. João da Silva costurou com as alas do partido proposta de unificação
visando a eleição de 1988.
A
idéia era lançar Neri Garcia como candidato a prefeito e Valmor Marcelino, para
vice. Martinho Ghuizzo se posicionou
contrário a proposta de João. No dia seguinte à negociação, prazo final para
homologação das chapas, João da Silve e demais membros de sua ala foram
surpreendidos com registro da chapa com os nomes de Neri Garcia e Paulo Cesar
Maciel, deixando de fora Valmor Marcelino.
A
atitude do grupo soou como golpe político contra João e seu grupo. PMDB de
franco favorito reacende as esperanças de vitória do PDS. João não participou
do pleito se eximindo até de apoiar e fazer campanha ao candidato Neri Garcia. Decidiu
canalizar os esforços na eleição para vereador de um dos seus principais
aliados, Manoel Serafim de Matos, que foi eleito com 602 votos. Apurado os
votos, Antônio Eduardo Guiso sagrou-se vitorioso com 58 votos a mais que Neri
Garcia.
O
PMDB acusou João da Silva como um dos principais responsáveis pela perda da
prefeitura naquela eleição. Jorge Beira, Luiz Bertoncini e Adilson Campos
comandaram uma tentativa de agressão contra João em frente ao Ginásio da AABB,
onde os votos foram escrutinados. Naquela ocasião João da Silva foi exonerado do
cargo que ocupava na CIDASC por Casildo Maldaner, governador do estado pelo
PMDB.
Não
havia dúvida que qualquer um dos candidatos que vencessem a eleição teria pela
frente um abacaxi para descascar, cumprir ou não a lei do reajuste. O que fez
Dau no instante que assumiu o posto de prefeito foi revogar a lei de reajuste
salarial. Tal atitude resultou em ação judicial impetrada pelo advogado dos
servidores. Mais uma vez o PMDB se configura como partido favorito às eleições
de 1992. Antônio Eduardo Ghizzo apoiou Mariano Mazzuco, do PDS, e o PMDB mais
uma vez lança Neri Francisco Garcia.
Findada
a votação, as urnas confirmaram a vitória de Neri Garcia para prefeito de
Ararangua quadriênio 1993 a 1997. Era de se esperar que o programa de governo
de Neri não se diferenciaria do seu principal aliado e ex-prefeito Manoel Mota.
Durante seu governo esteve envolvido em uma série de problemas como dos
reajustes dos servidores e o pagamento de precatórios. Como era de praxe na
gestão de Mota, empurrou com a barriga essas questões para administrações
seguintes.
As
eleições de 1996 se aproximam e dá início a movimentação das peças do tabuleiro
político local. Novos partidos se credenciam à participar do pleito, como o PT
e o PDT. As expectativas agora era como ficaria o quadro de partidos e alianças
das disputas? O clima no PMDB era de otimismo, pois acreditavam haver
possibilidades de vitória do sucessor de Neri. O indicado para concorrer à vaga
de prefeito foi Manoel Mota, para seu vice foi escolhido Manoel Costa, do PFL.
O
que o PMDB não imaginava era a decisão de Primo Menegalli sair como candidato a
prefeito nessa eleição. Na campanha anterior, Menegalli prestou apoio ao
candidato Neri Garcia, que foi vitorioso. Concluída as convenções o quadro
partidário e de alianças ficou assim definido. Primo Menegalli, do PSDB, sai
como candidato a prefeito e o vice ficou para o PPB, antigo PDS. Fechada as
urnas e apurando os votos, Mengalli é eleito prefeito com uma expressiva
diferença do candidato do PMDB. 3.700 votos.
Depois
da derrota acachapante do PMDB nas eleições de 1992, o partido jamais conseguiu
repetir o sucesso de pleitos passados. A grande oportunidade frustrada do
partido aconteceu nas eleições de 2012, quando o candidato a prefeito Cesar
Cesa ficou em segundo lugar na disputa com Sandro Roberto Maciel, do PT, que se
sagrou prefeito. Finalmente, o partido recupera
sua hegemonia a frente do executivo municipal, com Vitória do candidato Cesar
Cesa no pleito de 2020. Portanto agora é esperar e torcer que o partido não
repita erros crassos praticados no passado, como transformar o paço municipal
em uma espécie de balcão de negócios, favorecendo correligionários, o chamado
toma lá dá cá.
Prof.
Jairo Cezar
http://apps.tre-sc.jus.br/she/pages/consulta/localidades_atuais_listar.jsf
SILVA, João. A saga de João dos Pintos:
uma história política de Araranguá dos últimos 40 anos. Araranguá: Orion
Editora, 2006.
RAMOS, Luiz Antônio. O MDB/PMDB em
Araranguá: 1972-1988: a militância em questão.