segunda-feira, 25 de setembro de 2023

 

CLIMATOLOGISTA DA EPAGRI-CIRAM MARCIO SÔNEGO PROFERE NA UFSC/ARARANGUÁ,  PALESTRA SOBRE MUDANÇAS CLIMATICAS E SEUS IMPACTOS NO SUL DE SANTA CATARINA

Foto - Jairo

O curso de Engenharia de Energia da UFSC/ ARARANGUÁ, realizou entre os dias 20 e 21 de setembro último o IV SIMPPGES, com o tema Energia e Mudanças Climáticas. Dos palestrantes convidados o destaque foi o Prof. Dr. Marcio Sonego, Climatologista da EPAGGRI/CIRAM, que abordou o tema Climatologia com Aplicação para Santa Catarina. Quem conhece o prof. Marcio, sabe da sua competência nessa área, com previsões que sempre demonstraram extrema confiabilidade. Não havia como não deixar de assistir sua palestre, sobretudo agora quando se sabe que o clima global passa por uma profunda turbulência, agravada por dois fenômenos distintos o aquecimento exorbitante do planeta e o EL NIÑO.

Para compreender esse processo e seus reflexos na dinâmica planetária global, no Brasil e no estado de Santa Catarina, o professor discorreu de forma didática a simbiose envolvendo o sol e o planeta terra. Afirmou que não é o núcleo da terra, camada mais quente, que influencia diretamente o clima global, mas o sol como fonte geradora de energia. Toda essa complexidade envolvendo o planeta, as áreas geladas, temperadas, tropicais, desérticas, entre outras particularidades, ambas estão condicionadas ao processo de translação da terra, as latitudes, as altitudes, vegetação, etc.

Incrível que parece, o planeta terra está lentamente se resfriando. Claro que uma argumentação afirmativa como essa poderá ser passiva de criticas por quem não acompanha a trajetória cíclica do planeta terra nos seus cinco bilhões de anos de existência. Não há como entender a dinâmica geológica e climática da terra usando como parâmetro o tempo de vida de espécies como o ser humano. É preciso trabalhar com ciclos cronológicos longos, de milhares ou milhões de anos.

Foto - Jairo

 

Observando o gráfico acima é possível observar a temperatura do planeta terra nos últimos 420 mil anos. Nesse intervalo, o planeta já passou por vários aquecimentos globais, com duração de cem a cento e cinquenta mil anos. Nota-se que no final do gráfico, depois de um período de resfriamento, novamente a terra tende a aquecer, tendo agora dois agravantes que estão ajudando a bagunçar o clima, que são as emissões de gases do efeito estufa e o EL NIÑO.

Desses dois o destaque é o segundo, o EL NIÑO, que se faz presente de tempo em tempo, alimentado pelo aquecimento das águas do Pacifico Equatorial, abordado com ênfase pelo climatologista Marcio Sônego. Normalmente as águas do pacifico ficam em média 0,5 graus mais quentes durante esse ciclo. Esse fenômeno deixa o clima do planeta mais quente e chuvoso nas extremidades sul do planeta, a exemplo do sul do Brasil, ficando o nordeste e o norte do país mais seco. Para o sul do Brasil, o EL NINO favorece as culturas tropicais, destacando o arroz, milho, banana, maracujá, etc. Por outro lado, culturas temperadas como pêssego, maçã, ameixa, entre outras, são afetadas pela pouca friagem.

Outras peculiaridades acerca do clima em Santa Catarina são as suas duas classificações, subtropical e subtropical de altitude. A temperatura a cada mil metros de altitude tem redução de 6 graus centigrados  em média em relação aos municípios de  Araranguá/Criciúma. Nesse caso o exemplo é São Joaquim, localizado no planalto a 1200 metros de altitude aproximadamente. As temperaturas do litoral do estado são fortemente influenciadas por duas correntes marítimas, a corrente das Malvinas, destacando-se no inverno, e do Brasil, com maior incidência no verão. Com a tendência de EL NINO mais frequentes no futuro a Amazônia pode perder sua exuberância de grande floresta tropical.

Isso porque o fluxo de chuvas naquele bioma depende dos fluxos de umidade vindos do Maranhão, Pará, que tenderá a diminuir progressivamente. Bem diferente do sul do Brasil que tenderá a ter temperaturas médias mais altas e chuvas mais intensas. Essa mudança já está sendo observada na atividade agrícola, onde áreas até então não cultivadas com banana, terras de planícies, por exemplo, já ocupam vasta extensão. A imagem abaixo do mapa do estado e bem ilustrativo. A Cor vermelha são os espaços a serem ocupados por culturas temperadas, como a maça, áreas cada vez mais reduzidas devido ao calor. Já em amarelo são as espécies tropicais com destaque a bananicultura em forte expansão.

Foto - Jairo

 

Já é perceptível a redução progressiva da incidência de geadas no estado. O mapa abaixo dá uma noção dessa certeza. De 1974 até o ano 2000 houve fracas oscilações, predominando invernos mais frios com incidências de geadas. Entretanto, a partir dessa data as oscilações foram diminuindo prevalecendo, portanto, invernos mais quentes e com poucas geadas. De acordo com o meteorologista, no invento de 2023 houve uma fraca geada no dia 28 de agosto, na região de Belvedere, nas imediações do pé da serra, município de Urussanga.

