BREVES REFLEXOS SOBRE O PLEITO
ELEITORAL MUNICIPAL DE 2020, NO BRASIL, SANTA CATARINA E SUL DO ESTADO
Os
resultados das urnas das eleições do dia 15 de novembro de 2020 revelaram
avanço de nove partidos em 97% dos 5.570 municípios brasileiros. São eles PSD, DEM, PP, PSL, AVANTE,
SOLIDARIEDADE, PSC, PATRIOTAS, REPUBLICANOS, PTB, PROS. São partidos que
integram o Centrão, base de sustentação do governo Bolsonaro no congresso
nacional. Somente o PSL, em quatro anos
passou de 30 para 90 prefeituras; o Avante saiu de 15 para 80 prefeituras; o
Republicano dobrou, de 104 para 208; o Democrata cresceu 72%, de 265 pulou para
465; o solidariedade cresceu 47% e o Patriota 45%.
Se
buscarmos o histórico da cada legenda que teve crescimento, notaremos que quase
todas ou todas têm alguma conexão com partidos constituídos após o regime
militar, tendo seus membros participação nos governos militares. Siglas como PSD, DEM, PP, são crias da antiga
UDN, que migraram para a ARENA e, na década de 1980, se dissolveram em siglas
novas como PDS, PFL, PPB, PSDB. Hoje, no congresso nacional, em todas as
assembleias legislativas e câmaras municipais, o grupo do Centrão tem inúmeras
cadeiras ocupadas por deputados e vereadores que participaram de votações pouco
ou nada favoráveis as classes menos favorecidas.
Entretanto,
paradoxalmente, são as classes mais desassistidas que foram ou são decisivas no
quadro político-partidário dessas casas legislativas. Se mensurarmos os partidos que atuaram nas
principais votações de projetos de interesse dos trabalhadores, como a Reforma
Trabalhista e a Previdenciária, os partidos do Centrão foram decisivos no
resultados. O que foi surreal foi a
baixa preferência dos eleitores brasileiros prejudicados pelas reformas, às
siglas com pouca representatividade no congresso e que mais resistiram aos
ataques das legendas neoliberais, destruidoras direitos constitucionais.
O
PT, o PSol, PCdoB, foram os que mais pautaram as brigas no congresso contra uma
alcateia de lobos vestidos de ovelhas, parlamentares representantes de bancadas
como do agronegócio, da bala, da bíblia, etc. Essas siglas tiveram nessa eleição desempenhos pífios no
Brasil inteiro. O PT, de 600 prefeituras conquistadas em 2012, baixou para 400
em 2016 e caiu vertiginosamente em 2020, com apenas 249. Em Santa Catarina,
estado em que o PT foi vitorioso em eleições passadas como Chapecó, Blumenau,
Criciúma, entre outras, em 2021 governará somente 11 municípios dos 295
catarinenses. O número de vereadores eleitos do PT no estado baixou de 204 em
2016 para 158 em 2020. Observando o mapa
eleitoral catarinense, o PT ficou reduzindo a pequenos enclaves de municípios
do oeste e extremo oeste do estado.
São
regiões com históricos de lutas e resistência de trabalhadores do campo contra
poderosas forças do agronegócio. Não é
por acaso que o MST tem o estado de Santa Catarina como um dos estados do sul
onde germinou o movimento. Um dos Berços do movimento foi à cidade de Campo
Erê, onde houve as primeiras ocupações de terras. O resultado da eleição do
último dia 15 onde elegeu uma prefeita do PT, certamente deve ser reflexo da
luta dos trabalhadores rurais por direito a terra. Outra cidade catarinense que
protagonizou ações importantes do MST há quase quarenta anos foi Abelardo Luz.
Foi lá que mais de 2000 famílias ocuparam
terras improdutivas. Nessa cidade o PT
também mostrou sua força nas urnas. Dos nove vereadores que irão compor a câmara
do município, quatro pertencem ao partido dos trabalhadores. O PT também teve
destaque em outra cidade cujo MST fincou seus alicerces no sul, a cidade de
Ronda Alta, no Rio Grande do Sul. Embora não tenha tido sorte com a vaga de
prefeito, quatro foram os vereadores escolhidos para compor as nove cadeias do
legislativo.
