domingo, 17 de setembro de 2023

 COM EL NIÑO MAIS FORTE, ASSOCIADO AO AQUECIMENTO GLOBAL, OS CICLONES ESTÃO SE TORNANDO DEVASTADORES NO SUL DO BRASIL

https://blogdopedlowski.com/2023/09/12/saiba-por-que-o-sul-do-brasil-e-mais-suscetivel-a-ocorrencia-de-ciclones-extratropicais/


Em janeiro de 2022 escrevi e publiquei no meu Blog texto com o seguinte título: A TRAGÉDIA EM CAPITÓLIO, MG PODE ACONTECER NOS PAREDÕES DO MORRO DOS CONVENTOS, ARARANGUÁ.[1] Nesse intervalo de quase dois anos ocorreram sim episódios comparados ao de minas gerais, porém, não exatamente no balneário, mas em regiões vizinhas, onde chuvas torrenciais causaram transtornos, com custos milionários para a reconstrução da infraestrutura. O que chamou a atenção dos meteorologistas foi o fato de ter sido o município de Praia Grande/SC, um dos mais impactados pelos ciclones extratopicais que se abateram sobre a região.[2]

Lembro que em 1995, na terrível catástrofe que destruiu parte do município de Timbé do Sul/SC, que é vizinho de Praia Grande/SC, em visita realizada à área assolada, acompanhado de integrantes da Ong Sócios da Natureza e de pesquisadores da Europa e do Brasil, ambos foram consensuais em afirmar que os municípios da encosta da serra estavam mais suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas que estava em curso naquele momento.   

Veio o furacão Catarina dez anos depois da catástrofe do Timbé do Sul, o primeiro do hemisfério sul com ventos que superaram os 150 km.  Esse episódio, sim, abriu discussões mais consistentes e consensos de que o Brasil seria um dos mais afetados pelas mudanças climáticas. Desde a década de 1980 o Brasil vem protagonizando eventos importantes para tratar desse assunto o mais relevante foi a ECO-92, no RJ. Um enorme pacote de promessas foi elencado, no entanto teve pouca eficácia na mitigação dos impactos provocados pela atividade econômica predatória que dominou e domina o cenário global.

Dessa data em diante ocorreram até o momento cerca de trinta COP (Encontro das Partes sobre o Clima), evento promovido pela ONU que reúne mais de uma centena de países para tratar medidas que possam conter o aquecimento global. Incrível que depois de tantas reuniões, assinaturas de protocolos de intenções de ambos os lados, com gastos milionários, o planeta permaneceu aquecendo assustadoramente chegando em junho de 2023 ter batido dois recordes de temperaturas médias mais quentes já registradas.

A verdade é que o aquecimento global influencia diretamente nas regiões polares aumento o derretimento e a elevação dos níveis dos oceanos. Outro reflexo constatado é o aumento das temperaturas das águas, servindo de combustíveis para a formação de furacões e ciclones extratropicais devastadores, a exemplo dos ciclones bombas que passaram a virar rotina no sul do Brasil. Não há como duvidar que o planeta esteja aquecendo e que parte dessa transformação tem relação com o modo como o ser humano vem agindo nele.

Ainda hoje muitos gestores públicos e demais autoridades vem atuando contra ou até mesmo desdenhando pesquisas e relatórios apresentados por pesquisadores do mundo inteiro que confirmam já estar o planeta no seu nível máximo de saturação climática. O que aconteceu recentemente no RS quando um forte ciclone provocou estragos e mortes, traz algumas reflexões sobre atitudes negacionistas à ciência meteorológica, por exemplo. Em qualquer parte do mundo, por exemplo, os Estados Unidos, a um sinal da chegada de um furacão ou outro episódio extremo do clima, toda a população rapidamente sabe o que fazer, fecham suas casas e procuram áreas mais seguras para se protegerem.

Para atingir esse ponto de mobilização não há duvida que governos e organizações científicas galgaram certa confiabilidade junto à população. Bem diferente do que foi trabalhado nos quatro anos de governo Bolsonaro, onde o que mais se fez foi atacar as universidades e demais entidades cientificas, como se tudo que acontecesse no mundo fosse guiado por forças sobrenaturais (“Deus acima de Tudo”). É preciso, urgentemente, tornar hábito nas escolas discussões de temas como furacões, ciclones, tornados, tempestades, precipitações, erosões, deslizamentos, etc. Trabalhar com estudantes, do nível infantil ao médio, esses e outros assuntos relativos ao clima global e seus impactos locais se mostram obrigatórios como caminhos para minimizar perdas humanas no futuro.