Em 1955, os termômetros registraram na região de Criciúma -4.5º. O frio foi tão intenso que fez nevar no topo do Morro Cechinel, área central de Criciúma. Em um processo de aquecimento, há chances enormes de ocorrência de ondas violentas de frio, com temperaturas similares ou até maiores que a registrada em 1955. Claro que esses episódios têm de ser considerados como exceção e não regra.  A última grande incidência de geadas ocorridas na região foi em 1987 quando houve o registro de 14 incidências. No ano 2000 foram oito ocorrências de geadas. Dessa data em diante são cada vez mais raras esse fenômeno meteorológico. O segundo mapa à direita pode-se observar a tendência de aumento da temperatura mínima absoluta. Se há a elevação da temperatura, a conseqüência disso será a existência de invernos cada vez mais quentes e a ausência de geadas.      

Foto - Jairo

Foto - Jairo

Em 1974 foi criada em Urussanga a estação meteorológica experimental, com a instalação de equipamentos para monitorar o tempo na região. Dentre os aparelhos instalados havia o pluviômetro cuja coleta de dados era realizado manualmente três vezes ao dia. Em 2017 o governo federal desativou o sistema instalando no lugar equipamentos automáticos. Relatou que a automatização de estações tem lá suas vantagens, porém, ambas são passivas de sofrerem alguma pane, perdendo ou deixando de registrar informações importantes. Disse que na ocasião do Furacão Catarina, 2004, o anemômetro, aparelho para medir a velocidade do vento não estava funcionando. Portanto não se sabe com precisão qual foi a velocidade real s ventos durante aquele episódio extremo na região.

Comentou que além das duas estações instaladas no município de Araranguá, existe uma terceira, sobre a plataforma de pesca no balneário Arroio do Silva. O problema é que a mesma não está funcionando devido a problemas técnicos. Esses equipamentos são importantes também para as seguradoras em ocasiões de vendavais causadores de avarias em lavouras e residências. As informações coletadas sobre velocidades de ventos podem ajudar na hora do indivíduo afetado requerer o seguro. Em relação às temperaturas mínimas registradas pela estação meteorológica de Urussanga nos últimos 92 anos, observando o mapa abaixo o que se constata é o gradual e progressivo aumento das mínimas, ou seja, a região está ficando mais quente a cada ano.     

Foto - Jairo

Nos noventa e oito anos de medições das temperaturas realizadas pela estação meteorológicas de Urussanga, foram registradas as temperaturas máximas absolutas que incidiram sobre a região durante os doze meses do ano. O que chama atenção nesse gráfico é o recorde de temperatura máxima quebrado no mês de setembro, dia 18/09/2023, alcançando 40,4°. Esse recorde não se limitou apenas no sul do Estado no mês de setembro, o mês de agosto foi também considerado o mais quente já registrado no hemisfério norte. Em duas ocasiões os termômetros registram as maiores temperaturas médias históricas.

Foto - Jairo

Quanto às chuvas que precipitam sobre o estado catarinense, o fator frente fria tem forte influência na maior ou menor incidência de precipitações. Pelas características do relevo, atravessada de norte a sul por uma serra geral, com elevação que vai de 0 metro, no litoral, a mais ou menos 1300 metros, ponto mais alto, com caimento até 200 metros até a extremidade oeste do estado, esse tipo de relevo influencia no deslocamento das frentes frias sobre a região, tanto de oeste para leste, como ao contrário. A maior incidência de chuvas no litoral ocorre quando as frentes frias se deslocam pelo oceano, com formação dos ciclones.

Quando as mesmas atingem o litoral, tem a frente a serra geral servindo de barreira, fazendo com que chova mais aqui que no planalto e demais regiões do estado. O inverso também é verdadeiro. Frentes frias oriundas do oeste do estado tende a fazer chover menos no litoral, especialmente no litoral sul. O fato é que a serra geral tem forte influência em relação aos índices pluviométricos. No litoral as precipitações médias anuais não ultrapassam os 1200 mm e 1300 mm, menores que nos municípios situados ao pé da serra, como Timbé do Sul, cujas médias de chuvas podem superar os 1900 mm. Entretanto, em termos de maiores precipitações médias anuais, a região da serra do mar que congrega os municípios de Garuva, Joinville, chove próximo a 3000 mm.