No sul do estado, o PT que administrou
municípios como Criciúma, Araranguá e Jacinto Machado e com dezenas de
vereadores, o único município que conseguiu ter um representante na câmara foi
Araranguá. O modo como o partido atuou
nessa eleição no município, costurando aliança com o PP e outras forças
conservadoras, ninguém se espante na hipótese do partido barganhar algum cargo
com o MDB, partido vitorioso no pleito. Essa tendência poderá se confirmar
levando em consideração o resultado do pleito municipal, que deu ampla margem
de poder na câmara à coligação vencedora. PDT e PT, que juntos somam três
cadeiras poderão ser convidados a assumirem cargos de primeiro ou segundo
escalão no executivo em troca de apoio no legislativo.
O
PSol vem se configurando como alternativa às esquerdas nacionais. O resultado
das urnas em todo o país, alguns ainda não definidas como na cidade de São
Paulo que, surpreendentemente, levou para o segundo turno o candidato do PSol,
Guilherme Boulos, poderá marcar posição como virtual nome capaz de peitar com possibilidade
de desbancar em 2022 as forças conservadores e ultraconservadoras que dominam o
cenário político brasileiro. Em escala mais geral, o PSol foi vitorioso, pulou
de prefeituras para quatro prefeituras em todo o território nacional.
É
pouco, porém, analisando o contexto político ultraconservador que dominou o
país, os resultados deram mostras que permanecendo o cenário de depreciação da
vida dos trabalhadores, poderá haver uma guinada à esquerda nas próximas eleições.
Argentina, Bolívia são exemplos de nações cujo povo derrotou candidatos com
pautas neoliberais. O estado de Santa
Catarina, considerado um dos berços do bolsonarismo raivoso, o PSol teve discreto
resultado nas urnas, mas marcou posição e expectativa de crescimento, a exemplo
de Araranguá, com a candidatura de um professor universitário, Felipe Damásio.
Foram
mais de 500 votos conquistados. É bastante se tratando de município com
histórico de poderio das oligarquias e mais de 70% de votos para Bolsonaro em
2018. Analisando o cenário eleitoral da AMESC, os resultados comprovam o quão
forte ainda são as siglas partidárias tradicionais. A paixão e a profunda despolitização da
população revelaram que a região poderá viver por mais tempo à condição de uma
das regiões mais atrasadas economicamente e socialmente do estado. Nos quinze
municípios, todos os prefeitos eleitos, os partidos dos quais integram, compõem
o Centrão, força política pró-bolsonaro no congresso nacional.
Essa
realidade também se confirmou em âmbito estadual. Somando todos os municípios,
o MDB, PP, PSD, PSDB, PL, PSL, ambos somaram juntos 262 das 295 prefeituras que
administrarão a partir de 2021. Seguindo as plataformas e diretrizes dos
comandos nacionais de cada um desses partidos, é quase inimaginável haver
infidelidade dos gestores municipais às pautas de Estado mínimo. Outro dado revelador.
Foi percebido nessa eleição que os municípios mais fragilizados economicamente
e culturalmente houve o crescimento de legendas partidárias de extrema direita.
O PSL é um exemplo. No Brasil, o PSL, que levou a vitória do
ultradireitista Bolsonaro, em quatro anos o partido pulou de 30 para 90
prefeituras, todos pequenos e médios municípios com população inferior a 200
mil habitantes. Em santa Catarina, nesse pleito o PSL obteve 13 prefeituras. Já
no extremo sul, no município de Balneário Arroio do Silva, o PSL conquistou a
prefeitura e mais cinco das nove cadeiras da Câmara. Como explicar esse
fenômeno eleitoral num município tão pequeno e carente?
Prof.
Jairo Cezar
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