Além do mais nos municípios os atuais e futuros planos diretores devem constar proposições que doem relevância às ações de contingenciamentos às intempéries extremas do tempo. Todos os projetos de infraestrutura em especial os de interesse público deverão passar por crivos rígidos de análises, considerando principalmente o aspecto mudança climática e seus efeitos. O município de Araranguá, nos últimos dois anos vários projetos de infraestrutura turística foram e estão sendo executado nos seu principal balneário. Não se tem notícia de ter havido discussões no sentido climático.

Dentre os que chamam atenção está o mirante, construído nas bordas da paleofalésia, extremidade sul, nas imediações do farol. Por que chama atenção esse empreendimento? Antes da sua construção, grupos de estudantes acompanhados de geólogo de uma universidade do RS constataram a existência de fissuras em expansão abaixo da obra do mirante. Para situações desse tipo é recomendado fazer estudos mais consistentes, como de batimetria, onde se verificará as estruturas das rochas, se há ou não alguma instabilidade.   Não tenho informação se tal ou outro estudo similar foi realizado para garantir toda a segurança aqueles que transitam pela passarela do mirante.

Integrado ao projeto do mirante está a revitalização da Rua Criciúma, com a construção da calçada. Dezenas de árvores foram suprimidas em todo o trecho para dar lugar a o passeio. Para evitar que a água da chuva se acumule sobre a estrada, inúmeras bocas de lobos foram construídas com desague no paredão do morro. O que tem de grave nessas estruturas em relação aos escoamentos de água? Para áreas urbanas, nem tanto, mas em se tratando de borda de morro, como no balneário, os problemas são bem graves.

Por se tratar de rochas sedimentares da formação rio do rastro todo o paredão passa por processo de desgastes permanentes. Quem já caminhou pelas trilhas na extensão da base da paleofalésia deve ter observado a quantidade de fragmentos de rochas desprendidas das paredes e depositadas no fundo. Há duas semanas fortes chuvas se abateram sobre o balneário Morro dos Conventos e região. Nas proximidades da furna ocorreu um forte desprendimento de terra, rocha e vegetação, que se depositou sobre o lago ali existente. Poderia ter sido o acontecimento normal haja vista ser o local propício para tal acontecimento.

Foto-Jairo


Foto - Jairo

            Na visão de geógrafos, geólogos ou profissionais de áreas afins, existiu ali um elemento motivador que acelerou o processo erosivo, as bocas de lobos. Bem onde houve o deslizamento, no seu topo existe uma dessas estruturas construídas há pouco tempo. Com grande volume de chuva precipitada se formaram verdadeiras cascatas no paredão. A força da água, portanto, que pode ter contribuído para o deslizamento. Há previsões de que o EL NIÑO alcançará o seu pico máximo em dezembro, se estendendo até outubro de 2024. Se as previsões se confirmarem teremos índices pluviométricos muitos superiores aos já precipitados, isso na região sul do Brasil.

E por que os meteorologistas estão confiantes em relação a essas previsões? Um dos fatores preponderantes é a temperatura do oceano atlântico que se apresenta bem mais quente no EL NIÑO passado. Com esse combustível a mais os ciclones vão se apresentar mais violentos e devastadores. O Morro dos Conventos, por estar próximo do oceano, tem chovido mais que em outros pontos do município onde estão instaladas estações meteorológicas. No mês de agosto último estudantes da E.E Fundamental Padre Antônio Luís Dias, do Morro dos Conventos, apresentaram pesquisa em feira cientifica abordando o tema precipitações pluviométricas no bairro onde moram.

Foram instalados quatro pluviômetros em pontos distintos do bairro, que por sete meses monitoraram os equipamentos.  A conclusão que se chegou foi que o pluviômetro instalado na parte alta do bairro, nas proximidades do farol, recebeu precipitações bem superiores aos demais pontos analisados. Quanto a isso as estudantes pesquisadoras levantaram algumas hipóteses quem podem estar influenciando o maior volume de chuvas nesse ponto específico do balneário. Segundo elas, a altitude, a proximidade do mar com águas mais quentes são alguns elementos motivadores. Concluíram também que o aquecimento global já é uma realidade e que Araranguá terá sérios impactos na sua geografia.

Prof. Jairo Cesa              

           



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