Prof. Jairo Cesa

    

 

 

 

 

 

 

domingo, 17 de setembro de 2023

 COM EL NIÑO MAIS FORTE, ASSOCIADO AO AQUECIMENTO GLOBAL, OS CICLONES ESTÃO SE TORNANDO DEVASTADORES NO SUL DO BRASIL

https://blogdopedlowski.com/2023/09/12/saiba-por-que-o-sul-do-brasil-e-mais-suscetivel-a-ocorrencia-de-ciclones-extratropicais/


Em janeiro de 2022 escrevi e publiquei no meu Blog texto com o seguinte título: A TRAGÉDIA EM CAPITÓLIO, MG PODE ACONTECER NOS PAREDÕES DO MORRO DOS CONVENTOS, ARARANGUÁ.[1] Nesse intervalo de quase dois anos ocorreram sim episódios comparados ao de minas gerais, porém, não exatamente no balneário, mas em regiões vizinhas, onde chuvas torrenciais causaram transtornos, com custos milionários para a reconstrução da infraestrutura. O que chamou a atenção dos meteorologistas foi o fato de ter sido o município de Praia Grande/SC, um dos mais impactados pelos ciclones extratopicais que se abateram sobre a região.[2]

Lembro que em 1995, na terrível catástrofe que destruiu parte do município de Timbé do Sul/SC, que é vizinho de Praia Grande/SC, em visita realizada à área assolada, acompanhado de integrantes da Ong Sócios da Natureza e de pesquisadores da Europa e do Brasil, ambos foram consensuais em afirmar que os municípios da encosta da serra estavam mais suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas que estava em curso naquele momento.   

Veio o furacão Catarina dez anos depois da catástrofe do Timbé do Sul, o primeiro do hemisfério sul com ventos que superaram os 150 km.  Esse episódio, sim, abriu discussões mais consistentes e consensos de que o Brasil seria um dos mais afetados pelas mudanças climáticas. Desde a década de 1980 o Brasil vem protagonizando eventos importantes para tratar desse assunto o mais relevante foi a ECO-92, no RJ. Um enorme pacote de promessas foi elencado, no entanto teve pouca eficácia na mitigação dos impactos provocados pela atividade econômica predatória que dominou e domina o cenário global.

Dessa data em diante ocorreram até o momento cerca de trinta COP (Encontro das Partes sobre o Clima), evento promovido pela ONU que reúne mais de uma centena de países para tratar medidas que possam conter o aquecimento global. Incrível que depois de tantas reuniões, assinaturas de protocolos de intenções de ambos os lados, com gastos milionários, o planeta permaneceu aquecendo assustadoramente chegando em junho de 2023 ter batido dois recordes de temperaturas médias mais quentes já registradas.

A verdade é que o aquecimento global influencia diretamente nas regiões polares aumento o derretimento e a elevação dos níveis dos oceanos. Outro reflexo constatado é o aumento das temperaturas das águas, servindo de combustíveis para a formação de furacões e ciclones extratropicais devastadores, a exemplo dos ciclones bombas que passaram a virar rotina no sul do Brasil. Não há como duvidar que o planeta esteja aquecendo e que parte dessa transformação tem relação com o modo como o ser humano vem agindo nele.

Ainda hoje muitos gestores públicos e demais autoridades vem atuando contra ou até mesmo desdenhando pesquisas e relatórios apresentados por pesquisadores do mundo inteiro que confirmam já estar o planeta no seu nível máximo de saturação climática. O que aconteceu recentemente no RS quando um forte ciclone provocou estragos e mortes, traz algumas reflexões sobre atitudes negacionistas à ciência meteorológica, por exemplo. Em qualquer parte do mundo, por exemplo, os Estados Unidos, a um sinal da chegada de um furacão ou outro episódio extremo do clima, toda a população rapidamente sabe o que fazer, fecham suas casas e procuram áreas mais seguras para se protegerem.

Para atingir esse ponto de mobilização não há duvida que governos e organizações científicas galgaram certa confiabilidade junto à população. Bem diferente do que foi trabalhado nos quatro anos de governo Bolsonaro, onde o que mais se fez foi atacar as universidades e demais entidades cientificas, como se tudo que acontecesse no mundo fosse guiado por forças sobrenaturais (“Deus acima de Tudo”). É preciso, urgentemente, tornar hábito nas escolas discussões de temas como furacões, ciclones, tornados, tempestades, precipitações, erosões, deslizamentos, etc. Trabalhar com estudantes, do nível infantil ao médio, esses e outros assuntos relativos ao clima global e seus impactos locais se mostram obrigatórios como caminhos para minimizar perdas humanas no futuro.

Além do mais nos municípios os atuais e futuros planos diretores devem constar proposições que doem relevância às ações de contingenciamentos às intempéries extremas do tempo. Todos os projetos de infraestrutura em especial os de interesse público deverão passar por crivos rígidos de análises, considerando principalmente o aspecto mudança climática e seus efeitos. O município de Araranguá, nos últimos dois anos vários projetos de infraestrutura turística foram e estão sendo executado nos seu principal balneário. Não se tem notícia de ter havido discussões no sentido climático.

Dentre os que chamam atenção está o mirante, construído nas bordas da paleofalésia, extremidade sul, nas imediações do farol. Por que chama atenção esse empreendimento? Antes da sua construção, grupos de estudantes acompanhados de geólogo de uma universidade do RS constataram a existência de fissuras em expansão abaixo da obra do mirante. Para situações desse tipo é recomendado fazer estudos mais consistentes, como de batimetria, onde se verificará as estruturas das rochas, se há ou não alguma instabilidade.   Não tenho informação se tal ou outro estudo similar foi realizado para garantir toda a segurança aqueles que transitam pela passarela do mirante.

