sexta-feira, 25 de maio de 2018


A VENEZUELA E SEU CONTURBADO CENÁRIO ECONÔMICO/POLÍTICO E ALVO DAS GRANDES POTÊNCIAS – ESTADOS UNIDOS



É quase unanimidade a opinião de brasileiros, muitos dos quais bem informados, admitindo que a Venezuela devesse sofrer uma intervenção externa imediata contra o governo Maduro e restabelecer a ordem social interna. Essa posição crítica ao governo venezuelano, não há dúvidas, está sendo instigada pela mídia dominante, manipuladora, que diariamente bombardeia os seus telejornais com reportagens inverídicas mostrando centenas, milhares de venezuelanos, desesperados, atravessando a fronteira com o Brasil em busca de trabalho. É claro que observando de fora, como expectador passivo, o sentimento que tende a desperta é, obviamente, de repulsa, ódio e revolta contra o presidente, idealizado como um ditador perverso, manipulador de eleições, que massacra e oprime o povo, impondo uma terrível e mortal recessão.
Em nenhum momento se observou algum grande jornal de circulação nacional ou de uma Rede de TV aberta, reportagem, relatando resumidamente a história, a geografia, a economia e os desdobramentos que resultaram na crise que assola o país. Desde a sua ocupação pelos espanhóis, no século XVI, a Venezuela apresentava algumas peculiaridades que a diferenciava das demais colônias espanholas, como a vizinha Colômbia, atualmente apresentando fracos laços de amizade.
Pela sua localização geográfica estratégica, próxima da Europa, sempre teve alguns privilégios. Isso contribuiu para que colônia espanhola agregasse mais autonomia e autoridade militar que as demais possessões espanholas. Atualmente são necessários 4 a 5 dias para que o petróleo extraído dos poços venezuelanos chegue às refinarias do Texa, EUA. Quase todo o petróleo que abastece a indústria americana é importado do oriente médio, cujo transporte, em navios, tem a duração de 35 a 40 dias para chegar ao seu destino.
Com sua independência, no inicio do século XIX, liderada pelo general militar Simon Bolívar, o país adotou um misto de governo, combinando monarquia, república e federalismo. E esse modelo de gestão permanece até os dias atuais, cujo poder de comando se mantém de certo modo centralizado nas mãos do presidente. Diferente do país vizinho, Colômbia, a Venezuela teve a sorte ou o azar de possuir em seu território uma das maiores ou maior reserva de petróleo do mundo. Estimativas dão conta de que no subsolo venezuelano estão depositados 307 bilhões de barris de óleo. Porém, toda essa demanda de petróleo não está sendo suficiente para amenizar a crise sem precedente na sua história do país.
O fato é que a Venezuela, acomodada sobre o manto negro depositado em seu subsolo, não diversificou sua economia como forma de enfrentar possíveis crises futuras do petróleo. A Colômbia, que possui limitadas reservas de petróleo, porém, avantajadas concentrações de carvão mineral em seu subsolo, sofre muito menos os efeitos das crises cíclicas que o seu vizinho.
Seu grande parque industrial e o forte investimento agrícola permitem que o país mantenha certa estabilidade frente aos cenários de crise global. A Venezuela exporta 97% do petróleo extraído de seus campos, portanto, tem sua economia totalmente dependente dessa commodity, cujos preços oscilam no mercado global. Nos últimos anos o preço do barril despencou internacionalmente, sendo, no entanto, um dos fatores do desarranjo econômico e social que assola o país.
As previsões dão conta que o PIB do país retrocederá 15% em 2018, com uma inflação que poderá atingir os 14 mil % ao ano. Nesse cenário, o país vive um colapso social, onde o governo tenta a duas penas permanecer a frente do comando, evitando entregar o posto às forças reacionárias oligárquicas pró-Estados Unidos, desejosas em reassumir o controle político da Venezuela. Imagine, são quase 400 bilhões de litros de petróleo armazenados nas profundezas de seu subsolo, e o EUA é atualmente o principal importador. A despeito de Maduro, sua deposição do cargo de presidente, tenderia a aumentar a influência Norte Americana sobre o restante da América do Sul.
Havia expectativa de que nas eleições presidenciais realizadas no dia 21 de maio de 2018 o governo Nicolas Maduro fosse derrotado pela oposição, que não se confirmou. Os opositores internos ao regime de Maduro, acompanhados por expressiva parcela de governos latino americanos, alinhados as políticas de Trump, afirmam, categoricamente, ter havido possíveis irregularidades no pleito eleitoral da Venezuela.  
Argumentam que devido ao número elevado de abstenções, a eleição não poderia ser considerada válida. No entanto, o pleito teve o acompanhamento de observadores internacionais onde atribuíram legitimidade ao processo. Quanto às abstenções, a imprensa oficial pró-imperialista procura omitir dados que revelam ter havido abstenções nos pleitos do Chile, Colômbia, entre outros, nas mesmas proporções que a Venezuela, porém, ninguém solicitou recontagem dos votos ou a anulação. Por que exigir tal absurdo somente da Venezuela?
