COVID 19 - NEGLIGÊNCIA E
IMPRUDÊNCIA SÃO FATORES DETERMINANTES À RÁPIDA DISSEMINAÇÃO DO VÍRUS
No
início da Pandemia o presidente da república fez pronunciamento em rede
nacional de radio e televisão afirmando que a população brasileira não estaria
isenta de uma possível contaminação em massa pelo COVID 19. Entretanto, no
discurso, procurou minimizar os efeitos do vírus à vida de milhões de
brasileiros. Afirmou que era preciso pensar primeiro na economia e nos empregos.
Responsabilizou a imprensa por ter
provocado clima de histeria coletiva, que o número elevado de mortes na Itália se
deve ao fato do país possuir uma população majoritariamente de idosos.
Sendo
assim, pessoas com menos de 60 anos de idade o risco de contágio seria pequeno,
menor ainda de óbitos. Relatou que pessoas como ele com histórico de atleta, os
sintomas poderão ser quase imperceptíveis, manifestando-se sob a forma de uma
gripezinha ou resfriadinho. Informou que o tratamento com a hidroxicloroquina
vinha tendo sucesso no combate do vírus, que o remédio já mostrava ser eficaz
no tratamento de doenças como a malária, lúpus, etc. Depois desse discurso, se
passaram mais de seis meses e hoje o Brasil contabiliza mais de 175 mil mortos
por COVID.
Esse
elevado número de vidas perdidas poderia ter sido muito menor se a principal
autoridade nacional tivesse, desde o início, aplicada medidas corretas e
permanentes para reduzir ao máximo a disseminação da doença. Ao contrário,
sempre apresentou um discurso negacionista, além, dele próprio, jamais ter
cumprido a risca os protocolos estabelecidos pelas autoridades internacionais e
nacionais de saúde, como os distanciamentos e o uso de máscaras.
Esse
comportamento, da principal autoridade, estimulou milhares de pessoas a
seguirem seu exemplo, principalmente de seus apoiadores. Havia se tornado
rotina pessoas dispensando o uso de máscaras, mesmo obrigatório, em quase todas
as cidades brasileiras. Quando as pessoas eram questionadas sobre o motivo do
não uso, a resposta vinha em forma de deboche, “eu não vou pegar o vírus”.
Acerca de 15 dias eu, mais três irmãos e meus pais fomos diagnosticados com
COVID 19. Nossa preocupação aumentou quando nossa mãe teve o quadro de saúde
agravada. Imediatamente levamos ao hospital onde ficou hospitalizada por cerca
de cinco dias.
Junto
com ela permaneci, e lá acompanhei os desdobramentos do vírus naquele hospital
cujas internações só aumentavam dia após dia. Outro detalhe importante sobre o
público atendido na emergência e que eram internados. Contrariando o discurso
do presidente que afirmava o vírus contaminar basicamente idosos, oitenta a
noventa do público que estava na sala de triagem eram de jovens entre 20 a 50
anos, muitos sem qualquer morbidade.
No
quarto, com minha mãe, havia uma paciente com a idade de 84 anos. Com ela havia
uma acompanhante, jovem, que foi diagnosticada dois dias mais tarde com a
presença do vírus. Ouvido suas ligações telefônicas com familiares e amigos/as ficaram
nítidas o seu comportamento negligente e dos demais contatados a cerca do
vírus. No seu diálogo ficou subtendido que houve o mínimo de preocupação no
cumprimento dos protocolos de distanciamento e uso de máscaras, seguindo o
mesmo comportamento do chefe do executivo nacional.
Minha
mãe já recuperada, o médio a liberou para retornar para casa. Não imaginava
que, dois dias depois dela ter saído do hospital, estaria outra vez retornando
ao mesmo hospital, agora levando o meu pai cujo estado de saúde havia se agravado
também em decorrência do COVID 19. Por coincidência, sua internação aconteceu no
fatídico dia em que o hospital havia registrado o maior número de atendimentos
por COVID 19 desde o inicio da pandemia. Tanto fora como no interior do centro de
triagem, dezenas de pessoas ocupavam bancos e os corredores, esperando a vez
para atendimento.
Perguntei
para a atendente quantos haviam sido atendidos até aquele momento. Ela me
respondeu 600 pessoas, conforme o número de senhas distribuídas. Outro aspecto curioso que constatei quando
estava com o meu pai na sala de triagem, que também se repetiu na vez passada com
minha mãe, era a presença de pessoas jovens. Depois de concluído os procedimentos padrões
para internação, eu e meu pai fomos encaminhados ao quarto, estando o leito ao
lado onde meu pai ficou ocupado por um cidadão com a idade de 39 anos.
Sem
qualquer comorbidade aparente, o quadro clínico do cidadão era mais delicado que
de meu pai, com tosses freqüentes e baixa saturação de oxigênio no sangue. O
que chamou a atenção foi quanto a um dos sintomas tido pelo meu pai, que não se
encaixava aos padrões conhecidos pela medicina. Um soluço interminável lhe
tirava todas as forças e esperanças de recuperação, que não cessava mesmo com
medicações. Pesquisando alguns sites sobre esse sintoma, descobri que nos EUA foi
diagnosticado um paciente contendo o mesmo sintoma. De acordo com os estudos, o
soluço está relacionado à pneumonia, infecção comum advinda do vírus cujo meu
pai também foi diagnosticado.
