domingo, 27 de setembro de 2020

 

O RETORNO DAS AULAS PRESENCIAIS COLOCA EM RISCO A VIDA DE PROFESSORES E ESTUDANTES.

Nas últimas semanas o assunto que dominou os noticiários televisivos e digitais nos quatro cantos do Brasil foi retornar ou não às aulas presenciais nas redes de ensino básico. Em se tratando de retorno as atividades discentes nas redes estaduais, especialmente do estado de Santa Catarina, é consenso dos sindicatos dos profissionais da educação e da própria comunidade, que a volta representa alto risco de contaminação pelo corona vírus.

As secretarias de educação de todos os estados deveriam, antes de decidir pelo retorno à “normalidade”, ter como parâmetro a cidade de Manaus, primeira capital que voltou às atividades presenciais. Lá, na segunda semana após o retorno, dos 1.064 profissionais que realizaram teste para o COVID, 342 testaram positivo.  O agravante é que os/as professores/as contaminados não foram afastados por 14 dias, como está estabelecido no protocolo da OMS.

Na Europa, países como a Alemanha, que tiveram a reabertura das escolas em maio, houve o aumento significativo de profissionais contaminados pelo Vírus. Outros países melhores classificados nos índices de avaliação do PISA, como Cingapura, Nova Zelândia, China, etc, conseguiram controlar com êxito o contágio com o Vírus. São países que avançaram culturalmente, com escolas bem estruturadas e a população com níveis de escolaridade elevada.

Agora, quando se trata de educação pública no Brasil, principalmente no nível básico (fundamental e médio) já podemos deduzir antecipadamente que a reabertura das escolas trará efeitos catastróficos. Ou será que estou equivocado? Essa previsão nada otimista e de enorme risco à vida da população é fundamentada nas condições precárias das escolas distribuídas nos mais de cinco mil municípios brasileiros. Eram ínfimas as escolas antes da pandemia que asseguraram condições adequadas a um ensino satisfatório.

Com a pandemia, mesmo com todas as recomendações e cuidados à população adulta no cumprimento dos protocolos de proteção ao vírus, os riscos de contágios continuaram elevados, imaginemos agora as escolas públicas diante de tantas carências de infraestrutura. Umas das recomendações clássicas para minimizar o contágio do vírus é o uso da máscara. Como convencer crianças ou adolescentes ao uso desse equipamento essencial se a principal referência pública, o presidente da república, que deveria dar o exemplo, vem negligenciando tais recomendações. É possível que haja conflitos entre professores e estudantes no descumprimento das medidas. O argumento do estudante é que em casa os pais compactuam com o comportamento negacionista do presidente da república.  

Em entrevista concedida a uma rádio de Araranguá, o secretário da educação da rede estadual confirmou que o retorno às aulas presenciais ocorrerá no inicio de outubro. Destacou que a volta é facultativa, que ocorrerá, em primeiro lugar, para os estudantes do terceiro ano do ensino médio. A intenção é que esse processo de retorno contemple até o final de 2020 os estudantes do sétimo ano do ensino fundamental. Não são todos os estudantes que retornarão às escolas, relatou o secretário. A exclusividade será para aqueles que apresentarem dificuldades na aprendizagem.

 Informou que a SED, Secretaria Estadual de Saúde, Defesa Civil, entre outros órgãos estaduais, elaboraram protocolo sobre as diretrizes sanitárias que deverão ser seguidas por todas as instituições de ensino. Dentre as diretrizes propostas estão:

III. Manter disponível um frasco de álcool gel 70% para cada professor, recomendando a este que leve consigo para as salas de aula para sistematicamente higienizar as mãos;

II. Garantir equipamentos de higiene, como dispensadores de álcool em gel, lixeiras com tampa com dispositivo que permita a abertura e fechamento sem o uso das mãos (como lixeira com pedal);

Quem conhece o cotidiano de uma escola estadual sabe das dificuldades que é administrar uma unidade de ensino quando falta tudo, do papel higiênico a outros insumos essenciais.  Pensar que agora vai ser diferente, diante de uma crise cujos recursos disponíveis ficaram mais escassos. Quem garante que as mais de mil escolas estaduais terão a disposição álcool gel, medidores de temperaturas, lixeiras especiais, tapetes para higienizar os calçados, entre outros à disposição?  

Antes da pandemia, conserto de janelas, telhados, ar condicionados, compra de materiais de expedientes, etc, os recursos eram obtidos por meio de eventos realizados nas escolas, como festas juninas, bingos e rifas, etc. Os repasses oriundos do Estado sempre foram insuficientes para cobrir as necessidades mínimas das escolas durante o ano letivo. Pelo o que se sabe, poucas foram às unidades de ensino restauradas, muitas das quais estavam com dificuldades até no abastecimento de água potável

O secretário também ressaltou que a educação não parou que as escolas estão recebendo equipamentos novos, que os investimentos continuam e que a educação é prioridade. Entretanto, o governo federal, anunciou há poucos dias o corte de 1, 6 bilhão de reais no orçamento no próximo ano para a educação. Isso se dá num momento crítico, quando os investimentos nesse setor deveriam ser o maior entre todos os demais ministérios. É bom esclarecer que a decisão de retorno se deve a pressão imposta ao governo do estado pelas escolas particulares, que viram os lucros exorbitantes despencarem com a pandemia. A pressão para o retorno não está na queda dos níveis de aprendizagem desse segmento, o motivo é financeira, lucro.

Em entrevista concedida ao jornal Estado de São Paulo, o Ministro da Educação mostrou claramente sua incompetência para gerir um cargo de tamanha magnitude que é o da educação. Disse ao jornal que em relação ao problema do ensino remoto, onde parcela dos estudantes não tem acesso à internet, que o problema não é do MEC e sim do Brasil. Seguindo o exemplo do presidente da república, ambos jogam toda a responsabilidade pelo retorno às aulas presenciais aos estados e municípios. Mas o ponto crucial da entrevista foi quando lhe questionaram sobre a educação de gênero na escola.

Sua resposta mostrou-se carregada de preconceito. Relatou que estudantes com comportamentos LGBT nas escolas, isso se devem as famílias desajustadas onde estão inseridos. Nesse sábado, 27 de setembro de 2020, o ministro a educação respondeu as acusações de comportamento homofóbico em entrevista concedida ao jornal Estado de São Paulo. Afirmou que foi mal interpretado, que aquilo que divulgado nas mídias ocorreu de forma descontextualizada.

Prof. Jairo Cezar

 

 

 

https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2020/09/09/governo-de-sc-finaliza-plano-de-contingencia-para-retorno-da-educacao-presencial.ghtml

http://www.sed.sc.gov.br/images/Caderno_diretrizes_retorno/1-Diretrizes_Sanit%C3%A1rias_para_o_Retorno_das_Aulas.pdf

https://www.brasil247.com/brasil/ministro-da-educacao-que-pode-ser-investigado-por-homofobia-diz-que-foi-mal-interpretado

             

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