domingo, 6 de dezembro de 2020

 

COVID 19 - NEGLIGÊNCIA E IMPRUDÊNCIA SÃO FATORES DETERMINANTES À RÁPIDA DISSEMINAÇÃO DO VÍRUS

No início da Pandemia o presidente da república fez pronunciamento em rede nacional de radio e televisão afirmando que a população brasileira não estaria isenta de uma possível contaminação em massa pelo COVID 19. Entretanto, no discurso, procurou minimizar os efeitos do vírus à vida de milhões de brasileiros. Afirmou que era preciso pensar primeiro na economia e nos empregos.  Responsabilizou a imprensa por ter provocado clima de histeria coletiva, que o número elevado de mortes na Itália se deve ao fato do país possuir uma população majoritariamente de idosos.

Sendo assim, pessoas com menos de 60 anos de idade o risco de contágio seria pequeno, menor ainda de óbitos. Relatou que pessoas como ele com histórico de atleta, os sintomas poderão ser quase imperceptíveis, manifestando-se sob a forma de uma gripezinha ou resfriadinho. Informou que o tratamento com a hidroxicloroquina vinha tendo sucesso no combate do vírus, que o remédio já mostrava ser eficaz no tratamento de doenças como a malária, lúpus, etc. Depois desse discurso, se passaram mais de seis meses e hoje o Brasil contabiliza mais de 175 mil mortos por COVID.

Esse elevado número de vidas perdidas poderia ter sido muito menor se a principal autoridade nacional tivesse, desde o início, aplicada medidas corretas e permanentes para reduzir ao máximo a disseminação da doença. Ao contrário, sempre apresentou um discurso negacionista, além, dele próprio, jamais ter cumprido a risca os protocolos estabelecidos pelas autoridades internacionais e nacionais de saúde, como os distanciamentos e o uso de máscaras.

Esse comportamento, da principal autoridade, estimulou milhares de pessoas a seguirem seu exemplo, principalmente de seus apoiadores. Havia se tornado rotina pessoas dispensando o uso de máscaras, mesmo obrigatório, em quase todas as cidades brasileiras. Quando as pessoas eram questionadas sobre o motivo do não uso, a resposta vinha em forma de deboche, “eu não vou pegar o vírus”. Acerca de 15 dias eu, mais três irmãos e meus pais fomos diagnosticados com COVID 19. Nossa preocupação aumentou quando nossa mãe teve o quadro de saúde agravada. Imediatamente levamos ao hospital onde ficou hospitalizada por cerca de cinco dias.

Junto com ela permaneci, e lá acompanhei os desdobramentos do vírus naquele hospital cujas internações só aumentavam dia após dia. Outro detalhe importante sobre o público atendido na emergência e que eram internados. Contrariando o discurso do presidente que afirmava o vírus contaminar basicamente idosos, oitenta a noventa do público que estava na sala de triagem eram de jovens entre 20 a 50 anos, muitos sem qualquer morbidade.   

No quarto, com minha mãe, havia uma paciente com a idade de 84 anos. Com ela havia uma acompanhante, jovem, que foi diagnosticada dois dias mais tarde com a presença do vírus. Ouvido suas ligações telefônicas com familiares e amigos/as ficaram nítidas o seu comportamento negligente e dos demais contatados a cerca do vírus. No seu diálogo ficou subtendido que houve o mínimo de preocupação no cumprimento dos protocolos de distanciamento e uso de máscaras, seguindo o mesmo comportamento do chefe do executivo nacional.

Minha mãe já recuperada, o médio a liberou para retornar para casa. Não imaginava que, dois dias depois dela ter saído do hospital, estaria outra vez retornando ao mesmo hospital, agora levando o meu pai cujo estado de saúde havia se agravado também em decorrência do COVID 19. Por coincidência, sua internação aconteceu no fatídico dia em que o hospital havia registrado o maior número de atendimentos por COVID 19 desde o inicio da pandemia. Tanto fora como no interior do centro de triagem, dezenas de pessoas ocupavam bancos e os corredores, esperando a vez para atendimento.

Perguntei para a atendente quantos haviam sido atendidos até aquele momento. Ela me respondeu 600 pessoas, conforme o número de senhas distribuídas.  Outro aspecto curioso que constatei quando estava com o meu pai na sala de triagem, que também se repetiu na vez passada com minha mãe, era a presença de pessoas jovens.  Depois de concluído os procedimentos padrões para internação, eu e meu pai fomos encaminhados ao quarto, estando o leito ao lado onde meu pai ficou ocupado por um cidadão com a idade de 39 anos.

Sem qualquer comorbidade aparente, o quadro clínico do cidadão era mais delicado que de meu pai, com tosses freqüentes e baixa saturação de oxigênio no sangue. O que chamou a atenção foi quanto a um dos sintomas tido pelo meu pai, que não se encaixava aos padrões conhecidos pela medicina. Um soluço interminável lhe tirava todas as forças e esperanças de recuperação, que não cessava mesmo com medicações. Pesquisando alguns sites sobre esse sintoma, descobri que nos EUA foi diagnosticado um paciente contendo o mesmo sintoma. De acordo com os estudos, o soluço está relacionado à pneumonia, infecção comum advinda do vírus cujo meu pai também foi diagnosticado.

