domingo, 9 de outubro de 2022

 

CURSO DE AGROECOLOGIA COM O DR. SEBASTIÃO PINHEIRO EM DOM PEDRO DE ALCÂNTARA/RS: COMPREENDER A DINÂMICA DOS SOLOS  PARA ASSEGURAR A SOBREVIVÊNCIA DO PLANETA



Durante os dias 25, 26, 27 e 28 de setembro de 2022 aconteceu no Centro Ecológico em Dom Pedro de Alcântara, RS, curso de Agroecologia com o renomado professor Dr. Sebastião Pinheiro. Há mais de quarenta anos o professor atua junto às comunidades camponesas na América latina em ações que visam empoderá-las de técnicas simples e de baixo custo para compreender a dinâmica da biótica do solo. Durante séculos as populações campesinas e de agricultores dominavam técnicas de manejo equilibrado do solo e de sementes, sem se subjugarem à escravidão do mercado.

Nas décadas de 1960 em diante, o avanço da Revolução Verde impôs aos quatro cantos do planeta, modelo de agricultura que transformou o agricultor/camponês em escravo das corporações que paulatinamente dominaram o bilionário mercado de sementes, insumos e agrotóxicos. A agroecologia, no entanto, nas últimas décadas do século XXI vem se contrapondo a ação perversa do agronegócio, que esteriliza solos, impacta rios, florestas e toda a biótica.

O empoderamento de técnicas de confecção da CROMATOGRAFIA DE PFEOFFER; DA PRODUÇÃO DE FARINHA DE ROCHA; ADUBAÇÃO VERDE; PALETIZAÇÃO DE SEMENTES; MICROORGANISMOS CAMPONESES; BIOFERTILIZANTES; ÁGUA DE VIDRO; MICORRIZAS; CALDAS MINERAIS, entre outras soluções, são poderosas ferramentas conhecidas há séculos, milênios, por certas culturas, que asseguram absoluta independência do agricultor no manejo do solo, colheita e comércio do que é produzido.  O fato é que são irrisórios os agricultores que conhecem e aplicam essas técnicas alternativas de cultivo, pois diariamente são enfeitiçados por publicidades que os seduz à praticidade no campo, a promessa de grande de grande produção e riqueza comprando os pacotes oferecidos pelo mercado.  

O que acontece de fato é a perda quase completa do agricultor da sua identidade de sujeito histórico, conhecedor das etapas do processo produtivo.  A não compreensão do conjunto sistêmico produtivo o transforma em uma espécie de marionete social, guiada por mãos poderosas, insensíveis e sem o mínimo de identidade coletiva. Quando se imagina que as forças dominantes do agronegócio se colocam como irreversíveis, que a agroecologia teria apenas espaço limitado nesse planeta afetado por mudanças climáticas extremas e letais aparece do professor Sebastião como uma ave fênix ressurgido das cinzas.

Plantar esperança é sem dúvida uma das suas principais propostas. Reconstruir paradigmas quase esquecidos de coletividade permeia toda a sua dinâmica educativa. Para o professor, nada resolve apresentar modelos prontos de técnicas de cultivo às culturas distintas, pois cada qual tem suas particularidades, diferenciações. O melhor meio para absorver práticas é ensinar conceitos e não fórmulas matemáticas prontas.

É comum antes do plantio de certas culturas o produtor rural avaliar a qualidade do solo, o ph, potencial nutricional e demais componentes obrigatórios ao bom desenvolvimento da planta. Essa tarefa geralmente é incumbida ao agrônomo, técnico agrícola, que colhe amostras do solo, leva até o laboratório para analise por meio de combinações químicas. Análises de tipo têm certo custo, podendo ser bem mais oneroso quando se deseja obter mais informações. Pequenos agricultores jamais foram oportunizados a essas técnicas, custo elevado tende a ser o fator impeditivo.

