segunda-feira, 6 de janeiro de 2020


O AQUECIMENTO GLOBAL E AS ESTIAGENS NO EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA


Entre os anos de 2011 e 2012 o estado de Santa Catarina enfrentou uma das maiores estiagens de sua história, com impactos significativos na economia e ao meio ambiente. A região do extremo sul do estado foi certamente a que mais sentiu os efeitos, pelo fato de ter sua economia baseada no cultivo do arroz irrigado. Nesse sentido o comitê da bacia do Rio Araranguá teve um papel decisivo no apaziguamento de conflitos envolvendo agricultores e o setor da agroindústria pela disputa da água.
Naquela ocasião, muitas comunidades do interior da AMESC tiveram que ser abastecida por carros pipa, pois os mananciais superficiais e lençóis  subterrâneos secaram literalmente. Um dos aprendizados deixado pela estiagem naquela ocasião foi a certeza de que o aquecimento global já se mostrava real, que ações emergenciais deveriam ser implementadas para que eventos climáticos similares pudessem ser evitados ou amenizados. O fato é que depois de quase uma década da estiagem histórica, pouca ou nenhuma ação efetiva foi executada.
O próprio código ambiental homologado em 2012, muitos dos dispositivos que tratam sobre reflorestamento de APPs, como a reposição da mata ciliar juntos aos cursos d’água, não foram cumpridos. Se observarmos as inúmeras imagens de satélites da região do extremo sul do estado capturadas nos últimos anos o que se constata é a crescente supressão da vegetação original, que se transformaram em áreas ocupadas por arroz. Os dados pluviométricos obtidos nos últimos dez anos mostram não uma redução das chuvas, cujos os volumes vêm sendo mantidos anualmente.
O que vem mudando é o modo como acontecem as precipitações. Virou regra chover num determinado dia ou semana, volumes que deveriam cair num mês inteiro. Devido a curta distância entre as cabeceiras e a foz do rio Araranguá, a água rapidamente é absorvida pelo oceano. Essa água rapidamente é escorrida para os rios e absorvida pelo oceano. Tais alterações climáticas já visíveis na região do extremo sul estão mudando comportamentos de entidades pesquisadoras como a EPAGRI, bem como dos próprios agricultores no que tange ao manejo a terra.
Técnicos e engenheiros da empresa de pesquisa agropecuária de Santa Catarina, entre outras, estão desenvolvendo variedades de arroz resistentes a escassez de chuva. Quem transita pelo interior da região pode perceber a redução das áreas plantadas com arroz irrigado, que requer maiores volumes de água. Em uma das assembleias do comitê da bacia do rio Araranguá, ocorridas no final de 2019, um dos temas centrais do encontro foi o debate sobre a necessidade da construção de sistemas para a reservação de água, ou seja, pequenos ou grandes açudes para o acúmulo da água da chuva em épocas de maior precipitação.
 Santa Catarina é um dos estados produtores de Arroz que apresenta menor percentual desses sistemas para o aproveitamento da água. Na época que ocorreu a assembléia do comitê o plantio do arroz estava no seu começo. Entretanto, havia um cenário não muito otimista quanto a normalidade das chuvas, pois desde o mês de maio de 2019 o volume de chuvas vinha acontecendo de forma irregular e abaixo dos padrões dos anos anteriores. O receio de um cenário de estiagem semelhante a de 2011 passou a tirar o sono dos agricultores e da população como um todo.
Com o fechamento de 2019, a preocupação passou a rondar as portas dos rizicultores e da população, vendo a água dos mananciais cada vez mais escassas, principalmente para o consumo. Para ter uma ideia da pouca precipitação ocorrida nesse período, entre junho e dezembro choveu aproximadamente 550 mm. No ano anterior, 2018, a  quantidade de chuva medida na foi de 1150 mm, ou seja, mais da metade do ano posterior, 2019.
Em um programa de radio da região da AMESC, foram entrevistados um engenheiro da EPAGRI, um integrante do comitê da Bacia do rio Araranguá e um chefe do executivo municipal, ambos foram unânimes em afirmar que os efeitos do aquecimento global já são perceptíveis, que seria necessário mudar atitudes quanto ao manejo da água, que está se tornando cada vez mais escassa.
Na há dúvida que os impactos negativos no clima local têm relação direta com dos desmatamentos que se expandem na região amazônica. As chuvas precipitadas na região sul do Brasil são oriundas da Amazônia, que se deslocam para o sul por meio de rios voadores. Quanto menores as áreas de florestas menores serão os índices de chuvas ou sua distribuição se torna irregular.
Num cenário mais extremo, tudo leva a crer que a extinção da floresta amazônica ou outros biomas como o serrado e a mata atlântica, levaria a formação de um grande deserto na região sul do Brasil. Na entrevista, ambos ressaltaram a necessidade urgente da edificação de barragens como a do Rio do Salto, no município do Timbé, que está sob impasse há anos. É preciso considerar que construções de barragens é um risco à segurança de milhares de pessoas.
Temos inúmeros exemplos das barragens que se romperam e que ceifaram a vida de centenas de pessoas. A ideia de construção de reservatórios para o armazenamento de água é uma saída interessante. No entanto, na ótica capitalista do lucro irracional, serão poucos os produtores que cederão pedaços de suas terras para execução de tais obras. Planos de preservação e reposição da floresta já suprimida, o uso equilibrado da água e o cultivo orgânico do arroz, são estratégias importantes e necessárias para assegurar um futuro mais promissor às futuras gerações.
Prof. Jairo Cezar     

FALTA DE CHUVA JÁ PROVOCA CONFLITOS PELO USO DA ÁGUA EM VÁRIOS MUNICÍPIOS DA BACIA DO RIO ARARANGUÁ


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