Integrado ao projeto do mirante está a revitalização da Rua Criciúma, com a construção da calçada. Dezenas de árvores foram suprimidas em todo o trecho para dar lugar a o passeio. Para evitar que a água da chuva se acumule sobre a estrada, inúmeras bocas de lobos foram construídas com desague no paredão do morro. O que tem de grave nessas estruturas em relação aos escoamentos de água? Para áreas urbanas, nem tanto, mas em se tratando de borda de morro, como no balneário, os problemas são bem graves.

Por se tratar de rochas sedimentares da formação rio do rastro todo o paredão passa por processo de desgastes permanentes. Quem já caminhou pelas trilhas na extensão da base da paleofalésia deve ter observado a quantidade de fragmentos de rochas desprendidas das paredes e depositadas no fundo. Há duas semanas fortes chuvas se abateram sobre o balneário Morro dos Conventos e região. Nas proximidades da furna ocorreu um forte desprendimento de terra, rocha e vegetação, que se depositou sobre o lago ali existente. Poderia ter sido o acontecimento normal haja vista ser o local propício para tal acontecimento.

Foto-Jairo


Foto - Jairo

            Na visão de geógrafos, geólogos ou profissionais de áreas afins, existiu ali um elemento motivador que acelerou o processo erosivo, as bocas de lobos. Bem onde houve o deslizamento, no seu topo existe uma dessas estruturas construídas há pouco tempo. Com grande volume de chuva precipitada se formaram verdadeiras cascatas no paredão. A força da água, portanto, que pode ter contribuído para o deslizamento. Há previsões de que o EL NIÑO alcançará o seu pico máximo em dezembro, se estendendo até outubro de 2024. Se as previsões se confirmarem teremos índices pluviométricos muitos superiores aos já precipitados, isso na região sul do Brasil.

E por que os meteorologistas estão confiantes em relação a essas previsões? Um dos fatores preponderantes é a temperatura do oceano atlântico que se apresenta bem mais quente no EL NIÑO passado. Com esse combustível a mais os ciclones vão se apresentar mais violentos e devastadores. O Morro dos Conventos, por estar próximo do oceano, tem chovido mais que em outros pontos do município onde estão instaladas estações meteorológicas. No mês de agosto último estudantes da E.E Fundamental Padre Antônio Luís Dias, do Morro dos Conventos, apresentaram pesquisa em feira cientifica abordando o tema precipitações pluviométricas no bairro onde moram.

Foram instalados quatro pluviômetros em pontos distintos do bairro, que por sete meses monitoraram os equipamentos.  A conclusão que se chegou foi que o pluviômetro instalado na parte alta do bairro, nas proximidades do farol, recebeu precipitações bem superiores aos demais pontos analisados. Quanto a isso as estudantes pesquisadoras levantaram algumas hipóteses quem podem estar influenciando o maior volume de chuvas nesse ponto específico do balneário. Segundo elas, a altitude, a proximidade do mar com águas mais quentes são alguns elementos motivadores. Concluíram também que o aquecimento global já é uma realidade e que Araranguá terá sérios impactos na sua geografia.

Prof. Jairo Cesa              

           



terça-feira, 12 de setembro de 2023

 

LIÇÕES QUE DEVEMOS TIRAR DAS CATÁSTROFES CLIMÁTICAS OCORRIDAS NO RIO GRANDE DO SUL  E SANTA CATARINA. 

https://epocanegocios.globo.com/economia/noticia/2023/09/ciclone-no-rs-governo-federal-anuncia-repasse-de-r-741-mi-para-areas-afetadas.ghtml



Os fatos já confirmam que 2023 o planeta terra bateu dois recordes de temperaturas médias mais quentes registradas em toda a história. No verão do hemisfério norte os termômetros oscilaram temperaturas que superaram os quarenta graus por semanas. Episódios extremos do clima como as elevadas temperaturas e outras catástrofes já vinham sendo previstas por organizações ligadas ao clima e as COPs (Conferências sobre o Clima) se medidas voltadas a redução das emissões de gases poluentes não fossem executadas imediatamente.

Os incêndios que devastaram o território canadense, parte da Europa, Austrália e outras regiões do planeta são demonstrações claras de que o planeta terra chegou ao seu limite máximo de saturação climática. A queima de combustíveis fósseis, os desmatamentos e a agricultura predatória estão entre os fatores responsáveis por todo esse desarranjo climático que avassala o planeta e acendendo a luz amarela sobre nossa existência nele. De fato existe agora um ingrediente amargo adicionado a todo esse destempero climático global, o EL NIÑO. De acordo com especialistas, o EL NIÑO, seu ciclo se mostra mais agressivo que os anteriores, isso pelo fato de estarem às águas do oceano pacífico equatorial mais quentes que em outras ocasiões.