Era inimaginável que algo aparentemente tão complexo e reservado somente a profissionais altamente qualificados pudesse ser construído com custo quase zero. Isso mesmo, custo quase zero. Foi isso o que aconteceu no primeiro dia do curso com o professor Sebastião Pinheiro. Ele ensinou aos presentes a CROMATOGRAFIA, técnica de separação de partículas de terra para identificar ou não presença de vida e tipos de minerais no solo. O que impressionou foi o fato de a mesma poder ser realizada coletivamente, ou seja, em casa dos próprios camponeses, transformadas em laboratórios. Água destilada ou água de “deus”, soda caustica e nitrato de prata são os ingredientes necessários para a realização dos experimentos. Em cinco ou seis dias os resultados estarão prontos. Entretanto, a compreensão de como está o solo será interpretativa, pois cada tom de cor apresentada no cromo tem se significado.  

Uma diversidade de cores, do branco, preto e vários tons de cinza vão se destacando no papel. Cada cor representa um tipo diferente de mineral, elementos vivos e nocivos presentes no solo. O branco, por exemplo, que poderá se destacar no centro do papel revelará que o solo tem presença significativa ou discreta de vida microbiana. Se estendendo para as extremidades do círculo pode-se verificar a presença ou não de minerais e outros elementos químicos importantes para o desenvolvimento da planta, como potássio, fosfato, entre outros. Com base nas observações cromatográficas será possível fazer o manejo correto do solo, para torná-lo o mais produtivo possível.

A regulação da CADEIA BIÓTICA do solo é o que será realizado no momento que o agricultor concluir o processo de análise cromatográfica. Restabelecer a vida no solo, a diversidade microbiana, exigirá a aplicação de pó de rocha, folhas secas, matéria verde, esterco, etc. o processo regulatório é tão importante e necessário porque ajudará na regulação do clima global. Países como o Japão, após um rigoroso inverno, o solo é recuperado como a aplicação de TORTA DE BOCASHI, um adubo fermentado. Em climas tropicais ou subtropicais o bocashi pode ser preparado com extraordinário êxito. É comum na agroecologia, quando se constata a baixa incidência de vida no solo, recolher na floresta os MICRÓBIOS ESSENCIAIS utilizando arroz cozido ou abóbora. Esses micróbios, principalmente os que apresentam tons mais claros podem ser inseridos em compostagens e outros compostos, tornando-os mais ricos em termos nutricionais.   

Em uma agricultura moderna, o mercado estabelece modelos a serem seguidos por todos os agricultores independente do local, clima, relevo, etc. As sementes, os insumos, os agrotóxicos, etc, apresentam as mesmas moléculas aplicadas em qualquer parte do mundo. Bem diferente de um sistema agroecológico, onde em um mesmo bioma ou fração territorial, o solo, aspectos climáticos, geomorfológicos se mostram diferentes da do vizinho ao lado. Portanto, são particularidades que devem ser consideradas antes do cultivo.

Um dos graves equívocos cometidos pelo ser humano foi ter passado longo período discutindo transgênicos, tempo esse aproveitado para estudar ambientes, mudanças na propriedade, o ângulo da incidência maior ou menor de solo, alterações na quantidade e na qualidade do produto colhido, etc. Claro que diante de um sistema produtivo baseado rentabilidade a qualquer custo, os transgênicos foram bem vindos.  

Por ser a região do norte do rio Grande do Sul um dos pólos produtivos de banana do muito do que se aprendeu no curso com o professor Sebastião teve a fruta como principal objeto de investigação. O tema ÁGUA DE VIDRO, intensamente debatido e aprendido a sua formulação química, tem a sua aplicabilidade às culturas da banana, maça, pitaya, entre outras tantas. A fruta banana geralmente é cultivada em regiões com boa incidência de chuva. Esse fator contribui para que o tronco da fruta produza doses elevadas de potássio. A aplicação de água de vidro ajuda no fortalecimento das folhas, impedindo a perda desse importante elemento.

Água de vidro é um preparado antigo, surgido no oriente, século XI. Ingredientes necessários são QUATRO PARTES DE CINZA DE FOGÃO, UMA PARTE DE CAL E CINCO PARTES DE ÁGUA QUENTE. Em dez minutos a solução estará pronta. O silício é absorvido e rapidamente engrossa o caule. Ele é um estimulador de proteção metabólica as plantas, fortalecendo, tornando-as resistentes as pseudo pragas, às geadas, às estiagens.

