quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Algumas contribuições de Skinner, Jean Piaget, Vygotsky, Emília Ferreiro e Paulo Freire para a  Teoria do Conhecimento no campo educacional
Prof. Jairo Cezar
O final do século XX pode ser considerado o período de grandes transformações sócio econômicas em âmbito global, estimuladas pelas inovações tecnológicas que proporcionaram uma maior integração de diferentes povos, culturas e principalmente mercados. No entanto tais avanços não representaram melhorias substanciais para expressiva parcela das populações, principalmente das regiões periféricas do planeta que continuaram e continuam reféns das políticas excludentes, articuladas pelos representantes do capital globalizado.
  Para a manutenção desse modelo excludente, o capital, vem interferindo diretamente  nas instituições públicas como a educação, determinando qual o currículo ou modelo de projeto pedagógico a ser desenvolvido, e suas finalidades.
Um dos teóricos de forte influência na educação brasileira do século XX foi o Americano Burrhus Frederic Skinner. No entanto suas idéias ainda hoje continuam sofrendo um forte preconceito, atribuindo ao mesmo a responsabilidade pelo método pedagógico comportamentalista-reducionista (conhecido como behaviorismo), que fora difundido nas escolas brasileiras durante as décadas de 1970 e 1980.
Confunde-se muito o comportamentalismo behaviorista de John Watson com o de Skinner. Watson criou o método de investigação denominado condicionamento mecânico ou estímulo resposta no qual admite que o aprendizado pode ser mais eficiente através da adoção de práticas punitivas e esquemáticas, premiando o desempenho dos sujeitos que obtiveram sucesso na execução de tarefas. Skinner parte do princípio de que  todo comportamento é determinado pelo ambiente e que o homem é um sujeito em constante transformação. Age no mundo, modificando-o e sendo modificado. Para ele, o ser humano é produto de três categorias: a filogênese, a espécie que ele pertence; a ontogênese, a vida, sua transformação, desde o nascimento até a morte; a cultura – as práticas culturais transmitidas pela própria sociedade.
No processo educacional, Skinner defende o reforçamento positivo, um procedimento de caráter individual e movido pela satisfação, pelo prazer e pelas  conseqüências da ação. Segundo ele, uma criança que vai para escola e que sorri é fruto do reforçamento positivo que ocorre nela. Todo sujeito aprende, porém é necessário oferecer ao mesmo todas condições infra-estruturais e emocionais, pois, não há aluno problema, não há professor problema, o que há é uma relação, professor aluno. Há uma relação entre as condições de ensino, ou seja, escola, material didático, atitudes, etc.
Se há problemas no ensino, reprovação, evasão escolar, violência, são as características do aluno e as conseqüências arranjadas por esse ensino  que estão erradas. O ideal da educação é que se ensine habilidades cujas conseqüências sejam naturais, que o estudante vá incorporando o que aprende, criando uma espécie de osmose. Para alcançar essa condição é imprescindível a presença do professor, propiciando-os condições facilitadoras.
Esse processo de naturalização do conhecimento não poderá ser interpretado como um procedimento harmonioso. Muito pelo contrário, é repleto de barreiras, de erros e acertos. Mas, é fundamental, que entendam que o aprender deva ser suave, gostoso, agradável e gradual.    
O aprender, portanto, dependerá da relação entre a filogênese e as condições de ensino propiciadas pelo professor e pela escola. No processo educativo, a avaliação não pode ser encarada como um instrumento punitivo. É a etapa do processo de ensinar e aprender onde se verifica do modo mais natural possível, se aquilo que se ensinou realmente se aprendeu. Esse aprender, “suave”, dependerá da maneira como a escola está organizada. A escola do futuro para Skinner será o lugar onde as pessoas não serão avaliadas, porque as pessoas não gostam de conversar quando estão sendo avaliadas.
Defende a divisão do curso ou atividades em pequenas unidades. Somente irá se passar às etapas seguintes quando o indivíduo atingir os objetivos desejados. Mantinha uma postura crítica acerca das aulas expositivas, afirmando que as mesmas  não proporcionam um aprendizado eficiente. Aprende-se melhor quando se emprega a escreve, o dialoga, a pesquisa, quando da manipulação de objetos, etc.
O professor deve estar sempre disponível nas aulas e isso requer um material planejado com muito cuidado. O ideal de escola  é quando o aluno é atraído por ela, nela encontra as mais fortes razões para manter aprendendo, mesmo depois da escola.
Outros dois pensadores do começo do século XX e responsáveis pela construção de duas teorias do conhecimento no campo educacional foi Jean Piaget e Vygotsky. É importante ressaltar que tanto o construtivismo de Piaget como o sóciointeracionismo de Vygotsky não poder ser interpretados de forma distintas admitindo que uma é inferior ou superior a outra. O que se deve fazer é conhecer ambas e verificar seu pontos  de convergência  e divergência no campo educacional.
