FRAGMENTOS
DA COMPLEXIDADE POLÍTICA QUE PERMEIAM ALGUNS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA
Penso
ser oportuno fazer algumas considerações relativas às afirmações errôneas,
maldosas, ditas por pessoas sobre sistemas de governos socialistas e
comunistas. É corriqueiro ouvir de pessoas que se dizem apoiadores de
Bolsonaro, quando afrontadas, responderem agressivamente: vá para a Venezuela,
vá para Cuba!!! São indivíduos que pouco ou nada conhecem a fundo a realidade
política e econômica desses e outros países, mesmo sendo capitalistas. Suas
informações são fundamentadas em opiniões de grupos de redes sociais ou em leituras
fragmentadas de sites sem qualquer credibilidade científica. O mais grave de
tudo, aí sim demonstrando profunda limitação cognitiva, é de insistir taxar
qualquer indivíduo que pensa que questiona o atual governo, de defender o comunismo.
Comunista
na sua concepção filosófica se define aquele indivíduo ou grupo social cujas
relações de convívio, de produção são compartilhadas entre os seus integrantes.
No entanto, comunismo é um estágio de evolução extremamente complexo que
somente foram atingidos por alguns grupos sociais bem específicos, como certas
comunidades indígenas na América Latina. A Revolução Russa em 1917, primeiro
país a experimentar o socialismo idealizado por Karl Marx e outros teóricos, no
seu curso, vários equívocos foram cometidos pelos seus líderes resultando na
sua derrocada em 1989, com a derrubada do muro de Berlim, principal fronteira
entre o mundo soviético/socialista e o ocidente/capitalista.
China,
Cuba, Vietnã, são países que embora se caracterizem como socialistas, tem parte
da sua economia gestada por empresas do segmento privado, principalmente de
altas tecnologias como o Vietnã e China. Cuba, por exemplo, mais de trinta por
cento do PIB é oriundo do setor privado, na sua maioria empresas ligadas ao
setor de turismo. A China é outro exemplo de nação, onde embora o Estado tenha
o controle de parcela de suas empresas estratégicas, a economia é
significativamente dominada por fluxos de capitais globalizados. Atualmente, são
chineses e norte americanos que dominam o tabuleiro geoeconômico mundial, sendo
o Brasil como parceiro econômico importante exportador de commodities a essas
potências.
Já
a Venezuela, país da América do Sul, jamais foi e é uma nação socialista ou
comunista, como muitos insistem em afirmar que é. Como todas as sociedades latino americanas, a
Venezuela sofreu o mesmo processo de espoliação colonial a partir do século XV.
A Venezuela tem no petróleo a sua principal base de sustentação econômica, grau
de importância tão expressivo que lhe garantiu inclusão no seleto grupo da OPEP
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo). As crises cíclicas do
capitalismo que assolam o planeta, seus efeitos são mais relevantes naqueles
países cujas economias são menos diversificadas e dependentes da exportação de
commodities, a exemplo da Venezuela, que depende da exportação de petróleo.
Vamos
tentar aqui procurar quebrar os espectros dos termos bizarros expressados por
bolsonaristas ultraconservadores/neoliberais, que demonstram sentir saudades da
ditadura de 1964, usando expressões agressivas do tipo, vá morar na Venezuela,
vá morar em Cuba, para aqueles que não comungam com suas concepções. Como já expressei
em um parágrafo acima, Venezuela jamais foi e é uma nação comunista, e Cuba,
que é socialista e não comunista, já possui mais de 20% da população do país empregada
na iniciativa privada, somando mais de 30% do Píb para o país.
Afinal
como está estruturado o mapa político ideológico da América latina, sabendo que
somente um país, Cuba, se caracteriza como socialista, porém com uma pequena
abertura para o capitalismo. Vamos entender, portanto, como cada nação ou grupo
de nações da América Latina e Caribe se enquadram segundo as tendências
políticas ideológicas fundamentadas no sistema de produção capitalista. Podemos
começar falando sobre aqueles que se enquadram como integrantes da DIREITA CONSERVADORA. Temos exemplos do
Paraguai, de Mario Abdo Benitez, atual presidente, e da Colômbia, quando
governada por Ivan Duque. Ambos os líderes adotaram ou adotam posições
contrárias a legalização do aborto, ao casamento do mesmo gênero, entre outras
pautas conservadoras de cunho neoliberal.
O
segundo grupo são aqueles classificados de DIREITA
FLEXÍVEL. Temos exemplos do Chile, quando governado por Sebastião Pinheira
e da Argentina, por Mauricio Macri. Embora Macri tenha realizado algumas
privatizações como energias e centrais térmicas, ambas revogadas pelo sucessor
Alberto Fernandes, o estadista argentino foi o primeiro a defender a
legalização do aborto em seu país, posição semelhante do seu colega chileno,
Pinheira. O chileno, no final do mandato, já propunha a aprovação de leis que
garantisse o casamento entre os mesmos gêneros. No final de quatro anos de
governo Macri, a Argentina havia contraído uma divida pública de mais de 200
bilhões de dólares.