Recomenda-se sua aplicação durante as manhãs ou à tardinha. Deve-se repetir a aplicação a cada dez dias. Jamais aplicar em dias ensolarados, pois a cal pode danificar as folhas e reação a luz solar. É recomendado não guardar em garrafas pets. Portanto, repetindo, a cinza deve ser misturada com cal e misturada a seco. Depois, colocar água quente e mexer até dissolver completamente. Concluída essa etapa, dependendo o montante desejado, inserir 91 partes de água fria, coar com um pano e está pronto para aplicação. Para cada vinte litros de água adicionar 250 ml do produto.

Outro produto importante para o desenvolvimento de raízes das plantas da bananeira, em especial, é o ACIDO FÚLVICO, elaborado a partir da adição de TERRA TURFA, CINZA, PITADINHA DE SODA, MAIS ACIDO MURIÁTICO OU ACIDO CLORÍDRICO. Feita a poção, é recomendado 2,5 ml de acido fulvico em água de vidro e pulverizar as folhas das plantas. Esse produto ativa o sistema secundário das plantas.

Durante a fala o professor destacou as cinco espécies de seres vivos no planeta classificadas de agricultoras. O primeiro deles é o CUPIM. Como funciona o processo agrícola do cupim? O inseto rói madeiras e defeca um pó. No pó é impregnada uma enzima que faz gerar um fungo ou cogumelo, alimento do cupim. O segundo ser vivo agricultor é a FORMIGA SAÚVA. O interessante é que o inseto é considerado excelente indicador de problemas no campo que o agricultor deve prestar a atenção. Geralmente a formiga ataca plantas que apresentam deficiências, doenças, para cortar as folhas. Por que plantas doentes são as preferidas dessas formigas? A resposta é simples. Quanto mais frágeis forem as plantas, mais acelerado será o processo de fermentação ou formação de fungo para se alimentar. Por que prestar atenção no comportamento desse inseto? A resposta são 90 milhões de anos de existência do inseto.

O ataque de plantas por formigas cortadeiras frequentemente é combatido por inseticidas. Na agroecologia esse recurso é completamente impraticável. Uma das alternativas recomendadas é a aplicação de um fungo obtido da laranja em início de decomposição. Quando a laranja é envolvida por um mofo, ou fungo, recomenda-se lavá-la em um balde de água. Os esporos são despejados nos buracos dos formigueiros onde faz desaparecê-las. Os esporos fazem germinar o fungo no interior do formigueiro, atuando como um antagonista, opositor ao fungo das folhas que alimentam as formigas. É importante acrescentar que são medidas paliativas o uso desses recursos até o momento que for restabelecido a vida desse solo. Ao melhorar a vitalidade do solo, que pode levar seis ou sete anos, as formigas se retiram naturalmente. Muitos devem ter observado que é muito difícil ver formigas cortadeiras em hortas quando o solo está bem alimentado.   

O terceiro agricultor são as ABELHAS, que a 60 milhões de anos retiram o pólem, néctar das flores e as transformam em mel. A abelha possui enzimas das quais impedem a fermentação do néctar durante o vôo até a colméia. No entanto, o inseto regurgita o néctar na colmeia, liberando enzimas que se transformam em mel.  O quarto na sequência é UM RATO, que só existe no Quênia. O roedor vive no solo e se reproduz rapidamente. Esse mamífero é semelhante às abelhas, ou seja, sociedade matriarcal cujas fezes da rainha são transformadas em fungo, cujas quais alimentam as operárias. E presença de enorme quantidade de hormônio nas fezes contribui para que as operárias se tornem estéreis, inférteis, porém, não impedem de desenvolverem elevado senso maternal. São, por fim, as abelhas operárias que criam os filhos da rainha.

O Japão vem investindo muito nos estudos desse rato/roedor/mamífero, isso se deva ao fato de ter sido descoberto que o mamífero não desenvolve células cancerígenas. Os japoneses acreditam que é possível detectar nesse roedor fatores biológicos que impedem a formação de tumores. A proposta, portanto, dos cientistas japoneses é produzir substâncias das células desse mamífero capaz de prevenir ou até mesmo curar cânceres em humanos. Para fechar a lista de espécies agricultoras, o último da lista é o ser HUMANO.