A discussão do pensamento de Vygotsky na área educacional e psicológica nos remete a uma reflexão sobre as relações entre ele e Piaget. Esse confronto se dá uma vez que os autores possuem vários pontos divergentes que separam os seus pensamentos em abordagens ou pontos de vista diferentes.
O termo socioconstrutivismo (ou, como preferem alguns especialistas, sociointeracionismo) é usado para fazer distinção entre a corrente teórica de Vygotsky e o construtivismo Jean Piaget. Ambos são construtivistas em suas concepções do desenvolvimento intelectual. Ou seja, sustentam que a inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem com o meio. Para Piaget, as crianças individuais constróem conhecimento através de suas próprias ações: entender é inventar. Para Vigotsky é a compreensão através do contraste social e origem.
Os dois se opõem tanto à teoria empirista (para a qual a evolução da inteligência é produto apenas da ação do meio sobre o indivíduo) quanto à concepção racionalista (que parte do princípio de que já nascemos com a inteligência pré-formada). Para o ser humano, segundo Vygotsky, o meio é sempre revestido de significados culturais.
Por exemplo, o objeto armário (meio) não tem sentido em si. Só tem o sentido cultural que lhe damos, como ser útil ou inútil, valioso ou não, rústico ou sofisticado e assim por diante. E os significados culturais só são aprendidos com a participação dos mediadores. O fator cultural, básico para Vygotsky, e pouco enfatizado por Piaget, é a diferença central entre os dois teóricos construtivistas.
Ambos divergem também quanto à seqüência dos processos de APRENDIZAGEM e de DESENVOLVIMENTO MENTAL. Para Vygotsky, é o primeiro que gera o segundo. Em suas palavras, "o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis". Piaget, ao contrário, defende que é o desenvolvimento progressivo das estruturas intelectuais que nos torna capazes de aprender (fases pré-operatóra ou lógico-formal).
É justamente a comprovação, por Vigotsky, da existência de uma zona de desenvolvimento potencial que desprende ou desvincula a proposta de uma concepção distinta da ajuda pedagógica de que surge das teorias de Piaget.
Se em Piaget havia que ter em conta o desenvolvimento como um limite para adequar o tipo de conteúdo de ensino a um nível evolutivo do aluno, em Vygotsky o que tem que estabelecer é a sequência que permite o progresso de forma adequada, impulsionando ao longo de novas aquisições, sem esperar a maduração "mecânica" e evitando que possa pressupor as dificuldades para prosperar por não delinear um desequilíbrio adequado. É desta concepção que Vygotsky afirma que a aprendizagem vai em frente do desenvolvimento
Vygotsky teve contato com a obra de Piaget e embora teça elogios a ela em vários aspectos, também a critica, por considerar que Piaget não deu a devida importância a situação social e ao meio. Ambos atribuem grande importância ao organismo ativo, mas Vygotsky destaca o papel do contexto histórico e cultural nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, sendo chamado de sóciointeracionista e não apenas interacionista como Piaget.
As críticas a Piaget não foram diferentes das dirigidas a Freud. Não é surpresa devido ao endosso de Piaget aos conceitos de Freud. Piaget afirmou que a mente é governada através de mecanismos biológicos. Ele também afirmou que processos cognitivos são originalmente egoístas e anti-sociais. Eles só são dirigidos à realidade e ao relacionamento social depois de 7 a 8 anos de idade. Vygotsky colocou uma concepção bastante diferente da criança.
Ele afirmou que mecanismos naturais governam o comportamento das crianças. Porém, antes de 2 anos de idade, a criança participa das relações sociais. Mecanismos biológicos operam durante curto espaço de tempo. Porém, eles são substituídos rapidamente através de influências sociais. Assim que infância termine, o indivíduo começa a participar de relações sociais. Relações sociais formam o contexto desenvolvente de crianças e constituem a natureza da criança. Vygotsky considerou a criança como um indivíduo social, Piaget considerou como anti-social. Para Vygotsky, relações sociais constituem a psicologia da criança desde o começo. Para Piaget, relações sociais são secundárias à natureza biológica da criança.
De forma geral, Piaget e Vygotsky contribuíram para a elaboração de metodologias inovativas que ultrapassam aquelas existentes na escola tradicional. É graças as implicações teóricas destes psicólogos que se pode hoje trabalhar visando ultrapassar a metodologia pedagógica arraigada na repetição de conceitos. O que tem encorajado inúmeros educadores a inovarem sua prática pedagógica, no sentido de buscar compreender a realidade de seus alunos tanto do ponto de vista psicológico, cognitivo, afetivo, como sócio-cultural. Isto para que, a partir daí, possam trabalhar rumo a uma educação significativa e construtiva – a qual possa conduzir o aluno a ser sujeito consciente de sua autonomia social.