O
terceiro grupo de países são aqueles que defendem pautas ultraconservadoras,
nacionalistas, anticosmopolitas, militaristas e fundamentalistas. Nesse caso,
temos como exemplo o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, considerado um DIREITISTA EXTREMISTA. Suas ideias e
conceitos se aproximam de ex-presidentes golpistas como Alfredo Stroessner, do
Paraguai e Augusto Pinochet, do Chile. Ambos protagonizaram golpes políticos, cujas
ditaduras resultaram em centenas de milhares de mortos e desaparecidos.
Tivemos
e temos na América Latina nações e governos cujos mandatos seguiram e seguem
diretrizes políticas com pautas mais progressistas no campo social e econômico.
Esses grupos são identificados de esquerdas dentro do capitalismo. Deixar claro aqui que por serem considerados
esquerdistas não significa que defendam rupturas econômicas estruturais, nada
disso, defendem políticos de melhor distribuição de renda e relativo controle
de empresas estratégicas pelo Estado. Observando os mandatos desses países,
todos, sem exceção, mantiveram algum grau de alinhamento com o sistema
financeiro internacional, porém, mais focados em investimentos em programas
sociais como educação, saúde, segurança, meio ambientes, etc.
Estiveram
e estão nesse grupo de ESQUERDAS
PROGRESSISTAS os ex-governos Tabaré Marques e José Mujica, ambos do
Uruguai, e o atual presidente do Chile, Gabriel Borges. São governos que
defenderam explicitamente pautas ditas progressistas como a legalização do
aborto, da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Existem também
governos dentro da esquerda latino-americana que se definem conservadores,
contrários as políticas de legalização do aborto, casamento homo afetivo, etc.
Entretanto, no campo social e econômico concordam que o Estado se mantenha forte
e atuante na concessão e preservação de políticas que proporcionem o bem estar
social. Pedro Castilho, do Peru, é um exemplo de estadista mais alinhado a esse
viés social conservador, comparado a outros líderes também de esquerda, porém,
mais progressistas no campo social.
Por
últimos, talvez muitos queiram até discordar desse rótulo ideológico de
esquerda extremista concedido a dois estadistas, um dá América do Sul, Nicolau
Maduro, da Venezuela, e o segundo, da América Central, Daniel Ortega, da
Nicarágua. As mídias corporativas e grupos à direita da América latina e de
outros continentes definem esses dos mandatários como ditadores, por apregoarem
o terror em seus países. Embora sendo governos esquerdistas, muitos alegando
até esquerdistas reacionários, em nenhum momento proferiram algum discurso
defendendo a estatização de toda a estrutura produtiva dos seus países.
O
caso da Venezuela é emblemático, pois o governo vem sofrendo sérias sansões
econômicas, que deixaram o país desabastecido, principalmente com medicamentos
para o enfrentamento da COVID 19. As mídias e o próprio governo brasileiro se aproveitaram do momento critico vivido
pela Venezuela para taxar o governo maduro de ditador, de culpado pelo quadro
social e econômico caótico.
Fato
curioso é quando os mesmos que incitam aos que se opõem ao governo Bolsonaro a
saírem do país e viverem na Venezuela, por serem socialista/comunista, esses
mesmos que criticam têm Portugal como um dos destinos preferidos. Atualmente o
país europeu é o segundo destino de brasileiros. O que muitos desses não sabem
ou fingem não saberem é que Portugal é governado por um presidente socialista,
isso mesmo, socialista, como outros países europeus. Portanto, por que não
fazem a mesma crítica, chacota com aqueles que viajam para Portugal, na sua
grande maioria para trabalhar?
Outra
contradição desses que vêem no atual presidente a possibilidade de instalação
de uma ditadura no Brasil e que tornará a economia mais liberal. Não sabem e
deveriam estudar mais que durante o regime militar o Brasil se fechou para o
mundo, quase nada era importado, em vez de privatização, foi o período de maior
estatização da história recente do Brasil, mais de 300 empresas importantes
passam para o regime público. Se imaginavam que estatização, passar para as
mãos do Estado, é coisa de regime socialista/comunista, qual a explicação que
se poderia dar aos governos militares?
A
Argentina, durante a ditadura, manteve forte comércio bilateral com a União
Soviética, que era socialista!! Então, como explicar a postura dos generais
argentinos, que se reafirmavam anticomunistas? Como irão reagir muitos dos
adeptos ao governo ultradireitista de bolsonaro, que acreditam que somente com
uma ditadura é possível solucionar os problemas econômicos e sociais,
entregando tudo para a iniciativa privada. Quando souberem desses fatos
envolvendo os governos militares com estatizações em massa e fechamentos
brutais da economia terão surtos psicóticos.
Prof.
Jairo Cesa
https://www.brasildefato.com.br/2019/02/04/10-mentiras-sobre-a-venezuela-que-de-tanto-repetirem-se-tornaram-base-para-opiniao
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