Existe consenso entre os meteorologistas que as temperaturas escaldantes ocorridas no verão do hemisfério norte serão repetidas também no verão do hemisfério sul. Nesse inverno, o território brasileiro foi palco de mais de uma dezena de catástrofes provocadas por chuvas torrenciais. Cidades como São Sebastião, no estado de São Paulo, sul da Bahia, grande Recife e toda a faixa costeira de Santa Catarina tiveram de alguma maneira episódios extremos do clima, com perdas humanas e consequências sem precedentes à infraestrutura e atividades econômicas.

Só na região do extremo sul do estado de Santa Catarina em especial o município de Praia Grande foram dois ou três ciclones extratropicais que colocaram o município no mapa dos mais suscetíveis aos efeitos do aquecimento global do território brasileiro. Mas não ficou restrito somente a essa região do estado catarinense, o Rio Grande do Sul também vinha tendo registro de chuvas intensas, com cheias de rios, deslizamentos e perdas humanas, como ocorreu em junho último no litoral norte do estado.

Frente a tudo isso, os meteorologistas e outros estudiosos do clima permaneciam atentos nas telas de seus computadores rastreando por vinte quatro horas qualquer sinal estranho do tempo que pudesse trazer riscos às populações do sul do Brasil. Se sabe que muitos municípios brasileiros já possuem todo um complexo arcabouço de ações coordenadas pelas Defesas Civis com vistas às tomadas de medidas emergenciais antecipadas na hipótese de alertas de tempestades mais severas.

Durante dias, agências nacionais e internacionais de monitoramento climático vinham divulgando boletins diários acerca da formação de um ciclone extratropical de enorme intensidade na costa do Rio Grande do Sul. Já se sabia mais ou menos o possível trajeto que o ciclone faria e o grande volume de chuvas que seria precipitado sobre os municípios situados no Vale do Taquari, Caí, Jacuí, e de outras bacias importantes do centro e norte do estado, com volumes que alcançariam de trezentos a quinhentos milímetros.

Dito e feito, entre os dias primeiro e quatro de setembro, tendo o dia quatro como a data do epicentro, o que haviam previstos os meteorologistas do MetSul, entre outros, se confirmaram. Um absurdo volume de água caiu sobre as bacias citadas pelos órgãos de monitoramento levando a morte mais de quarenta e pessoas, sendo que cerca de uma dezena permanecem desaparecidas. Diante do cataclismo ou catástrofe previsível, houve um bate-boca ou desentendimento envolvendo o governador do estado gaúcho e um jornalista da Globo News sobre o ocorrido. O jornalista alegou que houve negligência por parte do Estado de não ter tomado providências antecipadas para evitar ou mitigar ao máximo perdas de vidas humanas.

De certo modo as críticas impetradas pelo jornalista têm consistência, pois de acordo com os históricos do episódio climático extremo, foram inúmeros os alertas de chuvas torrenciais emitidas, que ações mais efetivas deveriam ser executadas pelo Estado.  O que parece é que os gestores públicos e outros organismos estatais foram literalmente contaminados pelo vírus negacionista propagado pelo ex-presidente e seus apoiadores extremistas. Todos devem se lembrar da campanha antivacina durante a pandamia, atitude que resultou na morte de milhares de brasileiros. A campanha negacionista não atingiu apenas o setor da saúde, a ciência no seu todo foi atacada brutalmente, tudo passou a ser questionado, duvidado, inclusive a própria esfericidade do planeta terra.

Se a ciência fosse realmente levada a serio não teria havido tantas vidas ceifadas nas tempestades que se abateram sobre o estado gaúcho. Desde o primeiro boletim encaminhado pelas agencias de meteorologia que previam chuvas próximas aos 500 mm, toda a população das áreas de riscos deveriam ser alertadas e removidas para locais seguros. Porém, isso não ocorreu. Outro detalhe importante que merece reflexão. Muitas dessas cidades atingidas por cheias estão situadas as margens de rios que historicamente sofrem inundações. As legislações estabelecem, a exemplo do Código Florestal Brasileiro, que margens de rios, córregos, lagos, lagos não devem ser ocupadas por serem APPs.  

O que se vê ultimamente são ataques frontais contra o código florestal, desfigurando ou suprimindo dispositivos referentes às APPs urbanas, ou seja, tornando legais ocupações cujos proprietários infringiram regras legais ambientais. Em 1995 catástrofe parecida a do RS ocorreu no município de Timbé do Sul, extremo sul de Santa Catarina. Chuvas torrenciais provocaram deslizamentos de terras, rochas e vegetação das encostas da serra geral matando dezenas de pessoas. As mortes foram exatamente de pessoas que residiam às margens de rios, como no rio figueira, Timbé do Sul, curso d’água que integra a bacia do rio Araranguá.

O que mais se houve falar em relação à tragédia no RS é se o estado gaúcho e os municípios possuem planos de contingenciamento para tais episódios extremos do tempo. É perceptível, de acordo com os fatos, que houve sim falhas substanciais no gerenciamento das ações. É verdade também que esse problema não se restringe apenas ao estado do RS. SC e até mesmo o estado de São Paulo vem pecando nesse quesito. A catástrofe que se abateu sobre a cidade de São Sebastião, litoral norte de São Paulo, demonstrou que não houve ação de contingenciamento para evitar perdas de vidas humanas.       