Apesar dos autores serem de complexa interpretação, percebe-se que à medida que o educador vai tecendo sua prática, ele também vai refletindo e aplicando essas teorias que são valiosas para resolverem diversos males que afligem o contexto educacional. Nesse meio, é possível utilizar as discussões mencionadas na concepção interacionista e construtivista dos autores e colocar-se como condutor dessa interação do aluno com o meio e fazer desse meio um ambiente de estímulo para que o sujeito desenvolva os seus aspectos cognitivos.
Em relação a teoria construtivista de Jean Piaget, uma das maiores estudiosas do seu pensamento, foi a educadora Argentina Emilia Ferreiro. Para ela, o que importa no processo de alfabetização é o conhecimento da Psicogênese (que se ocupa em estudar a origem e o desenvolvimento dos processos mentais, das funções psíquicas, das causas psíquicas que podem causar uma alteração no comportamento etc) que nos auxilia a relativizar o processo de aprendizagem.  Uma criança no processo de aprender a ler e a escrever, num determinado momento, imagina que para escrever uma palavra, se escreve uma letra para cada sílaba.
As crianças, na verdade, não juntam nada, elas constroem sistemas de escritas que são obrigadas a reinterpretar progressivamente até que se aproximem com a correta. Portanto, a idéia de permanência da escrita não é dada e sim construída.
Para a alfabetização aproveita-se o que o aluno sabe para aprender o que não sabe. Os resultados serão mais expressivos se em sala de aula houver interação entre os estudantes. É necessário também discutir uma nova metodologia, um novo contrato didático, admitindo que se aprende a escrever escrevendo e se aprende a ler lendo. O ato de corrigir só terá resultado quando tiver sentido para a criança.
No final do século XX, mais precisamente a partir da década de 1960, o Brasil passou por mudanças significativas no campo político e econômico. Diante dessa realidade, como forma de proporcionar transformações estruturais, o ex-presidente João Goulart, convidou o educador Paulo Freire para assumir o Ministério da Educação.
No entanto, sua presença no ministério foi abortada em 1964, quando os militares, através de um golpe, assumiram o poder e implantaram o regime ditatorial.  Paulo Freire desenvolveu um método de alfabetização considerado revolucionário, voltado especialmente para a alfabetização de adultos.  Sua teoria do conhecimento está embasada numa antropologia, ou seja, somente pode ser compreendida a partir de uma visão de mundo, de ser humano. 
Segundo Paulo Freira, o sujeito aprende por sucessivas aproximações com o objeto estudado, o objeto sempre revela coisas novas. Seu  método  passa por etapas: o da investigação temática - descobrir na criança, no jovem, no adulto o que ela já sabe, para conhecer melhor o que já sabe. Nesse sentido é preciso incentivar o sujeito, motivá-lo, seduzi-lo. A outra etapa é a da tematização - encontrar o significado das palavras, que  ocorre conversando, dialogando. 
A problematização também é importante, pois com ela ira se descobrir o  significado de certo tema para a vida, ter consciência do mesmo. Sua teoria parte do princípio de que a educação tem que ser solidária, libertadora, emancipadora, comprometida não apenas com a contemplação das idéias, mas utilizá-la para a transformação da própria realidade.
Para a emancipação, é necessário compreender a leitura que fazemos do mundo, compartilhar o mundo lido, pois não há conhecimento válido, completo. Ele deve ser compartilhado com outro, porém exige diálogo. Antes de o sujeito conhecer, ele deve ser curioso. Seu projeto partia das necessidades populares, do projeto de vida das pessoas. E a educação seria o caminho, como prática da liberdade, que deve ser  dialógica, e  o seu conteúdo deve partir do mundo, do contexto em que esses educandos estão inseridos.
Nesse sentido é necessária a investigação da realidade na qual vive o educando, tirando da mesma, situações significativas. As áreas do conhecimento irão dar respostas às questões levantadas, de forma interdisciplinar. Para Paulo Freire, educar-se é impregnar-se de sentido, só se aprende aquilo que é significativo.
 No processo educacional é fundamental admitir que o importante é aprender a pensar a realidade, pois  aprendemos em contato com o mundo,  com o outro. Mas para isso, na escola, o papel do professor-mediador é imprescindível, é ele que dá sentido, que orienta, ajuda, anima, possibilita o indivíduo a desenvolver sua autonomia intelectual. Além do professor mediador, comprometido, a escola deve ser pensada como ambiente que ensina para a cidadania, capaz de pensar o mundo de forma crítica.
A educação deve ser dialógica, é através do diálogo que se constrói  e que se muda o mundo. Não podemos pensar uma educação sem conflito, pois a escola é um espaço repleto de contradições. No entanto, o conflito tem que ser humilde, aceitar as suas próprias limitações, as opiniões dos outros. É através do conflito que alcançamos a nossa  revolução, que dever ocorrer primeiramente de dentro de nós, e posteriormente, fora, nos micros e macros ambientes dos quais habitamos.

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