quarta-feira, 29 de janeiro de 2020


AS POTENCIALIDADES TURÍSTICAS DO LITORAL CATARINENSE E A POUCA INICIATIVA NESSE SETOR NO MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ.


No final de 2016, três decretos foram homologados pela administração municipal de Araranguá criando uma APA (Área de Preservação Permanente), uma RESEX (Reserva Extrativista) e um MONA-UC (Monumento Natural-Unidade de Conservação), ambos no balneário Morro dos Conventos, comunidade de Morro Agudo e Ilhas. A partir da data da assinatura dos decretos, as tramitações para a concretização das etapas, como os planos de manejo, permanecem estagnadas até o momento. Os motivos, no entanto, se baseiam em interesses adversos do pretendido pelos decretos, que é fortalecer o empoderamento das comunidades locais na gestão desses ecossistemas, assegurando a proteção e o desenvolvimento econômico sustentável do município.

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Não é de hoje que está se lutando pela criação dessas unidades no município. Entretanto, é decepcionante saber que administrações públicas aliadas a seguimentos econômicas retrógrados tratam com desdém propostas tão necessárias que a exemplos de outros municípios do estado, atraem milhares de turistas todos os anos, criando milhares de vagas de emprego às comunidades envolvidas.
Um curto Tour pela Ilha de Florianópolis, lado sul, foi suficiente para entender porque Florianópolis atrai numero grande de turista o ano inteiro, principalmente na alta temporada de verão. Imaginei que o fator praias fosse o principal vetor desse desejo obsessivo de visitar a capital dos catarinenses. Sem excluir esse elemento motivador, outros fatores como os pequenos vilarejos com sua arquitetura preservada que acentua a presença lusa açoriana; a culinária tradicional e o turismo de aventura completam o farto roteiro de atrações que forçam o visitante a estender sua estadia capital por mais tempo.









O que surpreendeu no curto tour pela ilha de santa Catarina foi saber que tais peculiaridades lá observadas, não são exclusividade da capital, vários municípios catarinenses litorâneos apresentam atrativos semelhantes, porém, permanecem a mercê de gestores e de elites econômicas que não almejam alterar o cenário de status quo permanentes que muito lhes interessam.
A cada dia mais me convenço que o sul de Santa Catarina permanece estagnado social e economicamente devido ao modo como essa região é gestada pelas elites locais. Essa certeza se fundamenta na observação na qual tive diante das inúmeras viagens que realizai em países de quatro continentes, exceto a Oceania. Países há pouco tempo estagnado por guerras genocidas como o Camboja e o Vietnã, recebem juntos muito mais turistas mensalmente que a soma total recebida pelo Brasil em um ano inteiro.
 Atualmente o turista que viaja pelo mundo vai em busca de conhecimento e diversão. Quanto mais opções disponibilizadas maior o tempo de permanência no país ou na cidade visitada. No roteiro de três dias que programei à ilha de Florianópolis, foi possível visitar o Parque municipal da lagoa do Peri; as praias do Campeche, Matadeiro, Sambaqui e um passeio por uma complexa trilha no Ribeirão da Ilha, extremidade sul, da qual leva o visitante a isolada praia dos naufragados, onde há um farol inaugurado em 1861.





Cada um dos locais visitados daria subsídios para escrever um livro, tamanha a beleza e as peculiaridades observadas. Não ficou só nisso, na área central da capital, o visitante pode desfrutar de outros atrativos culturais, trafegarem pela histórica e recém reinaugurada ponte Hercílio Luz e o museu Cruz e Sousa. O que chamou a atenção durante o percurso feito ao centro da capital, em plena manhã de domingo, foi a tranqüilidade de caminhar pelas ruas e outras vias que em dias normais são quase que intransitáveis. 


O histórico museu Cruz e Sousa estava com suas portas abertas com três exposições importantes: uma sobre imagens e objetos retratando a edificação da ponte Hercílio Luz; outra sobre cadeiras na história e em diferentes sociedades; por fim, duas salas expondo documentos, objetos e fotografias sobre a vida e trajetória de dois ex-governadores de Santa Catarina, Jorge Lacerda e Antônio Carlos Konder Reis.