  O furacão Catarina que devastou o extremo sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul em 2004 passou a servir de parâmetros em relação a futuros episódios climáticos extremos nessa mesma região. Diante do ocorrido, o Estado, a defesa civil e prefeituras deveriam ter definidos planos de contingenciamentos com vistas a preparar a população à tomada de medidas na ocorrência de furacões e outras catástrofes. Acreditem, vinte anos depois do furacão, não se tem informações que ações dessa magnitude foram discutidas e executadas. Se hoje os meteorologistas alertassem da ocorrência de um episódio nas proporções do “Catarina”, ninguém saberia o fazer.

Prof. Jairo Será    

 

       

sábado, 9 de setembro de 2023

PLANO DE CONSTRUÇÃO DE ETA (ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA)  NA LAGOA DO CAVERÁ ABRE OUTRA VEZ  DEBATE SOBRE SUA PRESERVAÇÃO

FONTE - GOOGLE EARTH


Não é segredo para ninguém que o complexo lagunar do extremo sul de Santa Catarina (Rio Mampituba) formado pelas Lagoas do Caverá e do Sombrio sofrem a décadas processo de degradação que pode resultar na sua extinção muito mais rápida do que se imagina. São incalculáveis as investidas da sociedade civil, das autoridades locais/ regionais e do próprio Estado nas tentativas de solucionar os problemas, porém, todas infrutíferas. No momento penso ser difícil afirmar se a gravidade se recai mais no manancial do Sombrio ou do Caverá, pois ambas estão agonizando.  

A realidade é que muita gente, muitos políticos locais e da região obtiveram êxitos  políticos eleitorais significativos ao legislativo, executivo e outros postos relevantes, a partir de promessas  não cumpridas de que intercederiam no salvamento das lagoas. A integração dos afluentes da bacia do Rio Mampituba, lado catarinense, ao Comitê Hidrográfico da Bacia do rio Araranguá abriu expectativa positiva para uma solução plausível desse complexo lagunar cuja foz é o rio Mampituba.

Em 2014 foi constituída uma comissão junto ao comitê hidrográfico de Ararangua para atuar com exclusividade nas tratativas dessa complexa questão. O fato importante ocorrido na época foi a realização de uma audiência pública no salão de festas da igreja matriz  no Sombrio, que teve a presença da presidente da Comissão do Meio Ambiente na ALESC, a deputada Paula de Lima. Além da parlamentar, inúmeras autoridades representativas do judiciário, dos legislativos e executivos municipais, membros de ONG, OSCIP e demais cidadãos debateram por longas horas caminhos possíveis ao salvamento dos mananciais.

No final da audiência foi acordada proposta de que fosse agendada reunião com os gestores públicos dos sete municípios que compõem esse complexo lagunar. A partir dessa reunião seria agendada, no ano seguinte, 2015,  audiência com representantes do governo estadual, em Florianópolis, cuja intenção era pressionar o executivo na criação de uma unidade de conservação envolvendo os três mananciais: Lagoa da Serra, Lagoa do Caverá e Lagoa do Sombrio. Até hoje essas deliberações jamais se concretizaram.  

O fato é que o problema da lagoa do caverá, considerada a mais sensível por estar dia após dia reduzindo de tamanho devido a perdas significativas de água, poderia já estar solucionado se fosse construído vertedouro de cerca de cinquenta metros de comprimento e próximo a de dois metros de altura. Esse sistema, depois de construído, iria repor o nível normal da mesma, passando dos atuais 70 a 80 cm para 2 m ou mais de profundidade. A dúvida que permeia o imaginário da sociedade é por que tanto descaso, tanta resistência em  solucionar um problema, de certo modo simples, que seria a construção de um simples desaguadouro.

Um robusto estudo já foi realizado com custo orçado em quase um milhão de reais. O documento especificava todas as condutas necessárias para o salvamento da lagoa. Acreditava-se  na época que existem muitos interesses escusos envolvendo o não salvamento desse manancial e da Lagoa do Sombrio. Fazendas de gado, campos de arroz irrigado, empresas de extração de turfa e areia, todas situadas as margens desses mananciais vinham se beneficiando com o encolhimento dos mesmos.  

O agravamento dos inconvenientes envolvendo a lagoa do caverá se intensificou ainda mais a partir da retificação do córrego ou canal que faz conexão com a lagoa do Sombrio. Os cidadãos mais antigos vão concordar que no passado essa sanga era toda serpenteada e cujo fluxo da água corria lentamente pelo seu leito. A partir do alinhamento do canal, mesmo em períodos chuvosos, a água tende a escorrer rapidamente. Não faz muito tempo a Lagoa do Caverá havia adquirido o título honroso de ser um dos maiores mananciais de água doce do estado de Santa Catarina. O que causa espanto é a passividade da sociedade e a negligência das autoridades no salvamento da mesma. Essa lagoa não se credencia apenas por possuir água de excelente qualidade e fonte de reserva para o futuro, no seu leito dezenas de espécies de pescados e crustáceos as utilizam como berçários para se reproduzirem.

