segunda-feira, 23 de março de 2015



A extração de seixos rolados dos leitos dos afluentes da Bacia do Rio Araranguá e os riscos de novas catástrofes



         Sábado à tarde, 21 de março, de bicicleta em direção à comunidade de Nova Roma, município de Morro Grande, notamos que nas proximidades das encostas da Serra Geral, nuvens escuras se formavam prenunciando chuvas intensas. Chegando à vila, oito quilômetros distantes da cidade, constatamos que o rio Manoel Alves, Afluente do Rio Araranguá, rapidamente mudou sua dinâmica chamando a atenção de muitos que por ali transitavam que rapidamente se dirigiram à sua margem e sobre a ponte que cruza o rio, para observar o espetacular e assustador fenômeno da natureza. Mantendo contanto com ribeirinhos que residem no local há anos, as informações que nos passaram davam conta de que, já há algum tempo, dezenas de caminhões entram e saem do local, carregados de seixos/cachoeiras recolhidos do leito do respectivo manancial. Ouvindo atentamente o pronunciamento das pessoas ambos demonstravam certo grau de preocupação com o barulho produzido pela correnteza, relembramos a experiência vivida na década de 1990, quando ainda integrante da ONG Sócios da Natureza, proferíamos inúmeras denúncias de tais práticas criminosas aos órgãos ambientais competentes.
Situados à margem do rio, notamos que a velocidade da correnteza aumentou repentinamente provocando calafrio e medo diante do enorme barulho produzido pelas pedras que se chocavam umas sobre a outras.  Vendo o espetáculo da natureza, o barulho e a velocidade da água, mais parecia um chamamento, uma espécie de prenúncio, sinal, alertando que o pior ainda está por vir, que ainda há tempo, basta os órgãos ambientais atuarem punindo os infratores. São centenas de famílias que habitam as margens deste afluente do rio Araranguá no qual estão suscetíveis às avalanches de maior proporção.
Que sirva sempre de exemplo a catástrofe climática de 1995, quando uma enorme concentração de nuvens nas encostas da serra, cujo “epicentro” foi no município de Timbé do Sul, proporcionou uma das maiores precipitações pluviométricas já conhecidas resultando em uma avalanche de efeitos destrutivos incalculáveis. Muitas casas situadas às margens do rio Figueira, em Timbé do Sul, foram arrancadas literalmente provocando além de destruição material, perdas humanas. Alterar o ciclo da natureza resulta em riscos à vida de milhares de pessoas. Se existem seixos/pedras nos leitos dos rios que formam a bacia do rio Araranguá, é porque sua presença desse mineral exerce alguma função específica, nesse caso, as pedras contribuem para o equilibro do ecossistema do seu entorno.
Além de servir como barreira natural, uma espécie de amortecedor onde ameniza a velocidade da água, as pedras também em contato uma com a outra, liberam o selênio, um elemento químico importante para a fertilização do solo que alimenta as plantas. De acordo com o ambientalista Tadeu dos Santos, “a falta de fiscalização dos respectivos órgãos ambientais facilita as mineradoras extrapolarem retirando volumes bem acima do autorizado pelo DNPM”.  Tadeu também vem alertando através de seus escritos os impactos dessa prática às populações ribeirinhas, que se sentem inseguras na hipótese de enchentes, pois mudam os locais de transbordamento das cabeceiras.  As comunidades próximas aos rios, portanto, não sabem como se comportarão as correntezas, cujas velocidades das águas poderão destruir com mais facilidade o que estiver pela frente. http://tadeusantos.blogspot.com.br/2014/01/retirada-de-seixo-rolado-ou-cascalho.html
Prof. Jairo Cezar

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