No dia seguinte, quase todos os jornais de circulação regional e mídias digitais exibiam em suas manchetes o fatídico dia onde os casos de COVID 19 haviam batido recordes. O crescimento exorbitante de casos chegou ao limite de superlotar as unidades de saúde e hospitais da região do sul de santa Catarina. Esse risco do crescimento já era previsto pelas autoridades ligadas à saúde, observando o comportamento das pessoas nas últimas semanas. É possível que o processo eleitoral, nas duas últimas semanas do pleito, tenha sido um dos principais vetores do agravamento do quadro.

As notícias de uma possível segunda onda vinham sendo alertadas cotidianamente pela imprensa, fato negligenciado pelas autoridades e a população em geral. No começo da pandemia, quando a situação do vírus não era tão assustadora como a atual, diversos hospitais de campanha foram instalados em vários estados brasileiros para dar suporte extra ao atingidos pelo COVID. Até o dia de ontem, 05 de dezembro de 2020, os jornais relatavam não haver nenhum leito disponível de UTI nos hospitais públicos do Sul de Santa Catarina. Na hipótese de alguma pessoa vir precisar desse atendimento, o protocolo no estado determinou que o paciente dever ser removido para onde houver um disponível, independente da região do estado.

 É óbvio que o quadro critico da pandemia poderia ser menos desesperador se tivesse havido maior empenho das autoridades, principalmente do presidente da república e de seu ministro da saúde, que insistem manter comportamento negacionista frente à doença.  Vem negando até mesmo a eficácia das vacinas que estão sendo produzidos, incitando a população a não se vacinarem. Para o presidente e seus seguidores, ambos insistem com a ideia insana de que a cloroquina é o medicamento capaz de curar o vírus.

Durante os quase quinze dias que permaneci no hospital mantive um diálogo permanente com médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas e demais trabalhadores sobre o tratamento do vírus. Notei que os medicamentos prescritos são padrões a todos/as os/as pacientes, nenhum deles para o combate do vírus, apenas para neutralizar seus efeitos ao organismo. Nenhum médico indicou o uso de cloroquina aos pacientes. Todos foram unânimes em afirmar que o medicamento não trouxe melhoras, muito menos a redução ou supressão do quadro viral do paciente.   

No começo de março, um enfermeiro que trabalha a alguns anos no hospital relatou que pessoas procuravam atendimento ambulatorial para fazer teste de COVID 19, no instante que apareciam alguns sintomas. Atualmente, segundo ele, virou hábito buscar atendimento quando o vírus já está alojado no pulmão, estando o pulmão 50 a 60% comprometido. O tratamento torna-se mais difícil e o período de permanência no hospital se prorroga por mais dias. Outro dado importante relatado pelo enfermeiro. Ele e os demais profissionais da saúde vêm observando que o vírus do COVID 19 já sofreu mutação de março para cá, portanto, novos tipos de medicamentos não descritos nos protocolos estão sendo ministrados para conter seus efeitos.

Acrescentou que o maior contágio do vírus se deve a baixa imunidade das pessoas. Muitas, principalmente os mais jovens, quando se submetem ao exame para detectar a presença ou não do COVID 19, parcela dos diagnósticos constatam elevada carga viral. Isso ocorre porque as pessoas estão muito próximas uma da outra e sem o uso de máscara. Admite o profissional da saúde que o principal equívoco das autoridades foi permitir a abertura de algumas atividades não essenciais, como academias, por exemplo.

Sobre as vacinas que estão sendo testadas, disse que o vírus ou cepa do vírus utilizado na produção do antídoto apresentava uma característica no início da pandemia, sendo que hoje é outra. Sobre a eficácia da vacina, admitiu que é muito cedo ainda para se ter certeza do seu sucesso. Seriam necessário cinco a dez anos para poder conferir todas as possíveis variáveis apresentadas pelas vacinas.  Há muitos casos de pessoas que foram novamente diagnosticados com o vírus quatro, três e até dois meses depois de ter tido o primeiro diagnóstico.

Não há dúvida que o crescimento de casos de contaminados por COVID 19 no Brasil e em especial em Santa Catarina, tem relação com o relaxamento das medidas de prevenção. O feriadão de 12 de outubro e as eleições municipais se tornaram os principais vetores no agravamento do quadro. Em Criciúma, pulou de 190 para 1080 casos de pessoas infectadas por dia. Em outubro os números estavam em queda, eram 134 casos/dia.  De repente os números de casos comprovados subiram assustadoramente. No dia 06 de dezembro, o número total de óbitos chegou a 144, somente em Criciúma.

Na região da AMESC, nos últimos sete dias já foram contabilizados 17 mortos, totalizando 147 nos quinze municípios. Somente em Araranguá foram 59 pessoas que perderam a vida. Para um município de porte médio, com pouco mais de 60 mil habitantes esses números de mortos são assustadores. O fato estarrecedor é que o número de óbitos poderia ser muito menor que os registrados. O relaxamento com as medidas preventivas e o negacionismo da população em relação à letalidade do vírus foram fatores preponderantes para que se chegasse a esse triste cenário.

A abertura do comércio, shoppings, bares, restaurantes, circulação de ônibus, bem como outras atividades não essenciais, criou uma sensação de que o vírus havia acabado. Festas noturnas, bailões, raves, aglomerações em praias e logradouros públicos passaram a ser rotineiro. De repente, estourou a bolha, a realidade mostra que teremos que conviver com o vírus por muito tempo, quem sabe permanente, se a população continuar acreditando que a terra é plana e que o vírus é uma gripezinha, um resfriadinho.

Prof. Jairo Cezar   

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