A elaboração de um plano para a produção de pescados e crustáceos em cativeiro, sempre debatido em encontros passados, poderia revolucionar a região nesse segmento. Sem contar o turismo sustentável, que poderia também fazer parte dos debates, integrando essa região ao Geoparque Caminho dos Cânions. Mas tudo isso está longe de virar realidade. O fato é que estão asfixiando,  matando a galinha dos ovos de ouro. Desde 2013, por estar envolvido diretamente no salvamento do complexo lagunar, representando o comitê da Bacia do Rio Araranguá, produzi alguns textos discorrendo a situação calamitosa de todo o complexo sistema hídrico. São sete produções, disponíveis no Blog morrodosconventos-jairo.blogspot.com,  que estão acessíveis aos interessados.[1][2][3][4][5][6][7]

No final do mês de agosto em entrevista concedida em  uma radio do município de Araranguá, um representante do SAMAE e da FAMA falaram da proposta de instalação de uma ETA  (Estação de Tratamento de Água) no manancial lagoa do caverá. Fiquei um tanto apreensivo com a proposição pois achei estranho que depois de quase duas décadas de lutas infrutíferas para o salvamento da mesma, de repente, como um passe de mágica, alguém fosse lá e instalasse os equipamentos para captação da água e pronto, sem resolver primeiro as demandas ambientais.

Percebi, na entrevista, que ambos possuíam pouca informação consistente do  histórico de lutas envolvendo as mesmas. Disseram que já tem o terreno para a construção da estação, e que aguardam outras licenças vindas o IMA (Instituto do Meio Ambiente). Disseram que a tramitação de alguns procedimentos no órgão ambiental estadual foi bem rápido e que ficaram até surpreendidos com tal agilidade. Falaram  na necessidade de realizar estudos mais complexos, bem como da construção de um barramento. Na realidade não é um barramento que se pretende construir e sim um vertedouro. Esse termo, barramento, foi sempre um dos fatores impeditivos no salvamento da lagoa há mais tempo, pois os órgãos ambientais, na época a FATMA, recomendavam que fosse realizado um EIA-RIMA, que era desnecessário.  Também disseram os entrevistados que o município de Araranguá não deveria se responsabilizar sozinho com tais demandas da lagoa.

Foram falas confusas, dissonantes, bem ao estilo de pessoas pouco conhecedoras daquela realidade. O fato é que nenhum projeto estruturante dever ser executado nessa lagoa sem que demandas emergentes sejam executadas, uma delas seria a criação da unidade de conservação, principal proposição tirada em reuniões e audiências passadas. Claro, a construção do vertedouro também está inserido no escopo dessas demandas.

Como venho fazendo durante anos, no último dia sete de setembro estive outra vez na lagoa do caverá conferindo de perto a situação da mesma. Por ter chovido bastante nos últimos dias o volume de água do manancial se elevou sensivelmente. Porém se sabia que essa elevação era paliativa, pois em menos de uma semana voltaria ao leito normal e com redução gradativa. Um grupo de esportistas, praticantes do SkySurf estavam deslizando sobre suas águas naquele momento, aproveitando o forte vento nordestão naquele dia. Mais uma atividade que poderia ser incentivado para dinamizar a economia da região.

Conversando com uma relevante liderança da comunidade que atua em defesa do complexo lagunar, o mesmo revelou que se mostra um tanto otimista depois de saber que o município de Araranguá irá instalar uma ETA naquele manancial. Disse que ouviu dos representantes do poder público que antes da instalação dos equipamentos serão executados planos de recuperação da lagoa, que culminará com a instalação do vertedouro.

Pouca gente sabe que a lagoa da serra e do caverá não se conectam, mesmo  existindo  um canal que divide  os municípios de Araranguá e Arroio do Silva na extremidade oeste. Toda a água acumulada no leito da lagoa do caverá escorre de inúmeras nascentes existentes no seu entorno. Portanto, a preservação do manancial não passa apenas por ações intrínsecas em seu leito, devendo sim extrapolar, incluindo na lista todas as nascentes, das quais estão seriamente ameaças pela monocultura agrícola, pecuária, mineração predatória e, sobretudo, pelo avanço demográfico vertiginoso.

Prof. Jairo Cesa      

         

         

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

  

MOSTRAS CIENTÍFICAS NAS ESCOLAS PÚBLICAS: EXCEÇÕES AO HEGEMÔMICO MODELO REPRODUTIVISTA DE ENSINO

Não canso de repetir que a transformação de uma sociedade se dá pela educação, e que a escola pública básica é um dos palcos importantes para alcançá-la. Acontece que o modelo de educação hoje vigente não permite que haja tais rupturas desse sistema de ensino conservador, massificador e reprodutor das desigualdades sociais. Há um profundo paradoxo envolvendo a estrutura educacional publica brasileira, que se dá a partir da dicotomia entre os parâmetros teóricos filosóficos e as práticas do dia a dia. O próprio sistema de avaliação ainda centrado em práticas positivistas, conteudistas, na memorização apostilestica, tende a castrar toda a energia criativa acumulada de nossos estudantes.