Deve-se considerar que a situação econômica e social da Venezuela mudou consideravelmente a partir da chegada de Hugo Chaves ao posto de presidente da república em 1999. Em nenhum momento os veículos noticiosos conservadores fizeram qualquer menção às realizações ocorridas durante os 14 anos de que Hugo Chaves governou o país. As taxas de 70% da população em situação de pobreza, registrada em 1996, foi reduzida para 21% em 2010. Foi também na época de Chaves que o país se tornou um dos primeiros da América do Sul a adotar programas sociais de construção de habitações populares às populações de baixa renda. Não ficou só nisso, outras ações relevantes também tiveram destaque, como saneamento básico com água tratada para 96% da população, educação, saúde, etc.
Era óbvio que todas essas realizações não poderiam ser bem assimiladas pela oligarquia sempre à frente do comando do país, cujos votos eram assegurados mantendo parte da população em estado miséria e pobreza absoluta. Criar instrumentos que intensificassem a instabilidade social foi uma das tantas estratégias adotadas para atrair a opinião pública externa contra o regime de Chaves, e quem sabe, pressioná-lo a abdicar o posto de presidente.
Tentativas de golpes de Estado foram executadas como os atentados contra Chaves em 2002, porém, ambos sem sucesso. Diante desse clima de progressivo isolamento, patrocinado por forças imperialistas aplicando sanções cada vez mais duras à economia do país, Chaves coordenou plano de integração dos países sul americanos e do caribe, com planos ousados de transformações estruturais, e que jamais foram bem digeridos pelos donos do capital.
A inclusão da Venezuela no acordo econômico da América do Sul, MERCOSUL, também se converteu num grande acontecimento para o fortalecimento dos vínculos econômicos e sociais na América do Sul. O sonho do Pan-americanismo, idealizado pelo principal expoente da independência de várias colônias hispânicas da America do Sul, Simon Bolívar, começava se materializar. Essa possibilidade aterrorizava a elite dominante da América do Sul, apavorada diante do cada vez mais concreto risco de ruptura política.
Diferente dos países sul americanos como Argentina, Paraguai, Brasil, entre outros, integrados ou alinhados ao projeto de unificação regional, um após outro foram sendo abocanhados pelas elites conservadoras, cujas eleições ou golpes brancos fez ascender no poder antigas forças dominantes. A Venezuela, a Bolívia e o Equador vêm resistindo a ferro e fogo as investidas insanas dos seguimentos reacionários, nacionais e internacionais.
A centralização do poder e o controle de setores estratégicos como o exército e o judiciário enfraqueceu as forças oligárquicas na Venezuela. Portanto, esses foram alguns dos mecanismos empregados pelo regime de Chaves para frear a voracidade do poderio das oligarquias em tentar retomar o comando político do país. Quantas e quantas vezes tem se ouvido expressões classificando Hugo Chaves e Nicolas Maduro como ditadores, que desrespeitaram a constituição e os princípios democráticos?
Não há dúvida, limitando as proporções do radicalismo de Chaves e Maduro, a Venezuela se apresenta no cenário regional e global tendo um modelo de projeto de nação que pouco agrada os detentores do poder. Os discursos alegando falta de democracia, desrespeito aos direitos humanos, pronunciados insistentemente pela oposição venezuelana e noticiado diariamente pela imprensa entreguista global, são estratégias desesperadoras que não surtiram efeitos desejados como a possível derrota de Maduro nas urnas. A direita Venezuela não tem compromisso algum com a democracia e muito menos ainda com o respeito aos direitos humanos. As manifestações de rua ocorridas entre 2013 e 2016 são um bom exemplo do comportamento terrorista desse seguimento onde provocaram a morte de dezenas de pessoas.
Não há dúvida que a situação econômica no país vizinho beira o colapso. São dezenas, centenas de pessoas atravessando a fronteira com o Brasil diariamente, como mostram os noticiários dos telejornais. As reportagens também destacam os transtornos produzidos nessas pequenas cidades, com recursos orçamentários já minguados para suprir as necessidades dos cidadãos locais. A cada reportagem, cidadãos venezuelanos são entrevistados, destilando ódio ao regime venezuelano, como se fosse ele o principal culpado pelo quadro caótico que assola toda a população do país.
Quando foi que se ouviu falar em um desses telejornais diários, que a Venezuela vem sendo palco de um processo perverso de desabastecimento econômico com intuito de forçar a alta dos preços e elevar a inflação? Não bastando isso, tanto os EUA como a comunidade Européia vêm impondo sanções ao país, com embargos econômicos e bloqueios financeiros internacionais. Quais governos suportariam resistir por muito tempo tantas pressões e ataques por todos os lados? Só o tempo dirá.
https://www.cartacapital.com.br/blogs/brasil-debate/para-entender-a-venezuela              
                    
Prof. Jairo Cezar                 


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