Diferente das demais espécies de agricultores, a atividade agrícola pelos humanos teve início há cerca de dez mil anos. No entanto apenas agora, pouco mais de 20 a trinta anos, a indústria aceita que se faça micróbio para nutrir o solo. As crises estão se tornando tão ameaçadoras que os sistemas industriais vêm concluindo que é necessário salvar os solos para que o ser humano não desapareça em decorrência das mudanças climáticas. Não há mais dúvida que é o modelo agrícola moderno ou agronegócio um dos grandes responsáveis pelo agravamento do clima global.

Imprescindível em um sistema agroecológico que o agricultor/a compreenda a dinâmica do seu espaço produtivo, se apoderando de técnicas milenares e as utilizando conforme as peculiaridades do seu solo. O mercado durante décadas impôs regras homogêneas determinando o que deve e como deve o agricultor manejar o seu solo. Esse é modelo produtivo imposto por regimes ditatoriais, no qual tirou todo o saber pensar e saber fazer do camponês. A individualização também foi outra estratégia bem sucedida pela ditadura para impedir trocas de saberes e organizações coletivas. A agroecologia diferente da agricultura moderna se sustenta no fortalecimento dos processos organizacionais de troca de experiências e no agir coletivo.

Conforme relatou o professor Sebastião, mais de 90% das doenças que ocorrem na agricultura se originam no momento da semeadura. No instante que a semente começa a germinar, fungos e demais elementos patogênicos as contaminam. Recomenda-se a peletização das mesmas, ou seja, cobri-las com pó de rocha basáltica e cola. O PÓ DE ROCHA POSSUI ELEMENTOS QUÍMICOS QUE REAGEM CRIANDO CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS QUE MATAM OS FUNGOS PRESENTE NA SEMENTE. A presença do fungo torna-se perceptível na floração, a exemplo da Antracnose. Pode-se também acrescentar na peletização PÓ DE CARVÃO VEGETAL E UM FUNGO BENÉFICO PARA TORNÁ-LA MAIS RESISTENTE.

 A técnica da coleta de MICRORRISAS também foi destaque no curso com o professor Sebastião. Algumas plantas a exemplo do picão preto pode ser arrancado com uma pá, cobrir as raízes com pano e deixá-lo secando, na sobra, por um tempo. Depois de seco, adicioná-lo em um recipiente com água, cujos nutrientes, bacilos saudáveis, devem ser lançados ao solo para aumentar a fertilidade.  Os fungos existentes nas micorrisas são divididos em endomicorrizas e ectomicorrizas.

O primeiro, endomicorrizas, é encontrado em 80% das plantas, são cerca de 300 espécies ao todo. São fungos que realizam a transferência de nitrogênio orgânico e fósforo para o vegetal. Ajudam também a aumentar a absorção de alguns microelementos, como zinco, manganês e cobre, além, é claro, da água. Esses fungos também ajudam a fortalecer as plantas contra fitopatogenos e nematódeos. Em troca as plantas fornecem o carbono fixado, na forma de açucares e vitaminas essenciais. O segundo, o ectomicorrizas, coloniza a parte externa da planta, envolvendo-as.

A produção de biofertilizantes se caracteriza como excelente e prático recurso alternativo a disposição do agricultor. O seu inventor foi um agricultor gaucho conhecido pelo nome de DELVINO MAGRO. A fórmula foi batizada de SUPERMAGRO e se espalhou por toda a América Latina e outros países. O uso desse produto permite a recuperação do solo e reduz drasticamente a dependência dos agricultores aos produtos sintetizados. São inúmeras as receitas de supermagro, no entanto, o camponês pode usar os ingredientes que estão mais a disposição que outros. Recomenda-se depositar em um tonel grande, 20 kg de esterco de vaca fresco; 2 litros de soro; 1 ½ kg farinha de rocha ou 1 ½ kg cinza, pode acrescentar ambos, metade de cada; 100g de levadura/fermento; 1kg de melado e 80% de água.

