O AQUECIMENTO GLOBAL E AS ESTIAGENS NO EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA

Entre
os anos de 2011 e 2012 o estado de Santa Catarina enfrentou uma das maiores
estiagens de sua história, com impactos significativos na economia e ao meio
ambiente. A região do extremo sul do estado foi certamente a que mais sentiu os
efeitos, pelo fato de ter sua economia baseada no cultivo do arroz irrigado.
Nesse sentido o comitê da bacia do Rio Araranguá teve um papel decisivo no apaziguamento
de conflitos envolvendo agricultores e o setor da agroindústria pela disputa da
água.
Naquela
ocasião, muitas comunidades do interior da AMESC tiveram que ser abastecida por
carros pipa, pois os mananciais superficiais e lençóis subterrâneos secaram literalmente. Um dos
aprendizados deixado pela estiagem naquela ocasião foi a certeza de que o aquecimento
global já se mostrava real, que ações emergenciais deveriam ser implementadas
para que eventos climáticos similares pudessem ser evitados ou amenizados. O
fato é que depois de quase uma década da estiagem histórica, pouca ou nenhuma
ação efetiva foi executada.
O
próprio código ambiental homologado em 2012, muitos dos dispositivos que tratam
sobre reflorestamento de APPs, como a reposição da mata ciliar juntos aos
cursos d’água, não foram cumpridos. Se observarmos as inúmeras imagens de satélites
da região do extremo sul do estado capturadas nos últimos anos o que se
constata é a crescente supressão da vegetação original, que se transformaram em
áreas ocupadas por arroz. Os dados pluviométricos obtidos nos últimos dez anos
mostram não uma redução das chuvas, cujos os volumes vêm sendo mantidos
anualmente.
O
que vem mudando é o modo como acontecem as precipitações. Virou regra chover num
determinado dia ou semana, volumes que deveriam cair num mês inteiro. Devido a
curta distância entre as cabeceiras e a foz do rio Araranguá, a água
rapidamente é absorvida pelo oceano. Essa água rapidamente é escorrida para os
rios e absorvida pelo oceano. Tais alterações climáticas já visíveis na região
do extremo sul estão mudando comportamentos de entidades pesquisadoras como a
EPAGRI, bem como dos próprios agricultores no que tange ao manejo a terra.
Técnicos
e engenheiros da empresa de pesquisa agropecuária de Santa Catarina, entre
outras, estão desenvolvendo variedades de arroz resistentes a escassez de
chuva. Quem transita pelo interior da região pode perceber a redução das áreas
plantadas com arroz irrigado, que requer maiores volumes de água. Em uma das
assembleias do comitê da bacia do rio Araranguá, ocorridas no final de 2019, um
dos temas centrais do encontro foi o debate sobre a necessidade da construção
de sistemas para a reservação de água, ou seja, pequenos ou grandes açudes para
o acúmulo da água da chuva em épocas de maior precipitação.
Santa Catarina é um dos estados produtores de
Arroz que apresenta menor percentual desses sistemas para o aproveitamento da
água. Na época que ocorreu a assembléia do comitê o plantio do arroz estava no
seu começo. Entretanto, havia um cenário não muito otimista quanto a normalidade
das chuvas, pois desde o mês de maio de 2019 o volume de chuvas vinha
acontecendo de forma irregular e abaixo dos padrões dos anos anteriores. O receio
de um cenário de estiagem semelhante a de 2011 passou a tirar o sono dos
agricultores e da população como um todo.
Com
o fechamento de 2019, a preocupação passou a rondar as portas dos rizicultores
e da população, vendo a água dos mananciais cada vez mais escassas,
principalmente para o consumo. Para ter uma ideia da pouca precipitação ocorrida
nesse período, entre junho e dezembro choveu aproximadamente 550 mm. No ano
anterior, 2018, a quantidade de chuva medida
na foi de 1150 mm, ou seja, mais da metade do ano posterior, 2019.
Em
um programa de radio da região da AMESC, foram entrevistados um engenheiro da
EPAGRI, um integrante do comitê da Bacia do rio Araranguá e um chefe do
executivo municipal, ambos foram unânimes em afirmar que os efeitos do
aquecimento global já são perceptíveis, que seria necessário mudar atitudes
quanto ao manejo da água, que está se tornando cada vez mais escassa.
Na
há dúvida que os impactos negativos no clima local têm relação direta com dos
desmatamentos que se expandem na região amazônica. As chuvas precipitadas na
região sul do Brasil são oriundas da Amazônia, que se deslocam para o sul por
meio de rios voadores. Quanto menores as áreas de florestas menores serão os
índices de chuvas ou sua distribuição se torna irregular.
Num
cenário mais extremo, tudo leva a crer que a extinção da floresta amazônica ou
outros biomas como o serrado e a mata atlântica, levaria a formação de um
grande deserto na região sul do Brasil. Na entrevista, ambos ressaltaram a
necessidade urgente da edificação de barragens como a do Rio do Salto, no município
do Timbé, que está sob impasse há anos. É preciso considerar que construções de
barragens é um risco à segurança de milhares de pessoas.
Temos
inúmeros exemplos das barragens que se romperam e que ceifaram a vida de
centenas de pessoas. A ideia de construção de reservatórios para o
armazenamento de água é uma saída interessante. No entanto, na ótica
capitalista do lucro irracional, serão poucos os produtores que cederão pedaços
de suas terras para execução de tais obras. Planos de preservação e reposição da
floresta já suprimida, o uso equilibrado da água e o cultivo orgânico do arroz,
são estratégias importantes e necessárias para assegurar um futuro mais
promissor às futuras gerações.
Prof.
Jairo Cezar
FALTA DE CHUVA JÁ PROVOCA CONFLITOS PELO USO DA ÁGUA EM VÁRIOS MUNICÍPIOS
DA BACIA DO RIO ARARANGUÁ
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