Quanto as singulares belezas naturais, não havia como deixar de mencionar com mais detalhes a Lagoa do Peri, transformada em monumento natural municipal, da qual abastece parcela significativa da população da ilha com água. Na década de 1990, quando integrava a ONG Sócios da Natureza, tive a oportunidade de conhecer esse complexo manancial junto com outros membros da entidade. Naquela ocasião, a mesma apresentava características bem rústicas e com elevado volume de água, bem diferente do que hoje é revelado.  
O que me surpreendeu dessa vez foram as transformações ocorridas no local, convertida em monumento natural, na qual garantiu o credenciamento “Bandeira Azul”, uma titulação internacional concedida as praias e lagoas que se comprometem a cumprirem certos requisitos ambientais. Em 2016 publiquei artigo no meu blog dissertando sobre esse tema. Naquela ocasião dois balneários no estado haviam sido contemplados com o selo bandeira azul, o balneário Palmas, em Celso Ramos e o manancial Lagoa do Peri.
https://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=8334622275182680372#editor/target=post;postID=1545551493389097896;onPublishedMenu=allposts;onClosedMenu=allposts;postNum=257;src=postname



A intenção do texto era ressaltar a importância ambiental e turística da respectiva titulação, bem como chamar a atenção das autoridades do município de Araranguá para que também abraçasse essa causa. Um dos elementos motivadores à inscrição à obtenção do selo se fundamentava no fato de estar tramitando no município proposta de criação de unidades de conservação, como de fato ocorreu no final de 2016. Uma única vez, em 2018, numa das reuniões do comitê do projeto orla, o ex-presidente do comitê fez menção ao tema, até propondo lançar o município como candidato ao selo. A ideia não germinou, morrendo ali mesmo.
Em Florianópolis, um dia foi insuficiente para explorar todos os atrativos oferecidos pela Lagoa do Peri, forçando a mim e o meu filho a retornarmos no dia seguinte, agora para nos banharmos na água limpa do manancial. No dia anterior, quando adentramos ao parque, por cerca de uma hora, realizamos um passeio caminhando por uma das trilhas lá existente. Imagino que quem aprecia trilhas deve ter ficado maravilhado com incomparável beleza desfrutada no percurso. Desde o começo até o término do trajeto existem inúmeras as placas informativas descrevendo aspectos da flora, fauna, entre outras.
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  O parque também abriga um centro de recuperação e educação ambiental de animais silvestres, com destaque a Lontra, um dos mamíferos endêmicos da região. Em contato com dois funcionários do parque, uma bióloga e um geógrafo, os mesmos mostraram o horto florestal, onde são cultivas espécies da flora nativa, destinadas ao reflorestamento do parque. Na entrada do parque estava a sede administrativa, uma construção que serve também para promover exposições de projetos ambientais diversos. Na parede da sede estavam quatro bandeiras azuis penduradas.



Desde o momento que parque foi contemplado com selo bandeira azul, em 2015, todos os anos o credenciamento é revalidado por estar em conformidade com os critérios recomendados. Na entrada do lago estava pendurada no mastro a quinta bandeira azul, referente aos anos de 2020 e 2021. Conforme relatou uma funcionária responsável pela segurança no parque, ela informou que houve expressivo aumento do fluxo turistas nacionais e estrangeiros visitando o parque. Acredita ela que o um dos fatores motivadores do aumento da demanda deve ser o selo Bandeira Azul.



Há muito tempo as águas da lagoa do Peri abastecem parcela importante da população de Florianópolis. Lembro que na época que lá tivemos, uma das preocupações das entidades ambientais era com o risco da mesma vir a secar, com o aumento da demanda por água e permanentes estiagens. Foi exatamente o primeiro aspecto que me chamou a atenção quando entramos no parque. A distância da margem à ao espelho d’água da lagoa era de aproximadamente cinqüenta a cem metros.



Conforme relatou um dos moradores do entorno e freqüentador do parque, o mesmo afirmou que houve uma redução de cerca de um metro de água da lagoa, devido a longa estiagem que se abate na região. O problema de uma possível escassez de água não é exclusividade apenas da lagoa do Peri. Quase todos os mananciais de água doce do litoral catarinense vêm enfrentando esse drama há anos. Uma das causas principais é a falta de planejamento dos administradores que colocam a fator hídrico nos seus planejamentos de urbanização.