O primeiro passo é colocar o esterco no tonel e 50% de água; dissolver o melado em um balde, acrescentando o fermento. Depois de dissolvido, colocar no tonel e mexer novamente com um bastão. Acrescente também o soro/leite e novamente mexer. Agora é a vez dos minerais, podendo ser 500g de fosfito; 500g, cinza e 500g de farinha de rocha. Feita a mistura, colocar no tonel, acrescentando mais água, até rente a tampa.

Concluído todas as etapas, agora é fazer um furo na tampa e inserir uma mangueira cuja ponta ficará dentro de uma garrafa pet com água limpa. O gás metano será liberado pela fermentação. Trinta dias mais ou menos o fertilizante supermagro estará pronto. Recomenda-se fazer alguns testes em plantas para definir a dosagem ideal na aplicação das demais plantas.  Se desejar tornar o supermagro mais complexo, pode-se acrescentar depois de três dias, 2kg de sulfato de zinco; seis dias, 600g de sulfato ferroso; nove dias, 2kg de sulfato de magnésio; doze dias, 600g de sulfato de manganês; quinze dias, 500g de sulfato de cobre, e dezoito dias,  2kg de cloreto de cálcio. Depois de adicionar todos os elementos, aí sim, contar trinta dias e estará pronto para a aplicação.

Quando um solo apresenta alguma deficiência é preciso prestar atenção em alguns bio indicadores, ou seja, mecanismos altamente eficientes para verificar possíveis anomalias no solo, água, etc. Atualmente um dos maiores problemas enfrentados pela humanidade é a contaminação da água por agrotóxicos. Muitas vezes a única maneira para conferir a presença de contaminantes são análises laboratoriais. É possível a aplicação de uma técnica bem simples para saber. Depositar sementes de camomila em um pequeno recipiente com água. Depois de três ou quatro dias as sementes começam a germinar. Se a água estiver contaminada, a plantinha irá morrer após germinar, portanto essa água deverá ser evitada para o consumo.

Um dos produtos naturais de uso agrícola mais utilizado no planeta é sem dúvida biofertilizantes, que é resultado da fermentação uma ou várias substâncias. O professor relatou a história de um biofertilizante conhecido no planeta, cujo nome é supermagro. Esse nome se deve ao seu criador, um técnico agrícola do Rio grande do Sul, produtor de maçã que desenvolveu a fórmula “mágica” para produzir a fruta sem a aplicação de produtos químicos. É importante aqui destacar que o fertilizante supermagro sua fórmula pode ser ajustada de acordo com a cultura a ser aplicada, a região e o clima. Em regiões de clima tropical, de temperaturas elevadas, o tempo de fermentação desse biofertilizante pode varia de 15 a 20 dias. Já em regiões com temperaturas mais amenas como a região sul do Brasil, o processo de fermentação pode levar até 120 dias.

O professor ensinou uma fórmula para a produção de biofertilizante que dificilmente será esquecido. A fórmula é quase uma brincadeira, que é assim expressada: 144 – 44 – 4-4-, ou seja, 144 litros de água, 44 kg de esterco, 4 kg de pó de rocha e 4 litros de melado ou garapa. Deixar fermentar por 30, 60 ou 90 dias.  Quanto à matéria orgânica, cada um utiliza aquela que tem disponível, conforme a região e o clima. No Rio Grande do Sul, existem nada mais nada menos que 276 tipos diferentes de biofertilizantes. A grande quantidade se deve ao fato de evitar qualquer risco de alguma empresa vir a patentear o produto.

A química sem dúvida foi a área do conhecimento que transformou a Alemanha em uma das grandes potências econômicas. A participação de um cientista chamado Alexandre Humboldt fez grande diferença. No final do século XIX, Humboldt viajou para o México e transformou a casca da planta salix ou salgueiro, que combate a febre, no medicamento aspirina. Para dinamizar a venda desse produto, como fazem todas as corporações, criou meios para menosprezar práticas caseiras ou populares de chás, como o que era realizado com casca de salix. Outra curiosidade dita pelo professor é que a Alemanha compra quase todos os caroços de manga colhida no mundo inteiro. Os caroços são moídos e transformados em creme, da marca "nivea", para retardar o envelhecimento.