No
dia seguinte, quase todos os jornais de circulação regional e mídias digitais
exibiam em suas manchetes o fatídico dia onde os casos de COVID 19 haviam batido
recordes. O crescimento exorbitante de casos chegou ao limite de superlotar as
unidades de saúde e hospitais da região do sul de santa Catarina. Esse risco do
crescimento já era previsto pelas autoridades ligadas à saúde, observando o comportamento
das pessoas nas últimas semanas. É possível que o processo eleitoral, nas duas
últimas semanas do pleito, tenha sido um dos principais vetores do agravamento
do quadro.
As
notícias de uma possível segunda onda vinham sendo alertadas cotidianamente
pela imprensa, fato negligenciado pelas autoridades e a população em geral. No
começo da pandemia, quando a situação do vírus não era tão assustadora como a
atual, diversos hospitais de campanha foram instalados em vários estados
brasileiros para dar suporte extra ao atingidos pelo COVID. Até o dia de ontem,
05 de dezembro de 2020, os jornais relatavam não haver nenhum leito disponível
de UTI nos hospitais públicos do Sul de Santa Catarina. Na hipótese de alguma
pessoa vir precisar desse atendimento, o protocolo no estado determinou que o
paciente dever ser removido para onde houver um disponível, independente da
região do estado.
Durante
os quase quinze dias que permaneci no hospital mantive um diálogo permanente
com médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas e demais trabalhadores
sobre o tratamento do vírus. Notei que os medicamentos prescritos são padrões a
todos/as os/as pacientes, nenhum deles para o combate do vírus, apenas para
neutralizar seus efeitos ao organismo. Nenhum médico indicou o uso de
cloroquina aos pacientes. Todos foram unânimes em afirmar que o medicamento não
trouxe melhoras, muito menos a redução ou supressão do quadro viral do
paciente.
No
começo de março, um enfermeiro que trabalha a alguns anos no hospital relatou
que pessoas procuravam atendimento ambulatorial para fazer teste de COVID 19, no
instante que apareciam alguns sintomas. Atualmente, segundo ele, virou hábito
buscar atendimento quando o vírus já está alojado no pulmão, estando o pulmão
50 a 60% comprometido. O tratamento torna-se mais difícil e o período de
permanência no hospital se prorroga por mais dias. Outro dado importante
relatado pelo enfermeiro. Ele e os demais profissionais da saúde vêm observando
que o vírus do COVID 19 já sofreu mutação de março para cá, portanto, novos tipos
de medicamentos não descritos nos protocolos estão sendo ministrados para
conter seus efeitos.
Acrescentou
que o maior contágio do vírus se deve a baixa imunidade das pessoas. Muitas, principalmente
os mais jovens, quando se submetem ao exame para detectar a presença ou não do
COVID 19, parcela dos diagnósticos constatam elevada carga viral. Isso ocorre
porque as pessoas estão muito próximas uma da outra e sem o uso de máscara.
Admite o profissional da saúde que o principal equívoco das autoridades foi
permitir a abertura de algumas atividades não essenciais, como academias, por
exemplo.
Sobre
as vacinas que estão sendo testadas, disse que o vírus ou cepa do vírus
utilizado na produção do antídoto apresentava uma característica no início da
pandemia, sendo que hoje é outra. Sobre a eficácia da vacina, admitiu que é
muito cedo ainda para se ter certeza do seu sucesso. Seriam necessário cinco a
dez anos para poder conferir todas as possíveis variáveis apresentadas pelas
vacinas. Há muitos casos de pessoas que foram
novamente diagnosticados com o vírus quatro, três e até dois meses depois de
ter tido o primeiro diagnóstico.
Não
há dúvida que o crescimento de casos de contaminados por COVID 19 no Brasil e em
especial em Santa Catarina, tem relação com o relaxamento das medidas de
prevenção. O feriadão de 12 de outubro e as eleições municipais se tornaram os
principais vetores no agravamento do quadro. Em Criciúma, pulou de 190 para
1080 casos de pessoas infectadas por dia. Em outubro os números estavam em
queda, eram 134 casos/dia. De repente os
números de casos comprovados subiram assustadoramente. No dia 06 de dezembro, o
número total de óbitos chegou a 144, somente em Criciúma.
Na
região da AMESC, nos últimos sete dias já foram contabilizados 17 mortos,
totalizando 147 nos quinze municípios. Somente em Araranguá foram 59 pessoas
que perderam a vida. Para um município de porte médio, com pouco mais de 60 mil
habitantes esses números de mortos são assustadores. O fato estarrecedor é que o
número de óbitos poderia ser muito menor que os registrados. O relaxamento com
as medidas preventivas e o negacionismo da população em relação à letalidade do
vírus foram fatores preponderantes para que se chegasse a esse triste cenário.
A
abertura do comércio, shoppings, bares, restaurantes, circulação de ônibus, bem
como outras atividades não essenciais, criou uma sensação de que o vírus havia
acabado. Festas noturnas, bailões, raves, aglomerações em praias e logradouros
públicos passaram a ser rotineiro. De repente, estourou a bolha, a realidade
mostra que teremos que conviver com o vírus por muito tempo, quem sabe
permanente, se a população continuar acreditando que a terra é plana e que o vírus
é uma gripezinha, um resfriadinho.
Prof. Jairo Cezar
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