PROJETO
DE LEI 191/2020
- UM PLANO GENOCIDA/ETNICIDADE ÀS POPULAÇÕES INDÍGENAS
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Não
bastasse a imensa quantidade de ações inconsequentes no primeiro ano do governo
federal e de seus asseclas, que afetam conquistas históricas como unidades de
conservações federais, seriamente comprometidas pelo furor do capital, dessa
vez, o governo ultrapassou os limites da sanidade, com a apresentação da PL 191/20,
que autoriza atividade mineradora, atividade agrícola, entre outros absurdos em
terras indígenas.
Qualquer
cidadão/ã brasileiro/a, mesmo aquele/a que por algum motivo não teve a
oportunidade de ir à escola, sabe da hecatombe sofrida pelos originários
habitantes do Brasil no instante da ocupação portuguesa há mais de quinhentos
anos. Milhares foram mortos, vitimados por doenças e trabalho escravo. Suas
terras foram tomadas com violência, os que resistiram o quase genocídio, vivem
em reservas, muitas das quais ainda não demarcadas, onde vivem sob ameaças de
invasores grileiros, pistoleiros, entre outras tantas brutalidades.
É
preciso entender que áreas indígenas são propriedades da união, protegidas por
legislações específicas a exemplo da constituição federal no seu artigo 176.
Isso, portanto, já seria um motivo elementar para inviabilizar qualquer ação
que coloque em risco a soberania e a segurança desses povos sobre as terras que
ocupam. Na cabeça do governo federal, de seus ministros e aliados políticos,
permeia o sentimento de agora tudo pode para promover o dito desenvolvimento
econômico, dito por eles como sustentável.
O
desmatamento desenfreado, somado aos incêndios intermináveis que devastaram
ecossistemas inteiros na Amazônia, Serrado e outros biomas, repercutiram no
mundo inteiro, colocando o governo brasileiro e seus vassalos numa saia justa
em eventos importantes como a COP-23 ocorrida em Madri. Virou regra geral o
governo tratar indígenas e lideranças indígenas com desdém, a exemplo do
cacique Raoni, da comunidade Ianomâmi, cuja tentativa de desqualificá-lo como
representante máximo na luta em defesa dos povos indígenas.
A
ideia de desqualificação indígena vem sendo construída mediante discursos
xenófobos, repetidos incessantemente pelo governo e que repercute perigosamente
no inconsciente coletivo. Um exemplo foi a fala do governo Bolsonaro quando
disse que o indígena está evoluindo devagar e está quase próximo do
branco. Quando diz evoluir, o mesmo segue um discurso darwinista
acreditando na ideia evolucionista de que todos devem seguir um único caminho,
a evolução, no caso ocidental, o cientificismo cartesiano.
Desconhece
as peculiaridades e particularidades das culturas, suas escolhas acerca do modo
como desejam existir. Se muitas comunidades indígenas não se integraram ao
modelo de produção capitalista nos territórios dos quais habitam não se deve pelo
fato da baixa capacidade cognitiva, como é escancarado nos discursos do atual
presidente, são escolhas, pautadas em princípios e valores herdados de seus
antepassados, que permanecem presentes em espírito, nas florestas, nos rios,
nas montanhas, nos animais, no cosmo, etc, etc.
Se
o projeto genocida for aprovado nas duas casas do congresso, não há dúvida que
será o tiro de misericórdia para o extermínio definitivo dessa população. Hoje,
mais da metade da população Ianomâmi, da Amazônia, está contaminada por
mercúrio pela exploração de garimpos. Na extração do ouro, por exemplo, o
mercúrio é adicionado para separá-lo de outros sedimentos. Após esse processo,
a água contaminada com esse metal pesado é lançada
novamente aos rios, contaminando peixes e toda a biótica do entorno, inclusive
a população.
Essa,
porém, é a forma brutal como vem sendo aplicando o plano genocida contra os
indígenas, tendo como principal protagonista o próprio governo, cujo papel
constitucional seria protegê-los. E por que tamanha brutalidade. A resposta é
bem simples. Quando estava em campanha à presidente da república, recebeu apoio
de segmentos ultraconservadores atrelados ao grande capital, nesse caso grandes
empresas ligadas à atividade mineradora, ao hidrocarboneto e agronegócio.
Desde
a sua posse a cerca de um ano vem conduzindo ao pé da letra seu projeto
sanguinário. Desqualificar os povos indígenas tratando-os como indolentes e
incapacitados de autogestão de suas terras foi o que fez e está fazendo com
insana maestria o presidente Bolsonaro. Mas nada está perdido ainda.
Esperamos
que o presidente da câmara, Rodrigo Maia, cumpra sua promessa feita com
representantes indígenas que estiveram em Brasília, de segurar o projeto, quem
sabe, arquivá-lo. Mas, certamente, será pressionado para colocá-lo nas pautas
de apreciação e votação. Disse ele que o projeto é consistente e
constitucional, que não devolverá ao executivo por esse motivo.
A
única saída para evitar sua aprovação no congresso é através da pressão dos
segmentos organizados e da própria sociedade não alinhada a postura neofascista
do atual governo. Infelizmente as mídias burguesas mantêm uma postura de
indiferença ao terrível estelionato proposto por Bolsonaro contra as terras
indígenas. Em vez de MP 191, deveria ser 171, que no código penal se define
como crime de estelionato.
Professo
Jairo Cezar
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