O resultado da ocupação das terras periféricas do planeta pelas metrópoles européias foi de apoderar-se das riquezas naturais, como o pau brasil, seringueira, cacau, café, entre outras centenas de espécies. A intenção foi transformar mecanicamente esses produtos e agregar valor infinitamente superior ao da matéria prima. Aqui explica o fato desses países periféricos, Brasil em especial, onde a educação e a ciência são tratadas com tanto desprezo. Se a Alemanha, Inglaterra, Itália, Bélgica, Suíça, Japão, etc, se destacam mundialmente na economia, na tecnologia, não há dúvida que o motivo foi investimento milionário no sistema educativo.

O café sombreado, gasta menos energia, portanto, mais saudável ele fica. Quando o café passou a ser cultivado no vale do Paraíba, final do século XIX, todo o esterco das fazendas de gado, burros, das fazendas do entorno dos cafezais passou a ser aplicado nos cafezais. Na década de 1940, já preparando a revolução verde, o esterco passou a ser substituído por tortas de algodão, tortas de mamona e de amendoim. Na Amazônia, o japonês ainda faz adubação verde para centenas de hectares de culturas. Em 1964, regime militar, os americanos impuseram novo modelo de cultivo agrícola a partir de compostos químicos. Afirmavam equivocadamente que a matéria orgânica deveria ser enterrada a 30 ou 40 cm de profundidade. Contrapondo ao modelo agrícola americano, os japoneses faziam adubação verde para adquirir autonomia e independência. No Brasil, com a revolução verde, as cooperativas se transformaram em entrepostos comerciais da Monsanto.

A aplicação de ÁCIDO FÚLVICO nas plantas para estimular o enraizamento se constitui em uma poderosa substância de baixo custo financeiro e muito eficiente. Para a preparação do fertilizante do solo um dos principais ingredientes é terra turfa ou substrato. Tendo a terra turfa, cabe agora adicionar uma colher de sopa de soda caustica em dois litros de água, mexer, adicionar o substrato. Pronto essa etapa, agora é coar em um pano e acrescentar acido muriático. Novamente coar, pois o líquido ficará amarelado. Está pronto o acido fulvico. Para aplicação em plantas, pulverização, é recomendado 25 ml do ácido em 20 litros de água.   

A produção da famosa TORTA DE BOCASHI tende a ser um dos nutrientes mais relevantes da agroecologia. O carvão vegetal, por sua vez, é um dos seus principais componentes, entre outros tantos que compõem o composto. Não é necessário comprar o carvão, o agricultor pode produzir na sua chácara, sítio sem custo algum. A vantagem é que se pode utilizar restos de madeiras do bioma local, que contém propriedades químicas/físicas/biológicas não identificadas em madeiras de outros biomas.

Para fazer a Torta de Bocashi, o primeiro passo é despejar pó de rocha no chão, recomendação em um local coberto para evitar chuva. O pó de rocha não possui vida e absorve a umidade do solo. Após despejado o pó de rocha, adicionar terra de barranco/terra preta, esterco seco de boi, outra camada de casca de arroz, esterco de cabra, farelo de arroz, cana moída, casca da mandioca, casca de banana, folha da bananeira – como um reator. Balde com água, esterco de galinha, carvão moído, palha verde, melado. O processo é muito parecido com uma torta, toda feita em camadas. É importante aqui picar todos os ingredientes com uma pá, misturando-os. Três dias depois se deve mexer o composto devido ao calor produzido no seu interior.

Prestar atenção nas sementes que serão lançadas no solo é algo imprescindível na agroecologia. Uma das práticas comuns para proteger a sementes a ação de patógenos é a sua peletização, ou seja, uma espécie de invólucro protetivo. A recomendação é usar cola e pó de rocha. Mais de 80% das doenças que afetam as plantações tem a sua origem no processo de semeadura. O pó de rocha cria um campo eletromagnético que impede o ataque de fungos no instante que a semente germina.

Muitos já devem ter ouvido falar da técnica de captura de fungos na mata ou MICRORGANISMOS EFICIENTES. Esse é um processo muito antigo, porém, no Brasil raríssima são as pessoas que conhecem. Fungos são microorganismos responsáveis pela decomposição de elementos vivos, no caso das florestas são folhas, troncos, etc. No entanto, os fungos podem ser capturados usando arroz cozido, que o serial mais comum. O que deve ser observado aqui é o cozimento de arroz livre de contaminantes como agrotóxicos.

