A
PEC 215 (Proposta de Emenda Constitucional) e a Reedição do Polêmico Código Florestal
Brasileiro
Depois
das intensas manifestações ocorridas em dezembro de 2014 nas imediações do
congresso nacional promovidas por indígenas de diversas nações, quilombolas,
etc., e respondidas com cassetetes, balas de borracha por parte da polícia, a
PEC 215/2000 que trata da transferência da homologação de terras indígenas,
quilombolas e unidades de conservação para o legislativo, finalmente foi tirada
da pauta de votação até segunda ordem. Na segunda feira, assistindo ao programa
Roda Viva da TV Cultura, cujo entrevistado foi o presidente da Câmara Federal
Eduardo Cunha, o mesmo disse com certo orgulho que uma das suas bandeiras seria
o desarquivamento da PEC, que já entraria em discussão na Comissão de
Constituição de Justiça, no dia seguinte, terça feira, 17 de março. Na verdade,
para os ambientalistas e demais organizações que atuam em defesa do ambiente, a
PEC 215, caso seja aprovada sem alteração, se constituirá em novo Código
Florestal, abrindo espaço para novas ocupações de extensas áreas de florestas prestes
a serem homologadas como áreas indígenas e quilombolas pelo Executivo.
É bom que se diga que a código floresta
aprovado em 2012 se caracteriza como um dos maiores retrocessos em termos de
legislação ambiental de todos os tempos. A sua homologação permitiu que
milhares de infratores ambientais tivessem seus crimes praticados até 2008
anistiados, bem como a flexibilização e redução das áreas de APPs em margens de
rios e demais cursos de água beneficiando grandes corporações do setor
imobiliário e seguimentos vinculados ao agronegócio. O resultado dessa
incongruência legislativa já está sendo sentido hoje com o agravamento da
estiagem e a falta de água em regiões importantes como o sudeste proporcionando
impactos sociais e econômicos sem precedentes.
O
desarquivamento da PEC já mobilizou lideranças políticas no congresso na qual
representam os latifundiários, mineradores, madeireiros, entre outros, instaurando
a Comissão Especial para apreciação do texto, que seguirá posteriormente para
votação. Dentre os inúmeros parlamentares interessados na aprovação da PEC 215,
os destaques são catarinenses Casildo Maldaner, senador, pelo PMDB, que
concluiu seu mandato em 2014, e o Deputado Valdir Collato, também do PMDB,
reeleito para mais quatro anos nas eleições do ano passado. São deputados que direta e indiretamente tiveram
ou tem relação com empresas ou setores do agronegócio interessados nessa
proposta de emenda constitucional. Para se ter noção do que realmente está
incutida na aprovação desta PEC, basta analisar a trajetória política desses dois
parlamentares catarinenses no congresso, cujas participações sempre foram
pautadas na defesa de interesses desses seguimentos, além é claro de terem votado
a favor do novo Código Florestal Brasileiro em 2012.
Quanto
à questão indígena, ambos a frente do parlamento jamais demonstraram qualquer
sensibilidade à causa, muito pelo contrário, sempre procuraram dificultar ao
máximo qualquer iniciativa que os beneficiassem, dentre elas a ação de
demarcação de suas terras. Somente o senador Collato encaminhou oito projetos
de lei contra os direitos indígenas. Em relação a sua condição sócio econômica,
declarou possuir mais de dois mil hectares de terras, sendo a maior área no
estado de Rondônia, onde se concentra o Arco do Desmatamento, ou seja, extensa
área territorial que ocupa uma área de 500 mil quilômetros quadrados que vai do
leste e sul do Pará, em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e
Acre. Sobre os financiamentos de campanhas eleitorais, no pleito de 2010 obteve
ajuda financeira de empresas como a Bung Fertilizantes e outras dos setores
sucroalcooleiros, frigoríficos e de armas e munição.
Quanto
à posição política do deputado Collato acerca do desarquivamento da PEC 215, em
2010 fez severas críticas ao um decreto que declarava área quilombola no meio
oeste de Santa Catarina. O senador Casildo Maldaner, seguiu a mesma linha de
seu colega parlamentar. Também, além de votar a favor do polêmico Código Florestal,
sempre se posicional contra qualquer medida que garantisse direito aos
indígenas. Um fato que realça sua condição de anti indígena ocorreu em 2003
quando integrava a Frente Parlamentar da Agropecuária, no qual defendeu a
anulação da portaria do Ministro da Justiça que estabelecia os limites das
terras da nação guarani Mbya, localizado no Morro dos Cavalos. Em 2011, outro
fato emblemático envolvendo o senador. O episódio ocorreu na reunião do Fórum Parlamentar
Catarinense em Brasília para tratar do encaminhamento das obras de duplicação
da BR 101.
Dentre
os assuntos tratados, os integrantes do fórum enfatizaram os gargalos previstos
como o Túnel do Formigão, em Tubarão; Ponte de Laguna e Túnel do Morro dos Cavalos,
obras complexas que teriam dificuldades para iniciar devido às licenças
ambientais. No caso do Morro dos Cavalos já se sabia de ante mão o impasse envolvendo
a população indígena que ocupa aquelas terra há décadas. Disse o senador
Maldaner que faria de tudo para remover todos os obstáculos impeditivos à obra
de duplicação. Quanto a sua renda declarada, cabe frisar que sua formação é
professor do ensino fundamental. Declarou possuir cinco mil hectares de terras
espalhadas nos estados da Bahia e Pará, bem como 900 cabeças de gado. A soma
total do seu patrimônio estava orçada em 1.689.133,00. Dentre as empresas financiadoras de suas
campanhas eleitorais destacaram as do setor madeireiro, indústrias químicas e
frigoríficas.
Portando
é questionável a tamanha rapidez do congresso em querer desarquivar a PEC 215 com
o argumento mentiroso de que sua aprovação beneficiará pequenos agricultores,
mesmo discurso adotado na época da aprovação do Código Florestal. Mais uma vez
as nações indígenas, quilombolas, afetadas com a proposta, deverão se mobilizar
indo a Brasília para pressionar o congresso contra sua aprovação. Por outro
lado, a população brasileira não poderá ficar assistindo os desdobramentos
deitado em berço esplendido. É preciso denunciar mais essa manobra articulada
por parlamentares, na maioria vinculada ao agronegócio, interessados unicamente
na expansão de suas propriedades. Além
de intensificar os problemas ambientais, abre caminho para o agravamento dos
conflitos contra os indígenas, que vivem a expectativa da demarcação por parte
do governo federal, na qual assegurará o direito sobre as terras.
Prof.
Jairo Cezar
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