São raríssimas as escolas que adotam metodologias fundamentadas em teorias filosóficas que estimulam a investigação, ou seja, o gosto pela pesquisa, pela solução de problemas simples, até mesmo criar componentes ou coisas úteis à vida de uma sociedade inteira. Se tomarmos como exemplo o sistema de ensino das escolas públicas do estado de Santa Catarina, embora exista um grande arcabouço de teorias e fontes bibliográficas de matriz socioconstrutivista, o ordenamento estrutural e pedagógico das mesmas, permanece igual há quase duzentos anos, quando foi instituído o ensino público catarinense.

Toda essa estrutura foi montada para a reprodução de conhecimentos e não para construir conhecimentos. As poucas vezes que os parâmetros curriculares das escolas de Santa Catarina tiveram e têm de fato forte repercussão com a realidade concreta da sociedade são as efêmeras mostras científicas realizadas uma vez por ano. Nesse caso estou me referindo à realidade das escolas que integram a 22 CRE, constituída por 15 municípios do extremo sul de Santa Catarina. Aquilo que deveria ser regra de todas as unidades de ensino se constitui em exceções, ou seja, uma ou duas turmas de uma escola, apoiada por um, dois ou mais professores, passam a abordar um tema problema para encontrar soluções.

A pesquisa na escola é tão importante, porque geralmente o investigador é tomado por sentimentos de paixão e responsabilidade por aquilo que investiga. Temos exemplos de estudantes do ensino fundamental que se envolveu com tamanha intensidade em sua pesquisa, que quando concluiu o ensino médio, passou a cursar a universidade atuando na área meteorológica, cujo gosto se deu quando ainda era estudante do ensino fundamental a partir de uma pesquisa que desenvolveu.

O que causa estarrecimento são o modo como o Estado ou as regionais de educação se colocam frente a esse importante momento investigativo em nossas escolas. Quatro, cinco, seis ou mais meses são o tempo dedicado por estudantes em suas investigações, geralmente os resultados são tão extraordinários que a sociedade inteira deveria ter acesso. De fato não é isso o que acontece. Em um único dia, cinco ou seis horas no máximo, uma escola estadual é alocada e cujas salas são ocupadas por dezenas de cientistas mirins, que apressadamente expõem suas descobertas ao público, na maioria também de estudantes com pouca ou nenhuma experiência com esse tipo de metodologia.

Uma mostra cientifica escolar jamais deveria ter caráter competitivo, todos, indistintamente, teriam de ser presenteados, com medalhas, como forma de estímulos para se tornarem grandes pesquisadores. Não é isso que ocorre. O que é mais impactante é saber que diante de um evento tão excepcional, como é uma feira cientifica, nenhuma menção foi feita pela imprensa local, enaltecendo as escolas públicas estaduais, que mesmo com todas as dificuldades e desatenção do Estado, conseguem tirar “água de pedra”, revelando genialidades no campo da arte, da cultura, da ciência, etc.    

Tendo coordenado um grupo de estudante da Escola de Educação Fundamental do bairro Morro dos Conventos, que por seis meses investigaram os índices de precipitação pluviométricas no bairro, durante a visita que fiz a Escola Dolvina. L de Medeiros, palco da mostra, procurei conhecer trabalhos que estavam em exposição. Nos três que observei, todos do ensino fundamental, fiquei encantado com a desenvoltura dos pesquisadores mirins. Um grupo desenvolveu uma atividade lúdica para despertar a sensibilização ambiental. A estratégia foi criar personagens e transformá-los em super herois da natureza, muitos dos quais inspirados em histórias em quadrinhos.

Fiquei impressionado com a pesquisa desenvolvida pelos estudantes da escola EEB Catulo da Paixão Cearense, do Sombrio, onde criaram um tipo de inseticida natural usando a casca da bergamota. Também foram bem criativos na escolha do nome para o produto: Inseticida BERGACIDA. Claro que muitos dos inventos apresentados em mostras científicas, podem ser patenteados e comercializados. Não há dúvida que para o capital, quanto mais escolas públicas voltadas à pesquisa, mais críticos e empoderados serão os estudantes.

Pode estar aqui à resposta do motivo da pouca divulgação por parte da imprensa em eventos dessa magnitude. O único órgão que fez alguma menção foi à própria coordenação regional de educação em sua pagina nas redes sociais, divulgando os grupos classificados e premiados na mostra científica. A SED, no entanto, não fez qualquer menção ao evento na sua página digital. Pode-se levantar algumas hipóteses do fato de a secretaria não fazer qualquer citação ao ocorrido. Um deles, talvez, o mais convincente, é porque pesquisa não condiz com a estrutura na qual as unidades de ensino no estado estão ajustadas. O próprio sistema de avaliação é disciplinar e não interdisciplinar, transdisciplinar, como requer uma escola, pautada na investigação científica.

Prof. Jairo Cesa