O arroz, não muito cozido, pode ser acomodado num recipiente e coberto por um pano/tela e levado no interior da mata. Recomenda-se também por a caixa em contato com o solo para facilitar a entrada dos fungos. Feito isso a caixa será coberta com folha e outros elementos ali existentes. O objetivo é criar na caixa um ambiente mais próximo possível da floresta. Dez a quinze dias depois estará pronto. Fungos pretos presentes no arroz devem ser descartados novamente na floresta, ficando apenas com os fungos coloridos.

Depois dessa primeira etapa, recomenda-se adicionar três litros de melado ou garapa dentro de um balde com água limpa. Misturar e acrescentar os pedaços de arroz com os fungos. Coar tudo e por em uma bombona, vedá-la e por uma mangueira para que o gás presente no seu interior possa sair. Para verificar se a fermentação está ocorrendo, por um recipiente com água, cuja ponta da mangueira ficará no seu interior.  Nas duas primeiras semanas possivelmente não sairá bolha pelo fato do processo de fermentação estar no início. O produto pode ser armazenado por um ano.

Para a aplicação é recomendado cinco litros do concentrado misturado com um litro de melaço de cana para ativar os fungos. Primeiro por o melado na recipiente com água e depois os cinco litros de fungo. Três ou quatro horas depois já está pronto para aplicar em um hectare de terra. Para cada 100 litros de água inserir 3 litros do concentrado e mais 400g de melaço em pó ou ½ litro de melaço líquido.

Há, sim, certeza absoluta que a agroecologia é a única garantia que temos de permanecermos nesse planeta por mais tempo. Isso se deve a recuperação de toda uma simbiose perdida ao longo dos séculos e agravada nas últimas décadas pela acelerada revolução agrícola.  Acredito que o referido texto possa existir uma enormidade de equívocos que deverão ser revisados. Fora isso, espero que sirvam de subsídios aqueles que desconhecem muitas das técnicas de práticas agroecológicas relatadas.

O fato motivador desse relatório, sem dúvida alguma foi ter conhecido o grande mestre Sebastião Pinheiro. Além do mestre Sebastião, reitero toda a minha gratidão àqueles/as que por quase cinco dias junto comigo participaram do espetacular curso de agroecologia com o mestre em Dom Pedro de Alcântara.  Creio que tanto para mim quanto para muitos/as dos/as que lá estiveram, os conhecimentos e experiências repassados por Tião foi o energético que nos faltava para seguir em frente com nossas vidas acreditando que ainda há esperança de um planeta onde todos os seres possam viver em equilíbrio.

Prof. Jairo Cesa  

https://www.youtube.com/watch?v=pH8GUBg_gQE


https://www.youtube.com/watch?v=_rRW2ub5hY0

  https://www.youtube.com/watch?v=K0UmAMWX9c4

https://biome4all.com.br/fungos-que-beneficiam-as-raizes-das-plantas/?gclid=CjwKCAjwv4SaBhBPEiwA9YzZvPWz8iNAb1IJr9vIsoHmYkBUhd6dozThjFMYh9Lelh5v2R45AUqGBhoCbGsQAvD_BwE

https://www.youtube.com/watch?v=A0korY6X-jE

https://www.youtube.com/watch?v=_JO-wbabCCY

https://www.youtube.com/watch?v=nmdH1OtFnrI

https://www.youtube.com/watch?v=O-_vcg9LaNY

https://www.youtube.com/watch?v=MuodpZOyW4c

https://www.youtube.com/watch?v=gezWGtwCdrI

https://www.youtube.com/watch?v=Hm7q4nfJByE

https://www.youtube.com/watch?v=PhrcZFG1Vvg

https://www.youtube.com/watch?v=TkCOo0YmSxc

https://www.youtube.com/watch?v=c7QOjXVAKHk

https://www.youtube.com/watch?v=j0OIp4iix6o

https://www.youtube.com/watch?v=MWLfJ8aiDa0

https://www.youtube.com/watch?v=T6zL4gtEvxo importante

 

 

   

Nenhum comentário:

Postar um comentário