sábado, 8 de fevereiro de 2020

GEOGRAFIA DAS INUNDAÇÕES NO BRASIL

Deslizamento de terra na comunidade de Vila Bernardete, em BH, matou pelo menos três pessoas
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Nas últimas semanas do mês de janeiro, um dos assuntos mais divulgados pela imprensa brasileira foi às fortes chuvas que se abateram sobre a região sudeste, com destaque ao estado de Minas Gerais com dezenas de mortes e imenso prejuízos materiais. O fato é que tais fenômenos climáticos extremos vêm se repetindo e se tornando mais e mais violento a cada estação das chuvas. Um dos fatores motivadores das enxurradas são as mudanças climáticas globais, cujo Brasil não está isento de responsabilidade.
A devastação da floresta amazônica somada a outros fatores como as crescentes emissões de gases poluentes à atmosfera estão alterando ciclos naturais da biosfera. Regiões do planeta estão sofrendo com ciclos mais longos de estiagens. Outras, ao contrário, são afetadas com freqüentes temporais e cujos volumes pluviométricos vêm ultrapassando médias históricas, a exemplo de Belo Horizonte, que em 24 horas choveu 171,8 mm.  
Um volume gigantesco de chuva como foi registrado no dia 24 de fevereiro de 2020 para uma megalópole densamente povoada e com sérios problemas habitacionais como Belo Horizonte, o resultado não poderia ser outro. Quanto às inundações e suas conseqüências já era para estar em andamento nos municípios e estados suscetíveis as inundações, políticas públicas para amenizar tais impactos. E leis existem, aos montes.  
Com o processo de urbanização do Brasil, encostas de morros e áreas historicamente inundáveis foram sendo aterradas e ocupadas por populações na sua maioria de baixa renda. O solo cada vez mais impermeabilização por construções e asfalto, durante as chuvas mais intensas, a água tende a escorrer com velocidade carregando tudo o que estiver a frente.
É sabido que uma das soluções para minimizar os impactos das enxurradas seria remover as populações das áreas de risco, encostas de morros, margens dos rios. O rio Tietê, que corta a cidade de São Paulo, toda vez que ocorrem fortes pancadas de chuva, o mesmo transborda causando transtorno a milhares de pessoas. Cidades menores do interior também já sofrem com tais transtornos: Criciúma, Araranguá, são alguns exemplos.    
As ocupações das encostas de morros de grandes e medidas cidades, dos quais são passivos de deslizamentos, deveriam receber maior atenção das autoridades. E por que não ocorre? Os interesses eleitoreiros e a fragilidade dos órgãos ambientais municipais e estaduais são cúmplices dessas anomalias sociais previsíveis. Algumas cidades brasileiras vêm criando estratégias muitos simples para evitar ou minimizar os impactos provocados pelas freqüentes inundações.
Há poucos anos visitei a cidade gaucha de Lajeado e fiquei surpreso com a atuação do poder público na solução dos problemas das inundações na cidade. A solução foi muito simples, em vez de aterrar as áreas inundáveis para incentivar a ocupação imobiliária, transformaram-na em um parque municipal com vários atrativos. Milhares de cidadãos/ãs todos os dias ocupam essas áreas para praticar atividades esportivas e recreativas. Lajeado, entre outras cidades com projetos semelhantes, poderia inspirar gestores públicos de cidades que sofrem com tais intempéries climáticas.   
Alguém duvida que no próximo ano, as principais manchetes dos jornais brasileiros e os noticiários televisivos estarão abordando as inundações no sudeste brasileiro? Embora sendo um ano eleitoral, é bem possível que muitos candidatos incluirão o tema enchentes nos seus programas de governo. Entretanto, na hipótese da vitória de candidatos de partidos conservadores ao executivo e as câmaras municipais, pouco ou quase nada será feito para conter tais tragédias.
O motivo é conhecido por todos. Enxurradas e outros fenômenos climáticos extremos são episódios onde muitos políticos barganham o voto em troca de algum benefício. Esse ciclo vicioso vem se repetindo há décadas. Será que dessa vez será diferente, quando se tem a frente do executivo federal alguém que trata o tema meio ambiental com desdém.
Prof. Jairo Cezar    

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