Araranguá e outros municípios do extremo sul do estado não incluem a oferta de água nos seus programas urbanísticos de médio e longo prazo. Duas das principais lagoas da região, a Lagoa do Caverá e do sombrio, continuam secando sem que qualquer medida para evitar essa tragédia seja executada. O fato é que a região costeira do extremo sul do estado vem tendo um crescimento populacional expressivo. Se o tema mananciais hídricos não for definido como prioridade nos planos diretores municipais, a região terá problemas sérias de abastecimento muito mais rápido do que se imagina.
Sobre as potencialidades turísticas da região do extremo sul de santa Catarina, é importante salientar que apresenta características semelhantes ou até melhores que de outras regiões do estado. No entanto, o número de turistas que são atraídos para essa região é insignificante. A resposta está na fragilidade infraestrutural, a exemplo de Araranguá, que possui uma faixa costeira que quase iguala a Ilha de Florianópolis em potencialidade. A criação de três unidades de conservação em 2016 representou um caminho importante e necessário a uma possível guinada econômica.
Tudo permanece estagnado, sem qualquer perspectiva de que algo relevante possa o ocorrer na atual administração. A única coisa que nos conforta é saber que os decretos de criação das unidades permanecem válidos. Mas já houve tentativas de descaracterizá-los, como no decreto que criou o APA, com supressão de dispositivos importantes. O que poderá salvar as demandas elencadas no projeto orla, dentre elas os decretos da UCs, é a escolha de um gestor público e legisladores comprometidos com a causa ambiental e turística no município.
Na hipótese de tal desejo não se concretizar continuaremos amargando por mais quatro anos o triste posto de uma das regiões mais atrasadas economicamente do estado de Santa Catarina. No dia 23 de janeiro de 2020, veio a confirmação de região mais atrasada do sul do estado. Um dos jornais de circulação regional trouxe reportagem comparando os níveis de crescimento econômico relativo à 2018/2019, entre as regiões da AMUREL, AMREC e AMESC.
Enquanto as regiões da AMREC e ANUREL tiveram um crescimento positivo de 3 a 7%, a AMESC, decresceu, atingindo -0,48%. Quantas e quantas vezes, políticos e empresários na região da AMESC, comungam a mesma opinião de que atrair indústrias é o único caminho para alavancar a economia da região. Enquanto esses equívocos argumentativos permanecerem, dificilmente a AMESC, Araranguá em especial, continuarão com esses baixos coeficientes econômicos.   
A região da AMESC tem uma vocação para o turismo, essa é a indústria sem chaminé e rentável que deveria permear o pensamento de todos os políticos, empresários e da população. O geossítio caminho dos cânions, envolvendo quatro municípios catarinenses, Praia Grande, Jacinto Machado, Turvo, Timbé do Sul e Morro Grande, é um bom exemplo de iniciativa que poderá alavancar a economia da região.
 Já Araranguá que não foi inserido do projeto geossítio, deve concentrar todos os esforços na efetivação dos decretos que criaram a APA, a Resex e o MONA-UC Morro dos Conventos. No entanto, o cenário ora revelado não é muito alvissareiro na atual gestão. O legislativo, o executivo, toda vez que lançam opinião sobre o turismo, com ênfase ao Morro dos Conventos, se esquivam em falar sobre PGI, que dentre as demandas elencadas estão as Unidades de conservação.  Então o que nos resta é torcer que sejam eleitos nas próximas eleições, legisladores e um gestor público com olhares mais focados a um projeto de desenvolvimento voltado ao turismo sustentável.
Prof. Jairo Cezar

























segunda-feira, 6 de janeiro de 2020


O AQUECIMENTO GLOBAL E AS ESTIAGENS NO EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA


Entre os anos de 2011 e 2012 o estado de Santa Catarina enfrentou uma das maiores estiagens de sua história, com impactos significativos na economia e ao meio ambiente. A região do extremo sul do estado foi certamente a que mais sentiu os efeitos, pelo fato de ter sua economia baseada no cultivo do arroz irrigado. Nesse sentido o comitê da bacia do Rio Araranguá teve um papel decisivo no apaziguamento de conflitos envolvendo agricultores e o setor da agroindústria pela disputa da água.
Naquela ocasião, muitas comunidades do interior da AMESC tiveram que ser abastecida por carros pipa, pois os mananciais superficiais e lençóis  subterrâneos secaram literalmente. Um dos aprendizados deixado pela estiagem naquela ocasião foi a certeza de que o aquecimento global já se mostrava real, que ações emergenciais deveriam ser implementadas para que eventos climáticos similares pudessem ser evitados ou amenizados. O fato é que depois de quase uma década da estiagem histórica, pouca ou nenhuma ação efetiva foi executada.
O próprio código ambiental homologado em 2012, muitos dos dispositivos que tratam sobre reflorestamento de APPs, como a reposição da mata ciliar juntos aos cursos d’água, não foram cumpridos. Se observarmos as inúmeras imagens de satélites da região do extremo sul do estado capturadas nos últimos anos o que se constata é a crescente supressão da vegetação original, que se transformaram em áreas ocupadas por arroz. Os dados pluviométricos obtidos nos últimos dez anos mostram não uma redução das chuvas, cujos os volumes vêm sendo mantidos anualmente.
O que vem mudando é o modo como acontecem as precipitações. Virou regra chover num determinado dia ou semana, volumes que deveriam cair num mês inteiro. Devido a curta distância entre as cabeceiras e a foz do rio Araranguá, a água rapidamente é absorvida pelo oceano. Essa água rapidamente é escorrida para os rios e absorvida pelo oceano. Tais alterações climáticas já visíveis na região do extremo sul estão mudando comportamentos de entidades pesquisadoras como a EPAGRI, bem como dos próprios agricultores no que tange ao manejo a terra.
Técnicos e engenheiros da empresa de pesquisa agropecuária de Santa Catarina, entre outras, estão desenvolvendo variedades de arroz resistentes a escassez de chuva. Quem transita pelo interior da região pode perceber a redução das áreas plantadas com arroz irrigado, que requer maiores volumes de água. Em uma das assembleias do comitê da bacia do rio Araranguá, ocorridas no final de 2019, um dos temas centrais do encontro foi o debate sobre a necessidade da construção de sistemas para a reservação de água, ou seja, pequenos ou grandes açudes para o acúmulo da água da chuva em épocas de maior precipitação.
 Santa Catarina é um dos estados produtores de Arroz que apresenta menor percentual desses sistemas para o aproveitamento da água. Na época que ocorreu a assembléia do comitê o plantio do arroz estava no seu começo. Entretanto, havia um cenário não muito otimista quanto a normalidade das chuvas, pois desde o mês de maio de 2019 o volume de chuvas vinha acontecendo de forma irregular e abaixo dos padrões dos anos anteriores. O receio de um cenário de estiagem semelhante a de 2011 passou a tirar o sono dos agricultores e da população como um todo.
Com o fechamento de 2019, a preocupação passou a rondar as portas dos rizicultores e da população, vendo a água dos mananciais cada vez mais escassas, principalmente para o consumo. Para ter uma ideia da pouca precipitação ocorrida nesse período, entre junho e dezembro choveu aproximadamente 550 mm. No ano anterior, 2018, a  quantidade de chuva medida na foi de 1150 mm, ou seja, mais da metade do ano posterior, 2019.
Em um programa de radio da região da AMESC, foram entrevistados um engenheiro da EPAGRI, um integrante do comitê da Bacia do rio Araranguá e um chefe do executivo municipal, ambos foram unânimes em afirmar que os efeitos do aquecimento global já são perceptíveis, que seria necessário mudar atitudes quanto ao manejo da água, que está se tornando cada vez mais escassa.
Na há dúvida que os impactos negativos no clima local têm relação direta com dos desmatamentos que se expandem na região amazônica. As chuvas precipitadas na região sul do Brasil são oriundas da Amazônia, que se deslocam para o sul por meio de rios voadores. Quanto menores as áreas de florestas menores serão os índices de chuvas ou sua distribuição se torna irregular.
Num cenário mais extremo, tudo leva a crer que a extinção da floresta amazônica ou outros biomas como o serrado e a mata atlântica, levaria a formação de um grande deserto na região sul do Brasil. Na entrevista, ambos ressaltaram a necessidade urgente da edificação de barragens como a do Rio do Salto, no município do Timbé, que está sob impasse há anos. É preciso considerar que construções de barragens é um risco à segurança de milhares de pessoas.
Temos inúmeros exemplos das barragens que se romperam e que ceifaram a vida de centenas de pessoas. A ideia de construção de reservatórios para o armazenamento de água é uma saída interessante. No entanto, na ótica capitalista do lucro irracional, serão poucos os produtores que cederão pedaços de suas terras para execução de tais obras. Planos de preservação e reposição da floresta já suprimida, o uso equilibrado da água e o cultivo orgânico do arroz, são estratégias importantes e necessárias para assegurar um futuro mais promissor às futuras gerações.
Prof. Jairo Cezar     

FALTA DE CHUVA JÁ PROVOCA CONFLITOS PELO USO DA ÁGUA EM VÁRIOS MUNICÍPIOS DA BACIA DO RIO ARARANGUÁ